O ocidente dos ingénuos
Antes de morrer, em circunstâncias pouco claras, Slobodan Milosevic apresentou perante o peculiar Tribunal de Haia um documento que assinalava a presença de guerrilheiros da famigerada Al Qaeda na luta de «libertação do Kosovo», apoiada pelos EUA.
Sendo o documento verdadeiro ou não, o que é certo é que são vários os analistas políticos que referem a presença de radicais islâmicos ligados a essa organização nas guerras dos Balcãs, particularmente no Kosovo. Naturalmente não seria necessário qualquer apoio americano para que isso se concretizasse uma vez que essas pessoas serão movidas pelo que entendem ser a necessidade de cumprir e expandir o Islão mas não deixa de ser verdade que a luta desses homens acabou por constituir uma feliz coincidência de sentido com a luta travada pelos EUA, sob a capa da NATO, na região.
A 20 de Setembro de 1999, num artigo no «The Independent», Michael Radu escrevia:
«E como poderia a afirmação, voluntariamente ignorante, do general Wesley Clark, de que não existiam evidências de limpeza étnica por parte do KLA (Exército de Libertação do Kosovo) ser interpretada como algo mais que permissão para acabar o serviço(...) A dicotomia mal direccionada entre bons e maus por parte das potências ocidentais era já evidente em Outubro último quando os EUA e a NATO impuseram uma capitulação de facto à Sérvia, exigindo que parasse as operações de insurgência contra o KLA. Continuou com o acordo de Junho de 1999 que acabava a guerra e que eliminou toda a presença administrativa, policial e militar no Kosovo – em resumo, apenas se manteve simbolicamente a região como parte da Sérvia. O mau julgamento da NATO foi completado pelo facto de não se ter mostrado preparada para substituir a presença sérvia depois de a ter eliminado».
Ou seja, os norte-americanos, que dirigiram ali as operações da NATO, auxiliaram peremptoriamente a fundação de um potencial enclave islâmico com autonomia reforçada – a que só falta independência oficial – numa das zonas historicamente mais instáveis e problemáticas do Continente Europeu.
E não se terá tratado simplesmente de uma opção de uma administração em particular, porque a verdade é que neste caso a política externa norte-americana parece manter-se concordante de governo para governo, obedecendo a uma estratégia que ultrapassa a alternância democrática eleitoral. Atesta-o a própria diplomacia da Administração Bush nos Balcãs. Estando concluída a islamização do Kosovo e quando grande parte da população sérvia se viu forçada a abandonar a região, as reivindicações autonómicas dos albaneses ganharam outra dimensão, é pois lógico assumir que o abatimento de Belgrado não esteja ainda finalizado uma vez que o reconhecimento do Kosovo como parte da Sérvia não é hoje mais que uma mera formalidade, existe na população islâmica albanesa, que actualmente manda de facto na região, a ambição de secessão efectiva. Para isso, claro, é essencial a complacência do «Ocidente», o mesmo é dizer dos EUA e respectivo séquito europeu.
Ora isto, tudo o indica, terá sido assegurado em Junho deste ano quando Condoleezza Rice recebeu em Washington, com todas as honras, o bom aliado Agim Ceku, primeiro-ministro do Kosovo, antigo comandante do KLA e acusado de crimes de guerra pelos sérvios (infelizmente, estes, como outros na Historia, parecem estar condenados a serem os únicos criminosos do conflito, pelo que, do outro lado, não se avistam senão libertadores heróicos), num acto decisivo para selar o desmembramento final da pátria sérvia e a independência efectiva do novo Kosovo. Agim Ceku sabe que está em Washington o apoio que realmente precisa e aquele que verdadeiramente conta, a Europa, provavelmente também nisto, triste sombra do seu passado, acatará.
A Sérvia deve preparar-se para a estocada final, parece próximo o epílogo amargo que há muito lhe haviam destinado. A ironia maior é que o país que tantas vezes nos procuram apresentar como «vélite do Ocidente» face ao perigo islâmico, os EUA, é o sustentáculo fulcral da criação nos Balcãs de um Estado de população muçulmana, numa região que tem um enorme significado espiritual para uma Sérvia que foi ao longo de várias décadas, ela sim, uma fiel defensora da Europa e da cristandade contra o avanço do Islão no Continente. No século XIV a Sérvia do príncipe Lazar personificou a Europa (e não o «Ocidente») que enfrentou no Kosovo, com trágicos custos, o invasor otomano, passados alguns séculos os EUA comandariam as forças do «Ocidente» (e não da Europa autêntica) que entregariam o Kosovo aos muçulmanos…emblemático!
Sendo o documento verdadeiro ou não, o que é certo é que são vários os analistas políticos que referem a presença de radicais islâmicos ligados a essa organização nas guerras dos Balcãs, particularmente no Kosovo. Naturalmente não seria necessário qualquer apoio americano para que isso se concretizasse uma vez que essas pessoas serão movidas pelo que entendem ser a necessidade de cumprir e expandir o Islão mas não deixa de ser verdade que a luta desses homens acabou por constituir uma feliz coincidência de sentido com a luta travada pelos EUA, sob a capa da NATO, na região.
A 20 de Setembro de 1999, num artigo no «The Independent», Michael Radu escrevia:
«E como poderia a afirmação, voluntariamente ignorante, do general Wesley Clark, de que não existiam evidências de limpeza étnica por parte do KLA (Exército de Libertação do Kosovo) ser interpretada como algo mais que permissão para acabar o serviço(...) A dicotomia mal direccionada entre bons e maus por parte das potências ocidentais era já evidente em Outubro último quando os EUA e a NATO impuseram uma capitulação de facto à Sérvia, exigindo que parasse as operações de insurgência contra o KLA. Continuou com o acordo de Junho de 1999 que acabava a guerra e que eliminou toda a presença administrativa, policial e militar no Kosovo – em resumo, apenas se manteve simbolicamente a região como parte da Sérvia. O mau julgamento da NATO foi completado pelo facto de não se ter mostrado preparada para substituir a presença sérvia depois de a ter eliminado».
Ou seja, os norte-americanos, que dirigiram ali as operações da NATO, auxiliaram peremptoriamente a fundação de um potencial enclave islâmico com autonomia reforçada – a que só falta independência oficial – numa das zonas historicamente mais instáveis e problemáticas do Continente Europeu.
E não se terá tratado simplesmente de uma opção de uma administração em particular, porque a verdade é que neste caso a política externa norte-americana parece manter-se concordante de governo para governo, obedecendo a uma estratégia que ultrapassa a alternância democrática eleitoral. Atesta-o a própria diplomacia da Administração Bush nos Balcãs. Estando concluída a islamização do Kosovo e quando grande parte da população sérvia se viu forçada a abandonar a região, as reivindicações autonómicas dos albaneses ganharam outra dimensão, é pois lógico assumir que o abatimento de Belgrado não esteja ainda finalizado uma vez que o reconhecimento do Kosovo como parte da Sérvia não é hoje mais que uma mera formalidade, existe na população islâmica albanesa, que actualmente manda de facto na região, a ambição de secessão efectiva. Para isso, claro, é essencial a complacência do «Ocidente», o mesmo é dizer dos EUA e respectivo séquito europeu.
Ora isto, tudo o indica, terá sido assegurado em Junho deste ano quando Condoleezza Rice recebeu em Washington, com todas as honras, o bom aliado Agim Ceku, primeiro-ministro do Kosovo, antigo comandante do KLA e acusado de crimes de guerra pelos sérvios (infelizmente, estes, como outros na Historia, parecem estar condenados a serem os únicos criminosos do conflito, pelo que, do outro lado, não se avistam senão libertadores heróicos), num acto decisivo para selar o desmembramento final da pátria sérvia e a independência efectiva do novo Kosovo. Agim Ceku sabe que está em Washington o apoio que realmente precisa e aquele que verdadeiramente conta, a Europa, provavelmente também nisto, triste sombra do seu passado, acatará.
A Sérvia deve preparar-se para a estocada final, parece próximo o epílogo amargo que há muito lhe haviam destinado. A ironia maior é que o país que tantas vezes nos procuram apresentar como «vélite do Ocidente» face ao perigo islâmico, os EUA, é o sustentáculo fulcral da criação nos Balcãs de um Estado de população muçulmana, numa região que tem um enorme significado espiritual para uma Sérvia que foi ao longo de várias décadas, ela sim, uma fiel defensora da Europa e da cristandade contra o avanço do Islão no Continente. No século XIV a Sérvia do príncipe Lazar personificou a Europa (e não o «Ocidente») que enfrentou no Kosovo, com trágicos custos, o invasor otomano, passados alguns séculos os EUA comandariam as forças do «Ocidente» (e não da Europa autêntica) que entregariam o Kosovo aos muçulmanos…emblemático!
4 Comentários:
Soberbo, caro amigo.
Esta Europa tem de ser definitivamente conquistada pelos verdadeiros nacionalistas.
O tempo das palavras tem de ser substituido pelas acções.
Cumprimentos
Em cheio, caro Rodrigo.
Mesmo em cheio!!!
Cumprimentos.
Ao Thoth, não são as palavras a forma de acção de que dispomos? Enfim, talvez não só, mas sobretudo?
Ao ab, é verdade, numa fase inicial da desagregação da Jugoslávia a Alemanha, o Vaticano e os EUA podem dividir responsabilidades, mas no caso do kosovo o papel dos EUA é a chave do problema, até porque, sejamos honestos, não existe NATO sem os EUA, o resto é quase paisagem.
Ao Sentinela, prazer em revê-lo por aqui.
La collares y el nieto de don Salvador Bombardearon Belgrado un Viernes Santo, como los nazis en 1942.......
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