Compreender o «sistema»
Os movimentos da direita nacionalista ou identitária apresentam-se normalmente como sendo «anti-sistema». Mas o que significa isso exactamente? O que é o «sistema»? O termo é usado para definir os regimes dominantes no Ocidente; serve para ilustrar o antagonismo que opõe a mundividência identitária a um conjunto de valores que partilham uma génese comum: o liberalismo. É isso que define o «sistema», e é esse pensamento liberal que se espraiou da esquerda à direita. Os valores da tradição liberal penetraram todo o espaço político que subsiste na orla do poder.
A luta de uma direita nacionalista exige o conhecimento dos adversários, é essencial compreender aquilo que se enfrenta. Uma direita nacional, voluntarista e combativa, agora como num tempo não tão distante, que ainda ecoa na memória, é, pois, anti-liberal. A fina ironia da História coloca hoje a resistência europeia defronte do mesmo inimigo que conheceu depois da primeira guerra mundial e antes da derrota que assinalou a grande hecatombe continental.
No entanto, o termo liberal deve ser aqui entendido não só no sentido clássico, aquilo que comummente se compreende como o primado completo do mercado, mas sobretudo identificado com o chamado liberalismo social, que podemos associar à esquerda reformista.
Identificar os princípios liberais enquanto inimigos da direita identitária exige a capacidade de fugir aos habituais reducionismos que marcam vulgarmente o discurso anti-liberal: na Europa como sendo um discurso contra o capitalismo, nos EUA como prédica exclusivamente dirigida contra o progressismo social. É preciso compreender a abrangência dessa tradição filosófica e política, cujas raízes surgem ligadas ao iluminismo.
É essa tradição que se confunde com a modernidade, com o espectro político vigente e dominante, da esquerda à direita, na órbita do poder são os frutos do liberalismo que dirigem o Ocidente, da esquerda «respeitável» à direita «moderada», do centro-esquerda ao centro-direita, do socialismo democrático à direita liberal. De uma forma ou outra todas estas forças políticas regem-se por um conjunto de valores comuns que, sintetizando, assinalaremos:
O interesse do indivíduo acima dos laços orgânicos, da tradição, da comunidade histórica e holística, a colectividade percepcionada de forma institucional (ou contratual) e não primordial, o humanismo, traduzido legalmente num conceito universalista e descontextualizado de «direitos do homem», ao abrigo do qual se legitimam todas as estandardizações da vida humana, a bem ou a mal, pela palavra ou pelas armas, e uma concepção de «liberdade» como valor principal da causa política.
Antes de tudo é o entendimento que se tem da «liberdade» que estabelece a diferença entre as diferentes famílias liberais. Enquanto à esquerda, terreno do liberalismo social, se parte da ideia de liberdades positivas, à direita, reino de inspiração clássica, parte-se da ideia de liberdades negativas.
Isto marca a diferença fulcral, na medida em que essa concepção distinta da ideia de liberdade implica uma diferente percepção do papel do Estado na sociedade. Assim, o conceito de liberdades positivas vai justificar a intervenção estatal em nome da plena integração do indivíduo na sociedade em que está inserido, uma vez que aqui a liberdade é apenas alcançada quando o homem está capacitado a participar plenamente na vida social, a «realizar-se», a exercer a sua «autonomia», e esta ideia, embora delimitada pela subjectividade, implica para a esquerda liberal que o indivíduo disponha de certas condições que lhe assegurem a «inclusão social»; acesso à saúde, à educação, um rendimento mínimo, subsídios de várias ordens, medidas de discriminação positiva em favor de membros de grupos considerados como prejudicados (mulheres ou minorias étnicas, por exemplo), assegurar juridicamente o indiferentismo das preferências sexuais, etc.
Esta interpretação que o liberalismo social faz da ideia central de todo o pensamento liberal, a de «liberdade», dá-lhe, por comparação com o liberalismo clássico, uma dimensão mais colectivista; porque força o envolvimento de toda a sociedade, através do Estado, na activação dos direitos ou liberdades positivas que procuram garantir, na sua óptica, o objectivo da «realização da pessoa».
Não obstante, não nos deixemos levar pelas aparências, é essencial notar que continua a ser o indivíduo o eixo desta corrente liberal; é sobretudo a colectividade – que aqui é sociedade, mera soma de unidades unidas num espaço por instituições e relações de interesse, e não comunidade tradicional – que tem obrigações e responsabilidades para com o indivíduo e não tanto o indivíduo que prova um sentido de dever face a uma realidade comum e histórica que o ultrapassa, como seja uma nação...
Isto surge evidente ao examinarmos as ideias dos mais ilustres representantes do pensamento liberal de esquerda. A análise incide prioritariamente sobre o bem-estar individual, usando uma abordagem multidimensional que procura avaliar o impacto de uma miríade de factores sobre o bem-estar de cada indivíduo. Defendendo que a autêntica liberdade pode apenas ser alcançada quando cada pessoa dispõe das capacidades que permitem a participação plena na sociedade e a sua realização, não só afirmam a sua filiação liberal como reforçam, em última análise, os princípios comuns dessa tradição, a liberdade individual como fim da acção política.
Todo o seu raciocínio caminha no sentido da lógica de liberdade do indivíduo isolado na sua própria condição de existência, validando a concepção clássica na qual o homem económico, enquanto agente livre, define o perfeito funcionamento dos mercados, local onde os indivíduos trocam os seus trabalhos particulares, transformando o interesse egoísta individual em benefício social. Dar condições de existência básicas a esse homem económico é, portanto, o objectivo.
Essa é a lógica essencial do liberalismo social, da esquerda progressista, entroncando-a depois numa mesma visão do homem e do mundo que é partilhada pelo liberalismo postulado por Smith e seus sucessores, o tal liberalismo que alguma direita adopta ou que a direita adopta parcialmente (depende dos casos).
A diferença é que para essas direitas a concepção de «liberdade» assenta, ao invés, na ideia de liberdades negativas, isto é, na liberdade de não ser coagido por outros; na ausência de factores externos à vontade de cada um passíveis de condicionamento. A questão passa então a ser não o que o indivíduo precisa para alcançar a sua «realização» mas antes aquilo que a sociedade não lhe deve impor. Poder expressar uma opinião sobre qualquer assunto pode ser encarado como um exercício de liberdade negativa, já que implica apenas, como condição suficiente, a não interferência externa; o direito a um serviço público de saúde pode ser encarado como um exercício de liberdade positiva, uma vez que o acesso universal à saúde pode ser visto como fundamental para a auto-determinação do homem na medida em que sem «saúde» este não será autenticamente livre e, porque resulta muitas vezes assim o cumprimento das liberdades positivas, vai exigir a participação compulsiva da sociedade, do outro.
A noção de liberdade negativa é mais pacífica, mais acessível ao «senso comum», surge-nos mais facilmente. A ideia de liberdades positivas, por seu lado, é objecto de maior contestação e polémica; alguns autores defendem que existe o risco de dirigir a sociedade rumo a estádios autoritários, já que a activação das referidas liberdades positivas pode acarretar a contribuição coerciva, através do Estado, de quem não o pretenderia fazer voluntariamente, não reconhecendo, dessa forma, nesse conceito uma verdadeira liberdade, senão mesmo a sua antítese.
Por outro lado, ao contrário do que sucede com a liberdade negativa, a ideia de liberdade positiva tem a dificuldade acrescida de não se desenrolar num quadro de neutralidade moral, tem subjacente um juízo de valor sobre aquilo que capacita o indivíduo a realizar-se, o que implica compreender e justificar a fonte da autoridade moral.
Existem também aqueles que não reconhecem a validade da distinção entre liberdade positiva e negativa ou os que consideram ambas indissociáveis. Acrescente-se a recusa por parte de alguns simpatizantes ou seguidores do liberalismo clássico em reconhecer, amiúde, a legitimidade da incorporação da esquerda progressista na tradição liberal, argumentando frequentemente que o dito liberalismo social (como seja o norte-americano) se apropriou abusivamente de uma designação que não justifica…tudo isto são pontos que continuam a ser alvo de debate e as opiniões vão variando conforme as fidelidades políticas dos intervenientes.
Para nós, que pretendemos uma direita identitária, vitalista, reivindicativa, esses debates internos do liberalismo são razoavelmente irrelevantes. Quem se afirma contra o «sistema» deverá ter como primeira preocupação não aceitar que seja o «establishment» a ditar, nos seus termos, como nos devemos definir ou defini-lo. É preciso quebrar a ilusão, com honestidade e coerência crítica, é certo. O entendimento que se faz do conceito de «liberdade» pode dividir a tradição liberal, ninguém o nega, mas o papel e a hierarquia atribuída à ideia de «liberdade»( como se detivessem a patente) e a centralidade do «indivíduo» no corpo ideológico de todas as derivações do liberalismo é comparável, brota de uma similar concepção do mundo, aonde depois regressa, e que se traduz no conjunto de valores e anti-valores que sintetizei, de forma simples, anteriormente.
As divisões internas da tradição liberal não resultam em muito mais que nas superficiais acusações de colectivismo por parte de uns e insensibilidade social por parte de outros, não vão muito além de saber que papel cabe ao Estado, se mais minimalista, assegurando sobretudo as liberdades negativas do indivíduo, se mais interventivo, zelando por uma ideia de inclusão que garanta uma predeterminada concepção de liberdades positivas.
As contemporâneas democracias-liberais caracterizam-se pelo desinteresse da população face à participação cívica, as eleições são caracterizadas por elevadas taxas de abstenção e é habitual ouvirmos queixas de que tudo fica sempre inalterado, vença a esquerda ou a direita, e de facto, tudo fica sempre mais ou menos no mesmo, mas como poderia não ser assim quando tudo provém do mesmo?
A ideia de qualquer divisão fundamental no seio do regime é uma exacerbação, existem diferenças de opinião quanto às funções a desempenhar pelo Estado mas a mundividência é partilhada em toda a área que pode ter aspirações de poder. Derrubar as paredes desse labirinto, sair dessa matriz que se encerrou sobre a psique europeia é o verdadeiro acto de libertação, a ideia de alternância política autêntica é, desde o pós-guerra, a maior ilusão colectiva de que há memória.
As distintas ramificações que o liberalismo foi desenvolvendo não escondem a origem num tronco comum, numa mesma árvore, nascida das mesmas raízes que foram semeadas com o iluminismo, os seus ramos ocuparam todo o espaço político, os seus ramos e frutos, tal a fecundidade da árvore, conseguiram cobrir todo o horizonte, de tal forma que para se voltar a ver o sol é necessário quebrar alguns desses ramos.
A luta de uma direita nacionalista exige o conhecimento dos adversários, é essencial compreender aquilo que se enfrenta. Uma direita nacional, voluntarista e combativa, agora como num tempo não tão distante, que ainda ecoa na memória, é, pois, anti-liberal. A fina ironia da História coloca hoje a resistência europeia defronte do mesmo inimigo que conheceu depois da primeira guerra mundial e antes da derrota que assinalou a grande hecatombe continental.
No entanto, o termo liberal deve ser aqui entendido não só no sentido clássico, aquilo que comummente se compreende como o primado completo do mercado, mas sobretudo identificado com o chamado liberalismo social, que podemos associar à esquerda reformista.
Identificar os princípios liberais enquanto inimigos da direita identitária exige a capacidade de fugir aos habituais reducionismos que marcam vulgarmente o discurso anti-liberal: na Europa como sendo um discurso contra o capitalismo, nos EUA como prédica exclusivamente dirigida contra o progressismo social. É preciso compreender a abrangência dessa tradição filosófica e política, cujas raízes surgem ligadas ao iluminismo.
É essa tradição que se confunde com a modernidade, com o espectro político vigente e dominante, da esquerda à direita, na órbita do poder são os frutos do liberalismo que dirigem o Ocidente, da esquerda «respeitável» à direita «moderada», do centro-esquerda ao centro-direita, do socialismo democrático à direita liberal. De uma forma ou outra todas estas forças políticas regem-se por um conjunto de valores comuns que, sintetizando, assinalaremos:
O interesse do indivíduo acima dos laços orgânicos, da tradição, da comunidade histórica e holística, a colectividade percepcionada de forma institucional (ou contratual) e não primordial, o humanismo, traduzido legalmente num conceito universalista e descontextualizado de «direitos do homem», ao abrigo do qual se legitimam todas as estandardizações da vida humana, a bem ou a mal, pela palavra ou pelas armas, e uma concepção de «liberdade» como valor principal da causa política.
Antes de tudo é o entendimento que se tem da «liberdade» que estabelece a diferença entre as diferentes famílias liberais. Enquanto à esquerda, terreno do liberalismo social, se parte da ideia de liberdades positivas, à direita, reino de inspiração clássica, parte-se da ideia de liberdades negativas.
Isto marca a diferença fulcral, na medida em que essa concepção distinta da ideia de liberdade implica uma diferente percepção do papel do Estado na sociedade. Assim, o conceito de liberdades positivas vai justificar a intervenção estatal em nome da plena integração do indivíduo na sociedade em que está inserido, uma vez que aqui a liberdade é apenas alcançada quando o homem está capacitado a participar plenamente na vida social, a «realizar-se», a exercer a sua «autonomia», e esta ideia, embora delimitada pela subjectividade, implica para a esquerda liberal que o indivíduo disponha de certas condições que lhe assegurem a «inclusão social»; acesso à saúde, à educação, um rendimento mínimo, subsídios de várias ordens, medidas de discriminação positiva em favor de membros de grupos considerados como prejudicados (mulheres ou minorias étnicas, por exemplo), assegurar juridicamente o indiferentismo das preferências sexuais, etc.
Esta interpretação que o liberalismo social faz da ideia central de todo o pensamento liberal, a de «liberdade», dá-lhe, por comparação com o liberalismo clássico, uma dimensão mais colectivista; porque força o envolvimento de toda a sociedade, através do Estado, na activação dos direitos ou liberdades positivas que procuram garantir, na sua óptica, o objectivo da «realização da pessoa».
Não obstante, não nos deixemos levar pelas aparências, é essencial notar que continua a ser o indivíduo o eixo desta corrente liberal; é sobretudo a colectividade – que aqui é sociedade, mera soma de unidades unidas num espaço por instituições e relações de interesse, e não comunidade tradicional – que tem obrigações e responsabilidades para com o indivíduo e não tanto o indivíduo que prova um sentido de dever face a uma realidade comum e histórica que o ultrapassa, como seja uma nação...
Isto surge evidente ao examinarmos as ideias dos mais ilustres representantes do pensamento liberal de esquerda. A análise incide prioritariamente sobre o bem-estar individual, usando uma abordagem multidimensional que procura avaliar o impacto de uma miríade de factores sobre o bem-estar de cada indivíduo. Defendendo que a autêntica liberdade pode apenas ser alcançada quando cada pessoa dispõe das capacidades que permitem a participação plena na sociedade e a sua realização, não só afirmam a sua filiação liberal como reforçam, em última análise, os princípios comuns dessa tradição, a liberdade individual como fim da acção política.
Todo o seu raciocínio caminha no sentido da lógica de liberdade do indivíduo isolado na sua própria condição de existência, validando a concepção clássica na qual o homem económico, enquanto agente livre, define o perfeito funcionamento dos mercados, local onde os indivíduos trocam os seus trabalhos particulares, transformando o interesse egoísta individual em benefício social. Dar condições de existência básicas a esse homem económico é, portanto, o objectivo.
Essa é a lógica essencial do liberalismo social, da esquerda progressista, entroncando-a depois numa mesma visão do homem e do mundo que é partilhada pelo liberalismo postulado por Smith e seus sucessores, o tal liberalismo que alguma direita adopta ou que a direita adopta parcialmente (depende dos casos).
A diferença é que para essas direitas a concepção de «liberdade» assenta, ao invés, na ideia de liberdades negativas, isto é, na liberdade de não ser coagido por outros; na ausência de factores externos à vontade de cada um passíveis de condicionamento. A questão passa então a ser não o que o indivíduo precisa para alcançar a sua «realização» mas antes aquilo que a sociedade não lhe deve impor. Poder expressar uma opinião sobre qualquer assunto pode ser encarado como um exercício de liberdade negativa, já que implica apenas, como condição suficiente, a não interferência externa; o direito a um serviço público de saúde pode ser encarado como um exercício de liberdade positiva, uma vez que o acesso universal à saúde pode ser visto como fundamental para a auto-determinação do homem na medida em que sem «saúde» este não será autenticamente livre e, porque resulta muitas vezes assim o cumprimento das liberdades positivas, vai exigir a participação compulsiva da sociedade, do outro.
A noção de liberdade negativa é mais pacífica, mais acessível ao «senso comum», surge-nos mais facilmente. A ideia de liberdades positivas, por seu lado, é objecto de maior contestação e polémica; alguns autores defendem que existe o risco de dirigir a sociedade rumo a estádios autoritários, já que a activação das referidas liberdades positivas pode acarretar a contribuição coerciva, através do Estado, de quem não o pretenderia fazer voluntariamente, não reconhecendo, dessa forma, nesse conceito uma verdadeira liberdade, senão mesmo a sua antítese.
Por outro lado, ao contrário do que sucede com a liberdade negativa, a ideia de liberdade positiva tem a dificuldade acrescida de não se desenrolar num quadro de neutralidade moral, tem subjacente um juízo de valor sobre aquilo que capacita o indivíduo a realizar-se, o que implica compreender e justificar a fonte da autoridade moral.
Existem também aqueles que não reconhecem a validade da distinção entre liberdade positiva e negativa ou os que consideram ambas indissociáveis. Acrescente-se a recusa por parte de alguns simpatizantes ou seguidores do liberalismo clássico em reconhecer, amiúde, a legitimidade da incorporação da esquerda progressista na tradição liberal, argumentando frequentemente que o dito liberalismo social (como seja o norte-americano) se apropriou abusivamente de uma designação que não justifica…tudo isto são pontos que continuam a ser alvo de debate e as opiniões vão variando conforme as fidelidades políticas dos intervenientes.
Para nós, que pretendemos uma direita identitária, vitalista, reivindicativa, esses debates internos do liberalismo são razoavelmente irrelevantes. Quem se afirma contra o «sistema» deverá ter como primeira preocupação não aceitar que seja o «establishment» a ditar, nos seus termos, como nos devemos definir ou defini-lo. É preciso quebrar a ilusão, com honestidade e coerência crítica, é certo. O entendimento que se faz do conceito de «liberdade» pode dividir a tradição liberal, ninguém o nega, mas o papel e a hierarquia atribuída à ideia de «liberdade»( como se detivessem a patente) e a centralidade do «indivíduo» no corpo ideológico de todas as derivações do liberalismo é comparável, brota de uma similar concepção do mundo, aonde depois regressa, e que se traduz no conjunto de valores e anti-valores que sintetizei, de forma simples, anteriormente.
As divisões internas da tradição liberal não resultam em muito mais que nas superficiais acusações de colectivismo por parte de uns e insensibilidade social por parte de outros, não vão muito além de saber que papel cabe ao Estado, se mais minimalista, assegurando sobretudo as liberdades negativas do indivíduo, se mais interventivo, zelando por uma ideia de inclusão que garanta uma predeterminada concepção de liberdades positivas.
As contemporâneas democracias-liberais caracterizam-se pelo desinteresse da população face à participação cívica, as eleições são caracterizadas por elevadas taxas de abstenção e é habitual ouvirmos queixas de que tudo fica sempre inalterado, vença a esquerda ou a direita, e de facto, tudo fica sempre mais ou menos no mesmo, mas como poderia não ser assim quando tudo provém do mesmo?
A ideia de qualquer divisão fundamental no seio do regime é uma exacerbação, existem diferenças de opinião quanto às funções a desempenhar pelo Estado mas a mundividência é partilhada em toda a área que pode ter aspirações de poder. Derrubar as paredes desse labirinto, sair dessa matriz que se encerrou sobre a psique europeia é o verdadeiro acto de libertação, a ideia de alternância política autêntica é, desde o pós-guerra, a maior ilusão colectiva de que há memória.
As distintas ramificações que o liberalismo foi desenvolvendo não escondem a origem num tronco comum, numa mesma árvore, nascida das mesmas raízes que foram semeadas com o iluminismo, os seus ramos ocuparam todo o espaço político, os seus ramos e frutos, tal a fecundidade da árvore, conseguiram cobrir todo o horizonte, de tal forma que para se voltar a ver o sol é necessário quebrar alguns desses ramos.
19 Comentários:
Simple, llana y absolutamente EXCELENTE.
Cordiales saludos,
Rafael Castela Santos
Bravo!
Duma clareza extaordinária.
Há que completar, rogamos-lhe encarecidamente, com 'Compreender o anti-sistema'.
Os melhores cumprimentos,
Miguel
Excelente.
Pequenas críticas (das positivamente construtivas):
"Os valores da tradição liberal penetraram todo o espaço político que subsiste [hoje] na orla do poder." Bem, digamos que com a II Guerra Mundial e o cumprimento, por parte de Hitler, de um dos seus propósitos- a destruição do Império Britânico, o liberalismo "em bruto" desapareceu, pelo refinamento em neoliberalismo.
"A fina ironia da História coloca hoje a resistência europeia defronte do mesmo inimigo que conheceu depois da primeira guerra mundial." O liberalismo recuou após a I Guerra Mundial: em primeiro lugar, porque os Estados precisaram de intervir na economia para a estimular; em segundo (que é concomitantemente causa do primeiro) o crash na bolsa de valores em Wall Street. Assim, não percebo o que significa a citação acima feita...
"Isto marca a diferença fulcral, na medida em que essa concepção distinta da ideia de liberdade implica uma diferente percepção do papel do Estado na sociedade." Exactamente. É precisamente esse individualismo feroz, o problema de hoje.
"...liberalismo social..."
Excelente expressão para caracterizar o que foi (e ainda existe em "restos") o Estado-Providência. Agora vejamos o que disse Bobbio: "se o fim dos Estados-Providência [(neo)liberalismo] representou o fim do paradigma reformista; a queda da URSS [comunismo]foi o descambar do paradigma revolucionário".
Ora, parece somos nós quem está no caminho certo.
Saudações.
Muito bem!!
O problema está em que o sistema se torna cada dia mais repressivo contra quem se lhe opõe.
Só será possivel mudar quando houver uma séria ruptura na sua estabilidade, mas essa (felizmente)não creio que vá demorar muito a acontecer!
Cumprimentos e agradecimentos ao Rafael e ao Vítor.
Ao Miguel:
O objectivo inicial era fazer algo em 3 ou 4 partes, identificando o que aqui chamei «sistema», contrapondo depois os valores e a ideia de liberdade de uma direita identitária _ fazendo o contraponto, explicar de que forma foram destruídos os movimentos autenticamente conservadores na Europa do pós-guerra e finalizar com uma reflexão sobre o caminho a percorrer para uma reconstrução nacionalista,para uma nova «Revolução Conservadora», mas a «coisa» começou a dar demasiado trabalho e decidi ficar por este pequeno texto :)
Agradeço, igualmente, o tom elogioso.
Ao Menestrel:
Boa noite e obrigado pelas críticas construtivas, que são sempre bem-vindas.Algusn esclarecimentos apenas;
«Assim, não percebo o que significa a citação acima feita...»
A citação remete para o diagnóstico realizado por Moeller van den Bruck em "Das Dritte Reich" e deve ser lida na totalidade:
«A fina ironia da História coloca hoje a resistência europeia defronte do mesmo inimigo que conheceu depois da primeira guerra mundial e antes da derrota que assinalou a grande hecatombe continental.»
O mesmo é dizer o período que antecedeu a segunda guerra.Aí o inimigo identificado pelos nacionalismos foi, para além do marxismo, o liberalismo.Note que eu tive o cuidado de não falar de liberalismo exclusivamente em termos económicos mas antes de uma corrente filosófica e sobretudo uma tradição política.
«Exactamente. É precisamente esse individualismo feroz, o problema de hoje.»
De acordo, e a questão é que a rejeição desse "individualismo feroz" não acarreta, ao contrário do que por vezes procuram fazer crer os que andam sempre aos gritos de «liberdade» por tudo e nada, qualquer submersão do homem ou perda de si.
«Excelente expressão para caracterizar o que foi (e ainda existe em "restos") o Estado-Providência. Agora vejamos o que disse Bobbio: "se o fim dos Estados-Providência [(neo)liberalismo] representou o fim do paradigma reformista; a queda da URSS [comunismo]foi o descambar do paradigma revolucionário".
Ora, parece somos nós quem está no caminho certo.»
Permita-me um comentário porque quando se fala de liberalismos os termos são usados em muitos contextos diferentes.Tem razão quando fala do Liberalismo social associado ao Estado-Providência mas a utilização do termo neoliberalismo merece algumas palavras...
é verdade que «neo» significa «novo» mas o neoliberalismo, como é vulgarmente usado, é o oposto do liberalismo social ou se quiser do welfare liberalism.
O liberalismo social pode ser definido como Novo Liberalismo, na medida em que representa uma derivação do liberalismo clássico surgida numa altura em que se considerou que a intervenção do Estado na economia era necessária ou seria o melhor processo para assegurar o bem-estar individual e a «liberdade» que o laissez-faire já não garantiria.
Porém, o termo neoliberalismo, que de resto é ambíguo, é usado normalmente para descrever o exacto oposto, isto é, um certo revivalismo do liberalismo clássico, associado sobretudo aos governos de Reagan e Tatcher que surge como resposta à falência do keynesianismo.
Dessa forma será melhor usar o termo Novo Liberalismo em vez de neoliberalismo, porque embora «neo» e «novo» signifiquem o mesmo a verdade é que são empregues em contextos contrários, talvez estupidamente, mas enfim...
Uma nota final, não conhecia o seu blog, pelo que percebi não estaremos totalmente na mesma «linha», as minhas grandes influências políticas são a Revolução Conservadora e a Nova Direita francesa. De qualquer modo saúdo o surgimento de mais uma voz dissidente e patriota. O link segue já...
Ao anónimo:
Sem querer esmorecer um eventual entusiasmo creio que ainda estamos longe de qualquer quebra de estabilidade do «sistema». Por isso é preciso paciência, trabalho e a consciência que trabalhamos para o médio-prazo, porque por ora restam as «ruínas».
«de tal forma que para se voltar a ver o sol é necessário quebrar alguns desses ramos.»
Ou cortar a árvore, de uma vez por todas ;) Se bem que, tal como o anónimo, eu acredito mais que a árvore caía de podre, vítima das suas próprias premissas, do que propriamente pela nossa acção.
«O objectivo inicial era fazer algo em 3 ou 4 partes»
A primeira já está, aguardamos as outras três ;)
NC
Caro Rodrigo,
Nao abandone o trabalho a tres quartos do fim. Seria um excelente contributo se continuasse a desenvolver o tema.
Um abraco,
Miguel
Não posso deixar de voltar a comentar...
"Porém, o termo neoliberalismo, que de resto é ambíguo, é usado normalmente para descrever o exacto oposto, isto é, um certo revivalismo do liberalismo clássico, associado sobretudo aos governos de Reagan e Tatcher que surge como resposta à falência do keynesianismo."
Mas não posso deixar de frisar que está absolutamente certo. Embora eu me tenha esquecido de abordar esta questão, o Rodrigo fê-lo magistralmente. Sim, é certo que esse tal "neoliberalismo" designa o capitalismo de sabor vencedor da Guerra Fria dos anos 80. Foi esta "economia social de mercado" que hoje se vive que destruiu os restos do aparelho do Estado- Providência (Welfare State). Liberalismo a substituir liberalismo: seja "neo" ou "novo".
Vá-se lá perceber.
Venha sim, o corporativismo.
Ao NC e ao Miguel:
Não vai de seguida mas vai aos poucos,intercaladamente com outros posts, ao sabor da vontade... ou da disponibilidade :)
Ao Menestrel:
«Mas não posso deixar de frisar que está absolutamente certo. Embora eu me tenha esquecido de abordar esta questão, o Rodrigo fê-lo magistralmente. Sim, é certo que esse tal "neoliberalismo" designa o capitalismo de sabor vencedor da Guerra Fria dos anos 80. Foi esta "economia social de mercado" que hoje se vive que destruiu os restos do aparelho do Estado- Providência (Welfare State). Liberalismo a substituir liberalismo: seja "neo" ou "novo".
Vá-se lá perceber.»
Precisamente!
Por acaso não era seu o extinto blog «Quinto Império»?
"A fina ironia da História coloca hoje a resistência europeia defronte do mesmo inimigo que conheceu depois da primeira guerra mundial..."
Pois é mas, até aí, bem os diversos nacionalismos europeus estiveram 'irmanados' com os Liberais.
Lembro-me, assim de repente, da heróica luta de Nacionalistas e Liberais por toda a Europa na gloriosa 'Primavera dos Povos' de 1848 onde, finalmente, se começou a destruir a horrenda ordem imperial e feudal ainda reinante.
Em 1848 assim como em boa parte de séc.XIX e até 1914 eu e o Rodrigo teríamos estado do mesmo lado da barricada.
Curioso como as coisas mudam.
Ironias :)
"Os valores da tradição liberal penetraram todo o espaço político que subsiste na orla do poder."
Se se refere aos tempos actuais posso dar-lhe razão.
Antes de 1989 (altura em que Liberais de diversas 'colorações' lograram a vitória sobre o comunismo) não era bem assim.
Não se esqueça que o comunismo (i.e, marxismo-leninismo) é algo de competamente exógeno a qualquer ideia liberal e os seus objectivos são, precisamente, a completa destruição da ordem liberal e a sua substituição por um hipotético 'paraíso' e uns disparates do género 'Homem Novo' ou lá que raio eram...
"...é, pois, anti-liberal."
Continuo sem saber porquê.
Vai-me desculpar, mas os argumentos que expoe não são suficientes para tal espírito 'anti'.
" De uma forma ou outra todas estas forças políticas regem-se por um conjunto de valores comuns..."
Sim...pode dizer-se que sim.
Mas é uma generalização algo abusiva. Aceita-se como 'facilitismo' ideológico. Uma questão de arrumação, portanto.
"... e antes da derrota que assinalou a grande hecatombe continental."
Nem comento nem lhe vou responder, enfim....
"...cujas raízes surgem ligadas ao iluminismo."
Certíssimo....e ainda bem.
Como certamente compreenderá, sou muito sensível e receptivo a certo pensamento Iliminista.
"é essencial notar que continua a ser o indivíduo o eixo desta corrente liberal;"
Como é natural em qualquer ideia 'Liberal'.
E é Natural, também, pelo lógica ordem das coisas.
O Rodrigo, antes de mais.....é o Rodrigo. É um indivíduo, com características únicas como todos os indivíduos, todos DIFERENTES.
De partir-se do particular para o colectivo (soma de indivíduos, mas sempre diferenciados), do individual para o grupo e não o oposto.
Repare que o Liberalismo A SÉRIO é o ÚNICO sistema em que, por exemplo, poderia existir a tal de Liberdade de Ensino (sem o 'cacetete' ideológico estatal) tão reclamada por alguns nacionalistas.
"... a liberdade individual como fim da acção política."
Parece-me bem.
" Assim, o conceito de liberdades positivas vai justificar a intervenção estatal em nome da plena integração do indivíduo na sociedade em que está inserido,..."
Aquilo a que chama de 'liberdades positivas' são bastante importantes pois, como se vê, o ideário não pode ser adoptado em estado 'puro'.
Os 'purismos' são sempre perigosos e, não raras vezes, extremamente destruidores.
Contudo, as 'liberdades positivas' devem ser usadas com moderação.
É preciso equilíbrio.
"As contemporâneas democracias-liberais caracterizam-se pelo desinteresse da população face à participação cívica,..."
Não sei qual é o 'drama'.
Afinal de contas, a 'Democracia' pode organizar-se de diversas formas que podem não corresponder às fórmulas actuais.
Por exemplo, pode existir Democracia sem o sufrágio ser universal.
O sistema representativo pode ser indirecto.
Podem adoptar-se formas mais referendárias e/ou sistemas mistos.
O que define verdadeiramente 'Democracia' é um estado em que sejam asseguradas o melhor possível as 'liberdades negativas'.
Tudo o resto são 'detalhes'.
Como vê, escolha não falta.
'A noção de liberdade negativa é mais pacífica, mais acessível ao «senso comum», surge-nos mais facilmente.'
Porque é algo de Natural.
Inato, diria mesmo.
"... tal a fecundidade da árvore,..."
Pois é.
Mas o Rodrigo nunca se questionou sobre as razões de tal 'fecundidade'?
Tudo tem uma razão e uma explicação.
Nestas coisas nada acontece por acaso!
Quando algo (ou alguém) vence é preciso questionar, em primeiro lugar, o PORQUÊ!
Não será porque, ao invés de outros ideários, o Liberalismo nunca quis criar o tal 'Homem Novo' nem a patética 'sociedade paradisíaca'??
Não será porque, ao invés desses ideários, nunca pretendeu alterar a natureza humana mas, muito sábiamente e pelo contrário, reconhece-la como Natural (porque parte da Natureza) e por isso aproveitar essa mesma natureza para por um sistema em funcionamento?
Pense nisso!
A este propósito já nem vou falar do fracasso dos países comunistas.
Existem mais exemplos pelo mundo fora em que foram tentadas diversas formas de comunidade em torno da noção de colectivismo, divisão de bens e trabalho, igualitarismo, etc...
Todas fracassaram, mais cedo ou mais tarde.
Até os kibbutz parecem com crescentes problemas.
É que em todos esses casos acaba por eclodir o tal de 'individualismo', a mentalidade proprietária (Natural) e a necessidade de espaço individual por contraposição a qualquer preceito colectivista.
A Natureza, como sabe, não deve ser contrariada. É inútil.
É como o 'azeite': acaba sempre por vir ao de cima.
Nunca se esqueça que a Economia, sem ser o único 'motor da História' é, sem dúvida, o mais importante.
São as transformações nas estruturas e relações económicas que ditam as grandes transformações sociais e políticas.
Mesmo a queda do Império Romano foi motivada pela desagregação e deterioriação da economia nas décadas que a antecederam.
Muitos outros exemplos há.
Logo, se nada acontecer na estrutura da Economia, pouco (ou nada) se transformará a nível político-social.
Saudações.
ps - para variar, deixem um bocadinho o Gramsci e leiam o Trotsky.
Está lá tudo, é só adaptar :D
Resulta?!
Se resulta!!! ;)
O liberalismo é tão liberal e tão inato que tem pouco mais de 200 anos...
NC
O liberalismo é tão natural e tão inato que tem pouco mais de 200 anos...
NC
Caro Rodrigo:
Em resposta ao que me perguntou, posso dizer-lhe que não, apesar de ter conhecido e ter sido visitante assiduo do defunto blog. A blogosesfera ficou mais pobre.
A sua perspicácia associou-nos, devido à semelhança entre os meus ideiais e de Rodrigues Morgado.
Saudações.
Ao Nelson, grupos como o Club de l'Horloge ou a Polémia dizem-se «nacional-liberais» e eu não só não tenho qualquer problema com isso como nalguns casos considero acertadas as posições por eles defendidas.
Sucede que eu também acho que muitas das ideias desses grupos são manifestações extremamente heterodoxas de uma suposta tradição liberal.
Mas não foi igualmente por acaso que referi ser preciso cortar alguns desses ramos e não toda a árvore. Não acho que estejamos à beira de nenhuma revolução e nem tudo o que existe será inútil.
Agora, como já disse antes, a comunidade política está para mim acima de interesses individuais pautados pelo mercado quando isso choca com a segurança, soberania ou identidade primordial da comunidade( e o liberalismo tem sido frequentemente um problema).Como de resto não considero a comunidade como um mero jogo de interesses ou uma rede de ligações contratuais.
O club de l'Horloge desenvolveu, para dar um exemplo, o conceito de «preferência nacional» para o FN do Le Pen...Outros membros apresentaram já ideias de discriminação em favor dos cidadãos nacionais inclusive no que toca a questões fiscais. Este tipo de questões coloca-os, senão fora do pensamento liberal, então muito à margem.
Quanto a Trotsky, pensa que eu não o leio e adapto?Mas ainda falta gente, meu caro... Quando o Nelso decidir juntar-se aos bons :)
Bom ponto do NC, também.
Ao menestrel:
De facto era um bom blog, sem que concordássemos em muitas coisas. E o seu estilo de escrita e a pertinência das observações remeteu-me para aí.
Cumprimentos a todos.
«Outros membros apresentaram já ideias de discriminação em favor dos cidadãos nacionais inclusive no que toca a questões fiscais. Este tipo de questões coloca-os, senão fora do pensamento liberal, então muito à margem.»
Eu penso que os coloca completamente fora. O liberalismo, ao fim e ao cabo, pode resumir-se a uma única ideia: o primado do indíviduo. Se eles subordinam a ideia de indíviduo à de Nação, então é porque consideram a Nação um valor superior ao indíviduo - há uma clara contradição, não podem ter as duas coisas ao mesmo tempo. A menos que eles reduzam o liberalismo à propriedade privada e ao mercado, o que é muito redutor, em minha opinião.
NC
É que se pode chamar comentário em profundidade. Amanhã leio isto tudo com atenção e tecerei algumas considerações, se oportunas.
Abraço
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