quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Uma visão tradicionalista

Por que combatemos? Esta é a questão fundamental que todo o soldado político deve colocar. Por contraditório que possa parecer somos tentados a responder que lutamos pela Tradição e pela Revolução.

A Tradição

Antes de mais não se deve confundir a Tradição com as tradições, isto é, os usos e costumes.

A Tradição designa o conjunto dos conhecimentos de ordem superior referentes ao Ser e suas manifestações no mundo, tal como nos foram legados pelas gerações anteriores. Ela assenta não no que foi uma vez, num tempo e espaço determinados, mas no que é de sempre. Admite uma variedade de formas - as tradições –, ao mesmo tempo que permanece una na sua essência. Não poderíamos confundi-la com a tradição religiosa única porque ela cobre a totalidade das actividades humanas, políticas, económicas, sociais, etc.

No seguimento de Joseph de Maistre , de Fabre d’Olivet e, sobretudo, de René Guénon, Julius Evola fala de uma «Tradição primordial» que, historicamente, permitiria contemplar a origem concreta de um conjunto de tradições. Tratar-se-ia de uma «tradição hiperbórea», vinda do Extremo Norte, situada no começo do presente ciclo de civilização, em particular das culturas indo-europeias.

Do ponto de vista de Evola «uma civilização ou uma sociedade é tradicional quando é regida por princípios que transcendem o que é meramente humano e individual, quando todas as suas formas vêm do cimo e quando ela está toda orientada para o alto». A civilização tradicional assenta então em fundamentos metafísicos. É caracterizada pelo reconhecimento de uma ordem superior a tudo o que é humano e contingente, pela presença e autoridade de elites que retiram desse plano transcendente os princípios necessários para assegurar uma organização social hierarquicamente articulada, abrindo as vias para um conhecimento superior e conferindo por fim à vida um sentido vertical.

O mundo moderno é quanto a ele o oposto do mundo da Tradição que se personificou em todas as grandes civilizações do Ocidente e Oriente. É-lhe próprio o desconhecimento de tudo o que é superior ao homem, uma dessacralização generalizada, o materialismo, a confusão de castas e raças.

A Revolução

Quanto ao termo Revolução deve ser entendido na sua dupla acepção. No seu sentido actual, o mais correntemente utilizado, Revolução significa mudança brusca e radical no governo de um Estado, a Revolução francesa e a Revolução soviética de 1917 são uma ilustração perfeita.

Não obstante, no seu sentido primeiro, Revolução não significa subversão e revolta mas o contrário, a saber, regresso a um ponto de partida e movimento ordenado em torno de um eixo. É assim que, na linguagem astronómica, a revolução de um astro designa precisamente o movimento que ele realiza gravitando em torno de um centro, o qual contém a força centrífuga, impedindo o astro de se perder no espaço infinito.

Ora nós estamos hoje no fim de um ciclo.Com a regressão das estirpes, a descida progressiva da autoridade de uma a outra das quatro funções tradicionais, o poder passou dos reis sagrados a uma aristocracia guerreira, depois aos comerciantes, por fim às massas. É a idade de ferro, o Kalî-Yuga ariano, idade sombra da decadência, caracterizada pelo reino da quantidade, do número, das massas, e a correria desenfreada à produção, ao lucro, à riqueza material.

Ser pela Revolução hoje, é pretender o regresso da nossa civilização europeia a um ponto de partida original, conforme aos valores e aos princípios da Tradição, o que passa, reivindicando a expressão de Giorgio Freda, pela «desintegração do sistema» actual, antítese do mundo tradicional ao qual aspiramos.

Edouard Rix

8 Comentários:

Blogger Caturo disse...

Texto sucinto e valioso na medida em que insere uma espiritualidade quase religiosa no seio da política - a referência ao Alto como fonte da força que motiva a acção e à luz da qual se organiza o mundo.

Creio no entanto que todo este tema foi entendido de uma forma que está, quanto a mim, contaminada por uma certa visão mediterrânica e imperialista das coisas, dado que se lhe nota o carácter autoritário, dogmático, universalista e anti-libertário que fizeram dos filósofos tradicionalistas do século XX um grupo de inimigos do Nacionalismo e da Liberdade.

2:42 da manhã  
Blogger lopium disse...

Acerca da definição de Revolução, podemos então concluir que o 25 de Abril não foi uma revolução?

Com os melhores comprimentos

2:53 da tarde  
Blogger Marcos Pinho de Escobar disse...

Excelente texto. Creio, contudo, que o processo de dissolução do homem e das sociedades ainda tem um bom caminho a percorrer.

3:39 da tarde  
Blogger Rodrigo N.P. disse...

«Acerca da definição de Revolução, podemos então concluir que o 25 de Abril não foi uma revolução?»

Foi uma revolução no sentido corrente do termo, como o texto o define, não no sentido primordial.

Cumprimentos.

6:09 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Rodrigo:
Li a "desintegração do sistema"
do Freda. nesse texto não encontrei Tradição de uma confusão de temas, uma 'desintegração', sim, não exactamente do sistema,
mas do espírito e do sentido dos valores. O que fica é uma apologia patética de uma espécie de "Império de formigas", sustentado por uma elite indiderenciada e de forma nenhuma definida..´.Penso que, em termos Tradicionais, começaria tudo por aí.
Mas a síntese apresentada não pode dizer tudo, é certo.

As leituras

12:39 da manhã  
Blogger Rodrigo N.P. disse...

Caro VL, concordo que em termos Tradicionais tudo começa pela definição da elite mas não li o livro do Freda e não posso por isso julgá-lo. Este texto não é, de resto, sobre o livro, é um artigo político em que o autor faz uma simples referência a uma expressão usada pelo Freda para expor uma ideia.

Cumprimentos

6:29 da tarde  
Blogger Mendo Ramires disse...

Havemos de fazer um Debate - construtivo e criativo - sobre os conceitos de Nacionalismo e Tradição...

4:42 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Excellent, love it!
»

1:13 da manhã  

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