domingo, janeiro 29, 2006

O fogo criador


“I have long been convinced that my artistic ideal stands or falls with Germany. Only the Germany that we love and desire can help us achieve that ideal.”
Richard Wagner

Wagner foi o filho heróico do seu tempo e também um “mago” visionário. Na sua tetralogia escreveria o começo do Mundo e a sua dissolução…e depois, o profundo simbolismo de um Parsifal ou um Lohengrin. A sua arte elaborava-se para a posteridade, por isso também lhe chamaria, à sua regeneradora concepção, a “arte do futuro”. Todo o herói ou heroína dos seus dramas aspirava a uma totalidade que, quiçá, só se encontrava no porvir. Como é o caso de Senta, a mulher pura, que redime o “holandês errante” no seu trágico e obscuro peregrinar pelas águas:”Senta já não é a guardiã doméstica, a outrora pretendida Penélope de Ulisses, senão a mulher em geral, mas não a mulher preexistente, antes a desejada, a ansiada, a mulher infinitamente feminina, para dizê-lo com uma só palavra: a mulher do porvir”.

O génio transformou-se com o tempo num “deus” que foi capaz de reunir em si mesmo o artista total, o artista do futuro: músico, encenador, poeta, ensaísta e mágico. Quiçá isto, para além de outras causalidades, levou-o a aparentar-se com outro ser visionário, outro espírito acutilante daquele espantoso século XIX, Friedrich Nietzsche, que seria o seu grande amigo até à ruptura final.

O certo é que ambos foram influenciados pela fascinante leitura de Schopenhauer, convertendo-se este espírito tutelar no mestre de ambos. Assim escreveria Nietzsche da música e experiência wagneriana:” Esse mar schopenhaueriano de sons, cuja força mais secreta sinto, pela sorte de ser a minha experiência da música Wagneriana uma intuição jubilosa, um maravilhoso encontro comigo mesmo”.

Wagner, o agitador político, o socialista revolucionário, e logo acérrimo nacionalista, o anti-semita, o destrutor do poder transfigurador da música, são frases cunhadas pelos seus detractores. Jamais um guerreiro no meio do caos poderia encontrar um caminho simples. Só o seu idealismo puramente alemão e a sua afinada vontade e obstinação lhe outorgariam a glória que conheceria nos seus últimos dias. No começo todos os seus projectos , retratados nos seus escritos políticos e estéticos, não seriam mais que belos sonhos do ocaso, mas só o trabalho férreo e a disciplina o levariam à realização do seu Opus.

Na sua figura e na arte confluem a totalidade ambicionada, o fim de todo o ideal.”Wagner pertence como músico aos pintores, como poeta aos músicos, como artista em geral aos actores, todos eles fanáticos da expressão a qualquer preço”(Nietzsche, “Para além de bem e mal”).

A sua arte já não seria a do burguês nem a do aristocrata, só a arte da nação, levando os elementos do “volk” alemão à sua mais alta expressão, para que assim esse povo pudesse ver-se divinamente reflectido, tal como sucedera com a Tragédia na antiga Grécia (…)

Talvez a sua arte seja também a nossa arte. Para esses outros que buscam e amam o eterno ele guardaria na primeira pedra do Teatro de Bayreuth, inscrito numa placa de cobre a seguinte legenda:”Aqui encerro um segredo, que descanse por muitos séculos, enquanto a pedra o guarde, revelar-se-á ao mundo”.


Dante Sasmay,"Bajo los Hielos" nº1,Maio de 1999

7 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Boris Vallejo - O meu pintor contemporaneo favorito desde ha anos! As pinturas (e as esculturas) dele sao um hino ao (super)Homem!

3:41 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

E se possível um cheirinho a napalm...pela manhã!
eheheh!

Legionário

4:48 da tarde  
Blogger vs disse...

"... um cheirinho a napalm..."

Isso é mais com os americanos.
Se quiser, arranja-se sempre algum e a bom preço para os amigos.

:)

7:58 da tarde  
Blogger Gonçalo disse...

Gostava de entrar em contacto com o autor deste blog para uma futura entrevista para o In Silencio (www.Insilencio.blogspot.com).

Batalha Final blog do mês de Fevereiro.

GGoem666@hotmail.com

2:45 da manhã  
Blogger Flávio Santos disse...

Wagner representava a arte total e foi um génio absoluto. O seu germanismo assustou muita gente (Camille Saint-Saens falou de "Os Mestres Cantores de Nuremberga" como uma declaração de guerra aos povos latinos), bem como o seu anti-semitismo suposto. Que não o impedia de afirmar que Carl Maria von Weber fora uma das suas grandes inspirações.
Há múltiplos exemplos de gente de bem que idolatra Wagner sem necessariamente perfilhar da sua ideologia: o judeu Barenboim (que tentou tocar obras do Mestre em Israel, sem sucesso), o anti-nazi e enorme maestro Wilhelm Furtwängler (que se recusou a deixar a Alemanha nazi) ou o meio-judeu e grande cineasta Fritz Lang (que realizou "Os Nibelungos" em duas partes, obra maior da história do cinema).

10:53 da manhã  
Blogger Flávio Santos disse...

Essa abrangência de elogios e admiração é privilégio dos génios absolutos, como Wagner.

10:54 da manhã  
Blogger Rodrigo N.P. disse...

Gonçalo enviar-lhe-ei uma mensagem por mail.

Obrigado a todos pelos comentários complementares.

5:03 da tarde  

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