sábado, janeiro 07, 2006

leitura recomendada: Les impostures de l'égalité



O que chamamos de cultura, ou dito de outro modo o conjunto de obras criadas ao longo da história da humanidade, nomeadamente nos campos da arte e da literatura, não está ameaçada de diluição numa sociedade de massas que concede a todos o direito de julgar e avaliar e logo de colocar ao mesmo nível uma obra de Shakespeare e um romance da moda, um soneto de Mozart e uma canção de um qualquer artista de variedades?

Esta questão torna-se ainda mais pertinente na medida em que implica uma reflexão sobre a própria natureza das democracias modernas.

Georges Steiner, na sua biografia intelectual, “Errata”, coloca em termos cómicos o seguinte dilema trágico:”É incontestável que para a quase totalidade do homo sapiens sapiens a religião universal é hoje o futebol…organizemos uma consulta livre e a imensa maioria dos meus irmãos humanos preferirá uma telenovela ou um jogo de futebol a Ésquilo, o bingo ao xadrez. E é precisamente esta liberdade de escolha, mesmo se as opções estão pré-condicionadas e pré-seleccionadas pela dominação económica dos média e pelo mercado de massas, que está no fundamental em harmonia com os ideais e as instituições da democracia”.E acrescenta Steiner:”Para lá dos meus gostos pessoais e da minha vaidade o que me autoriza, tal Quixote e os seus moinhos de vento, a condenar a cultura popular que alegra tão manifestamente vidas por outro lado cinzentas e limitadas? Numa base pragmática e democrática, de acordo com a justiça social, a resposta é nada.”

É esta embaraçosa questão que se colocam os conservadores e que evitam os «progressistas». Porque é esta questão tão raramente colocada de forma crua senão porque mete em causa um “a priori” ontológico da democracia, ao qual não aderem nem Platão, nem Aristóteles, nem Montesquieu, nem Voltaire: a ideia segundo a qual os seres humanos seriam detentores de uma igual faculdade de julgar o que é justo e o que é belo.

O divertido paradoxo é que este “a priori”, cuja rejeição é considerada reaccionária, não é partilhado pelos génios cujas obras nos ensinam nas escolas e universidades. Quem ignora que de Platão a Heidegger, passando por Nietzsche, Voltaire ou Goethe, os mais eminentes espíritos da tradição ocidental estavam convencidos que a procura da verdade não era feita por aquilo a que Simone Weill chama “Le Gros animal”, ou dito de outra forma, o povo na sua versão massificada e anónima? O paradoxo é que nos incutem as obras de autores cujo pensamento e estilo genial estão em completa contradição com os valores que estamos ao mesmo tempo obrigados a considerar como sagrados: os chamados “direitos do homem”(ideologia oficial e oficiosa dos nossos tempos).

Porque é árduo e complexo, o caminho que leva à cultura, seja de tipo cientifico, literário, artístico, não pode ser acedido sem um trabalho consequente que é forçosamente selectivo. Verdade tão recorrente como penosa na era do direito de acesso de todos a tudo. Como esta verdade é incontestável não resta opção que convencer aqueles que não conseguem alcançar uma forma ou outra de cultura de elite que esta não é mais que uma cultura entre outras.

Como afirma jean-François Mattei:” No campo da cultura não temos de rejeitar a ideia de universalidade debaixo do pretexto de clivagem social entre a cultura de elite e a cultura de massas pela boa e simples razão que a cultura de massas não existe(…) Não há mais que uma cultura, aquela que eleva o homem para lá de si mesmo para partilhar as obras de excelência(…)Podemos então distinguir perfeitamente entre as obras de arte e os objectos de lazer como devemos distinguir entre a cultura verdadeira, que é sempre uma cultura duradoura e aristocrática e a cultura de massas que se situa na esfera do consumo passageiro.” Mas o background social, a origem de cada um, não define a capacidade ou o mérito, e voltamos a Mattei: “ O meio social nada tem a ver com a questão. Artistas nascidos e criados na pobreza conseguiram, pelo valor do seu trabalho, criar as obras mais elevadas…”

6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Editora ou loja em que possamos encontrar a obra?

11:24 da tarde  
Blogger Rodrigo N.P. disse...

Ediçoes Max Milo.Podes encomendar na amazon francesa. Já agora e porque o nome do autor não é muito visível na imagem, a obra é de Paul-François Paoli

2:05 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Também sou pela aristocracia do mérito. Por isso nunca me considerei socialista. Termo esse que, aliás, foi invenção da Esquerda. Sociedade, essa coisa anónima, acéfala e desenraízada...

E, já agora, um palpite futurológico: Quer os nacionalistas cheguem ou não ao poder, caminhamos inevitavelmente para a sistematica desigualização.

A nova economia é a economia do conhecimento. E a economia do conhecimento será profundamente elitista. Não tenham dúvidas.

Isto suscita-nos a opção de Guillaume Faye para um economia a dois tempos, quer ao nível mundial quer ao nível mundial.

Os capazes integrar-se-ão na sociedade do conhecimento e da informação. Serão a elite.

Os restantes irão regredir para uma economia real, baseada na terra. No entanto, gozarão de maior qualidade de vida, pois serão obrigados a abandonar o consumismo escravizador.

9:56 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Errata:

Onde se lê «quer ao nível mundial quer ao nível mundial», deve ler-se: «quer ao nível mundial, quer ao nível nacional».

9:57 da tarde  
Blogger A Sentinela disse...

Eu não pertenço à tal chamada “elite”, mas gosto de música clássica (o som de um violino dá-me a volta à cabeça, adoro), gosto de Teatro conservador (detesto o teatro contemporâneo, existem para aí “aos pontapés” e não têm arte nenhuma....), gosto de um bom livro de versos e rimas, mas detesto a Poesia contemporânea( trocam as palavras e pronto, não me fazem sentir nada ao ler a maioria das obras de poesia). Mas o Rock, o Tecno e outras (as tais para as massas) também moram nos meus gostos. Mas é claro que dou prioridade a música e arte criada por génios, dou valor à pessoa, à criação em si, ao modo como foi feito, não quero saber se está na moda ou não. O mesmo acontece noutro tipo de Artes.

Depende do Socialismo Senhor FilipeBs

Eu nunca defendi, a cultura para as massas, porque é um tipo de cultura que tem de se disseminar de um modo resumido, transformando-se num vazio cheio de incompreensão por parte de um povo. Mas o ensinar as massas a criar e a desenvolver a sua cultura, isto sim, devia ser uma prioridade. Quanto ao elitismo conhecimento e de certas culturas, concordo que haverá sempre uma certa divisão, mas o facto não depende de quem tem acesso à tal cultura elitista (qualquer um pode comprar um CD de Ópera, Musica Clássica, etc...), ou no acesso ao tal conhecimento ( escolas acessíveis a todos, etc...), depende somente do aspecto SOCIAL que molda toda uma mentalidade de uma, ou várias classes.
Neste aspecto, o socialismo pode e deve entrar em acção, um Nacionalista pode muito bem ser Socialista, não? Mas claro está, depende do tipo de Socialismo. Se for um Socialismo Nacionalista, tudo bem.

E já agora, ao contrário o que a maioria pensa, a cultura discute-se, ou seja, os gostos discutem-se. E esta, é a minha opinião convicta.

11:01 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

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4:15 da manhã  

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