sexta-feira, janeiro 20, 2006

Carl Schmitt - breve introdução

Há duas ideias levantadas no trabalho de Schmitt que merecem atenção na nossa sociedade multicultural decretada pelas “elites”. Em “The concept of the political”(um trabalho que primeiramente surgiu em 1927 e que foi depois publicado em Inglês, em 1976, pela Universidade de Rutgers) Schmitt explica que a distinção amigo/inimigo é uma característica necessária de todas as comunidades políticas. De facto, o que define o “político” por oposição a outras actividades humanas é a intensidade de sentimento em relação a amigos e inimigos, ou em relação aos nossos e àqueles percebidos como forasteiros hostis.

Este sentimento não deixa de existir na ausência de Estados-nação. Schmitt argumenta que a distinção amigo/inimigo caracterizara as antigas comunidades e persistiria provavelmente no ambiente cada vez mais ideológico no qual os Estados-nação fossem enfraquecendo. O sistema europeu de Estados, a começar no final da guerra dos 30 anos, havia de facto prestado um serviço de controlo sobre o “político”.

O subsequente ataque a esse sistema de Estados-nação, com os seus específicos e limitados interesses geopolíticos, tornou o mundo ocidental mais fervorosamente político, um ponto que Schmitt desenvolve no seu magnum opus do pós-guerra “Nomos der Erde”( Nomos da Terra).A partir da Revolução Francesa cresceu o número de guerras travadas em nome de doutrinas morais – mais recentemente clamando a defesa dos “direitos humanos”. Essa tendência replicou os erros da idade das guerras religiosas.. Transformou a força armada de meio para alcançar objectivos territoriais limitados , quando os recursos diplomáticos falham, numa cruzada pelo bem universal contra um inimigo diabolizado.

Uma ideia relacionada tratada por Schmitt é a tendência em direcção a um Estado Universal( a Nova Ordem Global?). Essa tendência parecia proximamente ligada à hegemonia anglo-americana, um tema que Schmitt abordou nos seus comentários durante e depois da 2ªGuerra Mundial.

Os historiadores germânicos, no inicio do século XX, haviam tipicamente feito comparações entre, de um lado, a Alemanha e Esparta e, do outro lado, a Inglaterra( mais tarde os EUA) e Atenas – entre aquilo que viam como sendo potências terrestres disciplinadas e potências mercantis, expansionistas e navais. Os poderes anglo-americanos, que dependiam da capacidade naval, tinham um sentido de limitação territorial menor do que os Estados terrestres. As potências marítimas haviam evoluído para impérios, desde os atenienses.

Mas embora esta comparação seja controversa ele também levanta o ponto mais significativo: Os americanos aspiram a um Estado Mundial porque reclamam validade universal para o seu modo de vida. Eles vêem a democracia liberal como algo que estão moralmente obrigados a exportar. São conduzidos pela ideologia como pela natureza do seu poder em direcção a uma distinção amigo/inimigo universal.

Embora nos anos 40 e 50 Schmitt esperasse que o devastado sistema de Estados-nação fosse substituído por um novo pluralismo político, a criação de esferas de controlo por parte de poderes regionais, ele também duvidava que isto resultasse. O período do pós-guerra trouxe a polarização entre o bloco comunista e os anti-comunistas, liderados pelos EUA. Schmitt claramente temia e detestava os comunistas mas também desconfiava do lado americano, por razões pessoais e analíticas. De Setembro de 1945 até Maio de 1947 Schmitt havia sido prisioneiro das forças de ocupação americanas na Alemanha. Embora libertado com base no facto de não ter desempenhado significativo papel enquanto ideólogo nazi, ficou traumatizado pela experiência. Durante o cativeiro fora-lhe “pedido” que desse provas da sua crença na democracia liberal. Ao contrário dos soviéticos, em cujas zonas de ocupação havia residido por um tempo, os americanos pareciam ser ideologicamente motivados e não meros conquistadores vingativos.

Schmitt acabou por recear o globalismo americano mais que o seu congénere soviético, que considerou ser despotismo militar primitivo aliado a uma obsessão intelectual ocidental. No final recebeu com agrado a bipolaridade da guerra-fria, vendo no poder soviético um meio de limitar as cruzadas americana pelos “direitos humanos”.

Um conhecedor crítico do expansionismo americano, Schmitt compreendeu o agora indisfarçável carácter ideológico da política americana.

No período posterior à guerra-fria, apesar da irritação que causa entre os imperialistas americanos, as suas análises parecem mais actuais e relevantes que nunca.


Paul Gottfried

9 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

O que ainda me surpreende e nacionalistas a fazer a defesa dos EUA. Esses pararam mesmo no anti-comunismo e mais que isso nao veem.

6:06 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Tem piada que no blog do Buiça (e noutros) já tive lá várias debates sobre estas mesmas posições:Esparta versus Atenas.
Platão esse grande ateniense parecia ter pena de não ter nascido espartano.

Legionário

11:54 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Mete Carl Schmitt no cu,foi um grande Nazi tal como grandes filosofos desse tempo, como Heidegger ou Ernst Jünger.A indubitável superioridade moral da raça ariana.Essa dicotomia amigo/inimigo é uma justificação para a guerra e seus argumentos o "jus publicum europaeum".Apoiou o "jus belli"(direito à guerra)hitleriano.Schmitt assume pouco depois do fim da 2ªGuerra Mundial como o "último representante consciente"...só para rir.Lê a minha tese de pós-graduação em Filosofia Politica se tiveres arcaboiço "A tese smchmittiana da sucessão entre poder soberano e poder total".Ou então com mais fácil acesso tens o livro do Dr.Alexandre Sá,"METAMORFOSES DO PODER",colecção Sophia 002,ariadne editora,Coimbra,2004.Pode ser que aprendas alguma coisa.

9:05 da tarde  
Blogger Rodrigo N.P. disse...

De quando em vez aparecem por aqui umas galinhas histéricas que juntando letras atrás de letras( muitas vezes nem palavras formando) conseguem nada dizer.

Conheço bem Schmitt ó papalvo, e felizmente conheço a obra a partir da origem já que disponho dos livros do autor.Dispenso por isso o textozinho a que chamas tese.Mas agradeço o momento de comédia.

Já agora petiz, este texto foi escrito por um professor da Universidade de Elisabethtown que tem uma excelente obra publicada sobre o pensamento de Schmitt:"Carl Schmitt: Politics and Theory".

Quanto à tua tese se precisar de papel higiénico aviso-te.

E não menciones Jünger ou Heidegger. Estão para lá da tua compreensão, como Schmitt, aliás.Já aqui publiquei textos sobre Jünger e no futuro continuarei a fazê-lo, o mesmo vale para Schmitt, isto foi apenas uma introdução, mais textos sobre o pensamento do enorme autor virão, e tu, qual impotente, nada poderás fazer senão continuar a berrar a indignação "pronto-a servir" que os teus donos te ensinaram a papaguear.

10:50 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Este joão não é de Atenas nem de Esparta. Decididamente é filho de Corintio!

Legionário

11:37 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

E quem és tu para afirmar que esses filósofos estão para lá da minha compreensão?
Se não os tivesse compreendido não teria chegado aonde cheguei.Já agora aconselho-te a ler uns poemas de Hölderin,especialmente os últimos pode ser que te sare a mente.Talvez encontres a serenidade do "DER FELDWEG".Fikkka bemSS...

3:22 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Este Legionário deve é ser filho da Minerva,aquela avis rara que só levanta voo ao entardecer...

11:36 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

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2:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Falar do pensamento de Carl Schmitt
é pensar a própria liberdade do ho-
mem contemporâneo.O pensamento des-
te grande pensador mos faz voltar à
Atenas e a Esparta.
Prof.Severino Erasmo de Lima
AJES-Faculdades do Vale do Juruena
Mato Grosso.

5:49 da tarde  

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