Manifesto
MANIFESTO
O papel dizia assim:
«Estamos cansados de gritar
_É a hora! É a hora!
e deixarmo-nos ficar.
Hoje, vimos dizer que esta demora,
enfim,
vai acabar.
Venham traições, raivas, ódios,
ajudar a compor este poema.
Só o sangue, o sofrimento, energias e coragem
podem moldar esta mensagem.
Em breve há-de soar por toda a terra
o rumor dos nossos tambores de guerra.
Mas uma guerra sã, viril, triunfal…»
E etc. e tal.
Ao lerem o manifesto,
senhores
doutores
lançarão
o seu grito de protesto:
_«É uma desconsideração!
Só nós somos indicados
para politicar, orientar, sanear, lavar, esfregar, ensinar…
Somos todos predicados,
e até por esse motivo
já fomos condecorados
E temos no nosso activo
mil banquetes de homenagem!
São
então
estes rapazes
que vêm falar de coragem?
Como se fossem capazes
De outra mais alta miragem!»
E os poetas inspirados
(burgueses d’alma),
em versos metrificados,
em louvor
de uma senhora ou senhor,
hão-de perder a calma
e corar de horror.
Outros que tais,
gente de fino parecer,
com seu vício recatado,
seu lugar no céu comprado
com missas podres de chique
(ouvidas entre a ceia do casino
e o piquenique)
e bailes de caridade
pra socorrer a orfandade:
que coisas nos dirão?
E tu, fidalgo sem pão,
com fífias senis na voz,
com teu anel de brasão
e avós
pendurados nas paredes do solar hipotecado,
aonde já estás pendurado,
à espera da morte breve,
frente a uma espada
oxidada
que, também, pra nada serve:
que dirás?
E vós, donzelas, donzéis,
das matinés elegantes,
dos chás
dançantes
(sem papás
e sem mamãs,
para estarem à vontade),
maila vossa ingenuidade
aprendida com galãs
de cinema muito em moda,
vós,
que tresandais a calão
da alta-roda
e sois só futilidade
(e sois também mocidade!)
vós,
donzelas, donzéis:
que direis?
E tu, daí, do café,
rabiscador de panfletos,
à espera da posta vaga
que qualquer vento te traga,
a sonhar
lirismo de Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade,
com a sua bomba à mistura
e uns anitos de prisão
(frustrada virilidade!)
hás-de gozar,
julgarás
que tenho pacto contigo,
pois que tiraste a patente
de todas as revoluções, explosões, prisões…
NÃO!NÃO e NÃO…!
Não tendes nada comigo!
Aqui vos acuso a todos,
a TODOS,
de me haverem gerado,
iludido,
manejado,
traído!
Basta pois: agora
é a Hora!
O papel tinha razão.
Estou bem longe de vós,
Da vossa inutilidade:
cem rios, cem caminhos, cem abismos nos separam.
Eu sou doutra Mocidade,
sou doutra Maioridade.
Ah, mas valerá a pena
vir-vos dizer o que sou?
Valerá , de facto, a pena?
Mas eu tinha de cantar
o meu canto de vitória,
canto de libertação,
que me enchia o coração,
que afirma toda a beleza
da minha certa certeza,
que ultrapassa o som da minha voz.
Que eu não canto só por mim:
quem canta em mim
SOMOS NÓS!
António Manuel Couto Viana
Entretanto, passem pelo Fascismo em Rede e leiam o poema lá publicado de Amândio César, não se arrependerão.
O papel dizia assim:
«Estamos cansados de gritar
_É a hora! É a hora!
e deixarmo-nos ficar.
Hoje, vimos dizer que esta demora,
enfim,
vai acabar.
Venham traições, raivas, ódios,
ajudar a compor este poema.
Só o sangue, o sofrimento, energias e coragem
podem moldar esta mensagem.
Em breve há-de soar por toda a terra
o rumor dos nossos tambores de guerra.
Mas uma guerra sã, viril, triunfal…»
E etc. e tal.
Ao lerem o manifesto,
senhores
doutores
lançarão
o seu grito de protesto:
_«É uma desconsideração!
Só nós somos indicados
para politicar, orientar, sanear, lavar, esfregar, ensinar…
Somos todos predicados,
e até por esse motivo
já fomos condecorados
E temos no nosso activo
mil banquetes de homenagem!
São
então
estes rapazes
que vêm falar de coragem?
Como se fossem capazes
De outra mais alta miragem!»
E os poetas inspirados
(burgueses d’alma),
em versos metrificados,
em louvor
de uma senhora ou senhor,
hão-de perder a calma
e corar de horror.
Outros que tais,
gente de fino parecer,
com seu vício recatado,
seu lugar no céu comprado
com missas podres de chique
(ouvidas entre a ceia do casino
e o piquenique)
e bailes de caridade
pra socorrer a orfandade:
que coisas nos dirão?
E tu, fidalgo sem pão,
com fífias senis na voz,
com teu anel de brasão
e avós
pendurados nas paredes do solar hipotecado,
aonde já estás pendurado,
à espera da morte breve,
frente a uma espada
oxidada
que, também, pra nada serve:
que dirás?
E vós, donzelas, donzéis,
das matinés elegantes,
dos chás
dançantes
(sem papás
e sem mamãs,
para estarem à vontade),
maila vossa ingenuidade
aprendida com galãs
de cinema muito em moda,
vós,
que tresandais a calão
da alta-roda
e sois só futilidade
(e sois também mocidade!)
vós,
donzelas, donzéis:
que direis?
E tu, daí, do café,
rabiscador de panfletos,
à espera da posta vaga
que qualquer vento te traga,
a sonhar
lirismo de Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade,
com a sua bomba à mistura
e uns anitos de prisão
(frustrada virilidade!)
hás-de gozar,
julgarás
que tenho pacto contigo,
pois que tiraste a patente
de todas as revoluções, explosões, prisões…
NÃO!NÃO e NÃO…!
Não tendes nada comigo!
Aqui vos acuso a todos,
a TODOS,
de me haverem gerado,
iludido,
manejado,
traído!
Basta pois: agora
é a Hora!
O papel tinha razão.
Estou bem longe de vós,
Da vossa inutilidade:
cem rios, cem caminhos, cem abismos nos separam.
Eu sou doutra Mocidade,
sou doutra Maioridade.
Ah, mas valerá a pena
vir-vos dizer o que sou?
Valerá , de facto, a pena?
Mas eu tinha de cantar
o meu canto de vitória,
canto de libertação,
que me enchia o coração,
que afirma toda a beleza
da minha certa certeza,
que ultrapassa o som da minha voz.
Que eu não canto só por mim:
quem canta em mim
SOMOS NÓS!
António Manuel Couto Viana
Entretanto, passem pelo Fascismo em Rede e leiam o poema lá publicado de Amândio César, não se arrependerão.
1 Comentários:
Também segui o mesmo caminho e...
Não há dúvida nenhuma.
Gosto do leio aqui, gosto muito mesmo.
É precisamente deste tipo de poesia, rimas ou versos que eu gosto, dos que fazem sentir, desde o início até ao fim.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial