A decadência relativista
Encontra os primeiros sintomas na Antiguidade, pelo menos. Heródoto é, talvez, o primeiro autor a fazer eco daquilo a que se chamaria relativismo cultural. Conta ele na sua obra que, nas suas viagens, o imperador Dario vira a diversidade. Na morte, por exemplo. Enquanto os gregos enterravam os seus mortos, os calatinos optavam por comê-los, deduzindo-se daí que nada mais era do que uma questão de convenção.
Não foi o único. Também o filósofo Xenófanes repetirá uma argumentação idêntica, no seu caso em referência à religião. Dirá algo como, e cito de memória,"Nós representamos os deuses à nossa imagem. Os etíopes fazem o mesmo. E os animais, se tivessem mãos, representá-los-iam do mesmo modo". De onde se conclui novamente pelo relativismo. Pela convenção. Neste caso social.
A religião cristã, o seu advento, a sua teologia, haveria de pôr um travão ligeiro a estas divagações, pelo menos no plano moral.Crítica à religião, ressurreição do que não morrera. Pelo século XVIII o relativismo volta em força. Três exemplos, entre muitos: Montesquieu e as lendárias Cartas Persas; Voltaire e o seu Ingénuo; Diderot e o Suplemento à Viagem do Bougainville, onde um embaraçado padre tenta explicar ao indígena Oru por que razão não pode aceitar a oferta de dormir com a filha ou a mulher daquele.
Esta velha crença, de que as formas de expressão moral e cultural, embora diferentes, possuem valor equivalente, tem sido das mais nefastas na história do Ocidente. E repete-se hoje, com força. Já não se insinua, entra de rompante, impõe-se, invade. Problema? A sua falsidade. De um modo muito simples, as proposições relativistas resumem-se a uma essencial: Nenhuma cultura possui um valor especial. Culturas diferentes possuem códigos morais diferentes, os quais variam consoante as circunstâncias, palavra mágica que pode dizer tudo e nada. Naturalmente, se todas possuem esse valor, a nossa é apenas uma entre muitas, sem nada que a eleve acima das demais. Consequência óbvia: não julgueis para não serdes julgados. Afinal, o cristianismo andava mais próximo do que se pensava.
Somos arrogantes. Não podemos ter a pretensão de julgar o diferente. Se olharmos para a televisão, se virmos os documentários, se lermos os relatos, as coisas parecem passar-se assim. Certo. O problema é que só estamos a ver a superfície.
A crença relativista enraíza-se numa análise superficial dos costumes e das práticas. Ao dizer-nos que é tudo relativo, o nosso relativista esquece o fundamental: existem valores partilhados, existem valores universais. Se assim não fosse, há muito que a humanidade teria desaparecido. O relativismo funciona, mas só à superfície. Uns metros mais abaixo e falha redondamente, pois encontramos valores e comportamentos que são comuns a diferentes civilizações.Claro que nada disto interessa aos modernos relativistas. Só a diferença é importante. Falem-lhes na "diferença" e escutar-vos-ão. falem-lhes no "direito à diferença" e todas as portas se abrirão. Conseguimos atravessar qualquer Mar Vermelho.
O problema é outra vez a superfície. A ilusão da diferença, que é, na realidade, a normalização. Porque o relativismo, na sua essência, quando aplicado conduz ao conformismo, conduz à asfixia da dissenção, ao silenciamento da verdadeira diferença. Sociedades conformistas são sociedades onde o progresso (moral e técnico) desaparece. São sociedades que sofrem de entropia. São sociedades que definharão. O relativismo, sob a sua aparência multicolor (vejam-se os garridos desfiles gays), abre caminho à pior normalização mental, ao banimento da dissemelhança. Se tu não és relativista estás fora da salvação. Então, para ser salvo, assumo que tudo é legítimo. Aceito e participo da corrosão. Os valores são corroídos, não transmutados, o que é algo bem diferente. No seu lugar fica uma imagem. Como a de Cristo, para os gnósticos. Estes novos gnósticos, estes homens e mulheres pneumáticos, possuidores da sabedoria, revelam-nos o seu desprezo. Impõem-nos o inaceitável. Ai de quem se levantar contra eles. O deus relativista pode ser pior do que em Cartago. E, aqui, não serão apenas as crianças a verem a cor das chamas.
Texto do camarada T.Toledo
Não foi o único. Também o filósofo Xenófanes repetirá uma argumentação idêntica, no seu caso em referência à religião. Dirá algo como, e cito de memória,"Nós representamos os deuses à nossa imagem. Os etíopes fazem o mesmo. E os animais, se tivessem mãos, representá-los-iam do mesmo modo". De onde se conclui novamente pelo relativismo. Pela convenção. Neste caso social.
A religião cristã, o seu advento, a sua teologia, haveria de pôr um travão ligeiro a estas divagações, pelo menos no plano moral.Crítica à religião, ressurreição do que não morrera. Pelo século XVIII o relativismo volta em força. Três exemplos, entre muitos: Montesquieu e as lendárias Cartas Persas; Voltaire e o seu Ingénuo; Diderot e o Suplemento à Viagem do Bougainville, onde um embaraçado padre tenta explicar ao indígena Oru por que razão não pode aceitar a oferta de dormir com a filha ou a mulher daquele.
Esta velha crença, de que as formas de expressão moral e cultural, embora diferentes, possuem valor equivalente, tem sido das mais nefastas na história do Ocidente. E repete-se hoje, com força. Já não se insinua, entra de rompante, impõe-se, invade. Problema? A sua falsidade. De um modo muito simples, as proposições relativistas resumem-se a uma essencial: Nenhuma cultura possui um valor especial. Culturas diferentes possuem códigos morais diferentes, os quais variam consoante as circunstâncias, palavra mágica que pode dizer tudo e nada. Naturalmente, se todas possuem esse valor, a nossa é apenas uma entre muitas, sem nada que a eleve acima das demais. Consequência óbvia: não julgueis para não serdes julgados. Afinal, o cristianismo andava mais próximo do que se pensava.
Somos arrogantes. Não podemos ter a pretensão de julgar o diferente. Se olharmos para a televisão, se virmos os documentários, se lermos os relatos, as coisas parecem passar-se assim. Certo. O problema é que só estamos a ver a superfície.
A crença relativista enraíza-se numa análise superficial dos costumes e das práticas. Ao dizer-nos que é tudo relativo, o nosso relativista esquece o fundamental: existem valores partilhados, existem valores universais. Se assim não fosse, há muito que a humanidade teria desaparecido. O relativismo funciona, mas só à superfície. Uns metros mais abaixo e falha redondamente, pois encontramos valores e comportamentos que são comuns a diferentes civilizações.Claro que nada disto interessa aos modernos relativistas. Só a diferença é importante. Falem-lhes na "diferença" e escutar-vos-ão. falem-lhes no "direito à diferença" e todas as portas se abrirão. Conseguimos atravessar qualquer Mar Vermelho.
O problema é outra vez a superfície. A ilusão da diferença, que é, na realidade, a normalização. Porque o relativismo, na sua essência, quando aplicado conduz ao conformismo, conduz à asfixia da dissenção, ao silenciamento da verdadeira diferença. Sociedades conformistas são sociedades onde o progresso (moral e técnico) desaparece. São sociedades que sofrem de entropia. São sociedades que definharão. O relativismo, sob a sua aparência multicolor (vejam-se os garridos desfiles gays), abre caminho à pior normalização mental, ao banimento da dissemelhança. Se tu não és relativista estás fora da salvação. Então, para ser salvo, assumo que tudo é legítimo. Aceito e participo da corrosão. Os valores são corroídos, não transmutados, o que é algo bem diferente. No seu lugar fica uma imagem. Como a de Cristo, para os gnósticos. Estes novos gnósticos, estes homens e mulheres pneumáticos, possuidores da sabedoria, revelam-nos o seu desprezo. Impõem-nos o inaceitável. Ai de quem se levantar contra eles. O deus relativista pode ser pior do que em Cartago. E, aqui, não serão apenas as crianças a verem a cor das chamas.
Texto do camarada T.Toledo
5 Comentários:
Outra vez o dogma,tás mesmo no absoluto...mas quando é que escreves um texto teu?Só sabes fazer copy e paste?
Nesta página tens 2 textos meus e nos arquivos muitos outros. De resto nada disto é copy/paste, são traduções minhas de textos que acho interessantes e que quero dar a conhecer a quem lê o blog; este em particular é um texto de um amigo que deverá continuar a colaborar com o BF.E tu? Quando é que escreves algo que revele o mínimo indício de inteligência ou capacidade crítica?
O problema da questão da copia de textos é o de muitos apenas copiarem os textos e manda-los a vida, sem sequer entende-los, como è claro, esse nâo è o caso, o Rodrigo faz com clareza a exposiçâo dos textos, com critérios por ele estabelecidos.De qualquer forma, é uma oportunidade salutar apreciar textos seus amigo Rodrigo!Saudaçôes.
O 777 não argumenta, apouca. O 777 julga poder desmoralizar o adversário poupando-se ao esforço (que sente inglório?) de contradizer. Lança a bomba pois não sabe manejar a espada.
É a téctica habitual dos esquerdistas; só são inteligentes quando falam uns com os outros.
A escolha criteriosa de textos alheios é já meritória. Este texto sobre o relativismo merecia divulgação. O relativismo da esquerda é, em si, contraditório. É a maneira que têm de desagregar os valores locais genuinos retirando-lhes o substracto universal que aqueles interpretam com legitimidade. Quer dizer, são relativos no universal e universais no relativo.
A verdadeira diferença, a singeleza dos hábitos e costumes enraizados na tradição, para tal não têm os esquerdistas paciência. A diferença que lhes interessa é o arbitrário, a aberração, a variedade do aterro sanitário e não a diversidade harmoniosa da paisagem natural.
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