A estratégia da mentira
Na Hungria, o reconhecimento (trazido a público) por parte do primeiro-ministro socialista de que havia mentido à população sobre a situação económica do país e que o programa eleitoral que o levou à reeleição não poderia, em face disso, ser cumprido, que era apenas uma manobra eleitoralista para conseguir a continuidade no governo, encaminhou para as ruas milhares de cidadãos revoltados exigindo a sua demissão. Cinicamente, confesso que a única coisa que acho invulgar no caso é a forma como trespassou para o público a gravação daquelas conversas internas. Não há, verdadeiramente, nada de particularmente extraordinário no resto, ocorre dizer: «Hungria, bem vinda à democracia».
A verdade é que pela sua natureza a democracia moderna é, por excelência, reino de demagogia, que deriva naturalmente da necessidade imposta pelo eleitoralismo existente, promete-se tantas vezes o que à partida não pode, em consciência, ser realizado, pois o objectivo é chegar ao poder e lá permanecer o maior tempo possível (e nada mais que isso – é flagrante a completa ausência de projectos políticos mobilizadores, nada mais temos que a alternância dos mesmos de sempre na gestão corriqueira do situacionismo conjuntural), e o meio de o fazer e de lá se manter é oferecendo, continuadamente, à imaginação das massas de votantes a mentira, o «melhor dos mundos» e conseguido sem grandes chatices. Mandam as multidões que nada mandam que lhes mintam na cara, merecidamente, a maior parte conforma-se, habitua-se. Aqueles que do sistema vivem e os órgãos de informação que servem o dito cujo encarregam-se de manter sempre presente sobre as populações os fantasmas que asseguram a eternização das oligarquias vigentes, debaixo da ideia de que chegámos, neste caso, a um fim da história…
Na sua breve apresentação do livro de Thierry Desjardins, «Assez!», Lambert Christian afirma: «Como em democracia, mesmo relativa, é imperativo seduzir a opinião, a tentação de praticar a estratégia da mentira é grande»(Électoralisme : la stratégie du mensonge, Les 4 Vérités, nº 556)
Depois, reportando-se exclusivamente ao caso francês, dá dois exemplos concretos (mas que são completamente transponíveis para a realidade portuguesa): a distorção oficial dos números relativos ao desemprego e a manipulação dos dados referentes ao número de imigrantes e os seus custos para o Estado( O Instituto de Geopolítica das Populações, desafiando as informações que sobre o assunto se procuram divulgar, estima em 80% do défice orçamental o custo total da imigração e sua integração em França).
Por cá não precisamos de recuar muito para encontrar exemplos flagrantes da «estratégia da mentira», notem-se as diferenças de orientação nas promessas apresentadas pelo actual governo antes de ser eleito e as decisões tomadas depois de atingido o «El Dorado» no caso da política fiscal. E não entremos sequer na discussão dos dados económicos e sociológicos que manipulam e naqueles que nos ocultam. Não mais sairíamos daqui…
Esta «estratégia da mentira» é o próprio âmago das democracias-liberais modernas, Ferenc Gyurcsány teve simplesmente «azar», foi ironicamente apanhado num momento de franqueza privada.
Será interessante analisar a forma como a direita imaculadamente democrática e sensata tem vindo a lidar com a questão. Os húngaros, ainda algo novatos nestas coisas da «classe discutidora», reagiram nas ruas (mais uns anitos e aquilo passa-lhes, acostumar-se-ão, os ingénuos) e ao fazê-lo obrigaram a direita «moderada e respeitável» ao envolvimento, directo ou indirecto, nas manifestações, caso contrário teriam sido deixadas exclusivamente nas mãos da direita radical, o que, está bom de ver, seria má estratégia eleitoral para a «boa direita».
Mas muitos sectores dessa direita não escondem a intenção de permitir ao actual governo completar o mandato. Afinal, vêm aí as eleições locais e após o escândalo a «boa direita» tem plena consciência de que será recompensada, e depois, nas próximas legislativas, a vitória apresenta-se também muito próxima, não só porque o escândalo continuará presente, e disso se assegurará a oposição fazendo também ela bom uso da demagogia e da «estratégia da mentira», como as medidas que foram anunciadas pelo governo socialista, de austeridade e sacrifício, garantirão o mote perfeito para o eleitoralismo triunfante, com a vantagem que advirá do facto de as reformas problemáticas mas necessárias terem então sido já parcialmente ou totalmente realizadas(o que não deixa de constituir menos um fardo). Aconteça o que acontecer é uma situação de «ganho-ganho». Torna-se simplesmente necessário acompanhar e controlar o poder da direita «dura» nas ruas, porque é fulcral não deixar fugir a imagem de liderança da oposição perante as massas de votantes.
A verdade é que pela sua natureza a democracia moderna é, por excelência, reino de demagogia, que deriva naturalmente da necessidade imposta pelo eleitoralismo existente, promete-se tantas vezes o que à partida não pode, em consciência, ser realizado, pois o objectivo é chegar ao poder e lá permanecer o maior tempo possível (e nada mais que isso – é flagrante a completa ausência de projectos políticos mobilizadores, nada mais temos que a alternância dos mesmos de sempre na gestão corriqueira do situacionismo conjuntural), e o meio de o fazer e de lá se manter é oferecendo, continuadamente, à imaginação das massas de votantes a mentira, o «melhor dos mundos» e conseguido sem grandes chatices. Mandam as multidões que nada mandam que lhes mintam na cara, merecidamente, a maior parte conforma-se, habitua-se. Aqueles que do sistema vivem e os órgãos de informação que servem o dito cujo encarregam-se de manter sempre presente sobre as populações os fantasmas que asseguram a eternização das oligarquias vigentes, debaixo da ideia de que chegámos, neste caso, a um fim da história…
Na sua breve apresentação do livro de Thierry Desjardins, «Assez!», Lambert Christian afirma: «Como em democracia, mesmo relativa, é imperativo seduzir a opinião, a tentação de praticar a estratégia da mentira é grande»(Électoralisme : la stratégie du mensonge, Les 4 Vérités, nº 556)
Depois, reportando-se exclusivamente ao caso francês, dá dois exemplos concretos (mas que são completamente transponíveis para a realidade portuguesa): a distorção oficial dos números relativos ao desemprego e a manipulação dos dados referentes ao número de imigrantes e os seus custos para o Estado( O Instituto de Geopolítica das Populações, desafiando as informações que sobre o assunto se procuram divulgar, estima em 80% do défice orçamental o custo total da imigração e sua integração em França).
Por cá não precisamos de recuar muito para encontrar exemplos flagrantes da «estratégia da mentira», notem-se as diferenças de orientação nas promessas apresentadas pelo actual governo antes de ser eleito e as decisões tomadas depois de atingido o «El Dorado» no caso da política fiscal. E não entremos sequer na discussão dos dados económicos e sociológicos que manipulam e naqueles que nos ocultam. Não mais sairíamos daqui…
Esta «estratégia da mentira» é o próprio âmago das democracias-liberais modernas, Ferenc Gyurcsány teve simplesmente «azar», foi ironicamente apanhado num momento de franqueza privada.
Será interessante analisar a forma como a direita imaculadamente democrática e sensata tem vindo a lidar com a questão. Os húngaros, ainda algo novatos nestas coisas da «classe discutidora», reagiram nas ruas (mais uns anitos e aquilo passa-lhes, acostumar-se-ão, os ingénuos) e ao fazê-lo obrigaram a direita «moderada e respeitável» ao envolvimento, directo ou indirecto, nas manifestações, caso contrário teriam sido deixadas exclusivamente nas mãos da direita radical, o que, está bom de ver, seria má estratégia eleitoral para a «boa direita».
Mas muitos sectores dessa direita não escondem a intenção de permitir ao actual governo completar o mandato. Afinal, vêm aí as eleições locais e após o escândalo a «boa direita» tem plena consciência de que será recompensada, e depois, nas próximas legislativas, a vitória apresenta-se também muito próxima, não só porque o escândalo continuará presente, e disso se assegurará a oposição fazendo também ela bom uso da demagogia e da «estratégia da mentira», como as medidas que foram anunciadas pelo governo socialista, de austeridade e sacrifício, garantirão o mote perfeito para o eleitoralismo triunfante, com a vantagem que advirá do facto de as reformas problemáticas mas necessárias terem então sido já parcialmente ou totalmente realizadas(o que não deixa de constituir menos um fardo). Aconteça o que acontecer é uma situação de «ganho-ganho». Torna-se simplesmente necessário acompanhar e controlar o poder da direita «dura» nas ruas, porque é fulcral não deixar fugir a imagem de liderança da oposição perante as massas de votantes.