quinta-feira, setembro 29, 2005

Ernst Jünger - Uma Vida

“É rebelde, por conseguinte, alguém que posto pela lei da natureza em relação com a liberdade, se arrasta no tempo a uma revolta contra o automatismo e a uma recusa de admitir a sua consequência ética_ o fatalismo”:

Enst Jünger, “Tratado do Rebelde ou o recurso às Florestas”

Entre estes dois retratos de Ernst Jünger corre toda a História deste século. O primeiro é de Novembro de 1915; o escritor aparece na frente da Flandres, jovem soldado com o equipamento de guerra das tropas de assalto: punhal, granadas de mão, lança-rockets, lâmpada de bolso. O segundo é de 1977, em Wilflingen: livros, relógios de areia, colecções, um velho senhor que viu, que conheceu, que sabe, que escreveu.

Só os olhos são os mesmos: os olhos que viram os crepúsculos da grande Guerra, as lutas dos Freikorps, a revolução alemã, Paris ocupada, o apocalipse na Rússia e nas cidades do Reich. E que, depois, de Oriente a Ocidente, da América à África, por entre drogas, insectos, caçadas subtis, livros, memórias, diários, no ciclo de uma vida quase centenária de rebelde e de pensador, de aventureiro e de homem de letras, têm continuado esses itinerários fascinantes de que podemos, por reflexo e leitura, participar.

Porquê esta referência a Jünger nestes dias da última década, do último século, de contagem decrescente para um fim de milénio, num tempo em que parecem triunfar as ideologias, os sistemas, as receitas de uma certa forma de mercantilismo comunitário e neo-manchesteriano, “burguês”( na acepção de anti-heróico) tão nos antípodas do significado e do pensamento do autor de “ Der Arbeiter”, como o concentracionismo colectivista que se decompõe aos nosso olhos? Que tem este aristocrata subtil, este cavaleiro de Dürer dobrado de moralista do Grande Século, este guerreiro filósofo, este artista da palavra e eremita das florestas, que ver com o mundo das multinacionais da soja ou dos electrodomésticos , dos tecnoburocratas de Bruxelas, dos “desafios japoneses, da predeterminação tecnológica, da morte da política, do fim da História? Que tem para dizer a gerações que vêem a funcionalização crescente, o economismo avassalador, a integração mediática, a degradação da educação, a transformação da cultura em negócio turístico-filantrópico ou político-demagógico?

Nada. E por isso, tudo. Jünger torna-se um símbolo de resistência porque a sua figura e a sua obra se confundem com a aventura mística, mítica e existencial deste século: porque parece não haver mais guerra onde o valor e a coragem individual contem mais que as máquinas e os técnicos; porque não há já sonhos e revoltas, só perspectivas de conjuntura e revoluções programadas. Porque as formas canónicas da banalização jornalística e publicitária vão capturando e matando o imaginário; porque os reinos da quantidade e do automatismo submergem os últimos homens livres, tornando-os resignados, que é uma forma superior de domesticação.

A resistência às formas de uniformização planetária - ontem a utopia igualitária e burocrática da História, hoje a utopia “meritocrática” e liberal do mercado - terá sempre que achar a sua energia nos rebeldes e nos mestres dos rebeldes. Ser um pouco como a colónia dos “livros-vivos” descrita por Ray Bradbury, no final do “Fahrneit 451”: longe dos centros de decisão policiada, constituir formas alternativas de contestação, fazer a escolha do rebelde, o caminho da floresta.

Neste mundo de uniformizações festivas e violências implícitas, os perigos que espreitavam e o medo global do Leste parecem, como por um destes gestos do Deus bíblico ou dos mágicos tradicionais, ter-se sumido: numa euforia de 48 bem sucedido, as multidões da outra Europa celebraram nas praças bordadas por igrejas de Praga a Budapeste, de Leipzig a Sofia, o desaparecimento do medo, da ocupação estrangeira, a esperança de vida nova. Outros seus patrícios, homens religiosos desse mesmo Leste, como o Papa e Soljenitsine, dir-lhes-ão para terem cuidado se esperam que, do Ocidente, venham mais que os bens de consumo e o multipartidarismo, formas também, ao fim e ao cabo, de automatismo. A busca da vida, na sua totalidade espiritual e existencial, estará na redescoberta dos valores comunitários, da nação, da família, do homem, de acordo e harmonia com uma natureza e uma técnica que parecem, por adulteradas, apostadas em negá-los. E a questão do rebelde - e do seu itinerário de resistente nas florestas - será tanto mais actual quanto os novos perigos e os novos deuses não são já os espectros policiais e concentracionários do último meio século, mas os demagogos sorridentes das civilizações do consumo, uma “fatalidade” mais adivinhada por Tocqueville que por Dostoiewsky e que se torna, hoje, o novo desafio.


"Futuro Presente" nº31, Dezembro de 1990

segunda-feira, setembro 26, 2005

Eles comem tudo e não deixam nada...

Walter Lippmann, em “Public Opinion” afirma que o conceito de opinião pública é uma ilusão. Tem razão. E Porquê? Porque a opinião pública é o resultado da oferta de informação, é o espelho da absorção das ideias veiculadas pelas estruturas de poder, políticas, como refere Lippmann, mas sobretudo “informativas”( sendo que estas duas não são independentes). A informação é a mais poderosa arma nas sociedades actuais, quem detém a informação detém o poder. A opinião pública, um conceito muito do agrado dos “líderes ocidentais”, é em si, frequentemente, uma ideia vazia de sentido, a opinião do público, ou se preferirmos, da maioria em relação a determinados assuntos, é apenas a resposta aos condicionamentos da informação. Não é tanto a opinião pública que molda o poder mas muito mais o poder que define a opinião pública. Obviamente que ainda assim as estruturas que dominam as nossas sociedades não conseguem um monopólio completo, existirão sempre franjas da população capazes de fugir, correcta ou incorrectamente, com ou sem razão, ao pensamento dominante, mas a maioria será sempre o resultado da oferta de informação, a maioria espelhará sempre a mundivisão dominante nos centros de controlo da informação e da cultura, porque a partir do momento em que isso não sucede o poder transfere-se para outro lado, isto é, o prazo de validade dos poderes dominantes está delimitado pela capacidade de fazerem a opinião pública defender e argumentar em seu favor, em prol dos seus interesses.

O prémio Nobel da literatura é um caso paradigmático de um prémio que é cada vez mais político e duvidosamente meritório, um exemplo do controlo da esquerda sobre a cultura e por tabela sobre a opinião pública, porque a guerra da cultura é a guerra pela caracterização da chamada opinião pública. Nos últimos 7 anos, uma análise aos vencedores deste prémio demonstra uma prevalência clara, inequívoca, de autores que partilham os valores e as lutas da esquerda clássica e contemporânea.

-Em 1998 vence Saramago, autor de méritos literários contestáveis mas de méritos políticos provadíssimos, militante comunista assumido e empenhado, de créditos bem firmados portanto.

-Em 1999 o prémio é atribuído a Gunter Grass, escritor alemão da esquerda, primeiramente apoiante do SPD, depois activista do “movimento pacifista”. Grass opôs-se à reunificação da Alemanha, o seu próprio país, com o argumento de que isso contribuiria para o fortalecimento da nação e a retomada da natureza beligerante do Estado germânico, viria posteriormente a defender a “acção directa” como forma de actuação política, a filosofia que esteve na génese dos movimentos terroristas de esquerda na Europa da década de 70 e que faz parte da natureza de grupos violentos de esquerda como o «Black Bloc».

-Em 2000 vence Gao Xingjian, refugiado político em França, perseguido pelo regime chinês.

-Em 2001 o prémio vai para V.S.Naipul, as suas novelas focam constantemente temas como o exílio e o drama da opressão colonialista nos países do terceiro mundo. Considera-se um cosmopolita, um cidadão do mundo, apátrida (estão a ver o padrão, não é?), define-se como um desenraizado, no fundo encarna na perfeição o ideal do mundo sem pátrias, do universalismo militante da esquerda moderna, do desenraizamento das gentes da tradição e história, personifica o homem final do multiculturalismo, destituido das identidades nacionais.

-No ano de 2002 ganha Imre Kertész, um Húngaro judeu que foi prisioneiro em Auschwitz, logo aqui reúne mais que as qualificações necessárias para vencer o Nobel. É particularmente conhecido por uma trilogia (“Sem Destino”, “A Recusa” e “Kaddish para uma Criança que não Vai Nascer”) que retracta a experiência de vida de um jovem durante o período do holocausto.

-Em 2003 vence J.M.Coetzee, um escritor Sul-Africano crítico da civilização ocidental e da sua moral (um talento à espera da descoberta por parte da esquerda trotskista) e conhecido pelas suas posições contra o Apartheid.

-Em 2004 o prémio vai para Elfried Jelinek, uma austríaca que foi filiada no partido comunista e “activista da paz” e que enquanto tal nunca se esqueceu de fazer a defesa da União Soviética( esse baluarte do pacifismo). De ascendência judaica pela parte do pai, sempre mostrou desprezo pela sua ascendência europeia pelo lado materno; tomou para si as causas da luta “anti-fascista”( seja lá isso o que for) e juntamente com Gunter Grass opôs-se à reunificação da Alemanha nunca deixando de contribuir sempre que a oportunidade surgiu para a manutenção do sentimento de culpabilização do povo alemão desde o pós-guerra. É famosa também pela sua ridicularização do político austríaco jörg Haider, num texto intitulado “O Monólogo de Haider”. É pena que nunca se tenha lembrado de escrever o “Monólogo de Estaline”…

Coincidências, nada mais que coincidências?

Se o prémio Nobel é um caso exemplar na cultura, tanto ou mais interessante será compreender até que ponto está politizada a informação que mais molda a tal opinião pública_ a comunicação social. Os jornalistas têm sido verdadeiramente agentes da revolução social e da transformação do ocidente durante o século XX, e perante o precipício, à beira do abismo, a Europa deve ao menos tentar compreender quem a empurrou até aqui, como e porquê. Nada influencia hoje mais o pensamento dominante do que a televisão, mas a televisão não é apenas entretenimento inocente e aparentemente descomprometido, é também política e formatação social, informação subliminar, demasiado subtil por vezes, mas não perdendo nunca a sua dimensão mais séria, nos programas de debate, nos documentários, nas reportagens de investigação, tudo isto é jornalismo, entre a televisão e o jornalismo escrito partilham-se não só origens e influências como nomes( pessoas que passam de um ambiente para outro, gente que frequentou as mesma faculdades, que frequenta os mesmo grupos sociais). E alguém hoje desconhece a enorme influência que a esquerda possui entre a classe jornalística?

O prémio Pulitzer será provavelmente o prémio jornalístico mais conhecido no mundo, entender até que ponto, mesmo nos E.U.A., a informação está dividida pela esquerda e direita permite-nos extrapolar algumas conclusões para o resto do mundo ocidental, porque por lá a imprensa é fortemente politizada, porque os Estados Unidos ainda vão tendo alguma “direita” e porque serão o país que mais influencia culturalmente o resto do mundo, em particular o Ocidente. Sem surpresa, ao longo dos anos a quase totalidade dos prémios foram atribuídos a jornalistas e órgãos de informação de esquerda, com uma tendência mais acentuada desde a década de 60, e embora o rácio em todas as categorias consideradas seja sempre favorável à esquerda existem algumas categorias em que o prémio nunca foi ganho por um jornalista reconhecidamente de direita. Este ano não foi excepção, atente-se nos seguintes casos:

- O prémio “Public Service” foi atribuído ao “Los Angeles Times”, um jornal da esquerda liberal, recompensando uma série de reportagens onde o jornal denunciava supostos casos de discriminação racial num Hospital público.

-O prémio “ Breaking News Reporting” foi atribuído ao “Star-ledger” pela cobertura “humanista” dada à história da resignação do Governador de New Jersey depois de se ter descoberto que traía a mulher com um homem e ter exposto a sua homossexualidade. A “coragem” do Governador foi aplaudida nas páginas do dito jornal, os anos de mentiras e o sofrimento familiar passaram para segundo plano. Merece o prémio, pois claro.

-O prémio “National Reporting” foi ganho por Walt Bogdanich do “New York Times”, um jornal que é um bastião da esquerda, pela investigação de casos de fraude levados a cabo por grandes empresas procurando a desresponsabilização por acidentes fatais ocorridos em cruzamentos de linhas ferroviárias.

-O primeiro prémio “Internacional Reporting” foi para a jornalista Kim Murphy , uma vez mais do esquerdista “Los Angeles Times”, sobre a realidade actual da Rússia e os seus problemas políticos.

-O segundo prémio “Internacional Reporting” foi para Dele Olojede da “Newsday”, uma revista de esquerda, por um artigo sobre o Rwanda e o massacre da tribo Tutsi. ( É pena que nenhum jornalista se preocupe com o massacre da minoria europeia em alguns países de África, mas isso provavelmente não ganha prémios)

-O prémio “Commentary”,um dos mais importantes, foi para Connie Schultz, uma conhecida jornalista de esquerda casada com um político do partido Democrata, conhecida pelas suas posições de defesa das minorias étnicas, sexuais e religiosas, pela sua defesa intransigente da sociedade multicultural e pela sua psicose anti-racista que vê no “middle american white man” a causa de todos os males( prémio mais que merecido, evidentemente!)

À direita o “Wall Street Journal” ganhou dois prémios, mas nenhum dos artigos premiado tinha qualquer conotação política. Nas categorias de jornalismo, a esquerda, uma vez mais, foi hegemónica. Nada de novo. A questão não é sequer o eventual merecimento dos prémios ou a qualidade e interesse dos artigos, a questão é outra, é a sucessiva repetição do mesmo padrão. Não existirão reportagens, jornais e jornalistas de qualidade à direita? Obviamente que existem, o problema é que as temáticas que ganham prémios pertencem à esquerda, é um ciclo vicioso, os temas políticos que vencem prémios são temas definidos pela esquerda e como ganham os prémios aumentam a sua notoriedade e impacto ,a sua capacidade de marcar a agenda política, a sua capacidade de moldar a opinião pública, que assim se reconhece cada vez mais na visão do mundo própria dessa esquerda.

De resto não são apenas os prémios em si que a esquerda vai amealhando que são motivo de reflexão mas também que prémios existem e são criados, no fundo, a questão passa também por saber o que se pretende premiar. E também aqui, não fugindo à regra, é a esquerda que decide o que deve ser recompensado, que temas merecem distinção. Recordo-me dos vários prémios que distinguem trabalhos jornalísticos relacionados com os "direitos humanos". À partida os mais desprevenidos pensarão que o tema é completamente merecedor de atenção, mas quem acompanha o fenómeno político sabe bem a manietação política que estes prémios usualmente sofrem, o famoso texto de Guillaume Faye ,“ A religião dos direitos humanos”, é um bom desmistificador do assunto. Sob a bandeira dos "direitos humanos" tem sido forçado todo o ocidente a aceitar a descaracterização da sua identidade, a recusa em fazê-lo transformou-se num atentado aos direitos do homem, um abjecto crime, a ideologia dos "direitos humanos", que prima pela hipocrisia, instalou-se no ocidente como frente avançada do multiculturalismo. Apenas o mundo europeu é forçado a aceitar a sociedade multicultural, com todos os problemas que isso acarreta. A ideia de multiculturalidade tem sido a principal responsável pela diluição das especificidades nacionais e pela descaracterização da riqueza cultural e histórica única do ocidente, mas está protegida pela capa dos “direitos humanos”.

Na Ásia, de onde virão os países líderes do século XXI, o conceito é liminarmente rejeitado, por lá não se aceita a destruição da identidade nacional em nome do humanismo, por cá premeiam-se os jornalista que o defendam, por lá emergem as novas potências, por cá morrem decrépitas as antigas, já sem memória do que foram e sem possibilidade de se defenderem no presente. E enquanto por lá sabem que o futuro lhes pertence, nós por cá vamos decaindo mas alegremente, pois afinal impera o humanismo, e nem percebemos que o futuro já não será nosso. Não saberemos sequer mais como nos defender perante culturas que não terão piedade perante nós, culturas que não esqueceram que a história do mundo representa o triunfo dos mais aptos.

No dia 7 de Junho a Comissão Europeia anunciou a segunda edição do prémio jornalístico “Pela diversidade. Contra a discriminação”, brilhante! Mas claro que a defesa da diversidade nos obriga apenas a nós, só o ocidente deve aceitar sem reflexão a diversidade dentro de portas, o conceito não se aplica aos outros povos, que conscientes da sua história e empenhados na legítima preservação da sua identidade entendem o ridículo do conceito, e acrescento que fazem muitíssimo bem, se o suicídio nacional foi aceite pelos europeus não o deverá ser por quem ainda mantém alguma dignidade e sanidade. O facto é que algum jornalista será premiado nesta categoria, ó o prestígio, a glória, o reconhecimento público, já imagino…e assim se continua a formar a opinião pública, essa entidade vazia de sentido que não representa mais que o sistema de valores que lhe é imposto, sem sequer o entender. Marcha triunfal a esquerda ao som dos tambores que uma certa direita vai sorridentemente rufando; que direita? A direita liberal, é evidente.

Isto porque existe um espaço de oferta de informação que a esquerda não controla, falo da informação económica, aí domina aquilo que designamos por direita liberal. É o triunfo do primado do mercado mas sem grandes considerações morais, esta direita liberal é relativista, interessa-lhe a apenas a “liberdade individual” e a maximização da eficiência, questões que impliquem juízos de valor, como justiça social ou interesse comunitário, são-lhe estranhas ou quase indiferentes, questões menores se é que podem ser definidas, afinal são ideias subjectivas, para a direita liberal tudo é relativo e por isso faz com a esquerda uma parelha de sucesso. A esquerda define a agenda social, política, marca os costumes e as mentalidades, define os valores, e para aquela direita tudo vai bem, porque o que lhes interessa é o triunfo do capital e apenas isso, de resto que caiam todas as instituições e tradições. A esquerda tendo perdido a batalha da economia contenta-se com o que lhe sobrou, a definição do espaço político e dos valores, pois sabe, também porque sempre foi muito mais ideológica, que são esses valores que definirão o homem de amanhã.

E aos nacionalistas sobra a Internet, por quanto tempo não sabemos, sabemos que a informação deve ser controlada, a opinião pública deve ser ajustada de acordo com os interesses do «establishment». A censura e o controlo da informação acabarão por chegar à Internet, se terão sucesso ou não será outra questão, mas os indícios já se apresentam, é incontornável, é a oferta de informação e, por consequência, a existência de uma opinião pública útil aos propósitos do poder que o exigem. Como a opinião pública em geral é o espelho do domínio sobre a informação «mainstream», as “maiorias” acabam por reflectir a visão do mundo que lhes é vendida na informação quotidiana ou, por vezes, em bandejas doiradas com prémios culturais ou jornalísticos a adorná-las. Neste cenário é por enquanto inevitável sermos considerados os retrógrados, os reaccionários, os fascistas, os déspotas, os perigosos…a culpa não é de quem o debita qual papagaio doméstico, a culpa é dos donos, são eles que lhes ensinam a imitar aqueles sons, a repetir aquelas palavras, orgulhemo-nos, pois somos mais “opinião” (embora pouco pública) do que eles alguma vez hão-de ser.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Do anticomunismo à subserviência aos Estados Unidos

As necessidades da luta obscurecem frequentemente as suas razões. O movimento tornou-se suficiente em si mesmo: não nos interrogamos mais sobre as causas do nosso envolvimento. Passa-se isso com o anticomunismo, que alimenta agora os pontos de vista mais diferentes numa zona de consenso equívoca. A direita é anti-soviética, os liberais também, os sociais-democratas igualmente, sem esquecer os marxistas críticos que acham que Marx foi “traído” por Estaline e os comunistas dissidentes que souberam “distanciar-se”.Nota-se bem a confusão.

A nossa oposição ao comunismo é completa e não temos desejo algum de viver num regime como o soviético. Isto seria provavelmente escusado dizer, mas ainda melhor se o dizemos. Mas pensamos também que o anticomunismo deve encontrar o seu fundamento fora de si mesmo; que a hostilidade em relação ao Kremlin não deve servir de pretexto para aceitar outras lealdades, que a política tem as suas leis próprias, que não se reduzem integralmente nem à moral nem à ideologia.

O nosso anticomunismo não tem portanto nada de primário. Ele deriva de uma oposição ao universalismo igualitário, onde o comunismo não é mais que um representante entre outros. Ele não poderia pois, aos nosso olhos, servir de catalizador para aceitar, nomeadamente, um liberalismo que se situa na mesma filiação genealógica, crendo também na igualdade ”natural” de todos os seres humanos, e vendo também ele na economia o paradigma por excelência de todos os factos sociais (recordemo-nos oportunamente que a sociedade existente que mais se aproxima da sociedade ideal, como Marx a imaginou, é a dos Estados Unidos da América).

Os liberais, motores do anticomunismo contemporâneo, raciocinam de forma muito diferente. Os objectivos de Marx parecem-lhes, frequentemente, bastante estimáveis. São os meios para lá chegar que eles rejeitam. Quando eles criticam o regime comunista é para denunciar os atentados à “liberdade”, a “ferocidade da repressão” e a violação do sacrossanto princípio dos “direitos do homem”.E se atacam a doutrina é com a intenção de mostrar que ela desemboca fatalmente no “despotismo”.Este ponto de vista é um pouco limitado. O despotismo é sem dúvida criticável mas o comunismo não se resume ao facto de que contraria a “liberdade”( não é de resto o único a fazê-lo; subversão, infiltração, espionagem, assassinatos, golpes de Estado: estes são os métodos da CIA, tanto como os do KGB). Portanto, todos os anticomunismos não se equivalem. Que uma direita, outrora mais segura sobre os seus princípios, a sua matéria, se tenha fixado na crítica liberal, diz muito sobre a sua cegueira e explica porque alguns defensores da “preferência nacional” preferem acima de tudo… o regime de Reagan.

Quanto à liberdade, digamos claramente que é algo que para nós prima tudo o resto: é a liberdade colectiva, a liberdade do povo e da nação. Neste fim de milénio é acima de tudo a liberdade da Europa que nos preocupa. A noção de “Ocidente” é uma noção doravante desprovida de sentido, que permite aos E.U.A. estabelecer a lei sem o dizer, instituindo-se como o “líder natural” deste ectoplasma. A URSS procede do mesmo modo, pretendo agir como a capital do socialismo instituído. Americanização de um lado, russificação do outro. Os Estados Unidos: um futuro sem passado; a URSS: um passado sem futuro. A Oeste: o imobilismo sob a efervescência; a Este: a dinâmica sob a estabilidade. Os Estados Unidos funcionam segundo a lógica do espaço, a URSS joga com o factor tempo. A isto juntam-se os constrangimentos da geopolítica: o “bloco continental” é uma realidade. O comunismo é um bonito termo - a doutrina do bem comum – mas resultou mal. Há aqueles que dizem “antes vermelhos que mortos”. Há aqueles que aceitam ser “americanos em vez de soberanos”. Face às duas superpotências “cosmopoliciais” rejeitemos de uma vez só o que sucessivamente tem produzido o comunismo e o liberalismo. Não evitaremos jamais sobre nós uma ditadura aceitando uma hegemonia.


Robert de Herte, primavera de 1986

quinta-feira, setembro 15, 2005


quarta-feira, setembro 14, 2005

Novo fôlego

A Novopress, fonte de informação alternativa ao sistema e onde se reportam as notícias que outros sítios escondem ganhou novo fôlego com novos colaboradores na secção portuguesa, entre os quais um camarada de causa da minha inteira confiança, que fará, com toda a certeza, um trabalho de grande qualidade em prol de um local já de si indispensável à luta nacionalista. Quem queira conhecer o outro lado da História, o outro lado dos acontecimentos e as notícias que estão proibidas ou censuradas pelo politicamente correcto não deve deixar de passar por lá, é um espaço de verdadeira desintoxicação das consciências.

Força nisso João, com o empenho do costume.

segunda-feira, setembro 12, 2005

E no final é preciso calar e actuar

sabendo que o mundo se desmorona

mas ter empunhada a espada

para a última hora...


Gottfried Benn

O estranho dentro de portas

"The Stranger Within My Gate"

The stranger within my gate.
He may be true or kind.
But he does not talk -
I cannot feel his mind.
I see the face and the eyes and the mouth,
But not the soul behind.

The men of my own stock
They may do ill or well.
But they tell the lies I am wonted to,
They are used to the lies I tell.
We do not need interpreters
When we go to buy or sell.

The Stranger within my gates.
He may be evil or good,
But I cannot tell what powers control -
what reasons sway his mood;
Nor when the Gods of his far-off land
May repossess his blood.

The men of my own stock,
Bitter bad they may be,
But, at least they hear the things I hear
And see the things I see;
And whatever I think of them and their likes
They think of the likes of me.

This was my father's belief
And this is also mine:
Let the corn be all one sheaf - And the grapes be all one vine
Ere our children's teeth are set on edge
By bitter bread and wine.


Rudyard Kipling