sexta-feira, dezembro 22, 2006
terça-feira, novembro 14, 2006
quinta-feira, novembro 02, 2006
A direita moderada e o sistema
Se o conjunto do establishment político faz prova da sua impotência para enfrentar os desafios do presente, a eficiência da «direita estabelecida» surge, ao longo do tempo, menor do que a da esquerda, que, ela ao menos, conseguiu transformar a sociedade conforme a sua ideologia (exemplo: impor a sua ideologia penal ou pedagógica) enquanto a direita permaneceu, na segunda metade do século XX, abalada pelos acontecimentos e pelas correntes ideológicas. Isso deve-se principalmente ao facto de que a direita adopta em geral um comportamento menos político que a esquerda.
Ao contrário da esquerda, que sempre procurou demarcar-se da direita (mesmo quando esta última se tornou, na realidade, apenas mítica) a «direita estabelecida» sempre procurou o compromisso com as ideias de esquerda. É o «complexo de direita» próprio dos «moderados» que remonta ao pacto político da Libertação: A direita não é tolerada senão com a condição de adoptar os valores da esquerda e de se refugiar na gestão. Caso contrário é diabolizada e reenviada para o inferno do fascismo e da colaboração (hoje em dia do «populismo»).
A «direita estabelecida» foi incapaz de sair desta prisão no último quarto do século XX, em particular porque ela não se preocupou suficientemente com as questões ideológicas. Isso conduziu-a a vários erros estratégicos:
1-Recusar o conflito de valores com a esquerda e, em consequência, não ter delineado uma estratégia de fundo, isto é, contestar a esquerda no plano das suas finalidades e não somente dos meios que ela utiliza.
Isto traduziu-se no facto de a «direita estabelecida» ter adoptado o essencial do vocabulário da esquerda, o que representa a adesão aos seus valores( exemplo: luta contra a «exclusão», contra as «discriminações», pelos «sem-papéis», etc.); a direita está assim afectada pelo mimetismo ideológico e portanto pela incapacidade estratégica. Desta forma tornou-se incapaz de toda a ruptura com o «sistema», por causa da conivência ideológica.
A direita, ademais, aliou-se à dominação dos valores mercantis, dominação à qual estamos sujeitos desde o fim do século XX. Mas o facto de se ter, em parte, ligado ao discurso neo-liberal( isto é, à ideologia do mercado e dos direitos do homem) não a conduziu minimamente à emancipação da tutela ideológica da esquerda: porque esta ideologia neo-liberal vincula-se ao mito igualitário de outra maniera (é preciso não esquecer que a ideologia do Maio de 1968 serviu de «quebra-gelo» ao neo-capitalismo deslegitimando todas as instituições que poderiam ser obstáculo ao triunfo dos valores mercantis: que é a única verdadeira revolução da segunda metade do século XX). É o que explica também que a esquerda tenha aderido ao mercado na segunda metade do século XX.
Adoptando em parte a ideologia dos proponentes do neo-capitalismo, que afirmam que a função de regulação do poder político é sempre menos eficaz que a do mercado e que o único futuro das sociedades humanas é o da abolição das fronteiras, desenvolvimento do comércio e triunfo das democracias de mercado de modelo anglo-saxónico (cf.Francis Fukuyama e o pretenso «fim da história») a direita não parou de perder a sua identidade.
De facto, o que continuamos, por comodidade, a chamar direita, nos media ou nas sondagens, tomou uma forma pouco diferenciável da esquerda, recentrada ao mesmo tempo sobre a economia de mercado. De resto, um homem político «de direita» não é hoje:
- Alguém que diz tudo e o seu contrário porque procura sempre uma aprovação da esquerda?
- Que não respeita os compromissos assumidos perante o seu eleitorado?
-Que cita sempre homens de esquerda em defesa das suas propostas?
2-Distanciar-se do povo: enquanto a base sociológica da esquerda se pulverizava à medida que reduzia o emprego industrial, a direita mostrou-se incapaz de elaborar uma estratégia de substituição. Pior, acabou por adoptar a estratégia anti-popular da esquerda, preferindo apostar numa lógica de nichos, de fracções e de minorias de opinião (ao contrário da estratégia «gaulista» de agregação): os árabes, os homossexuais, etc.
A direita instituída aliou-se claramente a esta estratégia e privou-se assim de poder apelar ao povo para superar os bloqueios do sistema. Ela encontra-se, de facto, sempre em situação de inferioridade face a uma esquerda que continua a dispor de numerosos esteios (organizações sindicais e associativas, media), mesmo se em declínio.
O establishment, primeiro à esquerda depois à direita, veio assim a desconfiar do «político» depois que se apercebeu que o povo se arriscava a votar «mal», isto é, a votar nos partidos «populistas».
Por que vota o povo mal? Porque o sistema é cada vez mais disfuncional e porque é principalmente o povo, e não o establishment, que paga o custo.
Claramente, a despolitização tornou-se um objectivo estratégico do sistema institucional; este procura promover um povo e consumidores dóceis que não se revoltem contra o sistema (o desporto de massas é uma invenção do século XX que visa o mesmo objectivo – cf. O filme «Rollerball», de Norman Jewison -: substituir a paixão política para a neutralizar; veja-se também o papel da música, o ruído mediático e a ideologia da comunicação: reduzir o espaço do silencio individual significa reduzir o espaço de reflexão que poderia ser propício à revolta).
No plano metapolítico esta estratégia viu-se instrumentalizada na ideologia da libertação individual (libertação dos costumes provocada pela ruptura cultural do Maio de 1968). Porque esta ideologia é encorajada pelo establishment: com efeito, em troca do «direito» a dar livre curso às suas pulsões individuais e hedonistas os indivíduos perdem progressivamente, na realidade, os seus poderes colectivos. Isto traduz-se nomeadamente na perda dos atributos da cidadania e da soberania.
(…) Daí também o desprezo pelo povo enquanto tal no discurso do establishment de direita como de esquerda: O desprezo do «populismo» exprime a recusa do establishment em conduzir uma política que considere o povo como uma entidade orgânica (conformemente à doutrina mercantil e ao dogma igualitário: não existem senão indivíduos e átomos sociais cambiáveis). Podemos também juntar a isso a moda do «arrependimento» e do dever de memória «das horas sombrias da nossa História» na qual o establishment parece deleitar-se: porque é sempre a nação que é julgada, nunca o establishment (que faz o papel de procurador).
É por isso que passámos do «tudo é político» dos anos 60 a uma despolitização das questões societais e inclusive a uma vontade deliberada de recusar todo o verdadeiro debate político( cf. A segunda volta das eleições presidenciais francesas de 2002: a recusa de Jacques Chirac em debater com J.-M. Le Pen; esta recusa de uma confrontação ritualizada é impolítica por natureza).
Resulta disto uma crise maior do sistema político que, por outro lado, é um factor de impotência colectiva.
Porque a impotência política permite também que o sistema fuja do confronto político transparente e se esforce por não submeter nada mais de crucial ao julgamento do povo. É o que lhe permite conduzir imperturbavelmente políticas que o povo não apoia. O sistema político não desempenha senão marginalmente o seu papel de impulsionamento, regulação e de sanção. É de resto por esta razão que o establishment político se mantém apesar do seu fracasso global; é o seu único verdadeiro sucesso duradouro: ter-se transformado numa máquina de conservação do poder mas que não o exerce ao serviço da sociedade.
Tradução livre de um excerto da intervenção de Didier Lefranc na reunião do Club de l'Horloge de Outubro último.
Ao contrário da esquerda, que sempre procurou demarcar-se da direita (mesmo quando esta última se tornou, na realidade, apenas mítica) a «direita estabelecida» sempre procurou o compromisso com as ideias de esquerda. É o «complexo de direita» próprio dos «moderados» que remonta ao pacto político da Libertação: A direita não é tolerada senão com a condição de adoptar os valores da esquerda e de se refugiar na gestão. Caso contrário é diabolizada e reenviada para o inferno do fascismo e da colaboração (hoje em dia do «populismo»).
A «direita estabelecida» foi incapaz de sair desta prisão no último quarto do século XX, em particular porque ela não se preocupou suficientemente com as questões ideológicas. Isso conduziu-a a vários erros estratégicos:
1-Recusar o conflito de valores com a esquerda e, em consequência, não ter delineado uma estratégia de fundo, isto é, contestar a esquerda no plano das suas finalidades e não somente dos meios que ela utiliza.
Isto traduziu-se no facto de a «direita estabelecida» ter adoptado o essencial do vocabulário da esquerda, o que representa a adesão aos seus valores( exemplo: luta contra a «exclusão», contra as «discriminações», pelos «sem-papéis», etc.); a direita está assim afectada pelo mimetismo ideológico e portanto pela incapacidade estratégica. Desta forma tornou-se incapaz de toda a ruptura com o «sistema», por causa da conivência ideológica.
A direita, ademais, aliou-se à dominação dos valores mercantis, dominação à qual estamos sujeitos desde o fim do século XX. Mas o facto de se ter, em parte, ligado ao discurso neo-liberal( isto é, à ideologia do mercado e dos direitos do homem) não a conduziu minimamente à emancipação da tutela ideológica da esquerda: porque esta ideologia neo-liberal vincula-se ao mito igualitário de outra maniera (é preciso não esquecer que a ideologia do Maio de 1968 serviu de «quebra-gelo» ao neo-capitalismo deslegitimando todas as instituições que poderiam ser obstáculo ao triunfo dos valores mercantis: que é a única verdadeira revolução da segunda metade do século XX). É o que explica também que a esquerda tenha aderido ao mercado na segunda metade do século XX.
Adoptando em parte a ideologia dos proponentes do neo-capitalismo, que afirmam que a função de regulação do poder político é sempre menos eficaz que a do mercado e que o único futuro das sociedades humanas é o da abolição das fronteiras, desenvolvimento do comércio e triunfo das democracias de mercado de modelo anglo-saxónico (cf.Francis Fukuyama e o pretenso «fim da história») a direita não parou de perder a sua identidade.
De facto, o que continuamos, por comodidade, a chamar direita, nos media ou nas sondagens, tomou uma forma pouco diferenciável da esquerda, recentrada ao mesmo tempo sobre a economia de mercado. De resto, um homem político «de direita» não é hoje:
- Alguém que diz tudo e o seu contrário porque procura sempre uma aprovação da esquerda?
- Que não respeita os compromissos assumidos perante o seu eleitorado?
-Que cita sempre homens de esquerda em defesa das suas propostas?
2-Distanciar-se do povo: enquanto a base sociológica da esquerda se pulverizava à medida que reduzia o emprego industrial, a direita mostrou-se incapaz de elaborar uma estratégia de substituição. Pior, acabou por adoptar a estratégia anti-popular da esquerda, preferindo apostar numa lógica de nichos, de fracções e de minorias de opinião (ao contrário da estratégia «gaulista» de agregação): os árabes, os homossexuais, etc.
A direita instituída aliou-se claramente a esta estratégia e privou-se assim de poder apelar ao povo para superar os bloqueios do sistema. Ela encontra-se, de facto, sempre em situação de inferioridade face a uma esquerda que continua a dispor de numerosos esteios (organizações sindicais e associativas, media), mesmo se em declínio.
O establishment, primeiro à esquerda depois à direita, veio assim a desconfiar do «político» depois que se apercebeu que o povo se arriscava a votar «mal», isto é, a votar nos partidos «populistas».
Por que vota o povo mal? Porque o sistema é cada vez mais disfuncional e porque é principalmente o povo, e não o establishment, que paga o custo.
Claramente, a despolitização tornou-se um objectivo estratégico do sistema institucional; este procura promover um povo e consumidores dóceis que não se revoltem contra o sistema (o desporto de massas é uma invenção do século XX que visa o mesmo objectivo – cf. O filme «Rollerball», de Norman Jewison -: substituir a paixão política para a neutralizar; veja-se também o papel da música, o ruído mediático e a ideologia da comunicação: reduzir o espaço do silencio individual significa reduzir o espaço de reflexão que poderia ser propício à revolta).
No plano metapolítico esta estratégia viu-se instrumentalizada na ideologia da libertação individual (libertação dos costumes provocada pela ruptura cultural do Maio de 1968). Porque esta ideologia é encorajada pelo establishment: com efeito, em troca do «direito» a dar livre curso às suas pulsões individuais e hedonistas os indivíduos perdem progressivamente, na realidade, os seus poderes colectivos. Isto traduz-se nomeadamente na perda dos atributos da cidadania e da soberania.
(…) Daí também o desprezo pelo povo enquanto tal no discurso do establishment de direita como de esquerda: O desprezo do «populismo» exprime a recusa do establishment em conduzir uma política que considere o povo como uma entidade orgânica (conformemente à doutrina mercantil e ao dogma igualitário: não existem senão indivíduos e átomos sociais cambiáveis). Podemos também juntar a isso a moda do «arrependimento» e do dever de memória «das horas sombrias da nossa História» na qual o establishment parece deleitar-se: porque é sempre a nação que é julgada, nunca o establishment (que faz o papel de procurador).
É por isso que passámos do «tudo é político» dos anos 60 a uma despolitização das questões societais e inclusive a uma vontade deliberada de recusar todo o verdadeiro debate político( cf. A segunda volta das eleições presidenciais francesas de 2002: a recusa de Jacques Chirac em debater com J.-M. Le Pen; esta recusa de uma confrontação ritualizada é impolítica por natureza).
Resulta disto uma crise maior do sistema político que, por outro lado, é um factor de impotência colectiva.
Porque a impotência política permite também que o sistema fuja do confronto político transparente e se esforce por não submeter nada mais de crucial ao julgamento do povo. É o que lhe permite conduzir imperturbavelmente políticas que o povo não apoia. O sistema político não desempenha senão marginalmente o seu papel de impulsionamento, regulação e de sanção. É de resto por esta razão que o establishment político se mantém apesar do seu fracasso global; é o seu único verdadeiro sucesso duradouro: ter-se transformado numa máquina de conservação do poder mas que não o exerce ao serviço da sociedade.
Tradução livre de um excerto da intervenção de Didier Lefranc na reunião do Club de l'Horloge de Outubro último.
segunda-feira, outubro 30, 2006
Cai a noite sobre o Cabo Horn
Durante toda a nossa juventude procurámos os caminhos difíceis. Vagabundeáramos pelos pólos onde as últimas manchas brancas do mapa do mundo flutuam como icebergs sobre o azul pálido dos atlas e dos mares frios. Seguíramos os cães de trenó, no Alasca, com os heróis de Jack London e perdêramo-nos, corpos e bens, ao largo da Islândia no «Pourquoi pas?» do comandante Charcot. Vivêramos com Byrd, Nobile, Scott e Amundsen. E choráramos de raiva sobre as velhas gravuras dos nossos livros de eleição porque os grandes veleiros apodreciam nos portos e nós não dobraríamos jamais o Cabo Horn à vela.
Ao dobrarem o Cabo Horn, os marinheiros d’outrora haviam conhecido a coragem e o que está para além da coragem, a alegria e o medo ao mesmo tempo. As ondas eram tão altas e a bruma tão espessa que deixávamos mesmo de ver as falésias cobertas de neve e esses rochedos que arrombavam os navios de Hamburgo, de Liverpool e de Bordéus…Existiram, dantes, homens nestas ilhas. Eram-nos mais estranhos que os da pré-história. Tripulantes nos navios dos nossos sonhos, não prestávamos atenção senão aos nossos capitães e aos nossos marinheiros. Eram os nossos irmãos maiores, homens dos nossos litorais. Falavam flamengo, bretão ou basco, como os pescadores dos pequenos portos onde passávamos as férias.
Em 1953 senti brutalmente, folheando as páginas de «La Nuit Commence au Cap Horn», o ardor do sal, o sibilo do vento, e essa vertigem da solidão no grande silêncio branco, quando nada parece sobreviver ao interminável crepúsculo polar. É um desses livros inolvidáveis que nos introduzem, como nunca, num outro universo. E esse universo é o nosso, a milhares e milhares de quilómetros das nossas costas temperadas. Banidos das nossas ruas e das nossas praias pelos pequenos intelectuais frágeis, pelo seu vício pobre, pelo seu amor imoderado aos proletários e ao Whisky, pelo seu snobismo social, não sabíamos mais em que exílio se encontravam os verdadeiros escritores. André Malraux não fazia já falar senão o silêncio e Montherlant desaparecia. Restava-nos o escutismo literário de Brasillach e Saint-Exupéry. Por vezes seguíamos os Hussardos nas suas cavalgadas, mas não tinham o fascínio dos cavaleiros de Hedjaz e do Arizona. Para nos perdermos no desconhecido refugiávamo-nos no cinema.
E depois houve Saint-Loup. Que Furacão! Foi primeiramente o que vi neste livro: um sopro que vinha de um outro mundo, no outro lado da Terra. E este mundo era o nosso mundo, aquele da vontade de poder e do espírito de sacrifício, aquele dos homens que escolhem a sua aventura e se dão até à morte a um herói que trazem no fundo do seu coração e que não tem outro nome que o deles mesmo. O livro de Saint-loup cortava a árvore morta da literatura como um machado. Não se tratava já de julgar este homem segundo as regras habituais da crítica. Por fim estávamos para lá da escrita, numa alvorada incerta que anunciaria o despontar de um dia assombroso. Ao ler «La Nuit Commence au Cap Hord» tínhamos a impressão de regressar à superfície, rumo à luz e ao sol, como esses mergulhadores que lentamente emergem de águas tenebrosas. Não devia ser o único a deixar-me levar por este livro. Mesmo os especialistas sentiam a respiração cortada. E é a corrida aos prémios…Francis Carco lança o livro na lista dos «Goncourt». Muito rapidamente conquista metade dos votos. Colette telefona mesmo ao director literário das Edições Plon para lhe dizer que estava ganho e que «La Nuit Commence au Cap Horn» seria o prémio Goncourt de 1953.
Mas o «Fígaro Littéraire» (e imobiliário) publica uma nota revelando que Saint-Loup não é outro senão Marc Augier, antigo animador dos albergues de juventude, chefe de redacção de «La Gerbe» de Châteaubriant, combatente voluntário na Frente Leste e condenado à morte, à revelia. Um polícia copiará o dossier do Tribunal Militar e apresentá-lo-á a Roland Dorgelès: E o prémio Goncourt é atribuído a Pierre Gascar por «Le temps des morts». Doze anos mais tarde ninguém pensa mais neste laureado de circunstância. A «Les Presses de la Cite», pelo contrário, acaba de fazer reaparecer «La Nuit Commence au Cap Horn». O livro de Saint-Loup não será certamente repescado para o Goncourt de 1965. Mas terá dezenas de milhares de leitores.
Fumando o seu cachimbo, Saint-Loup evoca esse ano de 1948 em que beneficiará do seu posto de conselheiro técnico de questões de montanhismo no exército argentino para partir à descoberta do Chile Austral: - Entre os padres salesianos de Magalhães compreendi por que as populações indígenas haviam desaparecido: Quiséramos fazê-las viver num quadro que não era o seu. Foi um verdadeiro genocídio. Os missionários que evangelizaram essas tribos quiseram transgredir a lei que faz os homens diferentes. Ele levanta-se, mostra-me as fotografias de montanhas atingidas pelo vento: - Não brincamos com a lei do paralelo 55 Sul. A verdadeira liberdade é respeitar a natureza. Querer deformar os países e os homens é o pior dos crimes. – E o teu livro? – Escrevi-o durante o Inverno de 1950-51 em Itália, em Courmayeur. Nevava quase todos os dias. Eu não havia deixado o Cabo Horn…este romance, escrito depois de tantas aventuras, é do melhor Saint-Loup. Descobrimos em cada página o homem de acção. Aviador que sobrevoou florestas e motociclista que devorou quilómetros, esquiador na Lapónia e combatente na Ucrânia, alpinista, explorador, cavaleiro. Um homem digno de uma peça, escritor, montanhista, historiador, viajante. E, com ele, nós seguimos, passo a passo e dia a dia, o pastor Duncan Mac Isaac. Há cem anos este missionário metodista tentava o impossível, pretendendo converter ao cristianismo os índios da Terra do Fogo. Ele quer negar o real, esquecendo que os homens são determinados pela sua raça antes de o serem pela sua religião. E ao querer salvar as almas ele vai destruir várias tribos. Este romance é o maior requisitório contra o colonialismo… «La Nuit Commence au Cap Horn», que descreve a agonia de uma raça, encontra-se na linha do realismo biológico mas não corresponde de todo à ideia que os «anti-racistas» fazem do racismo. Estarão em dificuldades para descobrir ali a menor «apologia do crime». Bem pelo contrário, Saint-Loup demonstra – e com que aura épica – que é o universalismo que é um crime, a religião uma miragem e que a verdadeira liberdade, para cada homem e para cada povo é, antes de tudo, o direito de ser o que são.
Recensão de Jean Mabire,«Europe-Action» N°35 – Novembro de 1965
Ao dobrarem o Cabo Horn, os marinheiros d’outrora haviam conhecido a coragem e o que está para além da coragem, a alegria e o medo ao mesmo tempo. As ondas eram tão altas e a bruma tão espessa que deixávamos mesmo de ver as falésias cobertas de neve e esses rochedos que arrombavam os navios de Hamburgo, de Liverpool e de Bordéus…Existiram, dantes, homens nestas ilhas. Eram-nos mais estranhos que os da pré-história. Tripulantes nos navios dos nossos sonhos, não prestávamos atenção senão aos nossos capitães e aos nossos marinheiros. Eram os nossos irmãos maiores, homens dos nossos litorais. Falavam flamengo, bretão ou basco, como os pescadores dos pequenos portos onde passávamos as férias.
Em 1953 senti brutalmente, folheando as páginas de «La Nuit Commence au Cap Horn», o ardor do sal, o sibilo do vento, e essa vertigem da solidão no grande silêncio branco, quando nada parece sobreviver ao interminável crepúsculo polar. É um desses livros inolvidáveis que nos introduzem, como nunca, num outro universo. E esse universo é o nosso, a milhares e milhares de quilómetros das nossas costas temperadas. Banidos das nossas ruas e das nossas praias pelos pequenos intelectuais frágeis, pelo seu vício pobre, pelo seu amor imoderado aos proletários e ao Whisky, pelo seu snobismo social, não sabíamos mais em que exílio se encontravam os verdadeiros escritores. André Malraux não fazia já falar senão o silêncio e Montherlant desaparecia. Restava-nos o escutismo literário de Brasillach e Saint-Exupéry. Por vezes seguíamos os Hussardos nas suas cavalgadas, mas não tinham o fascínio dos cavaleiros de Hedjaz e do Arizona. Para nos perdermos no desconhecido refugiávamo-nos no cinema.
E depois houve Saint-Loup. Que Furacão! Foi primeiramente o que vi neste livro: um sopro que vinha de um outro mundo, no outro lado da Terra. E este mundo era o nosso mundo, aquele da vontade de poder e do espírito de sacrifício, aquele dos homens que escolhem a sua aventura e se dão até à morte a um herói que trazem no fundo do seu coração e que não tem outro nome que o deles mesmo. O livro de Saint-loup cortava a árvore morta da literatura como um machado. Não se tratava já de julgar este homem segundo as regras habituais da crítica. Por fim estávamos para lá da escrita, numa alvorada incerta que anunciaria o despontar de um dia assombroso. Ao ler «La Nuit Commence au Cap Hord» tínhamos a impressão de regressar à superfície, rumo à luz e ao sol, como esses mergulhadores que lentamente emergem de águas tenebrosas. Não devia ser o único a deixar-me levar por este livro. Mesmo os especialistas sentiam a respiração cortada. E é a corrida aos prémios…Francis Carco lança o livro na lista dos «Goncourt». Muito rapidamente conquista metade dos votos. Colette telefona mesmo ao director literário das Edições Plon para lhe dizer que estava ganho e que «La Nuit Commence au Cap Horn» seria o prémio Goncourt de 1953.
Mas o «Fígaro Littéraire» (e imobiliário) publica uma nota revelando que Saint-Loup não é outro senão Marc Augier, antigo animador dos albergues de juventude, chefe de redacção de «La Gerbe» de Châteaubriant, combatente voluntário na Frente Leste e condenado à morte, à revelia. Um polícia copiará o dossier do Tribunal Militar e apresentá-lo-á a Roland Dorgelès: E o prémio Goncourt é atribuído a Pierre Gascar por «Le temps des morts». Doze anos mais tarde ninguém pensa mais neste laureado de circunstância. A «Les Presses de la Cite», pelo contrário, acaba de fazer reaparecer «La Nuit Commence au Cap Horn». O livro de Saint-Loup não será certamente repescado para o Goncourt de 1965. Mas terá dezenas de milhares de leitores.
Fumando o seu cachimbo, Saint-Loup evoca esse ano de 1948 em que beneficiará do seu posto de conselheiro técnico de questões de montanhismo no exército argentino para partir à descoberta do Chile Austral: - Entre os padres salesianos de Magalhães compreendi por que as populações indígenas haviam desaparecido: Quiséramos fazê-las viver num quadro que não era o seu. Foi um verdadeiro genocídio. Os missionários que evangelizaram essas tribos quiseram transgredir a lei que faz os homens diferentes. Ele levanta-se, mostra-me as fotografias de montanhas atingidas pelo vento: - Não brincamos com a lei do paralelo 55 Sul. A verdadeira liberdade é respeitar a natureza. Querer deformar os países e os homens é o pior dos crimes. – E o teu livro? – Escrevi-o durante o Inverno de 1950-51 em Itália, em Courmayeur. Nevava quase todos os dias. Eu não havia deixado o Cabo Horn…este romance, escrito depois de tantas aventuras, é do melhor Saint-Loup. Descobrimos em cada página o homem de acção. Aviador que sobrevoou florestas e motociclista que devorou quilómetros, esquiador na Lapónia e combatente na Ucrânia, alpinista, explorador, cavaleiro. Um homem digno de uma peça, escritor, montanhista, historiador, viajante. E, com ele, nós seguimos, passo a passo e dia a dia, o pastor Duncan Mac Isaac. Há cem anos este missionário metodista tentava o impossível, pretendendo converter ao cristianismo os índios da Terra do Fogo. Ele quer negar o real, esquecendo que os homens são determinados pela sua raça antes de o serem pela sua religião. E ao querer salvar as almas ele vai destruir várias tribos. Este romance é o maior requisitório contra o colonialismo… «La Nuit Commence au Cap Horn», que descreve a agonia de uma raça, encontra-se na linha do realismo biológico mas não corresponde de todo à ideia que os «anti-racistas» fazem do racismo. Estarão em dificuldades para descobrir ali a menor «apologia do crime». Bem pelo contrário, Saint-Loup demonstra – e com que aura épica – que é o universalismo que é um crime, a religião uma miragem e que a verdadeira liberdade, para cada homem e para cada povo é, antes de tudo, o direito de ser o que são.
Recensão de Jean Mabire,«Europe-Action» N°35 – Novembro de 1965
segunda-feira, outubro 23, 2006
quarta-feira, outubro 18, 2006
Democracia "à la sinistra"
Num folheto do PCP sobre a questão do aborto e sob o sugestivo título: «Mudar a lei do aborto sem recurso a referendo» escrevia-se em Março de 2005: «O PCP rejeita a ideia de que seja necessário novo referendo. Recorda-se que o referendo de 1998 tem sido invocado para tentar negar a plena legitimidade da AR para legislar sobre a matéria. Acontece que tal referendo não teve carácter vinculativo, visto que votaram apenas 31,9% dos eleitores. E mesmo que tivesse tido mais de 50% de votantes o seu efeito vinculativo já teria há muito caducado, passados que são oito anos dessa consulta.»(*)
Jerónimo de Sousa tem comprovado a coerência do seu partido nesta questão ao continuar a defender que a alteração à lei existente deveria ser realizada sem consultar a população, uma vez que isso acarretará incerteza quanto ao resultado. Naturalmente a ideia de incerteza quanto ao resultado é central ao processo democrático mas também é evidente que essas «particularidades» nunca foram do agrado dos comunistas, que simplesmente, e por força das circunstâncias, se viram forçados a aceitar a participação política baseada nesses métodos.
O que é interessante naquela posição dos comunistas nem é tanto o argumento do carácter vinculativo mas a ideia de que mesmo que o tivesse não faria qualquer diferença, «passados que são oito anos dessa consulta». De acordo com esta posição ficamos a saber que o resultado do novo referendo, seja vinculativo ou não, é irrelevante, já que daqui a meia dúzia de anos não há qualquer razão para o não alterar em sede parlamentar, mesmo, naturalmente – reconhecerá o PCP coerentemente –, se esta nova consulta tiver o desfecho que o partido pretende.
O que isto pressupõe é, obviamente, uma perda de legitimidade dos mecanismos de democracia directa para além deste caso específico. Se as decisões populares assim definidas valem simplesmente durante um curto período, presume-se que durante o governo de um determinado partido – pois que com a vitória de outro a Assembleia da República assume novo contorno ideológico e pode ganhar as condições de alterar essas leis –, não há qualquer lógica que justifique a existência dessas consultas à população. Claro que uma decisão referendada não tem de vigorar indefinidamente, mas parte-se do princípio que deve valer por um tempo alargado e para além da vontade estritamente parlamentar, será esse um dos objectivos subjacentes a este tipo de processos democráticos que, caso contrário, seriam realmente desapropriados.
Ou seja, o PCP não gosta da democracia directa nem a entende, ponto. Já sabíamos que os marxistas não eram propriamente os maiores entusiastas da democracia representativa, tradicionalmente apresentada como sistema de dominação burguesa sobre o proletariado, ficamos agora também conscientes (falo com ironia pois não creio que alguém não o soubesse já) que a democracia directa também não lhes serve.
Aliás, o mesmo texto mostra bem que o PCP, para além de não perceber a lógica da participação directa, tem dificuldades em interpretar o funcionamento da própria democracia representativa. Lemos mais à frente:
«Despenalizar a interrupção voluntária da gravidez na Assembleia da República sem referendo prévio não significa desrespeitar a vontade dos (as) eleitores (as) porque das últimas eleições saiu uma ampla maioria parlamentar constituída por forças que, na campanha eleitoral, se afirmaram favoráveis à despenalização do aborto».
É verdade, mas esqueceram-se de referir que uma dessas forças, curiosamente a que ganhou as eleições (e não foi o PCP), também prometeu durante a campanha eleitoral não alterar a lei da IVG na Assembleia da República sem consultar novamente o povo. E embora isto possa parecer estranho para o PCP, estas coisas são, em princípio (e reforço isto porque, como sabemos, a realidade é muitas vezes outra), para cumprir, e é isso que supostamente credibilizará o processo democrático assente em formas representativas.
Não é que o PS tenha demonstrado com a sua decisão maior compreensão das instituições democráticas que os seus confrades de extrema-esquerda; bem nos lembramos que o partido socialista também pretendeu, a dado momento e contra os seus compromissos de campanha, alterar a lei no parlamento, posição que reunia o apoio de BE e PCP …simplesmente, Sócrates, consciente de que já havia mentido aos portugueses na questão dos impostos, achou por bem ter algum pudor, foi mais uma posição tomada por contingências políticas do que por convicção democrática. No fundo, esta incompreensão do PCP face aos factores de idoneidade da própria democracia representativa (porque quanto à directa estamos falados) - como o programa eleitoral - pode até ser relativizada quando os «primos socialistas» também não parecem ter sobre isso mais que uma posição utilitária, de conveniência.
(*)Folheto comunista
Jerónimo de Sousa tem comprovado a coerência do seu partido nesta questão ao continuar a defender que a alteração à lei existente deveria ser realizada sem consultar a população, uma vez que isso acarretará incerteza quanto ao resultado. Naturalmente a ideia de incerteza quanto ao resultado é central ao processo democrático mas também é evidente que essas «particularidades» nunca foram do agrado dos comunistas, que simplesmente, e por força das circunstâncias, se viram forçados a aceitar a participação política baseada nesses métodos.
O que é interessante naquela posição dos comunistas nem é tanto o argumento do carácter vinculativo mas a ideia de que mesmo que o tivesse não faria qualquer diferença, «passados que são oito anos dessa consulta». De acordo com esta posição ficamos a saber que o resultado do novo referendo, seja vinculativo ou não, é irrelevante, já que daqui a meia dúzia de anos não há qualquer razão para o não alterar em sede parlamentar, mesmo, naturalmente – reconhecerá o PCP coerentemente –, se esta nova consulta tiver o desfecho que o partido pretende.
O que isto pressupõe é, obviamente, uma perda de legitimidade dos mecanismos de democracia directa para além deste caso específico. Se as decisões populares assim definidas valem simplesmente durante um curto período, presume-se que durante o governo de um determinado partido – pois que com a vitória de outro a Assembleia da República assume novo contorno ideológico e pode ganhar as condições de alterar essas leis –, não há qualquer lógica que justifique a existência dessas consultas à população. Claro que uma decisão referendada não tem de vigorar indefinidamente, mas parte-se do princípio que deve valer por um tempo alargado e para além da vontade estritamente parlamentar, será esse um dos objectivos subjacentes a este tipo de processos democráticos que, caso contrário, seriam realmente desapropriados.
Ou seja, o PCP não gosta da democracia directa nem a entende, ponto. Já sabíamos que os marxistas não eram propriamente os maiores entusiastas da democracia representativa, tradicionalmente apresentada como sistema de dominação burguesa sobre o proletariado, ficamos agora também conscientes (falo com ironia pois não creio que alguém não o soubesse já) que a democracia directa também não lhes serve.
Aliás, o mesmo texto mostra bem que o PCP, para além de não perceber a lógica da participação directa, tem dificuldades em interpretar o funcionamento da própria democracia representativa. Lemos mais à frente:
«Despenalizar a interrupção voluntária da gravidez na Assembleia da República sem referendo prévio não significa desrespeitar a vontade dos (as) eleitores (as) porque das últimas eleições saiu uma ampla maioria parlamentar constituída por forças que, na campanha eleitoral, se afirmaram favoráveis à despenalização do aborto».
É verdade, mas esqueceram-se de referir que uma dessas forças, curiosamente a que ganhou as eleições (e não foi o PCP), também prometeu durante a campanha eleitoral não alterar a lei da IVG na Assembleia da República sem consultar novamente o povo. E embora isto possa parecer estranho para o PCP, estas coisas são, em princípio (e reforço isto porque, como sabemos, a realidade é muitas vezes outra), para cumprir, e é isso que supostamente credibilizará o processo democrático assente em formas representativas.
Não é que o PS tenha demonstrado com a sua decisão maior compreensão das instituições democráticas que os seus confrades de extrema-esquerda; bem nos lembramos que o partido socialista também pretendeu, a dado momento e contra os seus compromissos de campanha, alterar a lei no parlamento, posição que reunia o apoio de BE e PCP …simplesmente, Sócrates, consciente de que já havia mentido aos portugueses na questão dos impostos, achou por bem ter algum pudor, foi mais uma posição tomada por contingências políticas do que por convicção democrática. No fundo, esta incompreensão do PCP face aos factores de idoneidade da própria democracia representativa (porque quanto à directa estamos falados) - como o programa eleitoral - pode até ser relativizada quando os «primos socialistas» também não parecem ter sobre isso mais que uma posição utilitária, de conveniência.
(*)Folheto comunista
quinta-feira, outubro 12, 2006
Uma questão de higiene
As recentes eleições municipais na Bélgica assinalaram um crescimento geral, na Flandres, do partido identitário Vlaams Belang. Um êxito que a imprensa local e europeia, de forma esperada, procurou minimizar ou relativizar fazendo eco de uma derrota na importante Antuérpia, para os socialistas.
Nessa cidade, a mais importante da Flandres, o VB era até agora a força política mais votada; tendo obtido 33% das preferências nas últimas eleições conseguiu agora um acréscimo de 0.5%. O sp.a, partido socialista flamengo, conseguiu aí passar de 19,5% para 35%; a subida dos socialistas flamengos em Antuérpia foi conseguida sobretudo à custa da queda dos ecologistas e dos liberais e dos ganhos na comunidade imigrante, não do eleitorado do VB.
Na realidade, se tomarmos em conta que após as eleições de 2000 – onde ocorreu um sucesso admirável do VB –, os partidos do sistema decidiram conceder aos imigrantes o direito a votarem nas eleições municipais e alteraram o critério de acesso à nacionalidade, facilitando enormemente a sua obtenção por parte de qualquer estrangeiro residente há 3 anos, poderemos concluir que os resultados dos nacionalistas do VB foram anda mais notáveis do que à partida se poderia supor. Sem os votos dos imigrantes e dos recém naturalizados, naturalmente exercidos contra o Vlaams Belang, os resultados relativos do partido seriam ainda melhores e certamente teria continuado como força maior de Antuérpia, já que o sp.a beneficiou desse voto dos «novos belgas» (o Partido da Liberdade austríaco, apoiando-se em fontes flamengas, afirma em comunicado que só em Antuérpia o número de belgas «inventados por naturalização» e de imigrantes a quem foi concedido direito a votar andará à volta dos 90 000, numa cidade que tem cerca de 450 000 habitantes!)(*). Não tenho qualquer problema em afirmar que estes resultados, mesmo fora de Antuérpia, onde o VB teve importantes ganhos, foram adulterados pelas políticas de imigração e naturalização desenvolvidas nos últimos 6 anos … parabéns aos «bons democratas», objectivo parcialmente atingido!
Mas até que ponto faria realmente diferença o resultado alcançado pelo partido nacionalista flamengo nestas eleições? A pergunta é pertinente porque, na Flandres, o VB está praticamente impedido de exercer o poder mesmo nas localidades onde é a força mais votada. Ao abrigo daquilo a que chamaram «cordão sanitário», todos os outros partidos têm um acordo tácito que permite estabelecer entendimentos por forma a impedirem o VB de governar nos municípios onde vence.
Este acto eleitoral tinha assim sobretudo uma dimensão simbólica, porque, realisticamente, e em face do atrás exposto, a probabilidade do VB vir a exercer o poder em algumas municipalidades era muito diminuta. A grande vitória do partido foi a demonstração de que tem o seu eleitorado consolidado e em crescimento, que, ao contrário do que pretenderiam alguns, o seu sucesso vem sendo construído de forma sólida e gradual, não foi um fenómeno conjuntural de curto-prazo, e esse sinal é uma fonte de esperança e força para toda a «Europa Livre». De resto, a única forma de romper verdadeiramente essa farsa democrática que denominaram «cordão sanitário», e que junta desde socialistas a conservadores, é obter mais de 50% dos votos, o que, convenhamos, é tarefa particularmente difícil para qualquer partido quanto mais para os que sofrem dos bem conhecidos estigmas que a «honesta comunicação social» se encarrega de impor sobre as organizações patrióticas de toda a Europa.
Este cordão sanitário remete-nos para a «aliança útil» que se gerou contra Le Pen em França, nas presidenciais que disputou com Chirac, e mesmo para as pressões transnacionais que se realizaram sobre a Áustria aquando do sucesso eleitoral de Haider. Porém, considero que nenhum termo foi tão feliz para caracterizar estas práticas, como a designação «cordão sanitário». O que é um cordão sanitário senão uma forma de preservação de higiene ou de isolar o que está contaminado do que é saudável, o que é sujo e porco do que é limpo? Pois é disso mesmo que se trata, o Vlaams Belang, como as restantes forças nacionalistas europeias, representa o que ainda é salutar na Europa, representa a Europa que se estima, que se preserva, que não chafurda na lama e na porcaria, que não se prostitui, essa Europa está de facto isolada e cercada, e não encontro melhor imagem para caracterizar o que a separa do lixo que se acumula e alastra dentro das suas próprias portas – da esquerda à direita – do que a ideia de cordão sanitário.
Yves Daoudal, no National-Hebdo, definiu magistralmente a situação: «Não há mais que dois partidos políticos na Flandres, o Vlaams Belang, que defende os valores nacionais, e a grande coligação cosmopolita». De facto, e generalizando, não só na Flandres mas em toda a Europa existirão sobretudo duas forças em confronto, os nacionalistas e os outros, a nação contra a anti-nação, a Europa contra a anti-Europa. Tudo o resto será cada vez mais secundário, menor, irrelevante, porque é da nossa própria sobrevivência enquanto povos que hoje falamos, a luta decisiva definirá simplesmente dois campos maiores, os defensores da memória nacional e da identidade europeia contra a grande coligação da perfídia, que junta desde os mundialistas de esquerda aos universalistas de direita.
Note-se que os partidos do «cordão sanitário», a grande coligação, com o objectivo de impedirem a chegada ao poder do VB, não só não hesitaram em colocar milhares de estrangeiros a votar e de naturalizar outros tantos como foram mesmo mais longe: para garantir os votos dos cidadãos instantâneos que entretanto criaram, esses diversos partidos encheram as suas listas de indivíduos de origem não europeia, ao ponto de, por exemplo na referenciada Antuérpia, cerca de 1/3 dos eleitos socialistas e democratas-cristãos serem agora provenientes de Ásia e África. Quando da esquerda socialista à direita cristã se coloca a Flandres sob o governo de africanos e asiáticos para combater os nacionalistas dispensam-se mais considerações… cordão sanitário? Concerteza, afinal é mesmo de uma questão de higiene e sanidade que falamos.
(*) Comunicado do Partido da Liberdade
Nessa cidade, a mais importante da Flandres, o VB era até agora a força política mais votada; tendo obtido 33% das preferências nas últimas eleições conseguiu agora um acréscimo de 0.5%. O sp.a, partido socialista flamengo, conseguiu aí passar de 19,5% para 35%; a subida dos socialistas flamengos em Antuérpia foi conseguida sobretudo à custa da queda dos ecologistas e dos liberais e dos ganhos na comunidade imigrante, não do eleitorado do VB.
Na realidade, se tomarmos em conta que após as eleições de 2000 – onde ocorreu um sucesso admirável do VB –, os partidos do sistema decidiram conceder aos imigrantes o direito a votarem nas eleições municipais e alteraram o critério de acesso à nacionalidade, facilitando enormemente a sua obtenção por parte de qualquer estrangeiro residente há 3 anos, poderemos concluir que os resultados dos nacionalistas do VB foram anda mais notáveis do que à partida se poderia supor. Sem os votos dos imigrantes e dos recém naturalizados, naturalmente exercidos contra o Vlaams Belang, os resultados relativos do partido seriam ainda melhores e certamente teria continuado como força maior de Antuérpia, já que o sp.a beneficiou desse voto dos «novos belgas» (o Partido da Liberdade austríaco, apoiando-se em fontes flamengas, afirma em comunicado que só em Antuérpia o número de belgas «inventados por naturalização» e de imigrantes a quem foi concedido direito a votar andará à volta dos 90 000, numa cidade que tem cerca de 450 000 habitantes!)(*). Não tenho qualquer problema em afirmar que estes resultados, mesmo fora de Antuérpia, onde o VB teve importantes ganhos, foram adulterados pelas políticas de imigração e naturalização desenvolvidas nos últimos 6 anos … parabéns aos «bons democratas», objectivo parcialmente atingido!
Mas até que ponto faria realmente diferença o resultado alcançado pelo partido nacionalista flamengo nestas eleições? A pergunta é pertinente porque, na Flandres, o VB está praticamente impedido de exercer o poder mesmo nas localidades onde é a força mais votada. Ao abrigo daquilo a que chamaram «cordão sanitário», todos os outros partidos têm um acordo tácito que permite estabelecer entendimentos por forma a impedirem o VB de governar nos municípios onde vence.
Este acto eleitoral tinha assim sobretudo uma dimensão simbólica, porque, realisticamente, e em face do atrás exposto, a probabilidade do VB vir a exercer o poder em algumas municipalidades era muito diminuta. A grande vitória do partido foi a demonstração de que tem o seu eleitorado consolidado e em crescimento, que, ao contrário do que pretenderiam alguns, o seu sucesso vem sendo construído de forma sólida e gradual, não foi um fenómeno conjuntural de curto-prazo, e esse sinal é uma fonte de esperança e força para toda a «Europa Livre». De resto, a única forma de romper verdadeiramente essa farsa democrática que denominaram «cordão sanitário», e que junta desde socialistas a conservadores, é obter mais de 50% dos votos, o que, convenhamos, é tarefa particularmente difícil para qualquer partido quanto mais para os que sofrem dos bem conhecidos estigmas que a «honesta comunicação social» se encarrega de impor sobre as organizações patrióticas de toda a Europa.
Este cordão sanitário remete-nos para a «aliança útil» que se gerou contra Le Pen em França, nas presidenciais que disputou com Chirac, e mesmo para as pressões transnacionais que se realizaram sobre a Áustria aquando do sucesso eleitoral de Haider. Porém, considero que nenhum termo foi tão feliz para caracterizar estas práticas, como a designação «cordão sanitário». O que é um cordão sanitário senão uma forma de preservação de higiene ou de isolar o que está contaminado do que é saudável, o que é sujo e porco do que é limpo? Pois é disso mesmo que se trata, o Vlaams Belang, como as restantes forças nacionalistas europeias, representa o que ainda é salutar na Europa, representa a Europa que se estima, que se preserva, que não chafurda na lama e na porcaria, que não se prostitui, essa Europa está de facto isolada e cercada, e não encontro melhor imagem para caracterizar o que a separa do lixo que se acumula e alastra dentro das suas próprias portas – da esquerda à direita – do que a ideia de cordão sanitário.
Yves Daoudal, no National-Hebdo, definiu magistralmente a situação: «Não há mais que dois partidos políticos na Flandres, o Vlaams Belang, que defende os valores nacionais, e a grande coligação cosmopolita». De facto, e generalizando, não só na Flandres mas em toda a Europa existirão sobretudo duas forças em confronto, os nacionalistas e os outros, a nação contra a anti-nação, a Europa contra a anti-Europa. Tudo o resto será cada vez mais secundário, menor, irrelevante, porque é da nossa própria sobrevivência enquanto povos que hoje falamos, a luta decisiva definirá simplesmente dois campos maiores, os defensores da memória nacional e da identidade europeia contra a grande coligação da perfídia, que junta desde os mundialistas de esquerda aos universalistas de direita.
Note-se que os partidos do «cordão sanitário», a grande coligação, com o objectivo de impedirem a chegada ao poder do VB, não só não hesitaram em colocar milhares de estrangeiros a votar e de naturalizar outros tantos como foram mesmo mais longe: para garantir os votos dos cidadãos instantâneos que entretanto criaram, esses diversos partidos encheram as suas listas de indivíduos de origem não europeia, ao ponto de, por exemplo na referenciada Antuérpia, cerca de 1/3 dos eleitos socialistas e democratas-cristãos serem agora provenientes de Ásia e África. Quando da esquerda socialista à direita cristã se coloca a Flandres sob o governo de africanos e asiáticos para combater os nacionalistas dispensam-se mais considerações… cordão sanitário? Concerteza, afinal é mesmo de uma questão de higiene e sanidade que falamos.
(*) Comunicado do Partido da Liberdade