quinta-feira, abril 28, 2005

Não discutimos a pátria!


E um dia, quando
A tormentória Nuvem for passando
Ao aceno Divino ao qual se agita,
Na cadência dos orbes, a infinita
Inspiração e aspiração do Mundo;

Quando os homens, perdidos um segundo
No turbilhão dos séculos, _ ouvindo
O pleno Meio-dia, aéreo e lindo
Da ascensional jornada, _ em paz e amor
Adorem o Senhor;

Um dia, quando,
A nova Idade de Oiro celebrando,
Houver um grande Povo sobre a terra,
Que, sem pecados, sem a inveja e a guerra,
Na formosura viva e na abundância:
Sábio como o Outono, e, como a Infância,
Primaveril e alegre; em tal ventura
Que já não seja o cego que procura
Mas sim o desejado da Verdade
A tombar como tomba a claridade
De extática manhã; e a tal exemplo
Que seja_ ao ser Império,_ egrégio templo:
(Oh Catedral das Gentes!) ao redor
O mundo, qual terreiro ou adro em flor
Das mais Nações em romaria...

Então,

Imaginai, agora, ( na visão
Do sonho em que a nossa alma se redobra)
Que Deus mandou, a ver a sua obra,
Uma embaixada de Anjos.

E, pasmado

E em ronda à maravilha (oh encantado,
Edénico País!) o alado bando
Irá sorrindo, olhando, perguntando:

_ «E que nome baptismal
Foi o da pátria ditosa,
Ao ser a mais linda rosa
Do Jardim Universal?»

Portugal! Portugal!

Ai vinde, irmãos, amigos, todos! vinde.

Cantai, em coro, porque mais se alinde
O Nome Triunfal:

Acordem nele a terra, o mar e alturas;
Relembrando nele oitavas de Camões,
Num fulvo terramoto de armaduras,
Montanha de ondas contra os galeões;
Inspirem nele as Líricas Futuras
E a Epopeia do Azul, em novos mastros
E, em vez das Índias, demandando os astros...

Portugal! Portugal!

Nome dos nomes a chamar por nós?
Berço de Filhos, túmulo de Avós...

Portugal! Portugal!

Todos, à uma, _ eh lá, Rapazes! _ vinde.
Em coro respondei: e mais não finde
O Nome Triunfal.

Cantai! Rezai! erguei a voz; e, a erguê-la,
Pareça reboar, de estrela a estrela,
Um carrilhão de bronze e de cristal:

Portugal! Portugal!


António Corrêa d'Oliveira, do poema «Pátria Nostra» de 28 de Maio de 1934, cujo manuscrito original foi oferecido pelo autor ao Dr. António de Oliveira Salazar.

segunda-feira, abril 18, 2005

Interregno

Por razões de ordem pessoal o Batalha Final ficará sem actualização até Maio, o avolumar de outros compromissos assim o exige. O combate recomeçará dentro de 15 dias.

quinta-feira, abril 14, 2005

O amigo americano

A secretária de estado norte-americana Condoleezza Rice deslocou-se a Nova Deli, onde garantiu ao primeiro-ministro Indiano que o novo objectivo de política externa norte-americana é ajudar a Índia a tornar-se uma potência mundial neste século que chegou. É sabido de há muito que os novos poderes emergentes no século XXI estão na Ásia, é ali que se está a jogar o futuro geopolítico do planeta e é portanto dali que sairá o novo equilíbrio de poderes mundial.

É patente que a China despertou e os EUA têm plena consciência disto, é, aliás, em face disso, que se devem entender os cenários estratégicos projectados pela CIA que dão a China como o próximo pólo do contra-poder americano. A forma como a China está a projectar-se na cena comercial internacional e a forma como estabeleceu uma estratégia de intervenção no Continente africano, sob a forma de actividades de cooperação, que no entanto se concentram nas áreas onde existem campos de petróleo, não deixa margens para dúvidas quanto à assunção da vontade de deter um novo estatuto internacional. Mas a China sabe também, tal como os EUA, que é na Ásia que se definirá a nova ordem internacional, e isto assume particular importância para os chineses pois essa é a sua zona de influência e nenhum país pode aspirar a ser uma super-potência sem deter antes uma hegemonia ou um claro domínio regional.

É na leitura clara deste cenário que os americanos iniciam já a defesa do seu estatuto de hegemonia mundial; a estratégia é clara, é antiga, conhecida e de eficácia comprovada, é a célebre máxima “dividir para reinar”.Ninguém como os americanos se especializou neste ardil, eles fazem-no com uma habilidade quase artística, frequentemente sob a ideia da defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos, a coisa é feita com tal aptidão que conseguem inclusive ter gente de pé, aclamando e pedindo “bis” mesmo quando são os países destes fervorosos entusiastas as maiores vítimas da artimanha americana.

É neste quadro que se deve ler a posição americana de apoiar o surgimento da Índia como potência mundial, o objectivo é controlar o potencial de crescimento e fortalecimento da China. Ao criar um adversário regional desse país, os EUA sabem que estão a impedir a plena emergência de uma força que se lhes oponha em plano de igualdade e sobretudo numa região do globo que marcará decisivamente a balança do poder internacional, pois como anteriormente referi, nenhum bloco pode ter veleidades de dominação sem ter a sua região directa de influência controlada.

Repare-se no requinte da nova estratégia americana, um autêntico “dois em um”; sabendo da relação delicada e do equilíbrio precário existente entre a Índia e o Paquistão, aliado actual dos EUA, Washington sabe também que o apoio recentemente declarado à Índia poderia causar mal-estar nas suas relações com o Paquistão, o que fazer então? Aparentemente usar em proveito próprio o jogo da disseminação do poder. Para apaziguar os paquistaneses, os americanos, gentilmente, estabeleceram com o Paquistão um acordo de venda de aviões de guerra F-16 cuja transacção estava proibida desde 1990 por causa do programa nuclear em curso naquele país muçulmano, mas ao mesmo tempo, os EUA anunciam que as companhias norte-americanas irão providenciar à Índia a nova geração de aviões de combate multi-facetados que estão a desenvolver. Digam lá se não é genial (diria até hilariante), ao mesmo tempo que minam a capacidade da China se impor na região, vendem armamento aos históricos inimigos Índia e Paquistão conseguindo desta forma o objectivo de manietar a China, fortalecer a Índia controladamente ( pelo auxílio ao Paquistão) e ainda conseguem consolidar a sua economia interna pelo reforço dos lucros da sua indústria de armamento, um dos grandes motores, senão o principal, do desenvolvimento tecnológico e crescimento económico americano.

A este propósito, note-se que esta indústria de guerra é um factor decisivo na economia americana e a sua promiscuidade com o poder político é tradicional nos EUA( tanto como a relação entre as petrolíferas e o mesmo poder político), é também em nome das necessidades desta indústria que os Estados Unidos começaram a travar desde há muito as suas guerras em nome da liberdade e da democracia, guerras que têm deixado um rastro de chacinas e atrocidades sem que alguma vez os seus responsáveis tenham sido levados a qualquer tribunal internacional, ao contrário do que gostam de fazer com os países que se lhes opõem ou aos seus interesses. Não deixa de ser irónico que os paladinos da liberdade se aventurem nas mais diversas guerras, muitas vezes alegando a violação do direito internacional, quando são eles e os seus aliados israelitas os maiores transgressores do direito e acordos internacionais.

Ainda no seguimento da estratégia de fortalecimento do poderio indiano parece estar na forja a transferência de reactores nucleares para a índia, o que deixa antever que a revisão do tratado de proliferação nuclear será efectuado uma vez mais em função dos interesses específicos da América, que põe e dispõe destes acordos em relação directa com os seus interesses exclusivos.

No meio de tudo isto não se vê qualquer posição ou definição política por parte da Europa. Não é por acaso; a Europa está dividida e mais uma vez os EUA fizeram o trabalho bem feito, alargaram a sua influência aos países de Leste, desejosos de sair da esfera de acção da Rússia e que agora dentro da UE se juntam ao já antigo aliado britânico.Com isto conseguiram isolar a Rússia e afastá-la da Europa, um afastamento que havia sido iniciado com a promoção da guerra da Jugoslávia. As feridas causadas pela divisão europeia no que respeitou à guerra no Iraque também deixaram marcas e puseram fragilidades em evidência, e o “forcing” americano para a entrada da Turquia na UE será o golpe final, aquele que muito provavelmente destruirá qualquer possibilidade de coesão europeia, representará a balcanização completa da Europa e antecederá a muito provável entrada de Israel na construção europeia( se até lá esta não se desmantelar)…

A falta de coesão da Europa é o grande factor de indefinição de uma política que permita aos europeus assumirem-se como contra-poder em situação de igualdade com os Estados Unidos. Dentro da Europa, alguns países, pretensamente receosos do poder do eixo franco-germânico_ alguns alegando o seu passado de potência marítima ou não continental_ parecem no entanto não se importar em estarem subjugados ao poder americano. Não entendem, talvez, que numa Europa coesa o seu papel de potência marítima assumiria crescente importância na medida em que permitisse deter uma posição estratégica de ligação entre uma Europa forte e o continente americano, uma relação que então seria baseada no equilíbrio de poder e por isso muito mais importante que uma actual posição atlântica estratégica numa Europa que não conta na cena internacional, para quem os EUA olham como uma ferramenta útil na prossecução dos seus objectivos hegemónicos particulares.

Portugal é um destes casos singulares, aqui direitas e esquerdas, traumatizadas ainda pelos resquícios da guerra-fria, não conseguem libertar-se de uma posição tradicional face aos EUA, a esquerda ressabiada pelo papel que os americanos tiveram na queda do marxismo, e a direita eternamente grata pelo serviço. Se à esquerda esta figura serve na perfeição, até porque a mim a esquerda não me interessa, já seria tempo da direita portuguesa entender que uma Europa coesa, uma “Europa-Potência”, serviria a nossa posição atlântica. Porque ao nivelar a relação com os EUA para um plano de igualdade, que é o único plano em que se pode verdadeiramente falar em aliados, equilibraria o actual papel de ligação predominante e essencial da Inglaterra ao atlântico e à América anglófona, já que faria subir a importância da ligação à América Latina onde nós teríamos uma outra capacidade de intervenção; capacidade que jamais teremos com os EUA. Por outro lado, se a Europa surgisse perante os EUA como um parceiro igual, os americanos seriam forçados a dialogar verdadeiramente com a Europa, a negociar, com cedências mútuas, não seria certamente a Europa encarada como um parceiro subserviente que dá jeito para mandar uns contingentes militares de cada vez que os Estados Unidos decidem entrar em conflito, ajudando na tarefa de redução do défice americano. Isto é que não pode ser tolerado, isto não é a desejada definição de aliança, não existem neste cenário aliados mas antes um líder americano e os seus seguidores europeus.

Neste momento em que se joga o futuro equilíbrio mundial na Ásia, os EUA tomam uma posição clara e agressiva, têm uma estratégia definida e sabem como a implementar, entretanto esta Europa, dividida e fraca, não tem qualquer estratagema de intervenção na Ásia, não sabe o que fazer nem como se posicionar perante a China, que papel tomar neste quadro político, a quem se juntar, não sabe se há-de vender armamento à China ou não, não sabe se há-de ajudar à emergência dessa potência chinesa ou se há-de estreitar os laços com a Índia para contra-balancear o poderio chinês, e como não sabe os EUA já tomaram a dianteira no processo. Mais grave se afigura a questão se pensarmos que a Ásia tem com a Europa uma proximidade física e portanto um forte impacto estratégico. Decididamente entramos no século XXI como saímos do século XX, a perder…

terça-feira, abril 12, 2005

Do tempo que passou

Then sing, ye Birds, sing, sing a joyous song!
And let the young Lambs bound
As to the tabor's sound!
We in thought will join your throng,
Ye that pipe and ye that play,
Ye that through your hearts to-day
Feel the gladness of the May!
What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.

William Wordsworth, "Ode- Intimations of immortality from recollections of early childhood"

Arthur Moeller van den Bruck

Nascido em 1876 em Solingen, Arthur Moeller van den Bruck passou a juventude em Düsseldorf, onde manifestou um carácter introspectivo mas também rebelde. Bem cedo iniciou uma vida de boémio, primeiramente em Erfurt, depois em Lipsia, onde se inscreve na universidade, sem a completar. Espírito autodidacta, formou-se com os clássicos do pangermanismo cultural, Langbehn, H.S.Chamberlain, Gobineau. Em 1896 está em Berlim, onde entra em contacto com Rudolf Steiner, August Strimberg e o pintor «Völkish» Fidus. Em 1902, fugindo ao serviço militar, abandonou a jovem mulher grávida e refugiou-se em Paris, onde conheceu, entre outros, o pintor norueguês Edvard Munch e o homem de letras do simbolismo russo Dimitri Merezkowskij, que o faz conhecer e apreciar Dostoievski. Em 1906 vai a Florença na companhia do poeta Theodor Däubler, com o qual compõe o poema épico «Nordlicht»( Aurora Boreal), e do escultor expressionista Ernst Barlach. De 1904 a 1910 escreve a obra enciclopédica «Die Deutschen» (Os Alemães), um retrato dos maiores génios da cultura germânica, que teve significante influência no círculo de Stefan George. Em 1906 iniciou a tradução das obras completas de Dostoievski. Regressado a Berlim em 1907, e novamente casado, inicia uma vida de viagens e colaboração em revistas, entre as quais a conservadora «Die Tat».Em 1913 publica «Die Italienische Schönheit»( A Beleza Italiana), em que emerge a sua preparação artística.

Alista-se no exército como voluntário em 1914; depois de um período na frente oriental é destacado para o Ofício de Propaganda do exército, onde colabora com Friedrich Gundolf, Hans Grimm e Börries von Münchhausen, o primeiro um seguidor de George, os outros dois intelectuais que se distinguirão durante o regime nacional-socialista. Em 1916 Moeller publica «Der Prussische Stil»( O Estilo Prussiano) e, depois da derrota militar, em Junho de 1919, encontramo-lo entre os fundadores de «Juniklub», associação nacional-conservadora de Berlim, e de «Gewissen», revista do nacionalismo radical. É de 1919 o seu livro político «Das Recht der Jungen Völker»( O Direito dos Povos Jovens), enquanto algumas fontes dão por certo o seu encontro com Hitler em 1922 perto do «Juniklub».Dois anos depois da publicação da sua obra-prima ,«Das Dritte Reich»( O terceiro Império), em 1925, suicida-se em Berlim.


Revista "Linea", Setembro 2004

sexta-feira, abril 08, 2005

Quem tem medo da democracia?

A democracia não é em si uma ideologia; é um processo, uma estrutura que deveria permitir a convivência das diversas correntes ideológicas, das diferentes visões do mundo, e permitir aos cidadãos decidir sobre um sistema de governo ou uma concepção política. Na sua base, na sua justificação, está a possibilidade de todos intervirem no destino colectivo da nação com liberdade de escolha. Sem essa possibilidade a democracia é um processo sem fundamentação, é a sua própria negação. Independentemente das discussões sobre a bondade da democracia ou do melhor ou pior funcionamento de democracias representativas ou directas, esta, generalizadamente, radica a sua existência na faculdade de todos os cidadãos poderem influir sobre o destino da colectividade. Mas não só, também está subjacente à sua teoria funcional a liberdade de pensamento e expressão, são estas características que pretensamente a distinguem de outros sistemas organizacionais.

No entanto, o que verdadeiramente aqui importa é que a democracia, que deveria ser um quadro funcional que permitisse a existência de conteúdos ideológicos distintos, um sistema funcional neutro perante as opções políticas, foi manietada ou transformada em algo que já não sustenta os seus propósitos originais. Por um lado porque deixou de representar um processo de decisão sobre princípios políticos para se transfigurar em algo que, usando o mesmo nome, é apenas um meio de eternização e suporte do poder dominante, que se define por uma visão materialista, técnica e económica da sociedade; por outro lado não há hoje real possibilidade do cidadão mudar o que seja; o poder verdadeiro há muito saiu da esfera do mundo considerado político para o mundo financeiro e as forças capazes de se oporem a isto foram silenciadas.

O processo que enviesou a democracia desde o início foi, e continua a ser, o controlo da informação, que é aliás cada vez mais feroz. A informação é o cerne do problema. Para que uma democracia verdadeira pudesse existir teria necessariamente de existir conjuntamente uma opinião pública livre, só assim seria possível uma real participação dos cidadãos no exercício do poder. Uma opinião pública livre só pode ser formada com verdadeira liberdade de pensamento e isto implica uma pluralidade informativa. Para que a consciência política dos indivíduos possa ser formada estes devem poder ter acesso a todas as correntes de pensamento, a todos os conteúdos ideológicos, devem poder analisar os acontecimentos dispondo de uma miríade de visões, conhecer todos os lados das questões históricas e presentes. Não é isso que sucede, a informação está controlada, está controlada nas universidades (onde não se estimula a capacidade de pensar mas antes se impingem verdades fabricadas), está controlada nos meios editoriais (com livros que estão banidos de edição) e sobretudo está controlada nos órgãos de comunicação social, com especial destaque, pelo seu impacto, para as televisões.

Isto é de uma importância extrema, é o ponto fulcral da deturpação democrática. Numa época em que os média assumem um papel central, porque chegam a todo o lado, e onde a televisão tem particular peso na vida do cidadão comum( vivemos a era da imagem, do audiovisual) a exclusão de determinadas opiniões ou correntes ideológicas dos órgãos de comunicação social de maior disseminação, ou ditos de referência, significa a sua morte efectiva e constitui um condicionamento decisivo na formação da consciência cívica e política dos homens, que por isso mesmo dificilmente se podem considerar livres na decisão. Não se formam gerações com capacidade de raciocínio crítico mas antes criam-se gerações de condicionados ou alienados, que ou tomam o actual sistema como o único possível (também porque não conhecem outros ou nem se interessam por conhecer) ou acham que a rebelião contra o estado das coisas se encontra na verborreia e comportamento circense de certa esquerda de inspiração marxista.

Tomando a realidade portuguesa como exemplo e olhando para os jornais e para os debates televisivos, encontramo-los lá a todos, os “moderados” da esquerda liberal à direita liberal( juntamente com os seus derivados de menor expressão), os estalinistas e os trotskistas; e aqui cabe fazer uma distinção, porque a estes grupos correspondem papéis diferentes no sistema vigente. Os liberais, afirmem-se de esquerda ou de direita, são os verdadeiros propagadores do regime, são eles quem faz a verdadeira defesa do actual modelo de sociedade e garantem a manutenção dos interesses dominantes na actualidade; aos marxistas, com especial destaque para os trotskistas, cabe fazerem o papel de rebeldes contestatários, dando assim a ideia de debate e variedade ideológica. Sucede que estes rebeldes, que se pretendem “politicamente incorrectos”,não são nem rebeldes nem têm causa, ou melhor, serão rebeldes das más causas. Não é por acaso que esta gente escreve em todos os jornais e aparece em todos os debates, eles servem um propósito bem definido, têm a sua utilidade e não causam dano algum ao poder estabelecido.

Primeiro não partem de uma concepção da sociedade e do homem verdadeiramente diferente da traduzida pela burguesia liberal; também eles têm no centro do seu pensamento uma visão marcadamente economicista e materialista do homem, o indivíduo é encarado sobretudo em função do seu papel produtivo, da sua posição social, a luta de classes é a constante no seu pensamento e o objectivo é a substituição do papel dominante da burguesia pelo proletariado numa primeira fase, passando a um estádio sem Estado em última fase(estádio que obviamente nunca chega). A forma como o marxismo pretende demolir a ordem social pré-estabelecida, indicando minuciosamente a necessidade e os processos de destruição do passado, tem a sua mais fiel transposição para a nossa realidade na esquerda trotskista , é sobretudo essa que faz sistematicamente a defesa de tudo o que é mais doentio, de tudo o que é destrutivo e desagregador, o ataque a tudo o que dá ao homem um sentido de identidade. É por isso daí que vêm os ataques constantes à nação, ao orgulho patriótico, à família tradicional, à religião, à propriedade, à moral…é esse o seu objectivo último, a destruição de todos os laços que dão ao homem um sentido de pertença, de herança histórica, só assim, pela destruição e pela vileza, pela redução da sociedade e do homem a escombros se pode realizar a “revolução”, não uma revolução autêntica, espiritual e moral, mas a imposição de uma nova ordem material, com um homem despojado de qualquer sentido de identidade, de força interior, pronto a servir a burocracia omnipresente e desumana do marxismo, nivelando o homem pela mediocridade em nome da abolição das classes sociais.

Ora isto serve na perfeição o poder, aquele que é representado pelas forças do chamado "centrão", que não podendo ser ideológico, porque necessariamente pragmático, maleável e economicista, consegue com a presença desta extrema-esquerda passar a ideia de pluralidade, oposição de pensamento e consegue ainda perante aquela o prémio do bom-senso. Mas esta é uma pluralidade perfeitamente controlada por duas simples razões: Primeiramente o marxismo_ na generalidade_ não tem qualquer capacidade de se impor a partir do momento em que as sociedades possuem uma classe média maioritária e isto é um fenómeno historicamente estudado, assim, basta existir um nível mínimo de rendimento assegurado à população para deitar por terra qualquer possibilidade realista de fazer triunfar uma revolução do proletariado( que por implicação deixa de ser uma maioria ou sequer de se considerar como classe proletária); em segundo lugar, o caso particular dos trotskistas não representa qualquer projecto; a força de voto daquela gente está concentrada em causas desconexas, apoiadas por pequenos grupelhos marginais da sociedade ou em criaturas imberbes que acham piada e sentem empatia pelo tipo de "política-espectáculo" , ao estilo mata-esfola, dos trotskistas.

Obviamente, sendo todas estas ideologias marcadas pelo determinismo económico, a comparação é claramente favorável às forças liberais, que asseguram um nível de riqueza e bem-estar social superior e que, apesar de tudo, garantem uma maior liberdade e um sentido de dignidade humana inexistentes no marxismo, cuja doutrina, assente na dialéctica da luta de classes e na destruição da ordem estabelecida, não só não oferece quaisquer soluções válidas para a reconstrução de uma sociedade que pretende derrubar, como está intrinsecamente dependente das desventuras causadas pelo sistema que pretende combater. Dir-se-ia que o marxismo não faz sentido nem pode existir sem o capitalismo, pois a sua função é a destruição do primeiro e necessita por isso de partir da mesma concepção de “homo-economicus”, fazem por isso parte de um mesmo espaço.

Olhando para os “média”, facilmente constatamos a presença de todas as correntes de opinião que vão da extrema-esquerda à direita liberal. Os liberais, moderados, ou centristas ( mais para a esquerda ou para a direita),chamem-lhes o que quiserem, porque são os detentores e fiel representação do poder vigorante, e os da extrema-esquerda são tolerados pelas razões anteriormente descritas e pelo espaço que foram conquistando e sedimentando em alguns círculos culturais. Mas não estamos em presença de uma verdadeira pluralidade opinativa, não só porque as ideias políticas com acesso à informação assentam em pressupostos comuns, mas porque essa pluralidade de informação, que seria o pilar de uma verdadeira democracia, não permite a livre divulgação dos ideais nacionalistas, únicas correntes excluídas e silenciadas pelos “média”. Apenas o discurso nacionalista é calado, apenas os movimentos nacionalistas são difamados constantemente, são os autores nacionalistas que são marginalizados, que são impedidos de escrever nos jornais de grande tiragem(não vale sequer a pena referenciar o caso do “Le Monde”, já que o fenómeno é generalizado), na realidade é o nacionalismo a única força política sem acesso permitido ao grande público, o que obviamente constitui uma desvirtuação das regras do jogo democrático. A relação é simples e inequívoca, sem acesso à divulgação não faz qualquer sentido falar em democracia com honestidade e isso é cada vez mais notório num mundo crescentemente mediatizado.

Porque será que só ao nacionalismo é vedado o direito à exposição livre das suas ideias? A resposta encontra-se na natureza do próprio nacionalismo; ao contrário do que sucede com as outras linhas de pensamento, o nacionalismo não parte de uma racionalização ideológica prévia, antes disso existe já no homem a consciência e o sentimento de pertença à nação, uma ligação natural e saudável à história, à comunidade e à tradição, e é dai que emana a sua energia, é antes de ser ideologia uma forma de sentir a vida, uma forma de olhar o mundo, uma força espiritual que transcende a posição do homem na sociedade ou no mercado, situa-se para além da oposição mecanicista entre marxismo e capitalismo, está num outro plano; e o poder que manietou a democracia tem plena consciência disto, sabe por isso que com as mesmas armas, o mesmo acesso à informação, com a completa liberdade de expressão, o poder apelativo do nacionalismo seria um adversário difícil de abater e de controlar. Quem tem medo da democracia verdadeira, autêntica, com regras iguais para todos, ao contrário do que se pretende fazer passar, não são os nacionalistas; são precisamente aqueles que se afirmam democratas mas que, inconscientemente ou hipocritamente, impedem a realização plena da democracia.

terça-feira, abril 05, 2005

Mémoires d'aprés guerre

Quando conhecemos efectivamente toda a monstruosidade da morte pelo fim daqueles que amamos, torna-se fácil dar-lhe muito menos importância quando se trata de nós mesmos, e de a olhar então com indiferença, seja com mais ou menos atracção. Para mim, esta atracção nasce em parte das circunstâncias presentes. Muito convencido que assistimos a uma queda imensa do homem e que forças materiais de uma potência irresistível trabalham, sem cessar e por toda a parte, para reduzir à uniformidade, à insignificância, à vulgaridade, estes seres humanos que se distinguiam outrora pela ideia de tantas qualidades diversas, persuadido de que o homem deixa para trás o auge da arte, do heroísmo, da virtude, seguro de que a minha própria pátria está no passado, deve tornar-se-me muito mais fácil deixar um mundo que não tem mais nada para me reter e do qual não terei a lamentar senão a luz. Os velhos de ontem tinham a tristeza de deixar o seu mundo durar para além deles. Uma melancolia mais subtil está reservada a alguns de entre nós: é ter visto o seu mundo acabar antes de si. Não lhes resta mais que juntar-se a esse grande cortejo dourado que se afasta, e confesso que, por vezes, tenho um pouco de vergonha de tardar.

Abel Bonnard

domingo, abril 03, 2005

Ezra Pound,fascista de esquerda

Ezra Pound não é_ e nunca quis ser_ um autor fácil. Como diz um dos seus versos mais famosos, ele sabe perfeitamente que “Beauty is difficult”, ou seja que a beleza é difícil, não só para o artista que a cria mas também para o público que quer apreciá-la plenamente. A quem lamenta a obscuridade complexa dos seus "Cantos", o poeta responde com o convite a “ler, ler, ler e ainda reler” o texto. E, como sabem os apaixonados de poesia em geral e de Pound em particular, este é o único método eficaz para tirar proveito da literatura e de qualquer actividade intelectual.

Mais citado que efectivamente lido em Itália, Ezra Pound goza de uma fama inversamente proporcional ao real aprofundamento da sua obra e da sua vida. Contribui para isto, talvez, o escasso conhecimento da língua inglesa por parte dos seus admiradores italianos, ou uma certa propensão para o imediatismo e para a preguiça mental tão difusa entre os mesmos, de Pound gosta-se de citar um par de frases e alguns factos, muitas vezes fantasiosos_ como a nunca ocorrida detenção em Coldano_ mas dificilmente se coloca a estudo fora das faculdades de línguas e literatura estrangeira moderna. Grande parte da fama de Pound está ligada às consequências da sua adesão ao fascismo, que lhe custa a inumana detenção numa prisão militar a norte de Pisa e a sucessiva detenção num manicómio criminal americano por uma dúzia de anos. A par do outro grande decano da literatura mundial, o prémio Nobel Knut Hamsun, Pound paga duramente por um crime de opinião (…).

Fascista declaradamente “de esquerda”, encontra apenas uma vez Mussolini, por quem nutre fascínio, e não gosta nem frequenta personalidades ilustres. Substancialmente ignorado pelos vértices políticos durante o regime fascista, Pound não é estimado nem nos círculos dos intelectuais que “contam” e que não apreciam a sua originalidade. No início dos anos 30,por exemplo, o anglicista Mário Praz critica sem piedade o “Cavalcanti” de Pound, suscitando com ele uma violentíssima polémica, enquanto nos mesmos anos Longanesi descreve-o assim:”É um velho incoerente (…) descurado no vestir, caótico no falar, tímido e um impostor. As suas ideias são muito confusas, crê na grandeza do fascismo”. Os seus discursos na Rádio Roma fazem mais de um funcionário radiofónico duvidar da sua sanidade mental, enquanto a sua nacionalidade americana lhe cria enormes dificuldades financeiras a partir da entrada dos EUA na guerra: Bloqueamento das suas contas correntes e das dos seus familiares, apreensão do pequeno apartamento possuído em Veneza e de outros bens também de propriedade da sua companheira Olga Rudge. Durante a República social italiana, finalmente, apesar do seu empenho profuso em difundir as ideias de Jefferson e o pensamento de Confúcio, quais únicos antídotos à ignorância e à má-fé dos inimigos de Itália, perdem-se as suas reiteradas tentativas para encontrar de novo o Duce e influenciar a política cultural e escolar do fascismo italiano.

A consideração da Itália para com Pound parece melhorar no pós-guerra, com a denúncia da absurda detenção a que se seguem numerosos apelos subscritos por jornalistas e homens da cultura a favor da sua libertação, ainda se se consolida a sua fama de autor muito difícil e, de certo modo, por vezes demasiado original. Julius Evola que partilha com o autor dos "Cantos" o editor, Vanni Scheiwiller, considera Pound “um pouco original”,”maníaco”, e responde, a quem lhe propõe um parecer acerca da eventual publicação de uma antologia dos seus escritos de carácter político, que “seria preciso apenas evitar as considerações sobre a economia ligadas ao conhecido complexo da usura ”. O que equivaleria, em concreto, a eliminar ao menos 4/5 dos escritos políticos de Pound, que exactamente contra a usura combate a batalha política pessoal que o coloca do lado das forças do Eixo, em guerra contra os especuladores e os exploradores do povo como eficazmente e correctamente demonstrou Giano Accame no seu apaixonante “Pound economista”, que fica como a melhor exposição do seu pensamento económico e político (…).

L.Gallesi

Pequena homenagem

Por nós que gostaríamos de ter marcado presença e não pudemos.

PATRULHA

Só a custo, e a custo, escalamos a encosta.
Por muito, porém, que a Morte ronde e sonde
A Pátria, pelo menos, dá resposta
Mesmo quando já ninguém_ ninguém! _ responde…

Rodrigo Emílio