Walter Lippmann, em “Public Opinion” afirma que o conceito de opinião pública é uma ilusão. Tem razão. E Porquê? Porque a opinião pública é o resultado da oferta de informação, é o espelho da absorção das ideias veiculadas pelas estruturas de poder, políticas, como refere Lippmann, mas sobretudo “informativas”( sendo que estas duas não são independentes). A informação é a mais poderosa arma nas sociedades actuais, quem detém a informação detém o poder. A opinião pública, um conceito muito do agrado dos “líderes ocidentais”, é em si, frequentemente, uma ideia vazia de sentido, a opinião do público, ou se preferirmos, da maioria em relação a determinados assuntos, é apenas a resposta aos condicionamentos da informação. Não é tanto a opinião pública que molda o poder mas muito mais o poder que define a opinião pública. Obviamente que ainda assim as estruturas que dominam as nossas sociedades não conseguem um monopólio completo, existirão sempre franjas da população capazes de fugir, correcta ou incorrectamente, com ou sem razão, ao pensamento dominante, mas a maioria será sempre o resultado da oferta de informação, a maioria espelhará sempre a mundivisão dominante nos centros de controlo da informação e da cultura, porque a partir do momento em que isso não sucede o poder transfere-se para outro lado, isto é, o prazo de validade dos poderes dominantes está delimitado pela capacidade de fazerem a opinião pública defender e argumentar em seu favor, em prol dos seus interesses.
O prémio Nobel da literatura é um caso paradigmático de um prémio que é cada vez mais político e duvidosamente meritório, um exemplo do controlo da esquerda sobre a cultura e por tabela sobre a opinião pública, porque a guerra da cultura é a guerra pela caracterização da chamada opinião pública. Nos últimos 7 anos, uma análise aos vencedores deste prémio demonstra uma prevalência clara, inequívoca, de autores que partilham os valores e as lutas da esquerda clássica e contemporânea.
-Em 1998 vence Saramago, autor de méritos literários contestáveis mas de méritos políticos provadíssimos, militante comunista assumido e empenhado, de créditos bem firmados portanto.
-Em 1999 o prémio é atribuído a Gunter Grass, escritor alemão da esquerda, primeiramente apoiante do SPD, depois activista do “movimento pacifista”. Grass opôs-se à reunificação da Alemanha, o seu próprio país, com o argumento de que isso contribuiria para o fortalecimento da nação e a retomada da natureza beligerante do Estado germânico, viria posteriormente a defender a “acção directa” como forma de actuação política, a filosofia que esteve na génese dos movimentos terroristas de esquerda na Europa da década de 70 e que faz parte da natureza de grupos violentos de esquerda como o «Black Bloc».
-Em 2000 vence Gao Xingjian, refugiado político em França, perseguido pelo regime chinês.
-Em 2001 o prémio vai para V.S.Naipul, as suas novelas focam constantemente temas como o exílio e o drama da opressão colonialista nos países do terceiro mundo. Considera-se um cosmopolita, um cidadão do mundo, apátrida (estão a ver o padrão, não é?), define-se como um desenraizado, no fundo encarna na perfeição o ideal do mundo sem pátrias, do universalismo militante da esquerda moderna, do desenraizamento das gentes da tradição e história, personifica o homem final do multiculturalismo, destituido das identidades nacionais.
-No ano de 2002 ganha Imre Kertész, um Húngaro judeu que foi prisioneiro em Auschwitz, logo aqui reúne mais que as qualificações necessárias para vencer o Nobel. É particularmente conhecido por uma trilogia (“Sem Destino”, “A Recusa” e “Kaddish para uma Criança que não Vai Nascer”) que retracta a experiência de vida de um jovem durante o período do holocausto.
-Em 2003 vence J.M.Coetzee, um escritor Sul-Africano crítico da civilização ocidental e da sua moral (um talento à espera da descoberta por parte da esquerda trotskista) e conhecido pelas suas posições contra o Apartheid.
-Em 2004 o prémio vai para Elfried Jelinek, uma austríaca que foi filiada no partido comunista e “activista da paz” e que enquanto tal nunca se esqueceu de fazer a defesa da União Soviética( esse baluarte do pacifismo). De ascendência judaica pela parte do pai, sempre mostrou desprezo pela sua ascendência europeia pelo lado materno; tomou para si as causas da luta “anti-fascista”( seja lá isso o que for) e juntamente com Gunter Grass opôs-se à reunificação da Alemanha nunca deixando de contribuir sempre que a oportunidade surgiu para a manutenção do sentimento de culpabilização do povo alemão desde o pós-guerra. É famosa também pela sua ridicularização do político austríaco jörg Haider, num texto intitulado “O Monólogo de Haider”. É pena que nunca se tenha lembrado de escrever o “Monólogo de Estaline”…
Coincidências, nada mais que coincidências?
Se o prémio Nobel é um caso exemplar na cultura, tanto ou mais interessante será compreender até que ponto está politizada a informação que mais molda a tal opinião pública_ a comunicação social. Os jornalistas têm sido verdadeiramente agentes da revolução social e da transformação do ocidente durante o século XX, e perante o precipício, à beira do abismo, a Europa deve ao menos tentar compreender quem a empurrou até aqui, como e porquê. Nada influencia hoje mais o pensamento dominante do que a televisão, mas a televisão não é apenas entretenimento inocente e aparentemente descomprometido, é também política e formatação social, informação subliminar, demasiado subtil por vezes, mas não perdendo nunca a sua dimensão mais séria, nos programas de debate, nos documentários, nas reportagens de investigação, tudo isto é jornalismo, entre a televisão e o jornalismo escrito partilham-se não só origens e influências como nomes( pessoas que passam de um ambiente para outro, gente que frequentou as mesma faculdades, que frequenta os mesmo grupos sociais). E alguém hoje desconhece a enorme influência que a esquerda possui entre a classe jornalística?
O prémio Pulitzer será provavelmente o prémio jornalístico mais conhecido no mundo, entender até que ponto, mesmo nos E.U.A., a informação está dividida pela esquerda e direita permite-nos extrapolar algumas conclusões para o resto do mundo ocidental, porque por lá a imprensa é fortemente politizada, porque os Estados Unidos ainda vão tendo alguma “direita” e porque serão o país que mais influencia culturalmente o resto do mundo, em particular o Ocidente. Sem surpresa, ao longo dos anos a quase totalidade dos prémios foram atribuídos a jornalistas e órgãos de informação de esquerda, com uma tendência mais acentuada desde a década de 60, e embora o rácio em todas as categorias consideradas seja sempre favorável à esquerda existem algumas categorias em que o prémio nunca foi ganho por um jornalista reconhecidamente de direita. Este ano não foi excepção, atente-se nos seguintes casos:
- O prémio “Public Service” foi atribuído ao “Los Angeles Times”, um jornal da esquerda liberal, recompensando uma série de reportagens onde o jornal denunciava supostos casos de discriminação racial num Hospital público.
-O prémio “ Breaking News Reporting” foi atribuído ao “Star-ledger” pela cobertura “humanista” dada à história da resignação do Governador de New Jersey depois de se ter descoberto que traía a mulher com um homem e ter exposto a sua homossexualidade. A “coragem” do Governador foi aplaudida nas páginas do dito jornal, os anos de mentiras e o sofrimento familiar passaram para segundo plano. Merece o prémio, pois claro.
-O prémio “National Reporting” foi ganho por Walt Bogdanich do “New York Times”, um jornal que é um bastião da esquerda, pela investigação de casos de fraude levados a cabo por grandes empresas procurando a desresponsabilização por acidentes fatais ocorridos em cruzamentos de linhas ferroviárias.
-O primeiro prémio “Internacional Reporting” foi para a jornalista Kim Murphy , uma vez mais do esquerdista “Los Angeles Times”, sobre a realidade actual da Rússia e os seus problemas políticos.
-O segundo prémio “Internacional Reporting” foi para Dele Olojede da “Newsday”, uma revista de esquerda, por um artigo sobre o Rwanda e o massacre da tribo Tutsi. ( É pena que nenhum jornalista se preocupe com o massacre da minoria europeia em alguns países de África, mas isso provavelmente não ganha prémios)
-O prémio “Commentary”,um dos mais importantes, foi para Connie Schultz, uma conhecida jornalista de esquerda casada com um político do partido Democrata, conhecida pelas suas posições de defesa das minorias étnicas, sexuais e religiosas, pela sua defesa intransigente da sociedade multicultural e pela sua psicose anti-racista que vê no “middle american white man” a causa de todos os males( prémio mais que merecido, evidentemente!)
À direita o “Wall Street Journal” ganhou dois prémios, mas nenhum dos artigos premiado tinha qualquer conotação política. Nas categorias de jornalismo, a esquerda, uma vez mais, foi hegemónica. Nada de novo. A questão não é sequer o eventual merecimento dos prémios ou a qualidade e interesse dos artigos, a questão é outra, é a sucessiva repetição do mesmo padrão. Não existirão reportagens, jornais e jornalistas de qualidade à direita? Obviamente que existem, o problema é que as temáticas que ganham prémios pertencem à esquerda, é um ciclo vicioso, os temas políticos que vencem prémios são temas definidos pela esquerda e como ganham os prémios aumentam a sua notoriedade e impacto ,a sua capacidade de marcar a agenda política, a sua capacidade de moldar a opinião pública, que assim se reconhece cada vez mais na visão do mundo própria dessa esquerda.
De resto não são apenas os prémios em si que a esquerda vai amealhando que são motivo de reflexão mas também que prémios existem e são criados, no fundo, a questão passa também por saber o que se pretende premiar. E também aqui, não fugindo à regra, é a esquerda que decide o que deve ser recompensado, que temas merecem distinção. Recordo-me dos vários prémios que distinguem trabalhos jornalísticos relacionados com os "direitos humanos". À partida os mais desprevenidos pensarão que o tema é completamente merecedor de atenção, mas quem acompanha o fenómeno político sabe bem a manietação política que estes prémios usualmente sofrem, o famoso texto de Guillaume Faye ,“ A religião dos direitos humanos”, é um bom desmistificador do assunto. Sob a bandeira dos "direitos humanos" tem sido forçado todo o ocidente a aceitar a descaracterização da sua identidade, a recusa em fazê-lo transformou-se num atentado aos direitos do homem, um abjecto crime, a ideologia dos "direitos humanos", que prima pela hipocrisia, instalou-se no ocidente como frente avançada do multiculturalismo. Apenas o mundo europeu é forçado a aceitar a sociedade multicultural, com todos os problemas que isso acarreta. A ideia de multiculturalidade tem sido a principal responsável pela diluição das especificidades nacionais e pela descaracterização da riqueza cultural e histórica única do ocidente, mas está protegida pela capa dos “direitos humanos”.
Na Ásia, de onde virão os países líderes do século XXI, o conceito é liminarmente rejeitado, por lá não se aceita a destruição da identidade nacional em nome do humanismo, por cá premeiam-se os jornalista que o defendam, por lá emergem as novas potências, por cá morrem decrépitas as antigas, já sem memória do que foram e sem possibilidade de se defenderem no presente. E enquanto por lá sabem que o futuro lhes pertence, nós por cá vamos decaindo mas alegremente, pois afinal impera o humanismo, e nem percebemos que o futuro já não será nosso. Não saberemos sequer mais como nos defender perante culturas que não terão piedade perante nós, culturas que não esqueceram que a história do mundo representa o triunfo dos mais aptos.
No dia 7 de Junho a Comissão Europeia anunciou a segunda edição do prémio jornalístico “Pela diversidade. Contra a discriminação”, brilhante! Mas claro que a defesa da diversidade nos obriga apenas a nós, só o ocidente deve aceitar sem reflexão a diversidade dentro de portas, o conceito não se aplica aos outros povos, que conscientes da sua história e empenhados na legítima preservação da sua identidade entendem o ridículo do conceito, e acrescento que fazem muitíssimo bem, se o suicídio nacional foi aceite pelos europeus não o deverá ser por quem ainda mantém alguma dignidade e sanidade. O facto é que algum jornalista será premiado nesta categoria, ó o prestígio, a glória, o reconhecimento público, já imagino…e assim se continua a formar a opinião pública, essa entidade vazia de sentido que não representa mais que o sistema de valores que lhe é imposto, sem sequer o entender. Marcha triunfal a esquerda ao som dos tambores que uma certa direita vai sorridentemente rufando; que direita? A direita liberal, é evidente.
Isto porque existe um espaço de oferta de informação que a esquerda não controla, falo da informação económica, aí domina aquilo que designamos por direita liberal. É o triunfo do primado do mercado mas sem grandes considerações morais, esta direita liberal é relativista, interessa-lhe a apenas a “liberdade individual” e a maximização da eficiência, questões que impliquem juízos de valor, como justiça social ou interesse comunitário, são-lhe estranhas ou quase indiferentes, questões menores se é que podem ser definidas, afinal são ideias subjectivas, para a direita liberal tudo é relativo e por isso faz com a esquerda uma parelha de sucesso. A esquerda define a agenda social, política, marca os costumes e as mentalidades, define os valores, e para aquela direita tudo vai bem, porque o que lhes interessa é o triunfo do capital e apenas isso, de resto que caiam todas as instituições e tradições. A esquerda tendo perdido a batalha da economia contenta-se com o que lhe sobrou, a definição do espaço político e dos valores, pois sabe, também porque sempre foi muito mais ideológica, que são esses valores que definirão o homem de amanhã.
E aos nacionalistas sobra a Internet, por quanto tempo não sabemos, sabemos que a informação deve ser controlada, a opinião pública deve ser ajustada de acordo com os interesses do «establishment». A censura e o controlo da informação acabarão por chegar à Internet, se terão sucesso ou não será outra questão, mas os indícios já se apresentam, é incontornável, é a oferta de informação e, por consequência, a existência de uma opinião pública útil aos propósitos do poder que o exigem. Como a opinião pública em geral é o espelho do domínio sobre a informação «mainstream», as “maiorias” acabam por reflectir a visão do mundo que lhes é vendida na informação quotidiana ou, por vezes, em bandejas doiradas com prémios culturais ou jornalísticos a adorná-las. Neste cenário é por enquanto inevitável sermos considerados os retrógrados, os reaccionários, os fascistas, os déspotas, os perigosos…a culpa não é de quem o debita qual papagaio doméstico, a culpa é dos donos, são eles que lhes ensinam a imitar aqueles sons, a repetir aquelas palavras, orgulhemo-nos, pois somos mais “opinião” (embora pouco pública) do que eles alguma vez hão-de ser.