O estado dos artistas
Paulo Portas estreou o seu programa na Sic Notícias, «O Estado da Arte», a consagração definitiva do seu estatuto de figura política incontornável no panorama nacional...ah, a glória! Vi parte do dito programa e sobre o assunto tecerei aqui algumas observações.
Decidi começar por abordar o tema pegando no texto de Rui Tavares no «Público» de ontem. A coluna do jornalista é um ataque continuado a Portas, não que isso me chateie, mas as considerações do jornalista, calculo que de esquerda e ao serviço da mesma, merecem alguns comentários.
Rui Tavares começa por criticar uma afirmação de Portas, a de que a democracia na Índia seria uma homenagem ao Império Britânico. Lembra o cronista que, na realidade, os indianos conseguiram a independência em luta contra a coroa britânica e que o Império de Sua Majestade criou alguns problemas que se prolongam até aos dias de hoje, o Afeganistão, o Paquistão e o Iraque.
Em relação a este último escreve Rui Tavares: «No caso do Iraque, a herança é pesada: em 1919 os ingleses anexaram três províncias autónomas( e relativamente sossegadas) do Império Otomano, Mossul, de maioria curda, Babilónia de maioria sunita e Bassorá de maioria xiita, e juntaram as três num só Estado, rico em petróleo a sul e norte e dominado pela minoria sunita do centro. Quase cem anos depois ainda não se descobriu o que fazer com tão brilhante ideia. Mas Paulo Portas certamente que se esqueceu destas três ex-colónias de Sua Majestade, até porque são países que aparecem pouco nas notícias. Como na Índia, onde as coisas correram “bem”, o resultado só pode ser uma homenagem ao Império Britânico, também nos outros lugares, onde as coisas correram se calhar “menos bem”, a culpa simplesmente não pode ter sido dos nossos louros e infalíveis primos de além-Mancha.»
As coisas não correram «bem» no Iraque precisamente porque, como inadvertidamente reconhece o jornalista, o Estado iraquiano foi uma construção multiétnica sem real base histórica, uma invenção que juntou debaixo da mesma autoridade etnias distintas e que só a força manteve agregadas; e ainda assim com tensões permanentes entre os diferentes grupos. O Iraque nunca foi uma nação porque uma nação caracteriza-se exactamente pela homogeneidade étnica e cultural que é provida pelo sangue e pela História. Não há nada de particularmente espantoso nos problemas internos desse Estado artificial. Estados multiétnicos são muito mais instáveis e passíveis de contínuos conflitos internos, e tanto mais quanto se trate de organizações democráticas; excepto se um dos grupos for claramente maioritário e os restantes não tiverem real expressão relativa.
Mas será verdade que as coisas na Índia correram «bem»? Não completamente. É preciso lembrar a História da Índia colonial para perceber, uma vez mais, que não foi assim e que as razões foram as mesmas que abordei acima. Em 1947 deu-se uma secessão territorial a norte formando o Estado do Paquistão, isto derivou da existência de uma maioria muçulmana nessa área. Em 1971, a minoria bengali, naquilo que era o Paquistão Oriental, e na sequência de uma terceira guerra entre a Índia e o Paquistão, formou o Estado do Bangladesh. Este caso é particularmente interessante porque a esmagadora maioria dos bengali são muçulmanos, e no entanto nem essa unidade religiosa evitou a criação de um novo Estado. Aquilo que é hoje a Índia é apenas parte do que foram os territórios administrados pelo Império Britânico, as diferenças étnicas e religiosas levaram à natural partição das terras e à constituição de novos países. E se a Índia é um caso mais ou menos «bem sucedido» de democracia deve-o à natureza muito específica da religião largamente dominante no país, o hinduísmo, professada por mais de 80% da população.
Curiosamente, Rui Tavares, depois de continuar o seu ataque a Portas ao longo do artigo, afirma, para o fim, o seguinte: «Aliás, tratando-se de Portas, não é preciso ser nenhum Zandinga para saber que depois da insegurança vem sempre a imigração. Sobre esta última, Paulo Portas gabou a superioridade da “sua” política afirmando que no tempo de Guterres tinham entrado 200 mil imigrantes e no tempo do centro-direita apenas 80 mil. Esqueçamos que Guterres esteve seis anos no governo e não três. Não falemos sequer das vantagens de terem entrado imigrantes.»
Ora, primeiramente, Portas falou da imigração subsequentemente ao tema da insegurança por ter sido essa a ordem em que a entrevistadora lhe colocou as perguntas, como o próprio cronista do «Público» reconhece, a não ser que Rui Tavares esteja a insinuar que foi Portas quem o exigiu à jornalista ele não terá qualquer responsabilidade na ordem das questões abordadas. A afirmação de Rui Tavares é não só um exercício básico de manipulação como um desrespeito à sua colega de profissão. Mas mais interessante é a insinuação de que o tema da insegurança nada teria a ver com o da imigração... pois bem, são as estatísticas de vários países que confirmam essa relação, não ficamos por isso a saber com base em quê descarta Rui Tavares essa relação, ou melhor, ficamos, com base na sua ideologia, na apologia da esquerda que resulta clara em todo o artigo.
Mas o mais curioso é a frase final deste excerto: «Não falemos sequer das vantagens de terem entrado imigrantes».Falemos, falemos. Quais são elas? Isso é que Rui Tavares deveria dizer, mas não diz, uma vez mais é a ideologia a falar, nada para além disso. As vantagens da entrada de imigrantes são largamente ultrapassadas pelas desvantagens. Já o referi, não há justificação económica para a política de imigração sem critério que existe em Portugal e na Europa, antes pelo contrário. E no mais, o impacto principal da imigração numa nação não é uma questão nem meramente económica nem sequer sobretudo económica, as questões sociais, culturais e identitárias ultrapassam a dimensão economicista, mas mesmo esta, como já disse anteriormente, não justifica a imigração corrente, renega-a. Quais são então essas vantagens? Ficamos sem as conhecer, apenas compreendemos que ao jornalista move uma aversão política face a Portas e nada mais.
E o mais espantoso nisto é que Rui Tavares reconhece que as razões por detrás dos problemas de coesão do Iraque resultam da convivência sob a mesma autoridade estatal de identidades etno-culturais distintas mas depois advoga, precisamente pela defesa da imigração desregrada que assola Portugal e a Europa, a criação do mesmo tipo de realidades no interior das nossas fronteiras! É que a imigração maciça para a Europa está a criar comunidades com identidades ainda mais distintas do que aquelas que existiam no Iraque. A lição da secessão do Paquistão da Índia pela existência a norte duma região de maioria islâmica não leva Rui Tavares e seus correligionários pró-imigracionistas a reflectirem que a imigração islâmica para a Europa poderá conduzir ao mesmo tipo de situação? Nem a lição do Kosovo lhes chegou. Estão cegos pela doutrinação esquerdista. E não compreendem sequer que na Europa grande parte da imigração não só é etnicamente distinta das comunidades de recepção como, na maioria dos casos, é racialmente distinta( o que não sucedia, por exemplo, no caso iraquiano), o que ajuda ainda mais a aumentar a distância entre comunidades. Ou seja, sabe o que está na origem da instabilidade histórica do Iraque mas apoia a «iraquização» da Europa.
Quando os nacionalistas alertam para a situação são fascistas, autoritaristas, nazis, xenófobos, seja o que forem, e no entanto limitamo-nos a compreender as lições da História. Quando na Europa começarem a fazer-se sentir os problemas que sempre ocorreram onde faltou a unidade étnica e cultural, quando reivindicações separatistas, autonómicas, fronteiriças, começarem a surgir, ninguém se lembrará de quem em tempo útil tentou defender a integridade nacional. Lembrar-nos-emos nós!
Quando a democracia for colocada em causa e para manter agregados certos Estados for necessário impor regimes autoritários ninguém se lembrará de quem alertou para a incompatibilidade de fazer conviver democraticamente populações com culturas antagónicas no mesmo espaço político. Lembrar-nos-emos nós, os fascistas, os autoritários, os inimigos da liberdade.
Quando as medidas de «affirmative action» começarem a ser implementadas e quotas para grupos étnicos surgirem em todos os níveis da vida civil, fazendo recair sobre os europeus os custos económicos e sociais das populações que nos invadem, ninguém se lembrará de quem o afirmou quando ainda era possível reagir. Lembrar-nos-emos nós, os «discriminadores».
Em relação ao que ouvi de Paulo Portas algumas notas breves, porque a demonstração de vazio intelectual a que assisti não merece mais.
A dada altura o antigo líder popular afirmou, a propósito das eleições directas nos partidos, não acreditar no dogma da multidão, prefere antes a democracia representativa, que diz ser superior. Muito interessante esta posição de Portas; é que foi precisamente com base no dogma da multidão e da democracia directa que o PP «venceu» o referendo ao aborto e foi precisamente alegando essa legitimidade das «multidões» que o PP de Portas se opôs a qualquer alteração da lei no parlamento, afinal expoente máximo da democracia representativa a que Portas agora reconhece superioridade. Calculo então que hoje o antigo líder do PP não obstasse a que, como exigia a extrema-esquerda, a lei sobre o aborto fosse simplesmente alterada na Assembleia da República, sem recurso a nova consulta popular. De facto a temporada passada nos «States» e a amizade cultivada com Rumsfeld e companhia fez-lhe bem, regressou com a lição neoconservadora bem estudada.
Sobre a contestação à lei da nacionalidade com base na possibilidade de um candidato à naturalização poder cometer um crime e ainda assim obter o estatuto de cidadão nacional não vejo nada de louvável na posição de Portas. O absurdo de naturalizar criminosos não deveria servir para dividir posições de esquerda e direita mas antes idiotas de gente sensata. Que a lei tenha passado sem qualquer voto contra diz muito sobre as pessoas que se sentam no parlamento português. Que a bancada parlamentar do CDS/PP se tenha abstido diz muito sobre o partido do qual Paulo Portas é figura maior; foi um acto de inacreditável hipocrisia, cobardia e demissão política, a abstenção não foi mais que uma manobra de diversão. De resto a lei é de tal forma atentatória da identidade nacional que não seria sequer aceitável rejeitá-la apenas com base nessa questão. Se é apenas a isso que se agarra o PP e Portas é porque o partido dele foi co-responsável na elaboração do documento. As declarações do representante máximo do ACIME aquando da aprovação da lei dizem tudo o que há para dizer sobre o CDS/PP:«Em nenhum outro país da Europa conseguiríamos aprovar esta lei sem a oposição da direita». Pois, nós sabemos senhor comissário…
Falando da insegurança defendeu a imputabilidade criminal aos 14 anos, menos mal, alguma coisa de positivo haveria de dizer.
Agora as declarações de Portas sobre a imigração... Foram de uma pobreza desoladora e muito clarificadoras quanto ao que é hoje a direita portuguesa. Portas criticou a política de imigração dos socialistas justificando a necessidade de «controlar o fenómeno»( mas não muito) porque estando o país numa crise e o desemprego em alta é necessário ser mais cauteloso na entrada de imigrantes por forma a limitar o eventual crescimento de movimentos xenófobos! Disse o entrevistado que posteriormente, quando a economia recuperar, se deverá aumentar o fluxo imigratório. Uma visão estritamente utilitária da questão e apenas isso.
De ir às lágrimas… digo que fiquei verdadeiramente sensibilizado com as preocupações anti-racistas de Portas mas o que mais me interessou naquelas declarações do ex-dirigente partidário foi a total ausência de um critério por detrás das suas posições face à imigração que não fosse conjuntural. Não há uma ideia de identidade nacional subjacente às visões de Portas sobre o assunto( como aliás já não havia no respeitante à lei da nacionalidade, criticada por meras questões securitárias e nada mais), o impacto da imigração sobre a nação, enquanto entidade histórica, é inexistente para Portas, resume-se a questão ao controlo de movimentos xenófobos e ao mercado. Não há uma concepção de pátria, de identidade, de comunidade nacional, nada, zero…
São bons artistas, de facto, eu é que há muito deixei de gostar de circo.
Decidi começar por abordar o tema pegando no texto de Rui Tavares no «Público» de ontem. A coluna do jornalista é um ataque continuado a Portas, não que isso me chateie, mas as considerações do jornalista, calculo que de esquerda e ao serviço da mesma, merecem alguns comentários.
Rui Tavares começa por criticar uma afirmação de Portas, a de que a democracia na Índia seria uma homenagem ao Império Britânico. Lembra o cronista que, na realidade, os indianos conseguiram a independência em luta contra a coroa britânica e que o Império de Sua Majestade criou alguns problemas que se prolongam até aos dias de hoje, o Afeganistão, o Paquistão e o Iraque.
Em relação a este último escreve Rui Tavares: «No caso do Iraque, a herança é pesada: em 1919 os ingleses anexaram três províncias autónomas( e relativamente sossegadas) do Império Otomano, Mossul, de maioria curda, Babilónia de maioria sunita e Bassorá de maioria xiita, e juntaram as três num só Estado, rico em petróleo a sul e norte e dominado pela minoria sunita do centro. Quase cem anos depois ainda não se descobriu o que fazer com tão brilhante ideia. Mas Paulo Portas certamente que se esqueceu destas três ex-colónias de Sua Majestade, até porque são países que aparecem pouco nas notícias. Como na Índia, onde as coisas correram “bem”, o resultado só pode ser uma homenagem ao Império Britânico, também nos outros lugares, onde as coisas correram se calhar “menos bem”, a culpa simplesmente não pode ter sido dos nossos louros e infalíveis primos de além-Mancha.»
As coisas não correram «bem» no Iraque precisamente porque, como inadvertidamente reconhece o jornalista, o Estado iraquiano foi uma construção multiétnica sem real base histórica, uma invenção que juntou debaixo da mesma autoridade etnias distintas e que só a força manteve agregadas; e ainda assim com tensões permanentes entre os diferentes grupos. O Iraque nunca foi uma nação porque uma nação caracteriza-se exactamente pela homogeneidade étnica e cultural que é provida pelo sangue e pela História. Não há nada de particularmente espantoso nos problemas internos desse Estado artificial. Estados multiétnicos são muito mais instáveis e passíveis de contínuos conflitos internos, e tanto mais quanto se trate de organizações democráticas; excepto se um dos grupos for claramente maioritário e os restantes não tiverem real expressão relativa.
Mas será verdade que as coisas na Índia correram «bem»? Não completamente. É preciso lembrar a História da Índia colonial para perceber, uma vez mais, que não foi assim e que as razões foram as mesmas que abordei acima. Em 1947 deu-se uma secessão territorial a norte formando o Estado do Paquistão, isto derivou da existência de uma maioria muçulmana nessa área. Em 1971, a minoria bengali, naquilo que era o Paquistão Oriental, e na sequência de uma terceira guerra entre a Índia e o Paquistão, formou o Estado do Bangladesh. Este caso é particularmente interessante porque a esmagadora maioria dos bengali são muçulmanos, e no entanto nem essa unidade religiosa evitou a criação de um novo Estado. Aquilo que é hoje a Índia é apenas parte do que foram os territórios administrados pelo Império Britânico, as diferenças étnicas e religiosas levaram à natural partição das terras e à constituição de novos países. E se a Índia é um caso mais ou menos «bem sucedido» de democracia deve-o à natureza muito específica da religião largamente dominante no país, o hinduísmo, professada por mais de 80% da população.
Curiosamente, Rui Tavares, depois de continuar o seu ataque a Portas ao longo do artigo, afirma, para o fim, o seguinte: «Aliás, tratando-se de Portas, não é preciso ser nenhum Zandinga para saber que depois da insegurança vem sempre a imigração. Sobre esta última, Paulo Portas gabou a superioridade da “sua” política afirmando que no tempo de Guterres tinham entrado 200 mil imigrantes e no tempo do centro-direita apenas 80 mil. Esqueçamos que Guterres esteve seis anos no governo e não três. Não falemos sequer das vantagens de terem entrado imigrantes.»
Ora, primeiramente, Portas falou da imigração subsequentemente ao tema da insegurança por ter sido essa a ordem em que a entrevistadora lhe colocou as perguntas, como o próprio cronista do «Público» reconhece, a não ser que Rui Tavares esteja a insinuar que foi Portas quem o exigiu à jornalista ele não terá qualquer responsabilidade na ordem das questões abordadas. A afirmação de Rui Tavares é não só um exercício básico de manipulação como um desrespeito à sua colega de profissão. Mas mais interessante é a insinuação de que o tema da insegurança nada teria a ver com o da imigração... pois bem, são as estatísticas de vários países que confirmam essa relação, não ficamos por isso a saber com base em quê descarta Rui Tavares essa relação, ou melhor, ficamos, com base na sua ideologia, na apologia da esquerda que resulta clara em todo o artigo.
Mas o mais curioso é a frase final deste excerto: «Não falemos sequer das vantagens de terem entrado imigrantes».Falemos, falemos. Quais são elas? Isso é que Rui Tavares deveria dizer, mas não diz, uma vez mais é a ideologia a falar, nada para além disso. As vantagens da entrada de imigrantes são largamente ultrapassadas pelas desvantagens. Já o referi, não há justificação económica para a política de imigração sem critério que existe em Portugal e na Europa, antes pelo contrário. E no mais, o impacto principal da imigração numa nação não é uma questão nem meramente económica nem sequer sobretudo económica, as questões sociais, culturais e identitárias ultrapassam a dimensão economicista, mas mesmo esta, como já disse anteriormente, não justifica a imigração corrente, renega-a. Quais são então essas vantagens? Ficamos sem as conhecer, apenas compreendemos que ao jornalista move uma aversão política face a Portas e nada mais.
E o mais espantoso nisto é que Rui Tavares reconhece que as razões por detrás dos problemas de coesão do Iraque resultam da convivência sob a mesma autoridade estatal de identidades etno-culturais distintas mas depois advoga, precisamente pela defesa da imigração desregrada que assola Portugal e a Europa, a criação do mesmo tipo de realidades no interior das nossas fronteiras! É que a imigração maciça para a Europa está a criar comunidades com identidades ainda mais distintas do que aquelas que existiam no Iraque. A lição da secessão do Paquistão da Índia pela existência a norte duma região de maioria islâmica não leva Rui Tavares e seus correligionários pró-imigracionistas a reflectirem que a imigração islâmica para a Europa poderá conduzir ao mesmo tipo de situação? Nem a lição do Kosovo lhes chegou. Estão cegos pela doutrinação esquerdista. E não compreendem sequer que na Europa grande parte da imigração não só é etnicamente distinta das comunidades de recepção como, na maioria dos casos, é racialmente distinta( o que não sucedia, por exemplo, no caso iraquiano), o que ajuda ainda mais a aumentar a distância entre comunidades. Ou seja, sabe o que está na origem da instabilidade histórica do Iraque mas apoia a «iraquização» da Europa.
Quando os nacionalistas alertam para a situação são fascistas, autoritaristas, nazis, xenófobos, seja o que forem, e no entanto limitamo-nos a compreender as lições da História. Quando na Europa começarem a fazer-se sentir os problemas que sempre ocorreram onde faltou a unidade étnica e cultural, quando reivindicações separatistas, autonómicas, fronteiriças, começarem a surgir, ninguém se lembrará de quem em tempo útil tentou defender a integridade nacional. Lembrar-nos-emos nós!
Quando a democracia for colocada em causa e para manter agregados certos Estados for necessário impor regimes autoritários ninguém se lembrará de quem alertou para a incompatibilidade de fazer conviver democraticamente populações com culturas antagónicas no mesmo espaço político. Lembrar-nos-emos nós, os fascistas, os autoritários, os inimigos da liberdade.
Quando as medidas de «affirmative action» começarem a ser implementadas e quotas para grupos étnicos surgirem em todos os níveis da vida civil, fazendo recair sobre os europeus os custos económicos e sociais das populações que nos invadem, ninguém se lembrará de quem o afirmou quando ainda era possível reagir. Lembrar-nos-emos nós, os «discriminadores».
Em relação ao que ouvi de Paulo Portas algumas notas breves, porque a demonstração de vazio intelectual a que assisti não merece mais.
A dada altura o antigo líder popular afirmou, a propósito das eleições directas nos partidos, não acreditar no dogma da multidão, prefere antes a democracia representativa, que diz ser superior. Muito interessante esta posição de Portas; é que foi precisamente com base no dogma da multidão e da democracia directa que o PP «venceu» o referendo ao aborto e foi precisamente alegando essa legitimidade das «multidões» que o PP de Portas se opôs a qualquer alteração da lei no parlamento, afinal expoente máximo da democracia representativa a que Portas agora reconhece superioridade. Calculo então que hoje o antigo líder do PP não obstasse a que, como exigia a extrema-esquerda, a lei sobre o aborto fosse simplesmente alterada na Assembleia da República, sem recurso a nova consulta popular. De facto a temporada passada nos «States» e a amizade cultivada com Rumsfeld e companhia fez-lhe bem, regressou com a lição neoconservadora bem estudada.
Sobre a contestação à lei da nacionalidade com base na possibilidade de um candidato à naturalização poder cometer um crime e ainda assim obter o estatuto de cidadão nacional não vejo nada de louvável na posição de Portas. O absurdo de naturalizar criminosos não deveria servir para dividir posições de esquerda e direita mas antes idiotas de gente sensata. Que a lei tenha passado sem qualquer voto contra diz muito sobre as pessoas que se sentam no parlamento português. Que a bancada parlamentar do CDS/PP se tenha abstido diz muito sobre o partido do qual Paulo Portas é figura maior; foi um acto de inacreditável hipocrisia, cobardia e demissão política, a abstenção não foi mais que uma manobra de diversão. De resto a lei é de tal forma atentatória da identidade nacional que não seria sequer aceitável rejeitá-la apenas com base nessa questão. Se é apenas a isso que se agarra o PP e Portas é porque o partido dele foi co-responsável na elaboração do documento. As declarações do representante máximo do ACIME aquando da aprovação da lei dizem tudo o que há para dizer sobre o CDS/PP:«Em nenhum outro país da Europa conseguiríamos aprovar esta lei sem a oposição da direita». Pois, nós sabemos senhor comissário…
Falando da insegurança defendeu a imputabilidade criminal aos 14 anos, menos mal, alguma coisa de positivo haveria de dizer.
Agora as declarações de Portas sobre a imigração... Foram de uma pobreza desoladora e muito clarificadoras quanto ao que é hoje a direita portuguesa. Portas criticou a política de imigração dos socialistas justificando a necessidade de «controlar o fenómeno»( mas não muito) porque estando o país numa crise e o desemprego em alta é necessário ser mais cauteloso na entrada de imigrantes por forma a limitar o eventual crescimento de movimentos xenófobos! Disse o entrevistado que posteriormente, quando a economia recuperar, se deverá aumentar o fluxo imigratório. Uma visão estritamente utilitária da questão e apenas isso.
De ir às lágrimas… digo que fiquei verdadeiramente sensibilizado com as preocupações anti-racistas de Portas mas o que mais me interessou naquelas declarações do ex-dirigente partidário foi a total ausência de um critério por detrás das suas posições face à imigração que não fosse conjuntural. Não há uma ideia de identidade nacional subjacente às visões de Portas sobre o assunto( como aliás já não havia no respeitante à lei da nacionalidade, criticada por meras questões securitárias e nada mais), o impacto da imigração sobre a nação, enquanto entidade histórica, é inexistente para Portas, resume-se a questão ao controlo de movimentos xenófobos e ao mercado. Não há uma concepção de pátria, de identidade, de comunidade nacional, nada, zero…
São bons artistas, de facto, eu é que há muito deixei de gostar de circo.
9 Comentários:
Rui Tavares foi um dos fundadores do extinto Barnabé
Não sabia, isso explica o tom do artigo.Nunca li o Barnabé, para ler barnabés bastam-me o «Público» e o «DN»
A verdade é que fronteiras feitas a martelo nunca resultaram, nem hão-de resultar. Isso é válido na África e no Médio-Oriente.
Brilhante, Caro Rodrigo!
"...Estado iraquiano foi uma construção multiétnica sem real base histórica, uma invenção que juntou debaixo da mesma autoridade etnias distintas e que só a força manteve agregadas;"
Tal e qual o Estado Jugoslavo.
Quando ao comunismo lhe deu o badagaio...lá se foi a Jugoslávia, esse Estado multiétnico, multireligioso e artificial.
:P
Zagreb, Ljubljana, Sarajevo e Belgrado são capitais de 'coisas' bem distintas.
:)
Enfim é esta a "direita" portuguesa!
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
"...a temporada passada nos «States» e a amizade cultivada com Rumsfeld e companhia fez-lhe bem, regressou com a lição neoconservadora bem estudada."
LOOOOOOOL!
(agora esteve bem)
ps- não se esqueça de um 'pormenor': Estados Unidos da América NÃO SÃO uma Democracia.
São, antes de tudo, uma República.
Depois o resto...
«A verdade é que fronteiras feitas a martelo nunca resultaram, nem hão-de resultar. Isso é válido na África e no Médio-Oriente.»
Exactamente.
« Brilhante, Caro Rodrigo»
Não tanto meu amigo mas obrigado e um abraço.
«Tal e qual o Estado Jugoslavo.
Quando ao comunismo lhe deu o badagaio...lá se foi a Jugoslávia, esse Estado multiétnico, multireligioso e artificial.»
Hehehe :)
«ps- não se esqueça de um 'pormenor': Estados Unidos da América NÃO SÃO uma Democracia.
São, antes de tudo, uma República.
Depois o resto...»
Sim, mas esse argumento, que eu já li em alguns autores americanos muito do meu agrado, como o Samuel Francis ou o Gottfried, deixa-me sempre algo insatisfeito, afinal não falamos exactamente do mesmo tipo de realidades, isto é, não são mutuamente exclusivas, uma república pode ser uma democracia, o que não pode é ser uma monarquia.
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