O caminho dos partidos nacionalistas
Curiosamente( e na verdade nem tanto) no que refere às políticas de imigração os resultados apresentaram a seguinte variação: Perguntados sobre se apoiariam o fim de toda a imigração para o Reino Unido, 59%(!) dos que desconheciam estar a julgar uma proposição do BNP responderam positivamente, ou seja, um valor acima da média para o conjunto de todas as políticas postas a análise para o grupo referido. Sabendo tratar-se de uma proposta do BNP o apoio à mesma caiu para os 48%, uma queda de 11 pontos e que colocou o apoio à proposta abaixo da média do conjunto total para o grupo considerado( neste caso o dos inquiridos que sabiam estar a analisar uma ideia do BNP).
É importante compreender estes números e retirar as ilações necessárias, até porque as conclusões para que apontam estes dados não são um exclusivo da sociedade britânica mas antes fruto de uma série de condicionantes que são, em maior ou menor escala, comuns a todos os movimentos nacionalistas europeus, incluindo o português.
Em primeiro lugar há que salientar uma oposição, direi mesmo radical, à imigração por parte dos inquiridos, ao ponto de ser a posição anti-imigracionista do BNP que mais empatia encontra nos britânicos. Isto significa que existe hoje uma clara separação entre o que os engenheiros da nova sociedade da diversidade e da multiculturalidade querem impor ao povo e o que o povo pretende de facto, a verdade é que o sentido de identidade continua vivo na seio das populações e as forças iluminadas da “cultura” ou os pregadores da “eficiência” económica, apesar de todo o esforço, de toda a publicidade, de todas as mentiras, não conseguiram ainda apagar por completo a chama que arde no mais profundo recanto da alma europeia.
Em segundo lugar todas as propostas do BNP, abarcando diversos problemas da sociedade britânica, são recebidas com considerável apoio por parte da amostra da população. Isto significa que a mensagem nacionalista detém os temas certos, acertando nos problemas que interessam ao povo assim como nas soluções apresentadas, pelo menos parcialmente.
Em terceiro lugar os efeitos da propaganda anti-nacionalista( disfarçada de informação isenta) são claros e é visível a sua força enquanto arma de manipulação da população, é isso que explica a queda de apoio às ideias do BNP quando é conhecida a sua fonte. Existe um condicionamento psicológico do povo, resultado de uma propaganda incessável de diabolização dos partidos nacionalistas que faz com que uma parte mais vulnerável da população, menos independente, mais influenciável, com menor capacidade crítica, digamo-lo frontalmente, mais fraca, sinta pânico de qualquer associação que possa ser percepcionada pelos outros ao nacionalismo, numa espécie de efeito “pressão-de-pares” que expõe um patético aprisionamento intelectual dessa parcela da sociedade. Note-se que se esse receio ou esse constrangimento é visível num simples inquérito, que não implica particular responsabilização, quando for altura de votar o peso desses condicionamentos aumentará e a ideia que o sistema faz passar do “problema nacionalista” será suficiente para que grande parte dos indivíduos que concordam com as propostas do BNP não ponderem dar ao partido o seu voto. Está demasiado enraizada a publicidade mediática da suposta perigosidade dos partidos pró-nação. Quebrar essas correntes que aprisionam a liberdade de espírito dos europeus é um processo moroso e gradual.
Finalmente, a diferença maior entre os grupos situa-se na área das políticas de imigração, são as propostas sobre esse tema que mais apoio recolhem entre os que desconhecem a origem partidária das ditas e são essas que mais perdem (percentualmente) entre os que a conhecem. Isto significa que, sobretudo, está inculcado na população o receio de certos rótulos muito próprios. A força do dogma da benignidade do multiculturalismo, mesmo contra as evidências, e o maniqueísmo radical que estigmatiza quem o rejeita - racistas, xenófobos,nazis, intolerantes, etc. – mostra aqui toda a sua força. Se já existe o embaraço, mais ou menos consciente, de surgir como apoiante de um partido nacionalista, esse ganha maior peso quando o assunto é a imigração, precisamente porque é nessa área que mais facilmente se estabelecem as associações socialmente incorrectas e individualmente prejudiciais (na comunidade, entre os amigos, no trabalho) que referi atrás.
A principal conclusão da sondagem:” Se o BNP mudasse a sua imagem poderia sair-se muito bem nas eleições locais”( são as próximas).
Esta constatação do inquérito deve servir de reflexão não só para o BNP mas para todos os partidos nacionalistas europeus. A imagem dos movimentos nacionais não é da exclusiva responsabilidade dos mesmos, é preciso dizê-lo, a comunicação social tem muita responsabilidade nessa imagem pública e, ao contrário do que sucede com todas as outras forças políticas, os nacionalistas não têm ninguém nos órgãos de informação que os defendam, estão por isso sujeitos a todo o tipo de distorções, porém…é preciso também reconhecer que frequentemente os nacionalistas têm pousado para o retrato nas exactas condições que convêm a quem os caricatura negativamente, reforçando por vezes essa imagem negativa por sua acção.
A capacidade de crescimento de um partido nacionalista tem por isso dois vectores base: a mensagem e a imagem. No que concerne à mensagem ela está centrada nos temas certos, combate à imigração, defesa da ordem e da segurança pública, combate ao desemprego, mais e melhor justiça, etc., são temas que recolhem o apoio das populações. No que toca à imagem há muito por fazer.
A imagem de um partido estará tanto ligada à “estética visual” da organização como à linguagem utilizada. As organizações nacionalistas só terão a ganhar com uma “estética”que as aproxime do cidadão comum, na qual este se reveja, seja identificando-se com os seus militantes ou com a simbologia associada. São por isso de evitar arquétipos e comportamentos que sejam visualmente estranhos ao cidadão, o caminho natural de um partido nacionalista é ser compreendido como representante da nação real, das suas gentes.
Quanto à linguagem, os partidos nacionalistas são percepcionados como organizações inatamente radicais, uma linguagem demasiado extremada apenas reforçará essa percepção perante a sociedade, o que não é necessariamente positivo. Acima de tudo uma organização política deve saber que o povo não quer instabilidade e não confiará em quem associar a cenários de grande incerteza. Os partidos nacionalistas têm de compreender que existem muitas maneiras de fazer passar a mesma mensagem,utilizando palavras ou terminologias muito diferentes; interessa o conteúdo do que se diz mas também a forma como se diz, não existe portanto uma necessidade permanente de radicalizar o discurso para marcar uma posição anti-sistema quando, à partida, os temas abordados, as propostas e as mensagens transmitidas já possuem essa natureza.
Existe uma linha que separa o que deve ser abordado e dito daquilo que as boas consciências do “politicamente correcto” gostariam de permitir, a desradicalização do discurso de um partido nacionalista não significa cruzar essa linha até à transformação em “mais um como os outros”, significa apenas saber onde está essa linha e jogar com ela, não extremando a linguagem quando não há disso necessidade. Existe uma postura institucional que se exige de um partido político e à qual não estarão obrigadas as diferentes organizações, muito menos sites ou blogs, que gravitam em seu redor, que dispõem por isso de maior liberdade de acção.
A exigência que se coloca tanto ao BNP, como aos partidos nacionalistas europeus em geral, é compreender que o seu objectivo é responder aos anseios da sociedade civil, não ao seu núcleo duro ou aos seus sectores internos mais intransigentes, abrir à sociedade e atrair o cidadão médio, absorvendo os quadros qualificados que tanta falta fazem, mais que corresponder aos desejos de pequenas franjas revoltadas da sociedade. São os partidos nacionais que têm de se adaptar à população e não esperarem que esta venha ao seu encontro independentemente da imagem que passam.
Porque sobretudo é preciso não cair num encerramento sobre si, em que um qualquer directório ou círculo fechado nos partidos comemora qualquer aparição pública ou qualquer tipo de publicidade com triunfalismo, isolados da realidade, de vitória em vitória, de comemoração em comemoração, até à derrota nas próximas eleições. É preciso saber distinguir o trigo do joio, saber quando foi bem aproveitada a exposição pública e quando não foi, para que nesses últimos casos se estudem as formas de alterar a situação nas próximas oportunidades.
Isto implica um tratamento inteligente da publicidade, a máxima “falem bem ou falem mal, mas falem” é concerteza muito útil para as “socialites”, para um partido não serve, a má publicidade é isso mesmo, má! Se um consumidor for informado que determinado produto é muito prejudicial à saúde e se depois a imprensa cobrir a questão variadas vezes isso não constitui qualquer mais valia para o produto ou marca associada, antes pelo contrário. Naturalmente que no caso dos partidos nacionalistas a publicidade é um problema sério, o bloqueio da comunicação social é tremendo e quando ele é quebrado as intenções subjacentes são constantemente maliciosas, como pudemos constatar recentemente em Portugal com o relatório do SIS sobre as ameaças à segurança interna. Esse relatório foi discutido em quase todos os jornais e televisões, o objectivo foi claramente espalhar e reforçar a imagem de ameaça que o nacionalismo constituiria. Pelo meio misturou-se tudo, o PNR com a Frente Nacional, o nacionalismo com skinheads, a extrema-direita tradicional com neo-nazis, enfim, uma salada sem sentido mas com propósitos óbvios, prejudiciais para o PNR.
Se o bloqueio informativo é um problema aquilo que sucede quando esse bloqueio é quebrado já é, em parte, da responsabilidade das organizações nacionalistas, a forma como aproveitam melhor ou pior os tempos públicos que vão conseguindo, mesmo se alguns são despoletados com objectivos adversos ao nacionalismo, define a qualidade, força, maturidade e capacidade de engrandecimento dos movimentos. No Reino Unido, como em Portugal, os primeiros bloqueios foram já ultrapassados, agora é escolher o caminho que se pretende percorrer, os temas existem e estão devidamente identificados, a imagem que os partidos nacionalistas quiserem cultivar definirá em parte o seu potencial de crescimento e as gentes que atrairão, exactamente como concluiu o estudo da rede britânica.
(*)Backing for BNP policies