terça-feira, junho 28, 2005


Ao ler o site "Reconquista" deparei-me com uma passagem do épico de Alexandre Herculano, "Eurico, o presbítero", a história imortal do amor impossível de Eurico e Hermengarda e do início da reconquista da Ibéria ao invasor quando já pouca esperança restava, quando muitos haviam já vendido a pátria ao ocupante e se submetido à sua vontade, quando apenas uns poucos bravos continuavam a luta, liderados pela coragem inabalável de Eurico, o guerreiro misterioso do Chrysus, que abandonara o presbitério para acorrer ao derradeiro chamamento da pátria. Este excerto retirado do "Reconquista" relata o último combate de Eurico, antes de cair para não mais se erguer.

«Era quase ao pôr do sol. Seguindo a corrente do Deva, a pouco mais de duas milhas das encostas do Auseba, dilatava-se nessa época denso bosque de carvalhos, no meio do qual se abria vasta clareira, onde sobre dois rochedos aprumados assentava um terceiro. Era, provavelmente, uma ara céltica. Em frente da tosca ponte de pedras brutas lançadas sobre o rio, uma senda estreita e tortuosa atravessava a selva e, passando pela clareira, continuava por meio dos outeiros vizinhos, dirigindo-se, nas suas mil voltas, para as bandas da Galécia. Quatro cavaleiros, a pé e em fio, caminhavam por aquele apertado carreiro. Pelos traios e armas, conhecia-se que eram três cristãos e um sarraceno. Chegados à clareira, este parou de repente e, voltando-se com aspecto carregado para um dos três, disse-lhe:

- Nazareno, ofereceste-nos a salvação, se te seguíssemos: fiamo-nos em ti, porque não precisavas de trair-nos. Estávamos nas mãos dos soldados de Pelágio, e foi a um aceno teu que eles cessaram de perseguir-nos. Porém o silêncio tenaz que tens guardado gera em mim graves suspeitas. Quem és tu? Cumpre que sejas sincero, como nós. Sabes que tens diante de ti Muguite, o amir da cavalaria árabe, Juliano, o conde de Septum, e Opas, o bispo de Ríspalis.

- Sabia-o - respondeu o cavaleiro: - por isso vos trouxe aqui. Queres saber quem sou? Um soldado e um sacerdote de Cristo!

- Aqui!?... - atalhou o amir, levando a mão ao punho da espada e lançando os olhos em roda. - Para que fim?

- A ti, que não eras nosso irmão pelo berço; que tens combatido lealmente conosco, inimigos da tua fé; a ti, que nos oprimes, porque nos venceste com esforço e à luz do dia, foi para te ensinar um caminho que te conduza em salvo às tendas dos teus soldados. É por ali!... A estes, que venderam a terra da pátria, que cuspiram no altar do seu Deus, sem ousarem francamente renegá-lo, que ganharam nas trevas a vitória maldita da sua perfídia, é para lhes ensinar o caminho do inferno... Ide, miseráveis, segui-o!

E quase a um tempo dois pesados golpes de franquisque assinalaram profundamente os elmos de Opas e Juliano. No mesmo momento mais três reluziram.

Um contra três! - Era um combate calado e temeroso. O cavaleiro da cruz parecia desprezar Muguite: os seus golpes retiniam só nas armaduras dos dois godos. Primeiro o velho Opas, depois Juliano caíram.»

Leitura altamente recomendada, sobretudo nos tempos que correm.

segunda-feira, junho 27, 2005

Um futuro incerto

A teoria das vantagens comparativas de Ricardo tem servido para algumas vozes defenderem os processos de “offshoring”(exportação de empregos no sector dos serviços) decorrentes da globalização como sendo um processo vantajoso para todos os lados envolvidos, tanto o país que importa emprego como aquele que exporta.

Ao argumento de que, na Europa, em última análise, os beneficiários principais do “offshoring”, mais que os consumidores, serão as grandes empresas, já que uma parte dos trabalhadores ficam sem emprego e acabam por isso por não retirar vantagens da diminuição dos preços, respondem os apologistas da globalização com o argumento de que a quantidade de emprego não é limitada, ou seja, apesar de exportarem emprego as economias mais desenvolvidas podem continuar a criar novos postos de trabalho.

Primeiro foi a deslocação das indústrias de manufacturarão e agora são os serviços; a resposta dos gurus da globalização é que o investimento em tecnologia continuará a tornar-nos mais “produtivos” e criará novos empregos. É duvidoso que assim seja, o mais provável é a globalização começar a gerar uma classe de excluídos no mundo ocidental, os tais que não tendo preparação técnica para trabalhar com as novas tecnologias acabarão por ficar desprotegidos face à competição global sem restrições, a juntar a isso é também provável que entre os empregos mais qualificados se possa começar a assistir ao mesmo processo de fuga maciça de trabalho para países que, tendo custos salariais baixos, começam a ter, no entanto, técnicos com formação especializada( ver o caso da índia, Malásia ou China).

Quando pomos em análise as vantagens concorrenciais que apresentam alguns países emergentes vemos que essas vantagens não advêm só do baixo custo do trabalho, no caso da Índia, por exemplo, existe uma isenção fiscal de 10 anos para atrair o investimento estrangeiro, os custos com a protecção social são também muito inferiores aos do ocidente e a verdade é que a maioria dos ocidentais não aceitaria os esquemas de protecção social que vigoram nesses países. A única forma verdadeiramente coerente de apregoar o comércio totalmente livre seria defender a renúncia às conquistas sociais do mundo ocidental, nivelando as economias. Se assim fosse, renunciando aos direitos laborais e esquemas de protecção social relativamente abrangentes da Europa ou mesmo da América do Norte, quando comparados com os dos países que estão a atrair estes novos empregos, e tendo em atenção que estes países são mais populosos que os países ocidentais, o eventual ganho total para o comércio mundial traduzir-se-ia por perdas do mundo ocidental para os outros blocos.

Naturalmente esta análise nem leva em conta o facto de que esta exportação de serviços deixa no desemprego pessoas que não mais conseguirão reentrar no mundo do trabalho, os dados mostram que o desemprego de longa duração a partir de determinada faixa etária é uma realidade incontornável, por mais cursos de formação e requalificação por que passem os indivíduos. Estas pessoas, neste contexto, não perdem os empregos por serem “preguiçosas” ou incompetentes, perdem-nos por existirem no outro lado do planeta custos mais baixos para as empresas, situações a que os trabalhadores ocidentais são alheios e que não dependem da sua capacidade ou vontade para trabalhar.

Comecei por falar em Ricardo e na teoria das vantagens comparativas e acabarei falando do mesmo, a conclusão da teoria de Ricardo do comércio livre resultaria na tendência de queda do preço do trabalho, se o fenómeno de “offshoring” assumir, a médio/longo prazo, proporções consideráveis no ocidente( e nesse caso o grande afectado será primeiramente os EUA), como alguns economistas prevêem, o impacto nos salários poderá ser enorme, levando a que a teoria de Ricardo de aumento global do rendimento pelo comércio livre não tenha repercussões reais nos trabalhadores e consumidores da Europa ou América, ou seja, esse aumento de rendimento, a acontecer, passaria pelas grandes multinacionais e pelos accionistas e não pelos trabalhadores e consumidores, seria portanto um aumento de rendimento que seria sobretudo absorvido pelo capital.

Marx previa o colapso do capitalismo quando os trabalhadores, prejudicados pelo mercado, deixassem de aceitar o sistema. O processo de globalização pode muito bem estar a criar as condições para reavivar o marxismo na Europa(nos EUA não existe uma tradição socialista implantada), por um lado a imigração maciça decorrente cria uma nova bolsa de eleitores facilmente manipuláveis por esses movimentos neo-marxistas, por outro lado, se a globalização económica aprofundar os fenómenos de deslocação de emprego para fora das economias ocidentais, provocando uma baixa acentuada nos salários, pode estar a criar uma nova classe de excluídos com tendência a refugiar-se na argumentação paternalista e anti-capitalista da extrema-esquerda. É bom recordar que o texto da recentemente referendada constituição europeia rejeitava a protecção comercial das economias europeias e defendia a intensificação do comércio livre( artigo III-314).A esta globalização, por questões de salvaguarda da nossa identidade, da nossa liberdade e do nosso futuro, será necessário contrapor um novo paradigma.

quinta-feira, junho 23, 2005

O povo é quem mais ordena?

No seguimento da violenta onda de criminalidade perpetrada por imigrantes africanos e que parece continuar, muito em particular na linha de Sintra, o Governo português prepara-se para alterar a lei da nacionalidade tornando-a ainda menos criteriosa e facilitando a sua obtenção pelas comunidade imigrantes em Portugal. O presidente da associação Solidariedade Imigrante (existem várias associações deste tipo em Portugal) revelou que em reunião com o grupo parlamentar do PS pediu uma reforma ainda mais alargada à lei de forma a permitir a legalização de todos( leram bem, todos!) os imigrantes que se encontrem no nosso país. Segundo parece, o PS prepara-se também para alargar as medidas de protecção social à imigração, o que implica naturalmente mais um acréscimo de custos para o contribuinte português.

É caso para dizer que depois das suas actuações em Carcavelos, Quarteira ou na linha de Sintra, estes jovens terão a justa recompensa pelo esforço e tenacidade empregues.
O Governo PS envia assim um sinal de que, na realidade, o crime compensa e a chantagem política é eficiente. Quando no futuro reivindicarem algo mais, as comunidades imigrantes saberão que o melhor meio é impor o medo e a desordem social( nem que seja por meio dos seus jovens), pois ao abrigo dos argumentos da exclusão social ou de qualquer protesto de discriminação, não só não serão exemplarmente punidos como serão provavelmente agraciados com qualquer medida política de encontro às suas reivindicações, caso contrário poderão sempre ameaçar que os problemas sociais e a criminalidade aumentarão. É sem dúvida uma forma algo primitiva de «lobby» mas que parece revelar-se eficaz perante um Governo que em vez de optar por uma posição dura, enviando um sinal claro de autoridade, recua e cede a grupos de pressão.

O que o Governo se prepara para fazer é retirar ao direito de nacionalidade qualquer dignidade simbólica mínima que ainda lhe restasse, a nacionalidade na Europa actual já pouco significa em termos institucionais, rebaixada que está a um mero e vulgar procedimento jurídico ao qual qualquer um parece ter relativo acesso,no nosso caso é o achincalhamento completo do legado histórico de Portugal, o desrespeito por quem ergueu a nação à custa do seu sangue, qualquer estrangeiro que por cá aterre arrisca-se agora a tornar-se uma espécie de “português instantâneo”. Enquanto a Irlanda legislou no sentido de que os filhos de imigrantes não pudessem adquirir automaticamente a nacionalidade, protegendo assim a sua identidade ancestral, Portugal segue o caminho inverso e rebaixa ainda mais o significado do “ser português”. Não é necessário demonstrar fidelidade à pátria, prestar serviços de relevo, integração na nação, qualquer tipo de ligação emocional a Portugal, não, basta ter um filho por cá que a descendência será logo "portuguesa de gema" ou então fazer um requerimento e “voilá”…

O que o PS pretende fazer é apenas mais um acto de traição à pátria, mais um a juntar ao seu já extenso espólio nesse campo, nada de propriamente invulgar vindo desse partido. Mas este caso deve trazer à discussão um outro aspecto, que aliás começa a ganhar contornos de recorrência nesta nossa democrática sociedade, que é o completo divórcio entre a vontade do povo e a vontade das cúpulas partidárias. É tempo de reflectir sobre o sistema democrático que temos e até que ponto podemos falar nesta democracia como representativa da vontade popular. Os exemplos recentes dos referendos europeus sobre a Constituição europeia mostraram claramente que esta democracia, dita representativa, é cada vez menos representativa das populações e mais representativa de «lobbies» e interesses politico-partidários absolutamente indiferentes à vontade dos povos. Tivesse o texto constitucional sido votado nos parlamentos francês e holandês e teria sido ratificado com larga maioria e o beneplácito dos principais partidos, no entanto, posto à consideração das populações foi claramente rejeitado, isto foi uma demonstração inequívoca de que não está realmente representada no poder parlamentar a vontade popular.”Eles” governam para si e entre si.

O caso da proposta de alteração da lei de interrupção voluntária da gravidez em Portugal foi um outro exemplo, se à altura tivesse sido votada no parlamento teria provavelmente sido ratificada, quando a população foi chamada em referendo a dizer de sua justiça chumbou-a. Esta proposta de alteração da lei da nacionalidade revela contornos idênticos, o PS quer fazer passar uma lei que vai contra a vontade conhecida da larga maioria da população portuguesa, as sondagens têm mostrado uma e outra vez que a maioria dos portugueses não concorda com a política de imigração corrente, não aceita a entrada de mais estrangeiros, que a maioria correlaciona o aumento da criminalidade à imigração; o que o PS pretende fazer é de forma sub-reptícia fazer passar legislação que se traduz na prática por legitimar essa imigração escondendo-a sob uma capa jurídica, permitir a fixação de mais estrangeiros tornando-os cidadãos nacionais e portanto impossibilitando a sua expulsão e encorajando ainda, pela permissividade da lei, a vinda de mais vagas imigratórias. É a negação completa da vontade dos portugueses, é uma demonstração não de autismo político mas de verdadeiro menosprezo pela opinião do povo, de desdém, diria até que ganha traços de zombaria, são os donos do país que mandam e desmandam como bem entendem, o povo, esse não conta, serve apenas para pagar impostos e para ir de quando em vez às urnas brincar às democracias e legitimar o poder supremo dos donos, para que depois estes se possam arvorar em grandes democratas e exibir a procuração que o povo lhes passou.

É urgente reformar o sistema político português facilitando a utilização de mecanismos de democracia directa, como os referendos, mecanismos que devem ser utilizados com mais frequência, sobretudo quando está em causa a ideia de nação ou soberania do país( e é esse o caso real da imigração) ou questões de valores fundamentais na sociedade portuguesa. Esta reforma deveria em boa verdade ser acompanhada por uma verdadeira descentralização da decisão política para níveis locais, sejam municipais ou quaisquer outros que se definam, de forma a que os cidadãos possam também, quando necessário e desejável, pronunciar-se sobre questões que afectam o seu quotidiano e o da sua comunidade. Isto contribuiria para uma clarificação da vida política, para o combate à corrupção, para o desmantelar de «lobbies» que actuam perniciosamente num sector público altamente “partidarizado”, gigantesco, centralizado e que são muitas vezes responsáveis por decisões políticas contrárias ao melhor interesse dos cidadãos ou à sua vontade expressa. Permitiria dar voz à sociedade civil e quebrar o monopólio político de uma partidocracia que actua em proveito próprio e é indiferente ao país real, possibilitando a acção política de sectores da sociedade que estão excluídos das cúpulas partidárias e das suas agendas particulares e tampouco se revêem na actuação ou objectivos destas. Não será por acaso que praticamente metade da população é abstencionista, a sensação de impotência, de falta de representatividade real neste quadro democrático, afasta as pessoas da decisão pública.

No Estado Novo vivia-se em ditadura, o povo não tinha voz queixavam-se, fez-se uma revolução e esta teve as suas contingências mais ou menos burlescas. Um episódio sempre associado à revolução de Abril, a música «Grândola Vila Morena» tem uma passagem que diz :”O povo é quem mais ordena”, e não consigo deixar de ver a ironia da situação, a revolução democrática feita para que o povo pudesse “ordenar”, descambou num sistema político onde o povo não ordena nada. A revolução democrática trouxe na realidade a substituição de uma elite política distante da população por uma oligarquia partidária igualmente afastada do povo, e é uma oligarquia no pior sentido da palavra, no sentido que os gregos da antiguidade lhe atribuíram: uma forma corrompida de aristocracia; se na aristocracia os gregos viam o governo dos melhores, esta democracia que temos é literalmente uma oligarquia, o poder está continuamente concentrado nas mãos de uma minoria e é uma minoria de medíocres.

A questão da imigração e da lei de nacionalidade é apenas mais um caso a provar que a voz do povo não tem importância e nem se pretende realmente que tenha. Obviamente que um governo não pode consultar o povo sempre que pretende tomar uma decisão, mas neste caso não falamos de uma questão de mera decisão política banal ou de uma decisão a exigir competências técnicas exclusivas ou de um qualquer acto de gestão governamental vulgar, falamos de um assunto que afecta irremediavelmente a ideia de nação na sua essência, a sua herança, a sua continuidade, o seu fundamento, falamos da “portucalidade”, falamos de valores, é a existência da pátria como a conhecemos que está fatalmente em jogo…mas depois, reflectindo, o que significa para esta gente a palavra pátria?

segunda-feira, junho 20, 2005

A Constituição totalitária

«Esta Constituição Europeia não respeita o sentido da tradição do direito público democrático.Com efeito, segundo esta tradição, as leis constitucionais devem limitar-se a organizar o funcionamento dos poderes públicos e as suas relações, a qualificar as grandes instituições legislativas, executivas e judiciais e a definir as responsabilidades de umas em relação a outras, a precisar claramente a diferença entre o domínio regulamentar e o domínio legislativo, o modo de designação do chefe de Estado e do governo, etc. No total, não deve exceder meia centena de artigos claros.

Mas em caso algum deve uma constituição democrática interessar-se pelo conteúdo politico e ideológico aplicável pelos poderes públicos ou pelo tipo de sociedade desejável, porque se trata então de um constrangimento que torna impossível toda a alternância e que esvazia a substância de toda a eleição( nomeadamente, aqui, a do Parlamento de Estrasburgo) dado que qualquer que seja a cor política do poder legislativo e executivo, estes serão obrigados a efectuar a mesma política. Assim retira toda a possibilidade de escolha, tem um espírito perfeitamente anti-democrático, é subtilmente totalitária. A Constituição da URSS de 1937 também obrigava o poder político a seguir uma linha política precisa , a do dogma do Partido Comunista da União Soviética. Actualmente a Constituição Europeia segue o mesmo caminho, por isso a impressão de desconexão que as suas dezenas de páginas de jargão deixam ao leitor.

A maior parte dos artigos, com efeito, são destinadas a enquadrar e orientar à partida a acção dos governantes. Estes são alguns exemplos: Não é possível instalar barreiras aduaneiras, escapar a uma concorrência total intra e extra-europeia, estabelecer controlos interiores de mercadorias ou pessoas, instaurar serviços públicos europeus e sobretudo ter uma política migratória restritiva. Mesmo se as opiniões públicas o decidissem, mesmo se o Parlamento de Estrasburgo balançasse ideologicamente, não seria absolutamente possível aplicar uma política diferente daquela dada pelas prescrições ideológicas e políticas da Constituição. Por exemplo, o regime económico está fixado de uma vez por todas, o que é não somente neo-totalitário mas paralisante para o futuro: de facto, fechamo-nos num sistema ( por exemplo o comércio livre total e a interdição de contingentes) que pode tornar-se ingovernável numa má conjuntura. Os analistas americanos esfregam as mãos em face deste último ponto, que paralisará o governo da União, eles que podem perfeitamente à sua vontade modificar o seu regime económico.

É de resto para estar bem seguro de que um Parlamento europeu que tivesse ideias contrárias à vulgata exprimida definitivamente pela Constituição não pudesse inflectir a política oficial que está prevista esta regra digna das ditaduras: O dito Parlamento não tem a iniciativa da lei! Este órgão «legislativo» não é mais que uma câmara de registo. Por sua vez, à Comissão e ao Conselho_ órgãos não eleitos_ são atribuídas competências legislativas. A separação de poderes não é respeitada.»

Guillaume Faye

sábado, junho 18, 2005

Grande mobilização

A manifestação nacionalista de hoje saldou-se por um claro sucesso, tanto ao nível da mobilização, tendo reunido várias centenas de pessoas, como da organização, que liderou o protesto sempre em estrito cumprimento da ordem pública. Os nacionalistas percorreram o caminho que liga o Martim Moniz ao Rossio entoando o hino nacional e gritando palavras de ordem contra a imigração desregrada e o aumento exponencial e correlacionado da criminalidade, palavras que se fizeram também sentir em apoio às forças policiais que são tantas vezes as maiores vítimas do estado de arruaça generalizada em que a classe política tem transformado Portugal.

Estão de parabéns todos os que, sem receio, estiveram presentes, a Frente Nacional pela organização e todos aqueles que discursaram ( e foram muitos) durante o evento, motivando, sem excepção, o aplauso dos presentes. Se hoje fomos muitas centenas amanhã seremos muitos milhares, o apoio recebido nas ruas pelos cidadãos anónimos não deixou margem para dúvidas e foi para mim o momento mais gratificante da manifestação. O futuro pertence-nos!

quinta-feira, junho 16, 2005

Última hora

O Governo Civil autorizou a manifestação.Agora nem um passo atrás, às 14 horas de sábado no Martim Moniz, todos presentes!

Está nas vossas mãos

A guerra da contra-informação iniciou-se, como se esperava, em toda a linha e com todo o vigor contra a manifestação de sábado. As tentativas de desmobilização do povo português não cessam, todo o tipo de falsidades e os mais grosseiros boatos foram postos a circular concertadamente pela nossa sempre muito independente comunicação social. O objectivo é lançar o estigma, tentar afastar o cidadão médio da manifestação. A forma como estas campanhas da mentira têm saído regularmente em toda a imprensa não é mais que o sinal de alarme provocado pelo facto de saberem, eles e os nossos “desgovernantes”, da invulgar adesão que o protesto de sábado tem conseguido nos mais diversos sectores da sociedade portuguesa. Assim se procura transformar um protesto que conta com a participação dos mais variados grupos de patriotas num evento “neo-nazi”, ou numa reunião de perigosos “skins”; é o pânico instalado, são os temíveis fascistas que voltaram para assombrar a nossa idílica sociedade. Não importa o que possamos afirmar ou dizer, nada importa porque a verdade é aquela que eles quiserem.

No dia 10 de Junho um grupo de membros da extrema-esquerda acorreu às celebrações do Dia de Portugal armado e provocando todo o tipo de desacatos sem qualquer atitude desrespeitosa da ordem pública por parte dos nacionalistas que se encontravam tranquilamente em homenagem aos mortos pela Pátria. A imprensa presenciou a cena, os jornalistas falaram connosco, assistiram a tudo, e no dia seguinte os títulos noticiosos afirmavam confrontos entre anarquistas e “skins”( como eles parecem chamar a todo e qualquer nacionalista, mesmo que tenha uma enorme guedelha), depois, lá dentro, em letra miudinha, lá se percebia que afinal não existiram quaisquer actos de violência por parte dos nacionalistas; ninguém diria pelos cabeçalhos noticiosos que as coisas se tivessem passado assim. É preciso dizê-lo, a imprensa portuguesa não tem qualidade e, mais grave, não tem honestidade intelectual.

A mesma desonestidade que alastra agora nos serviços informativos(?) que se reportam à manifestação de sábado. Eles estão cientes que inúmeros patriotas das mais distintas correntes nacionalistas estarão presentes, eles sabem que estarão lá portugueses que não estão ligados ao movimento nacionalista mas que , num último assomo de dignidade e honra, marcarão presença em protesto contra o caos em que sucessivos irresponsáveis e traidores transformaram Portugal. Eles sabem…mas eles não se interessam, o que lhes importa é chamar a atenção, alarmar, chocar, no fundo vender, vender rótulos fáceis a pessoas que há muito perderam a capacidade crítica e se transformaram numa enorme massa humana de consumidores de “junk food”, “junk tv” e “junk news”. Consomem e tomam por verdade tudo o que lhes digam desde que isso não implique fazer um esforço mínimo de raciocínio.

A questão com que qualquer patriota se deve confrontar é saber se neste momento em que a pátria necessita de todos render-se-ão à mentira e ao jogo sujo e ficarão em casa receosos de rótulos, cobardemente esperando que os outros travem por vocês a luta que Portugal pede com urgência, ou se marcharão juntamente comigo e com tantos outros portugueses em protesto contra a destruição de Portugal. Move-vos o interesse e a causa nacional ou o receio de aparecerem na manifestação pessoas com o cabelo rapado? A mim o que me move é a nação e recuso-me a ser cúmplice do assassinato de mais polícias, do assassinato de mais portugueses à catanada, do estado de terror em que vivem diariamente tantos compatriotas nas zonas limítrofes das grandes cidades, da descaracterização da nossa população, eu recuso-me a pactuar com mais "arrastões", eu recuso-me a deixar cair a bandeira, a deixar morrer Portugal! Agora a palavra é vossa…

terça-feira, junho 14, 2005

É a hora!

Sábado, 18 de Junho, pelas 14 horas no Martim Moniz, vai decorrer uma manifestação contra a política de imigração desregrada do nosso país e o aumento exponencial da criminalidade associada a gangs. A presença de todos os patriotas é necessária. É altura de dizer basta!

É urgente exigir do poder político uma alteração da política de nacionalidade com vista a salvaguardar a identidade nacional, urge alterar os critérios que regem as políticas de imigração tornando-os mais restritivos e sem qualquer tolerância para com a imigração ilegal, é urgente exigir a repatriação dos imigrantes ou seus descendentes que atentem contra as leis de Portugal, é urgente exigir que se restitua às forças da autoridade a capacidade e a legitimidade para fazer cumprir o Estado de Direito sem cedências a chantagens de organizações de defesa das minorias étnicas que sempre mantêm um silêncio cúmplice quando os portugueses são vítimas de crimes por parte das ditas minorias.

Sábado, pelas 14 horas, os portugueses que ainda entendem o significado da palavra Pátria darão um passo em frente e dirão:”Presente!”.

Nesta hora incerta é Portugal que vos fala, é a Pátria que vos chama!

sexta-feira, junho 10, 2005

O Dia de Portugal

Organizada pela Causa Identitária decorreu no Largo de Camões uma cerimónia de comemoração do Dia de Portugal. Os nacionalistas presentes evocaram a Pátria e aqueles que por ela tombaram. O presidente da CI, Rui Pereira, proferiu um breve e incisivo discurso lembrando a todos os presentes a razão de ali estarem, no seguimento do qual se realizou um minuto de silêncio pelos heróis caídos. Os nacionalistas uniram-se então e em uníssono entoaram a plenos pulmões a "Portuguesa" num momento de grande fervor patriótico seguido de três enérgicos “vivas” a Portugal. O momento foi de grande emoção e recordo em particular um senhor, nos seus 60 anos, que não conseguiu conter algumas lágrimas. Disse-me que havia combatido no Ultramar e vivia agora num albergue, abandonado à sua sorte, falou com mágoa da gente que tem traído a pátria enquanto emocionado me mostrava o BI exibindo com orgulho a sua naturalidade: Vila Viçosa. « Sou português, nasci aqui e lutei por Portugal para agora ver este país transformado nisto…, olho para estes homens e digo-lhe que Portugal não os merece.»_Foram as suas palavras enquanto limpava a cara e apontava para as figuras representadas no monumento evocativo de Camões.

Quando os nacionalistas se preparavam para abandonarem o local em direcção ao restaurante onde se realizaria o almoço-convívio surgiram no Largo algumas dezenas de energúmenos de extrema-esquerda; como autênticos pusilânimes vieram armados com ferros de cerca de um metro de cumprimento e pedras, de cara coberta, começando a gritar slogans contra o nacionalismo. Os vagabundos, que pareciam saídos de uma qualquer sarjeta, não se atreveram a aproximar-se, limitaram-se a insultar cobardemente à distância. As forças de segurança tiveram um comportamento exemplar e imediatamente agiram sobre os delinquentes que não duraram mais de 1 minuto no local, fazendo uma das mais patéticas figuras que presenciei na vida. A escumalha, armada e de cara tapada, fugia desorientadamente enquanto os nacionalistas, firmes e tranquilos, respeitando a ordem pública e armados apenas com a honra e a convicção, de cara ao sol, clamavam a uma só voz uma palavra que ressoava por todo o Largo: «PORTUGAL!»

quinta-feira, junho 09, 2005

Todos ao Largo de Camões,celebrando a Pátria!

Caros Camaradas e Amigos,

A Causa Identitária vem por este meio convidá-los a participar nas actividades, que vamos organizar no dia 10 de Junho de 2005. O dia em que todos os nacionalistas se reúnem para celebrar o passado, presente e futuro da nossa nobre Nação.

A C.I. vai realizar no Dia de Portugal dois eventos nas duas principais cidades do nosso país.

Na cidade de Lisboa a organização do evento estará a nosso cargo, contudo pretendemos contar com a presença de todos nacionalistas no Largo de Camões pelas 12:00. O programa é o seguinte:

12:00- Encontro no Largo do Camões

12:15- Discurso do Presidente da C.I.

12:30- Sessão Aberta

13:00- Almoço Convívio (confirmação até dia 5 de junho para se reservar restaurante)

Com a realização deste evento junto da Estátua de Luís Vaz de Camões, pretendemos relembrar um dos pilares da cultura Portuguesa, que hoje em dia é tão esquecido pelo sistema educativo que subjuga as nossas crianças.

No Porto a C.I., em colaboração com o PNR-Porto, vai realizar um Colóquio intitulado "Portugal no Século XXI: A resposta Nacional", com oradores da C.I. e do PNR.

domingo, junho 05, 2005

O Grande Oriente Socialista

Neste fim-de-semana decorrem as eleições para o cargo de Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, a mais poderosa ordenação maçónica portuguesa. O Grande Oriente Lusitano é uma organização maçónica irregular, progressista, liberal e tendencialmente laica. As lojas do GOL têm sido historicamente bastante politizadas e pelas características que definem o GOL facilmente se depreende a sua ligação ao Partido Socialista. É uma verdade histórica incontornável que o PS e o GOL mantêm ligações de enorme proximidade. Neste contexto, e estando o país entregue a uma governação socialista, a eleição do Grão-mestre do GOL assume particular importância. Naturalmente que não se fala muito da questão, afinal sempre se trata de uma sociedade secreta e a maior parte das pessoas nem terá conhecimento da força social e política do Grande Oriente Lusitano, mas algo é certo, essa força, essa influência, é enorme.

Alguns episódios recentes lembram-nos das relações e do poder associados ao Grande Oriente Lusitano.

Todos nos lembramos ainda da cerimónia fúnebre de Luís Nunes de Almeida, antigo presidente do Tribunal Constitucional e membro do Grande Oriente Lusitano. A cerimónia realizou-se na Basílica da Estrela para ira do próprio prior da Basílica e de algumas figuras da hierarquia católica; o prior não foi sequer informado do facto e aparentemente interesses mais altos se terão movido para que a própria Igreja católica não tenha podido impedir uma cerimónia maçónica num local sagrado. Na ocasião estiveram presentes lado a lado as mais altas figuras do Estado e alguns destacados nomes da sociedade civil. Luís Nunes de Almeida era filiado no Partido Socialista.

Dois meses depois, no funeral de Fernando Valle, juntaram-se novamente as mais altas figuras da política nacional com membros da maçonaria. No cortejo participaram o maçon Mário Soares, Ferro Rodrigues e José Sócrates. O principal orador na cerimónia foi Almeida Santos, o histórico dirigente socialista ( o tal que acha que é mal pago e que os políticos vivem mais ou menos como mendigos) e destacou-se ainda a presença de Vasco Lourenço, um dos capitães de Abril( por sinal um dos mais parvos, o que olhando para os camaradas é digno de nota).Almeida Santos referiu na altura que Fernando Valle sempre havia sido a sua referência humana e política. Fernando Valle para além de membro do GOL foi fundador do PS e seu presidente honorário.

António Arnaut é o Grão-mestre cessante do Grande Oriente Lusitano e adivinhem…É também ele fundador do Partido Socialista! Por certo alguns acharão que, realmente, a ligação entre as “rosas” e as “acácias” parece por esta altura clara e indesmentível, mas o melhor está guardado para este fim-de-semana. Entre os três candidatos a Grão-mestre do GOL surgem Luís Vaz, António Reis e Carlos Morais Santos. E quem são estes estimáveis cavalheiros? _Perguntarão os mais incautos…

Pois passemos ás apresentações:
Luís Vaz é militante do PS ligado à ala esquerda do Partido, aquela onde se agrupam os antigos marxistas agora reciclados em democratas. No passado nunca falara sobre a sua pertença ao GOL que surge agora confirmada com a candidatura. Pelo seu posicionamento político parece ser o “outsider” nesta corrida…
António Reis foi secretário de Estado da cultura( vejam bem a quem se entrega uma área destas e avaliem a infiltração social e cultural da maçonaria) e é também membro do Partido Socialista. Por fim surge Carlos Morais Santos, antigo maçon que havia concorrido contra António Arnaut e que se propõe aumentar o papel social da maçonaria sob o lema “fraternidade, progresso e contemporaneidade” e também ele filiado no PS.

Ou seja, aqui estão umas eleições que o Partido Socialista vencerá com toda a certeza! A influência ou a força do GOL na sociedade portuguesa não se limita a um antigo presidente do Tribunal Constitucional e a vários parlamentares e políticos, ela alastra a todos os sectores do país, de todo o aparelho público ao mundo empresarial. Abarca magistrados, as forças policiais, forças armadas, professores universitários, grandes gestores, penetra as ordens profissionais, em resumo, é o maior lóbi deste país. Convém no entanto referir que a maçonaria regular também não lhe fica muito atrás e que parece ter a sua boa parte de sociais-democratas.

A situação não é exclusiva de Portugal, lembro que ainda recentemente a Grande Loja de Espanha reconhecia que oito dos actuais ministros socialistas de Zapatero pertenciam à maçonaria. Segundo Ricardo de la Cierva e César Vidal, historiadores e investigadores do fenómeno maçónico, o actual Parlamento Europeu é dominado pela maçonaria e a recente Constituição Europeia terá sido elaborada por essas sociedades secretas. Um facto ressalta como inegável, Giscard d’Estaing é maçon. Para os interessados, leiam a entrevista dada por Ricardo de la Cierva à “La Razón” publicada na “pensabem.net”. Já há bastante tempo que também se fala da tentativa bem sucedida da maçonaria em infiltrar o Vaticano. O fenómeno como se vê é generalizado e coloca estas sociedades secretas nos centros do poder mundial. Em 1994, o então Grão-mestre da Grande Loja de Espanha, Luís Salat, afirmou numa cerimónia maçónica que 90% das pessoas que engendraram a União Europeia e todo o processo de construção subjacente eram maçons. Tomás Sarobe, o sucessor de Salat, confirmou em 1997 que a maioria dos euro-parlamentares eram membros de lojas maçónicas. Tudo isto deve ser analisado à luz do internacionalismo intrínseco da maçonaria que subjuga as lealdades nacionais.

Neste fim-de-semana a questão que se coloca é saber que pergunta colocar; será que a sucessão do socialista Arnaut por um dos outros 3 socialistas marcará o novo rumo do GOL em função da ala do PS que sair vencedora no acto eleitoral maçónico ou será que estas eleições influenciarão os equilíbrios internos do PS em função da ala maçónica que vencer a disputa?

O desafio que se coloca aos nacionalista e que julgo seria bem aproveitado, e com toda a legitimidade, pelo PNR, é o seguinte: Em nome de uma sociedade aberta e transparente não é aceitável a existência de sociedades secretas, ainda mais quando a penetração destas sociedades nos centros de poder é de tal forma flagrante e maciça. Deve ser por isso uma exigência do nacionalismo que em nome dos mais elementares princípios de honestidade cívica sejam publicados todos os nomes dos membros de lojas maçónicas. Não me interessa que grupos de homens decidam brincar aos sinais secretos uns com os outros usando avental, já me interessa como cidadão quando esses grupos escondidos controlam os meios políticos, sociais e económicos e por consequência afectam-me nessa minha condição de cidadão bem como a todos os portugueses. As pessoas têm o direito de saber se o patrão é maçon, se o tipo que conseguiu uma promoção imerecida na empresa é maçon, se o novo administrador de uma qualquer empresa pública sem qualquer currículo para a função é maçon , se o candidato político em quem votam é maçon, etc. É que não falamos de um mero clube de amigos; estamos a tratar de uma poderosa organização internacional cujos tentáculos chegam aos mais altos pólos de decisão mundial( por exemplo a Casa Branca) e cujos membros são criteriosamente escolhidos pelos seus valores e influência pessoal, que estabelecem pactos de secretismo absoluto entre si e de auxílio incondicional nas mais diversas situações. Estas condições são naturalmente favoráveis ao surgimento de abusos escandalosos e ao mais intolerável tráfico de influências. Quem não se lembra do escândalo com a loja P-2 em Itália e a sua associação à máfia? A ligação da loja a assassinatos, tráfico de influências políticas e branqueamento de capitais? Naturalmente as condições de secretismo da maçonaria potenciam este tipo de desvios.

Uma sociedade verdadeiramente democrática não pode pactuar com organizações secretas deste tipo no seu seio; bem sei que não vivemos em democracia plena, é mais a ilusão que outra coisa, mas ainda assim, por uma sociedade mais clara, íntegra, justa, a reivindicação da disponibilização pública dos nomes de todos os maçons parece-me uma luta a ser travada pelo movimento nacionalista, uma reivindicação que ficaria bem ao PNR. Não se pretende impedir ninguém de pertencer ao que seja ou de perseguir a maçonaria, trata-se de defender os interesses superiores da pátria, que é o que compete ao nacionalismo, contribuindo para a clarificação da vida política do país, que bem precisa, por muito que isso desagrade aos militantes do PS ou de quaisquer outros partidos.

sábado, junho 04, 2005

Não é uma questão de legalidade, estúpidos!

O ministro das Finanças, Campos e Cunha, acumula uma pensão vitalícia de mais de 20 000 contos por ano resultante da sua passagem pela administração do Banco de Portugal com um chorudo ordenado de ministro. Este senhor é o mesmo que pretende acabar com a acumulação de reformas e ordenados do Estado e é o mesmo que se propõe reestruturar o funcionalismo público em nome da contenção de despesas. Não há nada de errado na intenção de reestruturar a função pública, tarefa que se reconhece urgente, o problema é outro. É o decoro, a ética se se preferir; obviamente que uma reestruturação das despesas públicas terá inevitavelmente de afectar as classes médias, que é onde se situa a maior fatia do rendimento dispendido pelo Estado, não pretendo ser demagogo e afirmar que se resolve um problema de cariz estrutural e duradoiro pela redução dos ordenados da classe política ou das suas subvenções vitalícias. Não, de facto isso não resolveria o problema, mas é necessário que seja o topo da pirâmide, aqueles que têm os mais elevados rendimentos e privilégios no Estado a dar o exemplo,não podem ficar isentos desse processo, porque a quem vive com dificuldades não se pode pedir que entenda as regalias que os políticos responsáveis pelo estado deplorável do país detêm enquanto se lhes pedem sucessivos e muitas vezes insuportáveis sacrifícios.É essa questão que o ministro não entende, nem ele nem a tralha parlamentar ou a calaceira partidocracia reinante.

O que alega o ministro colocado perante esta acumulação de rendimentos e tão escandaloso privilégio? A legalidade. É legal e pronto! Diz o senhor que sempre declarou todos os seus rendimentos e que todos estão perfeitamente enquadrados na lei. Excelente! Seria melhor que fosse ilegal, era só o que faltava. Acontece que o problema não é a legalidade mas a moralidade, ou neste caso a falta dela. Nem tudo o que é legal é moral, ainda mais quando a legalidade se construiu por sinuosos caminhos e relações partidárias. É que o ministro Campos e Cunha era vice-governador do Banco de Portugal quando a administração desta entidade propôs ao então ministro das Finanças o novo regime de pensões de que beneficia agora o mesmo Campos e Cunha. O ministro das Finanças da altura era o inefável Sousa Franco, o tal que foi inicialmente apontado como um dos responsáveis pela derrapagem das contas públicas na governação de Guterres e que depois de morto foi quase santificado por todos os hipócritas que têm palavra neste triste exemplo de país em que nos transformámos. É caso para dizer que o actual ministro como que “auto-subvencionou-se” com a complacência do PS.

Perante este cenário e confrontado com esta situação, no mínimo pouco ética, o que responde o primeiro-ministro Sócrates? Que se trata de uma tentativa de assassinato político de Campos e Cunha. Deduzo eu, talvez abusivamente, que estará de regresso a obscura cabala contra o PS que já havia surgido aquando do caso Casa Pia. Essa sombria conspiração contra o Partido Socialista que anteriormente conseguira transformar as naturais preocupações de Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso sobre a segurança do embaixador russo no Iraque, Vladimir Titorenko, numa abjecta maledicência, parece querer ressurgir; as forças ocultas do mal parecem retornar o vil ataque conta o partido da liberdade, igualdade e fraternidade; mas Sócrates mostra-se atento à situação. Uma trágica comédia…

O facto de Campos e Cunha, bem como o primeiro-ministro, não compreenderem que o que está em causa aqui não é a legalidade ou ilegalidade da situação mas sim a moralidade ou a ética de quem governa, a capacidade de dar o exemplo por parte dos que são favorecidos e exigem ao cidadão médio constantes sacrifícios, não vem fazer mais que confirmar o que há muito se sabe: os políticos, fechados nos seus círculos de favores e influências, não entendem minimamente as populações que governam, não estão abertos à sociedade, apenas aparentam estar; de resto não fazem a mais pequena ideia do que o cidadão comum pensa ou deseja ou os problemas reais que enfrenta, não sabem com certeza o que significa viver com o salário mínimo ou com um salário médio. Nada disto é de estranhar, eles não vivem no nosso mundo; entre os condomínios privados, os ordenados milionários, as pensões acumuladas, não vivem nenhuns dos nossos problemas. Poderá haver ainda entre aquela gente quem entenda o que significa a moralidade, a justiça ou a decência?

quinta-feira, junho 02, 2005

Heranças e irresponsabilidades da nossa classe política

«Escrevo estas linhas com preocupação por sentir que o futuro económico do nosso país se encontra ameaçado. Como é sabido a comissão Constâncio anunciou há dias que o défice orçamental português para o ano de 2005 se cifrará nos 6,8%, sendo a factura como sempre endereçada a quem menos responsabilidades tem no cartório, o contribuinte honesto que não se exime da sua obrigação cívica de pagar impostos.

O que assistimos hoje em dia não é mais que uma consequência do logro colossal que constituiu a última das fases de integração desta “Europa unida”, configurada na adopção da mesma unidade monetária por todos os estados-membros.

A raiz do problema provém de há longas décadas, quando as sucessivas legislaturas não conseguiram estruturar o aparelho estatal de modo a que este tivesse um financiamento equilibrado. Houvessem derrapagens e estas eram corrigidas com o legítimo recurso às políticas monetárias e cambiais, nomeadamente através das “desvalorizações competitivas”.

Acontece que autonomia na definição das políticas económicas é coisa que pertence ao passado, estrangulados por um pacto “castrador” daquela que deveria ser a função económica do estado por excelência, ou seja a definição de políticas destinadas a melhorar as condições de vida dos cidadãos, somos forçados a sofrer na pele as consequências da adopção de políticas fiscais e monetárias conjuntas que apenas servem os interesses de uma minoria de nações europeias. Se não estávamos estruturalmente preparados para o caminho da moeda única não deveríamos ter avançado para esse passo, hipotecando assim irresponsavelmente o futuro mais próximo.

Enquanto não tomarmos consciência desta realidade, não abandonaremos o discurso das heranças, argumento usado por uma classe política medíocre que tenta mascarar a verdadeira realidade, a verdadeira herança é um legado dos arquitectos desta Europa monetária, que se afigura longe do “oásis” em que nos quiseram fazer acreditar.»

Miguel A. Silva