terça-feira, julho 26, 2005

Férias

O Batalha Final encerra por 15 dias.Até breve...

sábado, julho 23, 2005

O discurso de Ramiro

“Este momento solene de Portugal, em que se decidirá o seu destino quiçá para mais de cem anos, coincide com a época e o momento da vossa vida em que sois jovens, vigorosos e temíveis. Poderá suceder que a Pátria e o povo quedem desamparados e que não ocupem os seus postos os libertadores, os patriotas, os revolucionários? Poderá suceder que dentro de quarenta ou cinquenta anos, estes portugueses, que hoje são jovens e então serão já anciãos, contemplem à distância, com angústia e tristeza, como foi desaproveitada, como resultou frustrada a grande conjuntura deste momento, pela sua cobardia, pela sua deserção, pela sua debilidade?”

Discurso imaginário, ou nem tanto, do espírito de Ramiro Ledesma Ramos às juventudes de Portugal.

Europa, uma árvore na tempestade

A civilização europeia, civilização superior, não há que duvidar minimamente em afirmá-lo perante os pregadores lânguidos do etnomasoquismo xenófilo , deverá, para poder sobreviver no século XXI, operar uma revisão que corte com alguns dos seus princípios. E só será capaz disto se permanecer ancorada na sua eterna personalidade metamórfica: Deverá transformar-se toda ela permanecendo ao mesmo tempo fiel a si, cultivar o enraizamento e o desencaixe, a fidelidade identitária e a ambição histórica.

A Primeira Idade da civilização europeia agrupa a Antiguidade e a Idade Média, momento de gestação e crescimento. A Segunda Idade vai desde os grandes descobrimentos até à primeira guerra mundial; é a assumpção. A civilização Europeia conquista o mundo. Mas da mesma forma como Roma ou o Império de Alexandre o Magno, ela mesma faz-se devorar pelos seus filhos pródigos: Ocidente e América e por aqueles povos que ela própria colonizara (superficialmente). Abre-se então, num trágico movimento de aceleração da História, a Terceira Idade da civilização europeia com o tratado de Versailles e o fim da guerra civil de 1914-1918: o funesto século XX. Somente quatro gerações bastaram para precipitar na decadência o trabalho ascendente, o “labor solis”, de mais de quarenta gerações! A história parece-se com as assímptotas trigonométricas da “teoria das catástrofes”: É no auge do seu esplendor que a rosa murcha, é depois do tempo solarengo e calmo que o ciclone irrompe. A Rocha Tarpéia está próxima do Capitólio!

A Europa foi vítima do seu “prometeísmo” trágico, da sua própria abertura ao mundo. Vítima desse excesso de toda a expansão imperial: O universalismo, esquecendo-se de toda a solidariedade étnica interna, vítima, em consequência, também dos micro-nacionalismos.

A Quarta Idade da civilização europeia abre-se hoje. E será a do renascimento ou a da perdição. O século XXI será para esta civilização herdeira dos povos irmãos indo-europeus, o século fatídico, o do “fatum”, do destino que decide ou a vida ou a morte. Mas o destino não é o acaso absoluto. Contrariamente às religiões do deserto_ o qual, simbolicamente, não representa mais que o nada absoluto_ os povos europeus sabem no seu fundo que o destino e as divindades não são sempre todo-poderosos frente à vontade humana. Como Aquiles, como Ulisses, o homem europeu original mantém-se de pé e nunca agachado, prostrado ou ajoelhado frente aos seus deuses. Não há fatalidade histórica.

Inclusive ferida, a árvore pode continuar a crescer.Com a condição de que reencontre a fidelidade às suas próprias raízes , à sua própria fundação ancestral, ao solo que nutre a sua seiva(...)

Este século será o do renascimento metamórfico da Europa, como a Fénix, ou o da sua desaparição enquanto civilização histórica e a sua transformação em “Luna Park” cosmopolita e estéril, enquanto os outros povos, no que lhes respeita, conservarão as suas identidades e desenvolverão o seu poder. A Europa está ameaçada por dois vírus aparentados: O do esquecimento de si mesma, a aridez interior, e o da “abertura ao outro”, excessiva. No século XXI, a Europa, para sobreviver, deverá ao mesmo tempo reagrupar-se, regressar de novo à sua memória e perseguir a sua própria ambição, “fáustica” e “prometeica”.Tal é o imperativo de “coincidentia oppositorum”, a convergência dos contrários ou a dupla necessidade da memória e da vontade de poder, do reconhecimento e da criação inovadora, do enraizamento e do desencaixe. Heidegger e Nietzsche…

O início do século XXI será como essa “meia-noite do mundo”, desesperante, de que falava Friedrich Hölderlin. Mas no mais obscuro da noite, é sabido que pela manhã o sol regressará, “Sol Invictus”.Depois do crepúsculo dos deuses: A aurora dos deuses. Os nossos inimigos acreditaram sempre na Grande Noite e as suas bandeiras estão ornamentadas com símbolos de estrelas nocturnas. Pelo contrário, nas nossas bandeiras está cunhada a Estrela da Grande Manhã, com raios resplandecentes: A roda, a flor do Sol de Meio-dia(…)

O tempo da conquista terminou. Agora vem o da reapropriação interior e exterior, a reconquista da nossa memória e do nosso espaço; e que espaço! Catorze fusos horários sobre os quais o sol nunca se põe. Desde Brest até ao estreito de Béring, não há dúvida, este é verdadeiramente o Império do Sol, e é de facto o espaço vital e de expansão próprio dos povos indo-europeus. Sobre o flanco Sudeste, temos os nossos primos hindus e sobre o nosso flanco Este a grande civilização chinesa, que poderá ser aliada ou inimiga, segundo o que ela determine. Sobre o flanco Oeste, vinda do outro lado do Oceano: A América, cujo objectivo será sempre impedir a união continental( do espaço euro-siberiano).Mas, podê-lo-á eternamente?

E depois sobre o flanco sul: A principal ameaça, ressurgida do fundo das épocas do passado, aquela com que não podemos transigir ( absolutamente para nada).

Certos lenhadores tentam abater a árvore. Entre eles encontram-se muitos traidores, muitos colaboradores. Defendamos a nossa terra, preservemos o nosso povo. O contra-relógio começou. Todavia ainda temos tempo, se bem que desta vez não seja muito.
Mais, ainda se conseguirem cortar o tronco ou se a tempestade o abater, quedarão todavia as raízes, sempre fecundas. Uma só brasa é suficiente para reavivar o incêndio.
Pode dar-se, evidentemente, que abatam a arvore e destruam o seu cadáver, num canto crepuscular, e, anestesiados, os europeus não sintam a dor. Mas a terra é fecunda e uma só semente é suficiente para iniciar o reflorescer. No século XXI preparemos os nossos filhos para a guerra. Eduquemos a juventude para uma nova aristocracia, ainda que seja minoritária.

Muito mais que a moral é necessário praticar a partir de agora a “hipermoral”, isto é, a ética nietzschiana dos tempos difíceis; quando alguém defende o seu povo, ou seja, os seus próprios filhos, quando defende o essencial, segue a regra de Agamenon e Leonidas mas também de Charles Martel: É a lei da espada que prevalece, aquela em que o bronze ou o aço resplandece ao Sol.


Guillaume Faye

segunda-feira, julho 18, 2005

Os excluídos úteis da extrema-esquerda

Leio que os envolvidos nos atentados terroristas de Londres eram cidadãos integrados na sociedade, tinham família, emprego, casa, tinham um nível de vida razoável e tinham nacionalidade inglesa. A esquerda radical, que havia imediatamente apontado a exclusão social como potencial catalizador do fenómeno, manteve posteriormente um silêncio comprometedor perante os factos surgidos. A verdade é que estes não eram os excluídos ideais que a esquerda pretenderia, para ficarem bem na fotografia faltava-lhes sem dúvida algum trauma provocado pela sociedade ocidental, algo que servisse de prova da sua discriminação social: o desemprego, a pobreza extrema, a falta de habitação, um episódio passado em que tivessem sido vítimas de racismo institucional, enfim, algo que pudesse dar consistência à ideia de marginalização provocada pelo funcionamento da sociedade inglesa, e sublinho isto pois é um ponto fundamental, o essencial seria provar claramente que caberia à sociedade ocidental responsabilidades, numa óptica de desresponsabilização dos indivíduos pelos seus actos que é muito cara à extrema-esquerda. Ora o argumento de exclusão social no caso dos envolvidos nos atentados aponta para uma exclusão diferente da desejada pelas elites de esquerda, não induzida pela organização social ocidental ou pelo “capitalismo opressivo” mas induzida por um sentimento intenso de identidade própria estranha e até antagónica à da sociedade onde se incluíam, era, em boa verdade, uma exclusão de sentido inverso, profunda e latente que partia dos próprios indivíduos em relação à sociedade ocidental e aos seus valores e não uma qualquer tirania da sociedade sobre aquelas pessoas, quais vítimas indefesas de um regime que não lhes permitisse viver condignamente . O silêncio ulterior da esquerda explica-se portanto por duas razões que advêm daqui, a primeira é que esta era uma exclusão cultural inerente e da responsabilidade dos próprios abrangidos na situação e que não permitia responsabilizar a sociedade e atacar a ordem tradicional da mesma, a segunda é que era uma forma de exclusão incompatível com o discurso institucional da extrema-esquerda de que não existem incompatibilidades de cariz cultural que impeçam a convivência no mesmo espaço de grupos com valores civilizacionais distintos e que basta a intervenção do Estado para assegurar a “integração” de todos.

O discurso da extrema-esquerda no período subsequente aos atentados é um reflexo condicionado de uma mentalidade que assenta em boa parte na ideia de exclusão como factor essencial de progressão, de conquista de poder. Mais que todas as outras, a esquerda herdeira do marxismo é, pela sua natureza, herdeira de uma ideia fulcral de conflito social. Se na ortodoxia marxista esse conflito social se manifesta pelo conflito de classes laborais e portanto ligado à esfera económica, a nova extrema-esquerda alargou o âmbito do conflito da esfera económica para a esfera estritamente social e cultural. Os novos "excluídos" não são apenas os que caem na pobreza mas são também todos os grupos que não fazem parte da ordem tradicional das sociedades onde se inserem, pela preferência sexual, raça, religião, cultura. Este novo segmento de "excluídos pronto-a-servir” era uma necessidade da esquerda em função da evolução das sociedades ocidentais.Com níveis de bem-estar apreciáveis, longe das predições de desintegração económica de Marx, as classes menos favorecidas economicamente não bastavam já para garantir à esquerda radical um potencial de crescimento considerável e essa esquerda vive e cresce da desordem e da exclusão, não podendo ser económica será então social. Nenhuma outra força política necessita tanto da existência de tensões sociais e económicas como a extrema-esquerda. O seu eleitorado base sempre foi os que identificou como “excluídos” e como tal, para crescer politicamente, necessita que os “excluídos” existam e de preferência que se multipliquem.

Assim se explica que perante o colapso da Enron, que deixou milhares de trabalhadores americanos sem as poupanças de uma vida, Lincoln Van Sluytman, coordenador de educação do Fórum de Brecht e reputado marxista, tenha afirmado o seu contentamento perante a ocorrência pois isso beneficiaria o seu movimento político, ou seja, as preocupações com a vida dos trabalhadores afectados passaram para segundo plano perante o eventual benefício que daí adviria para a sua concepção ideológica. O senhor Sluytman celebrava no fundo o surgimento de mais uns milhares de “excluídos”, matéria-prima pronta a engrossar as fileiras do seu movimento. O discurso de combate à exclusão que a extrema-esquerda utiliza é uma falácia, quando a esquerda de inspiração marxista se apresenta como a voz dos excluídos e disposta a travar o combate da exclusão é preciso entender que o objectivo não é combater a exclusão económica e social nas sociedades modernas de raiz europeia respeitando a tradição ocidental mas sim utilizar os "excluídos" para fundar uma nova ordem social, uma nova ideia de sociedade e de homem, criar um novo sistema que represente um corte radical com o nosso passado, e para tal é preciso primeiro fazer ruir a ordem social tradicional e as suas instituições(ou o que resta delas), familiares, religiosas, culturais, nacionais; é preciso portanto que existam e se criem novos “excluídos” dessas instituições tradicionais pois eles são a arma útil de desmoronamemto da sociedade europeia.Na realidade a esquerda radical, antes de a combater, reforça e instiga a ideia de exclusão. Foi essa vertigem de encontrar mais um mercado de “excluídos” que explica os discursos imediatos aos eventos de Londres. O problema é que estes “excluídos” têm de servir de alguma forma para poder responsabilizar o sistema existente pela sua condição, seja económica ou social, exigência crucial para poder legitimar a premência da revolução. É esse requisito que os terroristas de Londres não preenchiam. Assim, faça-se silêncio que a esquerda segue dentro de momentos…

quarta-feira, julho 13, 2005

Curiosidades

Mais uma vez e para não variar o país é consumido por uma vaga de incêndios, todos os anos nos deparamos com o mesmo cenário, já previsível, e todos os anos nos deparamos com a mesma sensação de incompetência no combate a esta catástrofe que regularmente se abate sobre Portugal. Os sucessivos Governos não parecem ter qualquer capacidade de minimizar o desastre ou desenvolver planos de prevenção para lidar com um fenómeno que à partida é de ocorrência garantida e sazonal, logo razoavelmente previsível. As condições climatéricas do nosso país não podem explicar tudo, não é compreensível que Portugal seja a nação que invariavelmente, ano após ano, mais área florestal vê destruída pelas chamas e em proporção muito superior à de outros países com condições climatéricas igualmente desfavoráveis.

Existem algumas curiosidades que não deixam de merecer reflexão no que concerne ao problema dos incêndios no nosso país. Particularidades muito nossas que não me parecem minimamente lógicas. Em primeiro lugar é preciso entender que estamos a falar de um negócio, sim, porque em boa verdade os incêndios são também uma oportunidade de negócio, aquilo que para o património natural do país se afigura como calamitoso resulta em possibilidades de lucro para alguns.

Para começar não posso deixar de referir uma questão que me causa incompreensão; todos os anos morrem bombeiros no combate aos fogos, estas pessoas arriscam a vida nas mais duras condições para travar um combate desleal e merecem por isso todo o respeito e é também pelo respeito que a classe em geral merece que não entendo como é possível que existam em Portugal bombeiros que detêm casas que comercializam meios de combate aos fogos. Ainda o ano transacto, ao mesmo tempo que éramos confrontados com as notícias da morte de bombeiros na luta contra o fogo tomávamos conhecimento de que alguns dos incêndios despoletados por mão criminosa haviam sido provocados precisamente por colegas seus. A mim, francamente, não me parece particularmente favorável para a imagem da classe que existam indivíduos que façam profissão da luta aos fogos e ao mesmo tempo sejam proprietários de estabelecimentos que vendem material de combate aos incêndios.

Também me pergunto como é possível que um país que todos os anos sofre os maiores danos com este flagelo não tenha meios aéreos próprios de luta contra o fenómeno. Todos os países da Europa mais sujeitos a problemas do género, nomeadamente os do sul do continente, detêm meios aéreos de combate aos fogos, Portugal, sistematicamente, necessita de os alugar a privados e fá-lo apenas para as épocas consideradas de risco sendo que os concursos públicos arrastam-se no tempo. Fará sentido que o Estado necessite de estar dependente de empresas privadas para o aluguer destes meios? estamos a falar de negócios que envolvem verbas elevadíssimas. A verdade é que estas empresas beneficiam da existência de incêndios e naturalmente beneficiam da existência de Estados sem meios próprios e que por isso estão expostos a condições de mercado desfavoráveis.

Um outro dado curioso e que poderia dar a Portugal uma entrada no “Guinness Book” é a percentagem de indivíduos detidos por deflagração de fogos que têm “problemas psiquiátricos”. Todos os anos em Portugal são apanhados suspeitos de fogos postos que, alegadamente, sofrem de problemas do foro psíquico, o que me leva a crer que Portugal tem a maior percentagem de maluquinhos pirómanos por metro quadrado em todo o mundo. Das duas uma, ou é de facto assim e estamos perante um caso digno dos “Ficheiros Secretos”, o país dos desequilibrados pirómanos, ou então estes indivíduos são induzidos por outros, perfeitamente lúcidos, para fazerem o trabalho sujo, e a ser assim não acredito que seja particularmente difícil à polícia conseguir de pessoas com perturbações psiquiátricas os nomes dos verdadeiros responsáveis. Existe ainda uma terceira possibilidade, estas pessoas não terem realmente problemas e tentarem uma desresponsabilização perante a justiça, mas nesse caso creio que uma avaliação médica dos suspeitos esclareceria a questão. Seja como for, creio que já vai sendo tempo de se reverem as penas aplicadas a certos crimes que merecem, sem dúvida, maior severidade por parte da justiça.

Evidentemente boa parte dos incêndios são provocados por condições ambientais e falta de zelo por parte do Estado na preservação do seu património natural mas não é apenas disso que se trata, temos de ter consciência que também falamos de um negócio que movimenta muito dinheiro. As situações que descrevi causam-me particular perplexidade.

sábado, julho 09, 2005

De Londres a Israel passando pelo Iraque

Mais um ataque terrorista na Europa, depois de Madrid, Londres. O ataque cobarde, inesperado, cego em relação às vítimas, como é habitual nestes assassinos, foi reclamado por uma organização fundamentalista islâmica, aparentemente uma célula europeia da Al-Qaida. Não se pode falar propriamente em surpresa, embora situações como esta nos choquem sempre, sejam quais forem as circunstâncias, a realidade é que esta ameaça que pairava sobre o Reino Unido era de há muito conhecida, seria apenas uma questão de tempo até se materializar no horror.

A Europa está indefesa perante esta gente, não há que ter ilusões, é apenas uma questão de vontade e oportunidade para que se repita nova tragédia numa qualquer outra cidade europeia e não há absolutamente nada que as forças de segurança e os serviços de informação dos nossos países possam fazer, como aliás já se sabia e ficou agora uma vez mais provado. Podem-se evitar algumas tentativas de atentados mas não se consegue mais que ganhar tempo.

É preciso apontar claramente as causas e os responsáveis por tudo isto, é preciso dizer a verdade, não fosse a politica de imigração irresponsável dos governantes europeus desde o pós-guerra e não teríamos dentro das nossas fronteiras milhões de possíveis soldados do Islão com um ressentimento visceral ao Ocidente. Falar em política de imigração não é sequer correcto, não há qualquer política, uma política exigiria a existência de critérios, por mínimos que fossem, na permissão de entrada de cidadãos de fora da Europa. A verdade é que as nossas nações estão de “portas escancaradas”, qualquer pessoa consegue entrar na Europa, a situação é de tal modo caricata que os serviços de fronteiras não expulsam sequer uma grande parte dos imigrantes ilegais que apanham, deixando-os muitas vezes ficar na clandestinidade e perdendo o seu rasto ou então acabam por ser legalizados independentemente das suas possíveis condições de integração, legitimando assim a sua presença dentro do espaço europeu.

No caso dos islâmicos, isto traz um custo acrescido, o de seguirem uma religião que ganhou um cariz totalitário, intolerante, tirânico, expansionista, com valores completamente incompatíveis com os das sociedades europeias e com um trajecto histórico feito de confrontos com a Europa, uma memória histórica que perdura bem viva no Islão e que alimenta um ressentimento aberto em relação ao Ocidente. Sim, todos sabemos que nem todos os islamitas são fundamentalistas, mas a verdade indesmentível é que são vários os imãs que por essa Europa fora pregam o alcorão instigando o mais absoluto desprezo pela vida de quem não é islâmico e defendendo uma sociedade opressiva, verdadeiramente despótica, fomentando a ideia de que tudo é válido em ordem a impor a sua religião e alguns assumindo mesmo que têm como objectivo a conversão religiosa da Europa por qualquer meio necessário. Aqueles que sempre se prestam a vir em defesa do Islão como a religião da paz devem discutir o alcorão com os que o estudaram durante anos e que o ensinam como uma visão totalitária e impiedosa do mundo; nós limitamo-nos a constatar a expressão prática do Islão nas sociedades onde detém o poder, teocracias que são invariavelmente prepotentes, onde as mulheres são tratadas como seres inferiores, onde não existe liberdade, e limitamo-nos a contabilizar as vítimas da guerra cega travada em nome de Alá por esse mundo fora contra os “infiéis”.

No imediato seguimento do atentado em Londres os neo-conservadores americanos saíram logo a terreiro, pela voz de homens como Podhoretz, clamando pela guerra sem tréguas ao “terrorismo” de que eles sempre foram os maiores fomentadores e apologistas, Blair e outros responsáveis britânicos afinaram pelo mesmo diapasão e o mesmo se passou um pouco por todo o mundo ocidental, a reacção aos assassinatos foi a de afirmar convictamente que a guerra ao terrorismo não irá parar e que, pelo contrário, será reforçada até que os criminosos sejam apanhados. Mas eu pergunto, que guerra e que criminosos? O que significa verdadeiramente afirmar que a guerra aos terroristas irá continuar? Os tais terroristas estão dentro das nossas fronteiras, espalhados por todo o mundo, não existe um Estado visível por detrás disto mas células islâmicas dispersas por todo o planeta. Discutiram-se possíveis soluções, formas de precaver novos atentados, modos mais eficazes de combater a ameaça terrorista, as ideias e sugestões versam inevitavelmente a conversa do costume; à direita apontam, genericamente, para um reforço da vigilância e do policiamento, para a colaboração entre as forças policiais e serviços de informação dos diversos países naquilo que resultará inevitavelmente numa progressiva restrição da liberdade dos cidadãos do Ocidente, procurou-se também reforçar a legitimidade da intervenção ocidental no mundo muçulmano , nomeadamente no Iraque, e quiçá começou-se a preparar outras intervenções noutros locais em nome dessa tal guerra ao terrorismo. À esquerda lá veio o paleio habitual da exclusão social , da pobreza como causa directa do terrorismo, da necessidade de melhor integração das comunidades imigrantes, o apelo à necessidade de diálogo, enfim, de um lado e outro ouviu-se a cassete esperada. Qualquer pessoa minimamente realista sabe que não é a pobreza ou a exclusão que motivam estes atentados, existem razões de fanatismo religioso e razões políticas e sociais muito mais fortes por detrás disto, e verdade seja dita, a esquerda lá falou em algumas das razões políticas, embora obviamente recusando-se a referir a incompatibilidade do Islão com os valores das sociedade europeias, isso iria contra toda a lógica do pensamento esquerdista. O problema é que as soluções aventadas por uma certa direita são igualmente ineficazes, por um lado recusam-se a abordar parte das origens políticas deste problema, por outro lado não há forma de impedir que um muçulmano qualquer entre num transporte público e se faça explodir, por mais coordenação internacional, segurança e vigilância que exista, esta é a dura realidade! A única solução que nem uns nem outros são capazes de indicar mas que poderia de facto devolver alguma segurança à Europa seria a expulsão massiva de imigrantes islâmicos do Velho Continente,começando pelos ilegais, os não nacionais e pelos frequentadores de mesquitas onde preguem os imãs fundamentalistas,sendo que estes imãs, naturalmente, seriam igualmente expulsos.Obviamente que esta ideia só pode ser apontada por “fachos”, é horrivelmente atentatória dos supremos valores “humanistas” e internacionalistas que governam o Ocidente, é definitivamente radical, politicamente incorrecta e nada moderada, e como os europeus têm de ser sempre moderados e "razoáveis", olhem, que diabos, lá se vai aguentando uma chacina ou outra de vez em quando…

Enquanto a esquerda desenvolvia a sua usual retórica bacoca da exclusão social tocava, no entanto, num outro ponto: A guerra do Iraque. A direita da praça insurgiu-se contra isso com o argumento de que os atentados do 11 de Setembro ocorreram antes dessa guerra, alertando para o facto do surgimento da Al-Qaida ser independente desse facto. É verdade que os ataques aos Estados Unidos antecederam a guerra no Iraque, contudo há que fazer a distinção entre esses atentados e os atentados que subsequentemente ocorreram na Europa, não se trata exactamente do mesmo fenómeno. Os atentados nos EUA , e em minha opinião a esquerda tem razão aqui, não foram independentes de décadas de política externa americana no conflito entre Israel e o mundo árabe sempre em prejuízo dos últimos, na realidade, os EUA actuaram sempre em apoio a Israel no Médio Oriente, os EUA financiaram( e continuam a fazê-lo) o Estado de Israel durante décadas ao mesmo tempo que ocasionalmente se arvoravam em pretensos mediadores do conflito com os palestinianos. Entre 1955 e 1992 Israel violou mais de meia centena de resoluções da ONU e por mais de 30 vezes o veto americano bloqueou resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra Israel, falamos do mesmo país que se mostrou tão chocado com as violações contra resoluções da ONU por parte do Iraque e que fez desse facto parte da argumentação a favor da sua invasão. Seria de esperar que uma política americana claramente atentatória da posição árabe não tivesse como resultado o crescimento de um ódio resoluto aos Estados Unidos? Alguém pode dizer que os EUA não tiveram ao longo de várias décadas uma política sionista no Médio Oriente? Esse ódio à América derivado da posição sempre assumida pelos americanos no Médio Oriente ajudou de certeza ao surgimento e proliferação de organizações como a Al-Qaida e a cruzada de alguns países europeus na guerra ilegal no Iraque ao lado dos EUA ajudou a colocar definitivamente a Europa na mira do fundamentalismo islâmico. Os ataques da Al-Qaida na Europa só surgiram após essa intervenção no Iraque e sempre foram reivindicados em nome dessa guerra. Os anteriores atentados islâmicos em países europeus revelavam uma animosidade em relação aos nossos valores civilizacionais que já sabíamos existir, é um facto, mas nada comparável ao que sucede agora e certamente de muito mais fácil resolução até porque com menores ramificações internacionais e até apoios.

A guerra no Iraque contribuiu certamente para a situação actual no continente europeu; foi uma intervenção militar instigada pelo lobby neo-conservador dos EUA que visou não só expandir interesses económicos norte-americanos como ajudar a geopolítica de Israel, uma guerra ilegal à luz do direito internacional, assente em falsos relatórios de serviços secretos, em nome do apropriamento de armas de destruição maciça que não existiam e que teve o condão de retirar do poder um governo que, embora ditatorial, era secular e não permitia a expressão de fundamentalismos religiosos, contando por isso com a própria oposição de organizações como a Al-Qaida. O resultado desta guerra de interesses económicos de multinacionais americanas e interesses geoplíticos do Estado de Israel foi deixar o Iraque ingovernável e exposto ao poder dos radicais islâmicos, transformado que está num país caótico, sem paz nem ordem e com uma situação que ninguém sabe como resolver, se é que terá resolução, ao mesmo tempo que ajudou a aprofundar a animosidade já existente em relação aos Estados europeus, nomeadamente os que nessa guerra participaram.

Na guerra do Iraque não existiam verdadeiramente interesses a defender por parte da maior parte dos países europeus, a razão que justificará o apoio de algumas nações da Europa a essa intervenção terá sido a necessidade de assegurar protecção militar; muitos países europeus têm a noção de que não têm capacidade de defesa e que os EUA são o mais capaz e fiável dos seus aliados militares contra eventuais ameaças. Esta necessidade de alianças militares terá certamente justificado a posição de parte do continente, e aqui entra uma questão nova: Os países europeus não podem ter verdadeira autonomia na política externa sem terem competência militar, para sua própria segurança. É também a necessidade de se conquistar independência em relação à política externa americana que deve impelir os países europeus ao desenvolvimento de sinergias e entendimentos no âmbito da construção de uma Europa Potência, com necessária capacidade militar que permita emancipação bélica relativamente aos norte-americanos. Isto é fundamental em face a duas realidades, a primeira é que a política externa americana não é muitas vezes convergente com os interesses europeus, é erigida na defesa dos interesses económicos dos grandes grupos financeiros americanos, com particular destaque para a indústria de armamento e petrolífera e na defesa dos interesses políticos de Israel e EUA; a segunda razão é uma questão de princípio para mim, não é aceitável que os nacionalistas europeus pretendam preservar a sua cultura e os seus valores civilizacionais face ao mundo não-europeu e ao mesmo tempo embarquem em políticas expansionistas que visam a imposição de valores civilizacionais ocidentais a países que também têm o direito de os rejeitar e pretender manter a sua própria identidade cultural. Ao abrigo da imposição da “democracia” e da “liberdade” os americanos pretendem erguer sociedades pautadas por parâmetros ocidentais em países que têm culturas fundadas noutros pressupostos e não cabe à América( nem à Europa) definir como devem os outros viver, esse espírito messiânico dos americanos é ridículo, mesmo porque é hipócrita, na medida em que esconde outros interesses estratégicos. Se a Europa pretende ter legitimidade para impedir a descaracterização da sua identidade deve então respeitar a identidade dos outros, não deve pactuar com uma política externa assente na imposição forçada de valores ocidentais a todo o mundo, deve garantir que tem capacidade de se defender para prevenir agressões e caso seja ameaçada, então sim, se justificará a resposta militar.

O deflagrar do terrorismo islâmico no Velho Continente não pode ser desculpabilizado, não é mero resultado da intervenção europeia no Iraque_ embora tenha sido reforçado por isso_ mas do ódio do islamismo radical a todo o Ocidente, agora não vale a pena perder tempo com demagogias quando a única solução que me parece eficaz para abordar o problema já a apresentei e quando estou convicto de que não existem condições para a tomar, por isso continuarão as fugas em frente na luta contra o terrorismo, sem que saibamos bem o que isso significa, seguiremos os EUA porque não temos capacidade de nos defendermos, continuando por isso dependentes da aliança com os norte-americanos, continuaremos a inútil cruzada à escala global contra o dito terrorismo ao mesmo tempo que permitimos a entrada de muçulmanos nos nossos países, permaneceremos no Iraque para não ceder perante os ataques até que alguma solução, provavelmente precária, permita abandonar o território alegando vitória, mesmo que falsa, e sem que isso leve realmente ao fim da guerra santa islâmica contra o mundo ocidental.

terça-feira, julho 05, 2005

Os caminhos da Cristandade

“A teologia cristã é a raiz do bolchevismo”, escreveu Oswald Spengler há muitos anos. O que ele queria dizer era que a defesa na Cristandade de ideias como universalismo, igualitarismo, paz, irmandade mundial e altruísmo universal ajudaram a estabelecer e a legitimar a ética e política invocadas pelos socialistas e comunistas .Socialistas e comunistas, contudo, não concordam sempre, e é por isso que outro pensador germânico, Karl Marx, afirmou que a religião é na realidade uma força conservadora, o ópio das massas, a droga que impede que os trabalhadores do mundo se rebelem contra as suas classes inimigas.

Ambos estes “pesos-pesados” teutónicos poderiam ter beneficiado da leitura de “The Germanization of Early Medieval Christianity” de James C. Russel, já que fala, pelo menos indirectamente, da tensão entre as suas diferentes visões do Cristianismo, diferenças que continuam a ser reflectidas nas disputas politicas e ideológicas na direita europeia e americana actualmente. A principal questão na controvérsia é esta: É a Cristandade uma força que ajuda ou dificulta os esforços da direita para defender o modo de vida ocidental? Cristãos à direita argumentam que o seu empenho religioso é fundamental para a civilização ocidental, enquanto pagãos e secularistas à direita (especialmente na Europa) argumentam, com Spengler, que a Cristandade desmorona o Ocidente forçando um universalismo que rejeita raça, classe, família e até nação.

Russel, que detém um doutoramento em teologia histórica pela Universidade de Fordham e ensina na faculdade de Saint Peter, não responde propriamente à questão, mas o seu muito estudado livro sugere uma resposta. A sua tese é a de que a Cristandade inicial floresceu no decadente, desenraizado e alienado mundo do final da antiguidade precisamente porque foi capaz de apelar a vários sectores oprimidos e insatisfeitos da população_ escravos, proletários urbanos, mulheres, intelectuais, aristocratas frustrados e os estranhos idealistas repelidos pelo patológico materialismo, brutalidade e banalidade da época.

Mas quando os missionários cristãos tentaram apelar aos invasores germânicos invocando o universalismo, pacifismo e igualitarismo que havia atraído os excluídos habitantes do império, falharam. Isso sucedeu porque os germânicos praticavam uma religião “folk”, que reflectia homogeneidade étnica, hierarquia social, gloria militar e heroísmo, com “ parâmetros de conduta ética…derivados de um estímulo sócio-biológico para a sobrevivência de grupo através do altruísmo no seio do grupo”. A religião e sociedade germânica aceitavam o mundo como ele era de facto enquanto a Cristandade helénica rejeitava o mundo, reflectindo a influência das religiões e éticas orientais. Por germânicos, deve notar-se, Russel não se refere aos modernos habitantes da Alemanha mas antes aos “Godos, Francos, Saxões, Alanos, Borgonheses, Suevos e Vândalos, mas também os povos viking da Escandinávia e os povos anglo-saxónicos da Grã-Bretanha”, com a excepção dos celtas e eslavos, germânicos significa então quase a mesma coisa que “europeus” propriamente ditos.

Dadas as contradições entre a ética e visão do mundo cristãs e as da cultura indo-europeia dos povos germânicos, a única táctica que os cristãos poderiam usar seria a de parecer adoptar valores germânicos e afirmar que os valores cristãos seriam realmente compatíveis com os primeiros. O grosso do estudo de Russel mostra como este processo de acomodação teve lugar no curso de cerca de quatro séculos. Os santos e o próprio Cristo foram representados como heróicos germânicos, tanto os festivais como os locais sagrados na antiga cultura germânica foram discretamente tomados pelos cristãos como seus, palavras e conceitos com significados e conotações religiosas foram subtilmente redefinidos em termos da nova religião. Ainda assim o resultado final não foi a conversão dos germânicos à Cristandade que tinham inicialmente encontrado, mas antes que a aquela forma de Cristandade foi germanizada, adoptando muitos dos valores indo-europeus que a antiga religião pagã havia celebrado.

Russel sugere, como notado acima, uma resolução do debate sobre o universalismo cristão. A Cristandade original que os germânicos encontraram continha muitas tendências universalistas, adaptadas e reforçadas pelos povos desenraizados e pelo tecido social em desintegração do final do império, mas graças à germanização esses elementos foram depressa suprimidos ou silenciados e aquilo que conhecemos como a Cristandade histórica da era medieval ofereceu-nos uma religião, ética e mundividência que consolidou aquilo que hoje conhecemos como valores conservadores_ hierarquia social, lealdade à tribo e território( sangue e terra), aceitação do mundo como é em vez da sua rejeição e uma ética que valoriza o heroísmo e o sacrifício militar. Ao ser germanizada a Cristandade foi essencialmente reinventada na fé dinâmica que animou a civilização europeia por mais de mil anos.

A resposta de Russel à questão sobre a cristandade é que a Cristandade é tanto a raiz do bolchevismo( na sua primeira fase universalista e não-ocidental) e um pilar de estabilização social e ordem( através dos valores e mundividência que assimilou pelo contacto com os antigos indo-europeus). Através da maior parte da sua história prevaleceu a última concepção de Cristandade, mas hoje, como defende Russel nas últimas páginas do seu trabalho, os inimigos da herança europeia_ o que ele chama “a fusão religiosa-cultural euro-cristã”_ começaram a triunfar dentro das fileiras cristãs. “A oposição a esta fusão, especialmente porque pode interferir com noções de universalismo e ecumenismo, foi expressa em vários dos documentos do Concílio Vaticano II”, e ele vê o mesmo tipo de oposição à influência medieval germânica nos vários movimentos de reforma na história da Igreja, incluindo a reforma protestante, que sempre exigiu um regresso à Igreja primitiva, isto é, à Cristandade pré-germânica. É precisamente esta rejeição da herança indo-europeia que pode ter levado muitos cristãos de ascendência europeia a rejeitar o Cristianismo e a abraçar formas alternativas de paganismo que positivamente afirmam as suas raízes raciais e culturais.

No que quer que seja que a Cristandade primitiva ou verdadeira Cristandade ou Cristandade histórica tenha acreditado ou ensinado, o que está indiscutivelmente a acontecer hoje em dia é a extirpação deliberada do legado europeu da Cristandade pelos seus inimigos no seio das igrejas. A Cristandade institucional que floresce actualmente já não é a mesma religião que foi praticada por Charlemagne e seus sucessores e já não pode apoiar a civilização que construíram. De facto, a Cristandade organizada de hoje é o inimigo da Europa e da raça que a criou.


Samuel Francis

__Este texto parece-me ser de fundamental importância para a compreensão de uma questão que hoje marca decisivamente as sociedades europeias e consequentemente o próprio nacionalismo. O Cristianismo como hoje vigora é inimigo mortal das identidades nacionais e, em face disso, aos nacionalistas cristãos não resta alternativa senão a feroz oposição à Cristandade institucional que hoje impera. Esta Cristandade oficial que advém das hierarquias das Igrejas actuais é um obstáculo fatal à identidade europeia, representa, na realidade, a negação do legado histórico da Europa, o seu objectivo último é o desenraizamento dos povos europeus das suas tradições remotas, o apagamento da nossa memória colectiva, em face a alcançar um universalismo que pretende a diluição da nossa cultura original, transformando-nos numa massa desmemoriada e destituída de verdadeira consciência histórica,pronta a absorver indiscriminadamente qualquer mensagem institucional das Igrejas qual mercado de consumidores de fé. Apenas poderemos aceitar o Cristianismo que foi suporte da construção da civilização ocidental, aquele que resultou do encontro da Cristandade dita primitiva com o mundo indo-europeu e a sua cultura, aquele que verdadeiramente ajudou a erguer o Ocidente; o Cristianismo igualitarista e uniformizador, de raiz semita, asiática, estranho à Europa e aos seus esteios, não pode passar entre nós!

sábado, julho 02, 2005

A Nação e o Estado

No nacionalismo existem aqueles que, rejeitando a génese étnica da nação ou não aceitando a sua coincidência de significado com a definição de nação, procuram encontrar no Estado o mecanismo que agregue todas as pessoas que vivam no interior das mesmas fronteiras físicas em torno a um objectivo, uma missão, uma espécie de ideal nacional. Assim, o Estado seria o elemento essencial para fazer cumprir a nação e teria uma qualquer finalidade definida_ a sua razão de existir_ pois seria o Estado a confundir-se com a nação e a procurar dar à nação um propósito. Para estes, a existência de populações etnicamente distintas no seio do Estado (que eles equivalem ou fazem coincidir com o conceito de nação) não constitui problema de maior visto que o Estado, como construção institucional, pode suster pela coerção, pela autoridade, pela burocracia, aquilo que nada tem em comum. A ideia de nação subjacente a este nacionalismo é indissociável da ideia de um Estado omnipresente, que impedirá o desagregar da unidade interna e imporá, numa visão quase messiânica de nação, a sua realização moral subjectiva.

Obviamente que esta concepção nacionalista é necessariamente totalitária, para que não fosse seria necessário que todos os cidadãos e comunidades étnicas eventualmente existentes no interior do Estado partilhassem a mesma ideia de propósito nacional , sucedendo que algumas pessoas pretendessem um caminho diferente ou idealizassem uma sociedade distinta ou que comunidades diferentes não pretendessem conviver, seria sempre necessário ao Estado intervir, impondo a sua autoridade e a sua vontade para a prossecução do seu predeterminado ideal nacional, que é uma construção abstracta e neste caso não emana de uma ordem natural comunitária. Ora como o Estado não é uma entidade autónoma e com vontade própria mas uma construção social, facilmente se conclui que o ideal procurado da nação seria definido de acordo com o que as oligarquias que controlassem o aparelho estatal definissem como sendo o seu próprio ideal em cada momento histórico.

O nacionalismo estaria sempre dependente de quem dispusesse do poder institucional e todos aqueles que se identificassem com a aspiração social vigente, qualquer que fosse, seriam então nacionalistas pois que o nacionalismo seria coincidente com o objectivo societário procurado pelo poder de Estado. Assim, este nacionalismo seria sobretudo um conceito burocrático de base e nunca independente das instituições, precisamente porque o nacionalismo, definido de forma abstracta como um objectivo de certa forma construtivista, com realização prática pelo conceito de Estado, seria sempre coincidente com a concepção nacional dos que detivessem o poder burocrático.

Acontece que Estado e nação não só não são coincidentes como são muitas vezes conceitos antagónicos. O conceito de nação assenta numa base étnica comum, uma nação é uma comunidade que partilha uma língua, uma cultura, uma identidade material (a etnia), uma história comum de luta pela sobrevivência e perpetuação ao longo dos tempos, é uma comunidade que partilha um conjunto de valores que são intuitivos, normas não verbais que resultaram de séculos de identificação e comunhão na luta pela preservação e continuidade da comunidade. Não fazem parte da nação aqueles que apenas falam a mesma língua, ou que apenas professam a mesma religião( muito menos num mundo globalizado), mas aqueles que partilham um processo evolutivo histórico comum e que por isso partilham uma identidade étnica que daí resultou, essa identidade foi construída ao longo da evolução de um povo pela partilha da mesma luta de sobrevivência e perpetuação, aqueles que se deslocaram para o mesmo espaço e aí construíram a sua civilização, aqueles que passaram pelas mesmas lutas, que estiveram sujeitos às mesmas dificuldades, que construíram um código de comportamento similar, foi todo o trajecto histórico comum da comunidade que se materializou nas características de cada grupo étnico, e a etnia é por isso o espelho da história comum de cada comunidade. Esta é, na realidade, a verdadeira definição de nação e é anterior à existência de Estado, não precisa aliás de Estado pois não está dependente de qualquer instituição jurídica, é um sentimento de pertença natural, de identificação histórica.

É por essa razão que o Iraque é um Estado e não uma nação, é por essa razão que no Iraque grupos com trajectos históricos diferentes, pertencentes a etnias distintas, apenas podem ser mantidos debaixo da autoridade de um Estado pela coacção, é por essa razão que a Bélgica é um Estado e não uma nação, se não fosse pela existência de Estado a Bélgica dividir-se-ia em duas, representando duas comunidades com uma história diferente, e é também por essa razão que Israel era uma nação mesmo sem ter um Estado, pois existia esse trajecto comum, esse sentimento de pertença, essa identidade ancestral, é por isso que os Curdos se sentem parte de uma mesma nação mesmo separados por diferentes Estados, partilham uma identidade étnica, a nação funda-se nessa ancestralidade, nessa comunhão, nessa sensação de pertença que está para além de qualquer instituição jurídica e que surge naturalmente. Uma verdadeira nação não necessita de instituições jurídicas que a mantenham unida pois os seus membros sentem-se parte do mesmo legado e pretendem um futuro comum.

Neste caso, quando existe uma nação que pode sobreviver independentemente de um Estado, significa que existe a partilha de uma identidade completa, que abrange a totalidade dos factores que caracterizam uma nação; a língua, a etnia, um código de valores e comportamentos, um percurso histórico. Aqui o nacionalismo não está dependente de qualquer prévia idealização social ou de qualquer ideal espiritual mal definido, ele ganha forma pela vontade de preservar a identidade da comunidade, garantir a sua sobrevivência, e pela vontade de nesse processo melhorar as condições de vida dos seus membros, na exacta medida em que cumpre o seu papel histórico de sempre. Neste contexto, um Estado será o corolário lógico do funcionamento da nação mas um Estado que não tenha como objectivo a preservação e continuidade futura da identidade integral da nação em todos os seus aspectos não poderá representar um ideal nacionalista, independentemente da visão social perseguida.

Os Estados modernos são muitas vezes uma edificação precária, instável, o caso concreto dos países africanos é um bom exemplo; aí, etnias forçadas a viver debaixo de uma mesma bandeira, representando fronteiras artificiais, guerreiam-se constantemente. Isto sucede porque não fazem parte de uma mesma comunidade histórica, esses Estados acabam sempre por redundar na dominação de um grupo sobre outro ou outros, dominará o que detiver o controlo do Estado, mas no seu seio continuarão a existir tensões entre as diferentes etnias, ou seja, entre as diferentes nações, é essa a razão de muitas guerras sem fim no continente africano, países construídos artificialmente pelos povos colonizadores sem atenção ao sentido de pertença dos povos nativos que muitas vezes não desejam conviver debaixo da mesma autoridade.

O drama do Portugal do presente e do futuro é que está em vias de se transformar num Estado com várias nações no seu seio e a História prova a instabilidade destas realidades sociais, é também por isso que no presente contexto os objectivos do Estado não coincidem com os interesses da nação.