quinta-feira, março 31, 2005
quarta-feira, março 30, 2005
Um outro olhar sobre o paradigma neo-liberal
O «Washington Consensus» foi o exemplo acabado do paradigma neo-liberal, um conjunto de medidas definidas pelas instituições internacionais sedeadas em Washington, nomeadamente o Banco Mundial e o FMI, que delinearam uma estratégia de desenvolvimento económico à escala global com base na ortodoxia neo-liberal.
A estabilidade macroeconómica, a redução do peso do Estado na economia e a liberalização do comércio são os 3 grandes vectores de orientação que dali surgiram.
Quanto à estabilidade macroeconómica, as preocupações das políticas recomendadas pela ortodoxia neo-liberal centram-se na manutenção de baixas taxas de inflação, redução do défice público e redução do défice comercial (onde é que já vimos isto?).
Em face da vaga neo-liberal que tem assolado todo o pensamento económico nas últimas décadas façamos uma reflexão sobre a eficácia e a bondade das medidas que emergem do paradigma neo-liberal, do seu apego à ideia de Estado minimalista, liberalização comercial global e obsessão monetária intransigente. Façamos uma reflexão sobre os resultados alcançados pelos países que rejeitaram o caminho proposto pelo neo-liberalismo e olhemos em retrospectiva para o passado daqueles que agora advogam a causa da liberalização.
O termo de comparação deve ser o dos países do Este asiático, e muito em particular o Japão, que é o caso de maior sucesso e aquele que verdadeiramente conseguiu um processo de convergência até atingir uma situação de país líder. Nestes países as prescrições neo-liberais foram rejeitadas e terão sido estes exemplos a servir de base à contestação ao «Washington Consensus», renegando fórmulas únicas para o desenvolvimento e começando a dar ênfase à necessidade de adequação das recomendações económicas às situações particulares de cada economia.
A redução do papel do Estado na economia pelas privatizações e desregulamentações (que servem também o objectivo de consolidação orçamental) tem sofrido contestação pelas evidências empíricas, e aqui ressalta uma vez mais o exemplo japonês, que, com uma política industrial activa (assente nos mecanismos de fornecimento de crédito), uma estrutura institucional eficiente em relação à acumulação de capital e inovação e uma correcta interligação entre sector público e privado conseguiu num curto espaço de tempo um desenvolvimento sustentado. A importância da definição das áreas em que o mercado actua melhor que o Estado não pode descurar os problemas da transição entre um e outro, bem como as prévias capacidades do capital humano, e o exemplo asiático demonstrou-o.
No que respeita à abolição de medidas proteccionistas também aqui a experiência asiática é factor de refutação dos dogmas de Washington; as medidas de apoio industrial dadas a sectores estratégicos nestas economias, em especial aos mais vulneráveis perante a competição externa, apresentou resultados indiscutivelmente positivos e vem reforçar a odeia de que a liberalização faz apenas sentido quando permite aumentar a capacidade de concorrência nas economias domésticas.
As medidas de estabilidade macroeconómica recomendadas pelos neo-liberais têm-se revelado indiferentes às realidades específicas de cada país, não considerando os “trade-offs” entre as medidas preconizadas nem estabelecendo prioridades e necessidades estruturais prévias à implementação das suas recomendações.
O professor H.J. Chang ,da Universidade de Cambridge, ao estudar o papel das instituições no desenvolvimento dos países, numa análise histórica, em duas obras de grande interesse_ “Intitutions and Economic Development in Historical Perspective” e “Kicking Away the Ladder”_ chega a algumas conclusões curiosas que permitem um olhar diferente sobre as receitas do «mainstream economics».
Sobre a evolução histórica do comércio livre no desenvolvimento dos países, Chang chega à interessante conclusão de que os países mais desenvolvidos não aderiram ao comércio livre durante o período em que encetaram os seus processos de desenvolvimento, mas antes utilizaram medidas proteccionistas, como tarifas aduaneiras ou subsídios, para defenderem as indústrias nascentes. Mais interessante é o desfasamento entre a realidade dos factos e a história imaginária das políticas comerciais de Inglaterra e EUA. Os neo-liberais alegam recorrentemente que estes países atingiram a liderança mundial pela adopção do livre comércio mas Chang demonstra que foram precisamente estes países os pioneiros e os maiores utilizadores de políticas intervencionistas, no comércio como na indústria, nos estágios iniciais do seu desenvolvimento.
Tomando as actividades de elevado valor acrescentado como fonte principal do processo de desenvolvimento económico, pela sua elevada produtividade, Chang constata que o défice nas actividades de ICT (tecnologias de informação e comunicação) não é ultrapassado por mecanismos naturais do mercado e que os países que atingiram a convergência económica utilizaram politicas proteccionistas nesta área, esta necessidade de proteger este sector está associado aos elevados riscos inerentes às actividades de ICT que não conseguem ser suportados numa fase inicial por privados, desta forma é necessário socializar esses riscos através de mecanismos políticos ou institucionais; isto não significa necessariamente que a protecção destes sectores garanta sucesso, existem condicionantes que influem no processo, como seja o nível de formação pré-existente dos trabalhadores e a rapidez com que se actue politicamente numa área que sofre transformações a grande velocidade.
Historicamente as evidências apontam claramente para a necessidade de proteger as indústrias nascentes nos sectores de ICT, e a isto junta-se o facto dos actuais países líderes continuarem a utilizar políticas proteccionistas em alguns sectores. São raros os países que não recorreram a estas medidas no seu processo de convergência económica. Não deixa de ser curioso que no século XIX a Inglaterra se tenha insurgido contra as políticas proteccionistas dos EUA e dos outros países convergentes, como não deixa de ser interessante verificar que assim que o processo de convergência económica é conseguido as economias anteriormente protegidas passem a exigir a inaplicabilidade de medidas de protecção às indústrias. Foi assim que sucedeu com os nossos amigos americanos.
As “ boas” políticas neo-liberais têm-se revelado um completo fracasso no que ao crescimento económico se refere. Foi argumentado pelos “gurus” do «Washington Consensus» que as reformas neo-liberais poderiam aumentar a desigualdade mas que gerariam superior crescimento económico e eficiência. Mesmo se esta concepção de desenvolvimento fosse aceitável (e em minha opinião não é), sacrificando a justiça social à eficiência económica, os números parecem confirmar que apenas o pior dos dois pontos foi conseguido, de facto é inegável o aumento da desigualdade no seio das sociedades mas por comparação com as décadas de 60 e 70, altura em que vigorava o Keynesianismo e as “más políticas”, o crescimento económico neo-liberal salda-se por uma evidente desaceleração. Mais uma vez são as estatísticas que o dizem.
De acordo com Weisbrot, co-director do «Center for Economic and Policy Research», na obra” The Emperor has no Growth: Declining Economic Growth Rates in the Era of Globalization” nos 116 países considerados no estudo (desenvolvidos e em vias de desenvolvimento) o PNB per capita cresceu a uma taxa média anual de 3,1% entre 1960 e 1980 e cresceu a uma taxa média anual de 1,4% entre 1980 e 2000( os anos dourados do neo-liberalismo).O PNB per capita cresceu 2,8% por ano nos países da América Latina durante o período 1960-1980 contra 0.3% entre 1980-2000.Caiu na África sub-Sahariana em 15% entre 1980 e 2000 quando havia crescido 36% entre 1960 e 1980.
Segundo Stiglitz( Nobel da economia em 2001) das 19 economias por ele consideradas na Europa de leste( dos antigos regimes comunistas) só o PNB da Polónia excedeu o de 1989, ano em que iniciou o processo de transição. Nos restantes 18 países, o PNB per capita em 1997 era, em média, inferior ao de 1989 em 40%, sendo que apenas em 5 países (Roménia, Uzbequistão, República Checa, Hungria e Eslováquia) o PNB per capita era superior a 80% do nível apresentado em 1989.
Foram os países que rejeitaram a receita neo-liberal que conseguiram de facto alcançar um desenvolvimento relevante, para além do caso japonês e Coreano, o caso chinês parece confirmar a tendência, rejeitando as prescrições das boas políticas liberais a China vem assumindo progressivamente um papel de destaque na cena económica internacional, não restando já dúvidas de que terá um papel fundamental no futuro próximo (aludindo a Alain Peyrefitte, é indiscutível que a China despertou).
A conclusão que aparentemente se retira daqui é que o modelo neo-liberal serve os interesses de países que já atingiram altos patamares de desenvolvimento e que estão então em condições de utilizar o cenário que o neo-liberalismo fornece para manter posições hegemónicas, com destaque para uma minoria liderada pelos EUA e com o restante mundo anglo-saxónico como suporte, que tendo atingido um estádio de liderança mundial se servem conscientemente de instituições internacionais para impor aos restantes países modelos de desenvolvimento que abrem as economias mais débeis às multinacionais dos países líderes. A abertura das economias mais débeis e a implementação das “boas” receitas liberais são a contrapartida dos fundos de ajuda ao desenvolvimento, num ciclo vicioso que tem tornado cada vez mais dependentes as economias mais fracas. É também de salientar que tem sido precisamente nas áreas de ICT que a pressão de liberalização mais se tem feito sentir…Quando, olhando para o passado, constatamos que os países que actualmente dominam a economia, utilizaram medidas de protecção aos seus sectores estratégicos durante o período em que eles próprios podiam ser considerados países em vias de desenvolvimento, temos razões para indagar por que recusam agora essas fórmulas para os outros. A resposta é óbvia, este é o modelo que lhes garante, muito em particular aos EUA e Inglaterra, a posição dominante.
A estabilidade macroeconómica, a redução do peso do Estado na economia e a liberalização do comércio são os 3 grandes vectores de orientação que dali surgiram.
Quanto à estabilidade macroeconómica, as preocupações das políticas recomendadas pela ortodoxia neo-liberal centram-se na manutenção de baixas taxas de inflação, redução do défice público e redução do défice comercial (onde é que já vimos isto?).
Em face da vaga neo-liberal que tem assolado todo o pensamento económico nas últimas décadas façamos uma reflexão sobre a eficácia e a bondade das medidas que emergem do paradigma neo-liberal, do seu apego à ideia de Estado minimalista, liberalização comercial global e obsessão monetária intransigente. Façamos uma reflexão sobre os resultados alcançados pelos países que rejeitaram o caminho proposto pelo neo-liberalismo e olhemos em retrospectiva para o passado daqueles que agora advogam a causa da liberalização.
O termo de comparação deve ser o dos países do Este asiático, e muito em particular o Japão, que é o caso de maior sucesso e aquele que verdadeiramente conseguiu um processo de convergência até atingir uma situação de país líder. Nestes países as prescrições neo-liberais foram rejeitadas e terão sido estes exemplos a servir de base à contestação ao «Washington Consensus», renegando fórmulas únicas para o desenvolvimento e começando a dar ênfase à necessidade de adequação das recomendações económicas às situações particulares de cada economia.
A redução do papel do Estado na economia pelas privatizações e desregulamentações (que servem também o objectivo de consolidação orçamental) tem sofrido contestação pelas evidências empíricas, e aqui ressalta uma vez mais o exemplo japonês, que, com uma política industrial activa (assente nos mecanismos de fornecimento de crédito), uma estrutura institucional eficiente em relação à acumulação de capital e inovação e uma correcta interligação entre sector público e privado conseguiu num curto espaço de tempo um desenvolvimento sustentado. A importância da definição das áreas em que o mercado actua melhor que o Estado não pode descurar os problemas da transição entre um e outro, bem como as prévias capacidades do capital humano, e o exemplo asiático demonstrou-o.
No que respeita à abolição de medidas proteccionistas também aqui a experiência asiática é factor de refutação dos dogmas de Washington; as medidas de apoio industrial dadas a sectores estratégicos nestas economias, em especial aos mais vulneráveis perante a competição externa, apresentou resultados indiscutivelmente positivos e vem reforçar a odeia de que a liberalização faz apenas sentido quando permite aumentar a capacidade de concorrência nas economias domésticas.
As medidas de estabilidade macroeconómica recomendadas pelos neo-liberais têm-se revelado indiferentes às realidades específicas de cada país, não considerando os “trade-offs” entre as medidas preconizadas nem estabelecendo prioridades e necessidades estruturais prévias à implementação das suas recomendações.
O professor H.J. Chang ,da Universidade de Cambridge, ao estudar o papel das instituições no desenvolvimento dos países, numa análise histórica, em duas obras de grande interesse_ “Intitutions and Economic Development in Historical Perspective” e “Kicking Away the Ladder”_ chega a algumas conclusões curiosas que permitem um olhar diferente sobre as receitas do «mainstream economics».
Sobre a evolução histórica do comércio livre no desenvolvimento dos países, Chang chega à interessante conclusão de que os países mais desenvolvidos não aderiram ao comércio livre durante o período em que encetaram os seus processos de desenvolvimento, mas antes utilizaram medidas proteccionistas, como tarifas aduaneiras ou subsídios, para defenderem as indústrias nascentes. Mais interessante é o desfasamento entre a realidade dos factos e a história imaginária das políticas comerciais de Inglaterra e EUA. Os neo-liberais alegam recorrentemente que estes países atingiram a liderança mundial pela adopção do livre comércio mas Chang demonstra que foram precisamente estes países os pioneiros e os maiores utilizadores de políticas intervencionistas, no comércio como na indústria, nos estágios iniciais do seu desenvolvimento.
Tomando as actividades de elevado valor acrescentado como fonte principal do processo de desenvolvimento económico, pela sua elevada produtividade, Chang constata que o défice nas actividades de ICT (tecnologias de informação e comunicação) não é ultrapassado por mecanismos naturais do mercado e que os países que atingiram a convergência económica utilizaram politicas proteccionistas nesta área, esta necessidade de proteger este sector está associado aos elevados riscos inerentes às actividades de ICT que não conseguem ser suportados numa fase inicial por privados, desta forma é necessário socializar esses riscos através de mecanismos políticos ou institucionais; isto não significa necessariamente que a protecção destes sectores garanta sucesso, existem condicionantes que influem no processo, como seja o nível de formação pré-existente dos trabalhadores e a rapidez com que se actue politicamente numa área que sofre transformações a grande velocidade.
Historicamente as evidências apontam claramente para a necessidade de proteger as indústrias nascentes nos sectores de ICT, e a isto junta-se o facto dos actuais países líderes continuarem a utilizar políticas proteccionistas em alguns sectores. São raros os países que não recorreram a estas medidas no seu processo de convergência económica. Não deixa de ser curioso que no século XIX a Inglaterra se tenha insurgido contra as políticas proteccionistas dos EUA e dos outros países convergentes, como não deixa de ser interessante verificar que assim que o processo de convergência económica é conseguido as economias anteriormente protegidas passem a exigir a inaplicabilidade de medidas de protecção às indústrias. Foi assim que sucedeu com os nossos amigos americanos.
As “ boas” políticas neo-liberais têm-se revelado um completo fracasso no que ao crescimento económico se refere. Foi argumentado pelos “gurus” do «Washington Consensus» que as reformas neo-liberais poderiam aumentar a desigualdade mas que gerariam superior crescimento económico e eficiência. Mesmo se esta concepção de desenvolvimento fosse aceitável (e em minha opinião não é), sacrificando a justiça social à eficiência económica, os números parecem confirmar que apenas o pior dos dois pontos foi conseguido, de facto é inegável o aumento da desigualdade no seio das sociedades mas por comparação com as décadas de 60 e 70, altura em que vigorava o Keynesianismo e as “más políticas”, o crescimento económico neo-liberal salda-se por uma evidente desaceleração. Mais uma vez são as estatísticas que o dizem.
De acordo com Weisbrot, co-director do «Center for Economic and Policy Research», na obra” The Emperor has no Growth: Declining Economic Growth Rates in the Era of Globalization” nos 116 países considerados no estudo (desenvolvidos e em vias de desenvolvimento) o PNB per capita cresceu a uma taxa média anual de 3,1% entre 1960 e 1980 e cresceu a uma taxa média anual de 1,4% entre 1980 e 2000( os anos dourados do neo-liberalismo).O PNB per capita cresceu 2,8% por ano nos países da América Latina durante o período 1960-1980 contra 0.3% entre 1980-2000.Caiu na África sub-Sahariana em 15% entre 1980 e 2000 quando havia crescido 36% entre 1960 e 1980.
Segundo Stiglitz( Nobel da economia em 2001) das 19 economias por ele consideradas na Europa de leste( dos antigos regimes comunistas) só o PNB da Polónia excedeu o de 1989, ano em que iniciou o processo de transição. Nos restantes 18 países, o PNB per capita em 1997 era, em média, inferior ao de 1989 em 40%, sendo que apenas em 5 países (Roménia, Uzbequistão, República Checa, Hungria e Eslováquia) o PNB per capita era superior a 80% do nível apresentado em 1989.
Foram os países que rejeitaram a receita neo-liberal que conseguiram de facto alcançar um desenvolvimento relevante, para além do caso japonês e Coreano, o caso chinês parece confirmar a tendência, rejeitando as prescrições das boas políticas liberais a China vem assumindo progressivamente um papel de destaque na cena económica internacional, não restando já dúvidas de que terá um papel fundamental no futuro próximo (aludindo a Alain Peyrefitte, é indiscutível que a China despertou).
A conclusão que aparentemente se retira daqui é que o modelo neo-liberal serve os interesses de países que já atingiram altos patamares de desenvolvimento e que estão então em condições de utilizar o cenário que o neo-liberalismo fornece para manter posições hegemónicas, com destaque para uma minoria liderada pelos EUA e com o restante mundo anglo-saxónico como suporte, que tendo atingido um estádio de liderança mundial se servem conscientemente de instituições internacionais para impor aos restantes países modelos de desenvolvimento que abrem as economias mais débeis às multinacionais dos países líderes. A abertura das economias mais débeis e a implementação das “boas” receitas liberais são a contrapartida dos fundos de ajuda ao desenvolvimento, num ciclo vicioso que tem tornado cada vez mais dependentes as economias mais fracas. É também de salientar que tem sido precisamente nas áreas de ICT que a pressão de liberalização mais se tem feito sentir…Quando, olhando para o passado, constatamos que os países que actualmente dominam a economia, utilizaram medidas de protecção aos seus sectores estratégicos durante o período em que eles próprios podiam ser considerados países em vias de desenvolvimento, temos razões para indagar por que recusam agora essas fórmulas para os outros. A resposta é óbvia, este é o modelo que lhes garante, muito em particular aos EUA e Inglaterra, a posição dominante.
sexta-feira, março 25, 2005
Em defesa do movimento identitário
Eu sou um nacionalista-identitário…
Na realidade torna-se necessário colocar a questão nestes termos pois o conceito de nacionalismo não é monolítico e não pretendo dispor do monopólio da sua boa utilização. É natural que dentro do movimento nacionalista existam divergências ideológicas, é assim com qualquer movimento político , existe sempre a esfera inerente ao indivíduo, subjectiva, que dá azo a interpretações diferentes do que se pretende alcançar. Aliás, mesmo no movimento identitário existirão divergências quanto à melhor forma de construir o futuro, próprias de qualquer movimento que agregue um grupo de indivíduos, mas existe um conjunto de princípios comuns sobre os quais assenta o combate identitário que não são passíveis de discussão porque são o seu corpo fundador, a raiz da sua visão de sociedade e mundo, e são esses princípios que unem numa luta comum os identitários. A ideia central que suporta e distingue o identitarismo é a ideia de nação, mas a nação encontrada no seu conceito original e essencialmente aí.
A palavra “nação” descende de “natio” que significa nascer, por sua vez descende do substantivo, em latim, "nationen" cujo significado é “raça” ou “casta”. Significado similar ao de “ta ethe”, em grego, cujo sentido servia para estabelecer uma distinção com os estrangeiros, e também por isso pressupunha uma componente cultural exclusiva. A utilização primeira da palavra “nação” na língua inglesa tinha um conteúdo semântico que designava um grupo de pessoas unidas por laços de sangue, a sua utilização para descrever um grupo de indivíduos habitantes de uma mesma região independentemente da conceitualização étnica assente na ascendência comum surgiu muito mais tarde. Desta forma surge uma distinção entre o conceito de Estado e o conceito de Nação. Esta distinção é clara para um identitário, separa-o aliás de outras correntes nacionalistas. É na lógica que vem da explicação anterior que um identitário compreende, para dar um exemplo, que o povo judeu constituísse uma nação mesmo sem ter terra, ou se preferirem, sem a existência do Estado de Israel.
O cerne do pensamento identitário está aqui, o identitário funda no primórdio do conceito de nação, na sua significância pura, na sua génese, limpa do desvirtuamento moderno, a base, o alicerce do seu nacionalismo. Que fique claro, o nacionalismo-identitário não esquece a raiz étnica que é o âmago da nação e o verdadeiro factor da sua continuidade e existência futura; ou seja, não sendo a identidade étnica a definir única e exclusivamente a nação, esta não existe, no entanto, sem essa identidade.
A compreensão disto leva automaticamente à compreensão de duas realidades que marcam o pensamento identitário português. Primeiro, ao percepcionar a nação no seu fundamento original, um identitário não pode olhar para o fim do Império como a perda de parte nuclear da nação, perdeu-se parte daquilo que era o Estado português, e pelo que referi atrás, Estado e Nação não significam o mesmo, visto que o primeiro é essencialmente um conceito político ou jurídico e o segundo antecede a esfera da lei. Não significa que se considere irrelevante ou indiferente a perda de parte do território português mas antes que a nação não deixou de existir ou fazer sentido por isso; na exacta medida em que o seu cerne se manteve intacto, o povo e espaço europeu original.
Segundo, compreende-se por que razão o movimento identitário tende a criar sinergias europeístas, é precisamente pelo facto dos povos europeus partilharem uma herança étnica, um legado civilizacional, terem enfrentado no passado lutas comuns (que dividiram a Europa na medida em que foram ganhas nuns lados e perdidas noutros), enfrentarem no presente problemas semelhantes e também pela consciência de que na actualidade a geopolítica implica da parte dos europeus uma partilha de posições em “áreas-chave” se quiserem enfrentar os problemas que se adivinham ou que já existem assumindo um papel próprio. Numa era em que o Mundo está cada vez mais dividido em grandes blocos espaciais, uma Europa de pequenas nações a remoer antagonismos e quezílias passadas não terá poder algum para se opor à hegemonia americana ou à ascensão chinesa, não só politicamente como economicamente, e todas as nações europeias sofrerão com isso.
É determinante, no entanto, ter plena consciência de que esta U.E nada tem a ver com o ideal identitário, na medida em que não pugna pela preservação da identidade europeia, pela sua emancipação face a culturas estranhas à Europa, é centralizadora e não revela qualquer ambição de revitalização do espírito primordial europeu. Diria que é quase a negação do movimento identitário.
É preciso afirmar que a Europa identitária é uma Europa das nações e que pela realização particular das suas nações realiza-se enquanto realidade colectiva. E convém explicar o que se entende por isto. Em boa verdade, a Europa das pátrias ou das nações que o movimento identitário defende não é mais que a consequência lógica de um princípio fundamental do identitarismo: o principio da subsidariedade, que advoga a gestão localizada, descentralizada, dos problemas. A tomada de decisão é um processo que é delegado em instâncias superiores apenas quando houver incapacidade, impossibilidade ou desvantagem em ser empreendido ao nível da comunidade. Este princípio está correlacionado com a visão comunitária do identitarismo. Naturalmente a consequência lógica destes pressupostos implica o “Estado-Nação” como uma inevitabilidade, legítimo representante da comunidade nacional perante a “Europa-Potência”, uma comunidade (nação) que se quer organicamente coesa para que possa ser funcional e que por isso implica necessariamente uma identidade de estirpe, cultural, linguística, tradicional.
A descentralização de poderes e plena autonomia decisora das nações( e a uma outra escala no interior destas) no que concerne às suas culturas, tradições e mecanismos sociais específicos deve ser a base do funcionamento da Europa, passando para um nível supranacional a concertação ou união efectiva nas áreas que estejam relacionadas com “macro-realidades” políticas e económicas e que exijam inevitavelmente uma posição comum em ordem a beneficiar o espaço europeu como um todo, sejam por exemplo os casos de coordenação na investigação cientifica em áreas onde a detenção de patentes fora do sector privado possa trazer benefícios (como a saúde), uma agenda ecológica comum, o desenvolvimento de uma força militar (permitindo sair progressivamente da dependência americana/judaica), uma política de controlo de fronteiras intransigente e partilhada, a coordenação fiscal de forma a permitir uma concorrência justa intra-europeia atendendo às especificidades estruturais de cada economia, o estabelecimento de medidas de protecção comercial face ao exterior, etc.
Naturalmente essa Europa não pode permitir a concessão do direito de nacionalidade a cidadãos não europeus e deve funcionar como um bloco comercial tutelado, daí a necessidade de, como defende Maurice Allais (Nobel da economia em 1988), estabelecer um mercado de livre concorrência no espaço europeu mas protegido face aos mercados externos. Allais vai até mais longe e afirma peremptoriamente que a liberalização comercial só é possível, vantajosa e desejável num espaço regional de um grupo de países coordenados económica e politicamente, com economias razoavelmente próximas e nunca à escala mundial, como preconiza o modelo implementado desde os acordos do GATT e que tem sido ferramenta essencial na manutenção da hegemonia americana (e a uma escala menor inglesa) no mundo.
Portugal não terá de abdicar da defesa dos seus interesses específicos, caber-nos-á naturalmente um papel importante na ligação comercial e diplomática com a África lusófona, mas estritamente nesses termos e nunca com vista a qualquer projecto de integração política ou social de qualquer tipo, exactamente o mesmo papel que caberá à França na relação com a África francófona. A Portugal, pela sua posição atlântica estratégica, caberá também um importante papel na ligação da Europa ao continente americano, e muito em particular ao seu extremo sul, onde vivem milhões de europeus que falam português, muitos dos quais de ascendência lusa. A existência de coordenação na política externa europeia não implica qualquer diminuição da nossa capacidade de intervenção nos mercados onde detemos vantagens naturais que não advenham de inaptidão própria, e essa só responsabiliza os próprios portugueses.
Nacionalistas porque compreendemos o substrato étnico fundador da nação, nacionalistas porque respeitamos a nossa história mas queremos assegurar o nosso futuro, nacionalistas porque procuramos o bem-estar dos portugueses (culturalmente, socialmente, economicamente), nacionalistas porque defendemos valores e instituições estruturantes de qualquer comunidade saudável, nacionalistas porque rejeitamos dogmas económicos, pretendendo colocar a economia ao serviço do homem e da comunidade e não o inverso. Nacionalistas porque compreendemos que a ideia de desenvolvimento pressupõe a expansão das capacidades humanas( um conceito desenvolvido por Amartya Sen_ Nobel da economia em 1998) e não meramente o crescimento do PIB, indicador que aliás não considera o crescimento de desigualdades e a exclusão no seio das sociedades; nacionalistas porque procuramos a colaboração harmoniosa e a cooperação instintiva naturais nas sociedades unidas por um sentimento de cultura ancestral e ligação biológica como estudado na teoria sociológica de Ferdinand Tonnies( a sua gemeinschaft), que explica como as sociedades coesas pela unidade orgânica funcionam naturalmente de forma mais solidária. Identitários porque acreditamos que tudo isto é hoje realizável pela lógica, inevitável e desejável cooperação entre os povos da Europa sem abdicarem da sua especificidade.
Na realidade torna-se necessário colocar a questão nestes termos pois o conceito de nacionalismo não é monolítico e não pretendo dispor do monopólio da sua boa utilização. É natural que dentro do movimento nacionalista existam divergências ideológicas, é assim com qualquer movimento político , existe sempre a esfera inerente ao indivíduo, subjectiva, que dá azo a interpretações diferentes do que se pretende alcançar. Aliás, mesmo no movimento identitário existirão divergências quanto à melhor forma de construir o futuro, próprias de qualquer movimento que agregue um grupo de indivíduos, mas existe um conjunto de princípios comuns sobre os quais assenta o combate identitário que não são passíveis de discussão porque são o seu corpo fundador, a raiz da sua visão de sociedade e mundo, e são esses princípios que unem numa luta comum os identitários. A ideia central que suporta e distingue o identitarismo é a ideia de nação, mas a nação encontrada no seu conceito original e essencialmente aí.
A palavra “nação” descende de “natio” que significa nascer, por sua vez descende do substantivo, em latim, "nationen" cujo significado é “raça” ou “casta”. Significado similar ao de “ta ethe”, em grego, cujo sentido servia para estabelecer uma distinção com os estrangeiros, e também por isso pressupunha uma componente cultural exclusiva. A utilização primeira da palavra “nação” na língua inglesa tinha um conteúdo semântico que designava um grupo de pessoas unidas por laços de sangue, a sua utilização para descrever um grupo de indivíduos habitantes de uma mesma região independentemente da conceitualização étnica assente na ascendência comum surgiu muito mais tarde. Desta forma surge uma distinção entre o conceito de Estado e o conceito de Nação. Esta distinção é clara para um identitário, separa-o aliás de outras correntes nacionalistas. É na lógica que vem da explicação anterior que um identitário compreende, para dar um exemplo, que o povo judeu constituísse uma nação mesmo sem ter terra, ou se preferirem, sem a existência do Estado de Israel.
O cerne do pensamento identitário está aqui, o identitário funda no primórdio do conceito de nação, na sua significância pura, na sua génese, limpa do desvirtuamento moderno, a base, o alicerce do seu nacionalismo. Que fique claro, o nacionalismo-identitário não esquece a raiz étnica que é o âmago da nação e o verdadeiro factor da sua continuidade e existência futura; ou seja, não sendo a identidade étnica a definir única e exclusivamente a nação, esta não existe, no entanto, sem essa identidade.
A compreensão disto leva automaticamente à compreensão de duas realidades que marcam o pensamento identitário português. Primeiro, ao percepcionar a nação no seu fundamento original, um identitário não pode olhar para o fim do Império como a perda de parte nuclear da nação, perdeu-se parte daquilo que era o Estado português, e pelo que referi atrás, Estado e Nação não significam o mesmo, visto que o primeiro é essencialmente um conceito político ou jurídico e o segundo antecede a esfera da lei. Não significa que se considere irrelevante ou indiferente a perda de parte do território português mas antes que a nação não deixou de existir ou fazer sentido por isso; na exacta medida em que o seu cerne se manteve intacto, o povo e espaço europeu original.
Segundo, compreende-se por que razão o movimento identitário tende a criar sinergias europeístas, é precisamente pelo facto dos povos europeus partilharem uma herança étnica, um legado civilizacional, terem enfrentado no passado lutas comuns (que dividiram a Europa na medida em que foram ganhas nuns lados e perdidas noutros), enfrentarem no presente problemas semelhantes e também pela consciência de que na actualidade a geopolítica implica da parte dos europeus uma partilha de posições em “áreas-chave” se quiserem enfrentar os problemas que se adivinham ou que já existem assumindo um papel próprio. Numa era em que o Mundo está cada vez mais dividido em grandes blocos espaciais, uma Europa de pequenas nações a remoer antagonismos e quezílias passadas não terá poder algum para se opor à hegemonia americana ou à ascensão chinesa, não só politicamente como economicamente, e todas as nações europeias sofrerão com isso.
É determinante, no entanto, ter plena consciência de que esta U.E nada tem a ver com o ideal identitário, na medida em que não pugna pela preservação da identidade europeia, pela sua emancipação face a culturas estranhas à Europa, é centralizadora e não revela qualquer ambição de revitalização do espírito primordial europeu. Diria que é quase a negação do movimento identitário.
É preciso afirmar que a Europa identitária é uma Europa das nações e que pela realização particular das suas nações realiza-se enquanto realidade colectiva. E convém explicar o que se entende por isto. Em boa verdade, a Europa das pátrias ou das nações que o movimento identitário defende não é mais que a consequência lógica de um princípio fundamental do identitarismo: o principio da subsidariedade, que advoga a gestão localizada, descentralizada, dos problemas. A tomada de decisão é um processo que é delegado em instâncias superiores apenas quando houver incapacidade, impossibilidade ou desvantagem em ser empreendido ao nível da comunidade. Este princípio está correlacionado com a visão comunitária do identitarismo. Naturalmente a consequência lógica destes pressupostos implica o “Estado-Nação” como uma inevitabilidade, legítimo representante da comunidade nacional perante a “Europa-Potência”, uma comunidade (nação) que se quer organicamente coesa para que possa ser funcional e que por isso implica necessariamente uma identidade de estirpe, cultural, linguística, tradicional.
A descentralização de poderes e plena autonomia decisora das nações( e a uma outra escala no interior destas) no que concerne às suas culturas, tradições e mecanismos sociais específicos deve ser a base do funcionamento da Europa, passando para um nível supranacional a concertação ou união efectiva nas áreas que estejam relacionadas com “macro-realidades” políticas e económicas e que exijam inevitavelmente uma posição comum em ordem a beneficiar o espaço europeu como um todo, sejam por exemplo os casos de coordenação na investigação cientifica em áreas onde a detenção de patentes fora do sector privado possa trazer benefícios (como a saúde), uma agenda ecológica comum, o desenvolvimento de uma força militar (permitindo sair progressivamente da dependência americana/judaica), uma política de controlo de fronteiras intransigente e partilhada, a coordenação fiscal de forma a permitir uma concorrência justa intra-europeia atendendo às especificidades estruturais de cada economia, o estabelecimento de medidas de protecção comercial face ao exterior, etc.
Naturalmente essa Europa não pode permitir a concessão do direito de nacionalidade a cidadãos não europeus e deve funcionar como um bloco comercial tutelado, daí a necessidade de, como defende Maurice Allais (Nobel da economia em 1988), estabelecer um mercado de livre concorrência no espaço europeu mas protegido face aos mercados externos. Allais vai até mais longe e afirma peremptoriamente que a liberalização comercial só é possível, vantajosa e desejável num espaço regional de um grupo de países coordenados económica e politicamente, com economias razoavelmente próximas e nunca à escala mundial, como preconiza o modelo implementado desde os acordos do GATT e que tem sido ferramenta essencial na manutenção da hegemonia americana (e a uma escala menor inglesa) no mundo.
Portugal não terá de abdicar da defesa dos seus interesses específicos, caber-nos-á naturalmente um papel importante na ligação comercial e diplomática com a África lusófona, mas estritamente nesses termos e nunca com vista a qualquer projecto de integração política ou social de qualquer tipo, exactamente o mesmo papel que caberá à França na relação com a África francófona. A Portugal, pela sua posição atlântica estratégica, caberá também um importante papel na ligação da Europa ao continente americano, e muito em particular ao seu extremo sul, onde vivem milhões de europeus que falam português, muitos dos quais de ascendência lusa. A existência de coordenação na política externa europeia não implica qualquer diminuição da nossa capacidade de intervenção nos mercados onde detemos vantagens naturais que não advenham de inaptidão própria, e essa só responsabiliza os próprios portugueses.
Nacionalistas porque compreendemos o substrato étnico fundador da nação, nacionalistas porque respeitamos a nossa história mas queremos assegurar o nosso futuro, nacionalistas porque procuramos o bem-estar dos portugueses (culturalmente, socialmente, economicamente), nacionalistas porque defendemos valores e instituições estruturantes de qualquer comunidade saudável, nacionalistas porque rejeitamos dogmas económicos, pretendendo colocar a economia ao serviço do homem e da comunidade e não o inverso. Nacionalistas porque compreendemos que a ideia de desenvolvimento pressupõe a expansão das capacidades humanas( um conceito desenvolvido por Amartya Sen_ Nobel da economia em 1998) e não meramente o crescimento do PIB, indicador que aliás não considera o crescimento de desigualdades e a exclusão no seio das sociedades; nacionalistas porque procuramos a colaboração harmoniosa e a cooperação instintiva naturais nas sociedades unidas por um sentimento de cultura ancestral e ligação biológica como estudado na teoria sociológica de Ferdinand Tonnies( a sua gemeinschaft), que explica como as sociedades coesas pela unidade orgânica funcionam naturalmente de forma mais solidária. Identitários porque acreditamos que tudo isto é hoje realizável pela lógica, inevitável e desejável cooperação entre os povos da Europa sem abdicarem da sua especificidade.
terça-feira, março 22, 2005
O paradoxo da globalização
Se te concentras neles, os anti-G8 são a esquerda em movimento: anarquistas, marxistas, radicais, católicos rebeldes ou progressistas, pacifistas, verdes, revolucionários. Centros sociais, artistas de rua, bandeiras vermelhas.Com o complemento iconográfico de Marcos e Ché Guevara .Rapidamente te apercebes que nenhum deles põe em discussão o Dogma Global, a interdependência dos povos e das culturas, o “melting pot” e a sociedade multirracial, o fim das pátrias. São internacionalistas, humanitários, “ecuménicos”, globalistas. E acresce: quanto mais extremistas e violentos são, mais internacionalistas e anti-tradicionais se apresentam.
Ou seja, quanto mais se opõem à globalização mais partilham da sua meta final. Por mais, o Manifesto de Marx e Engels é um elogio total da globalização, a cargo da burguesia e do capital, que rompe os vínculos territoriais e religiosos, étnicos e familiares e liberta da tradição. E nas cimeiras anteriores os presidentes dos países mais industrializados eram quase todos de tendência progressista e proviam da geração de 68, desde Clinton aos nossos próprios lideres, que sonhavam em transformar o G8 numa coligação de esquerdas planetária. Todos optimistas do G8.
Onde estão então os verdadeiros inimigos da globalização? Estão na direita, caros amigos. Aí, e não só desde hoje, combate-se o “mundialismo” e o internacionalismo, a morte das identidades locais e nacionais. Se é verdade, como afirmam muitos pensadores, que a próxima alternativa será entre o universalismo e o particularismo, entre globalidade e diferenças, entre cosmopolitismo e comunidade, então os antagonistas da globalização estão na direita.Com os conservadores e os nacionalistas, com os tradicionalistas e os anti-modernos, mas também no âmbito da nova direita de Alain de Benoist e Guillaume Faye e dos movimentos localizados e populistas.
Existe uma rica literatura de direita que há tempo critica radicalmente a globalização e as suas consequências: o domínio da técnica e da economia financeira em detrimento da política e da religião. É na direita que se reúne a resposta populista às oligarquias transnacionais. É na direita que as tradições se opõem à sociedade global sem raízes. É na direita que se teme a imposição de um pensamento único e uma sociedade uniforme e se denuncia a globalização como um mal em si mesmo; enquanto à esquerda denuncia-se que a globalização não estende os benefícios económicos à humanidade mas apenas a uns poucos. Ou seja, não se denuncia o seu efeito de desenraizamento sobre as culturas tradicionais e as identidades, mas tão-somente que não seja uma globalização dos “direitos humanos”.
Em Génova consuma-se, pois, um paradoxo: uns poucos homens de direita, entre agricultores, artesãos e tradicionalistas opondo-se ao G8 de modo débil e marginal mas com propósitos fortes e radicais, e muita gente de esquerda opondo-se de modo vistoso e radical a uma globalização que, no fundo, compartilha. Em Génova a maldição de Colombo faz-se às inversas: Ele zarpou para as índias e descobriu a América, estes sonham com um mundo novo mas descobrem as velhas índias.
Marcello Veneziani
Ou seja, quanto mais se opõem à globalização mais partilham da sua meta final. Por mais, o Manifesto de Marx e Engels é um elogio total da globalização, a cargo da burguesia e do capital, que rompe os vínculos territoriais e religiosos, étnicos e familiares e liberta da tradição. E nas cimeiras anteriores os presidentes dos países mais industrializados eram quase todos de tendência progressista e proviam da geração de 68, desde Clinton aos nossos próprios lideres, que sonhavam em transformar o G8 numa coligação de esquerdas planetária. Todos optimistas do G8.
Onde estão então os verdadeiros inimigos da globalização? Estão na direita, caros amigos. Aí, e não só desde hoje, combate-se o “mundialismo” e o internacionalismo, a morte das identidades locais e nacionais. Se é verdade, como afirmam muitos pensadores, que a próxima alternativa será entre o universalismo e o particularismo, entre globalidade e diferenças, entre cosmopolitismo e comunidade, então os antagonistas da globalização estão na direita.Com os conservadores e os nacionalistas, com os tradicionalistas e os anti-modernos, mas também no âmbito da nova direita de Alain de Benoist e Guillaume Faye e dos movimentos localizados e populistas.
Existe uma rica literatura de direita que há tempo critica radicalmente a globalização e as suas consequências: o domínio da técnica e da economia financeira em detrimento da política e da religião. É na direita que se reúne a resposta populista às oligarquias transnacionais. É na direita que as tradições se opõem à sociedade global sem raízes. É na direita que se teme a imposição de um pensamento único e uma sociedade uniforme e se denuncia a globalização como um mal em si mesmo; enquanto à esquerda denuncia-se que a globalização não estende os benefícios económicos à humanidade mas apenas a uns poucos. Ou seja, não se denuncia o seu efeito de desenraizamento sobre as culturas tradicionais e as identidades, mas tão-somente que não seja uma globalização dos “direitos humanos”.
Em Génova consuma-se, pois, um paradoxo: uns poucos homens de direita, entre agricultores, artesãos e tradicionalistas opondo-se ao G8 de modo débil e marginal mas com propósitos fortes e radicais, e muita gente de esquerda opondo-se de modo vistoso e radical a uma globalização que, no fundo, compartilha. Em Génova a maldição de Colombo faz-se às inversas: Ele zarpou para as índias e descobriu a América, estes sonham com um mundo novo mas descobrem as velhas índias.
Marcello Veneziani
domingo, março 20, 2005
Essa estranha espécie de salazaristas reciclados
A recente ideia que surgiu em alguns sectores da sociedade civil e classe política portuguesa de propor a entrada de Cabo Verde para a União Europeia deve permitir uma reflexão sobre o movimento nacionalista português e as suas correntes.
A entrada de um país africano na UE mereceu em Portugal o apoio de figuras aparentemente tão distantes politicamente como Mário Soares e Adriano Moreira e, a uma escala diferente, por força do seu ziguezagueante trajecto pessoal e político, de Freitas do Amaral, que actualmente já não se sabe bem de quem se distancia ou aproxima. Será esta posição comum do socialista Soares com o ex-ministro de Salazar assim tão surpreendente? Será contra-natura? Terá Adriano Moreira traído os seus valores primeiros? A resposta óbvia é não! Esta convergência de visões não é de todo surpreendente e a explicação encontra-se na própria natureza do salazarismo.
Em Maio de 1926 o exército português acabou com a anarquia reinante desde a constituição de 1911 preparando caminho para a subida de Salazar ao poder. Com Salazar Portugal conheceu um período de estabilidade e ordem que há muito faltavam na nação. Não tenho dúvidas em considerar, na generalidade, como positiva e necessária a acção governativa do professor Oliveira Salazar, embora não visionária; porém radica na sua acção governativa e nos princípios que a guiaram as razões que explicam tanto a natureza peculiar do 25 de Abril, como a convergência recente de posições entre Adriano Moreira e Soares ou, mais genericamente, a persistência de uma visão africanista em alguns auto-proclamados nacionalistas portugueses.
Ao contrário do que pressupõe a berraria da esquerda, o Estado Novo nunca foi fascista, aliás, todos conhecemos a facilidade com que a esquerda cataloga os seus adversários com as mais estapafúrdias definições, e só aos olhos dessa gente cega pelo marxismo ou pelo ideal da revolução francesa se poderia classificar um regime como o salazarismo de fascista; na realidade será consensual entre quem pense esta questão com mínima isenção e conhecimento a ideia de que o Estado Novo foi um regime autoritário e de matriz conservadora-cristã, um regime essencialmente pragmático e não propriamente romântico, como é da natureza fascista.
É aqui que interessa definir fronteiras, sob pena de, à família fascista, se juntarem erradamente todos os tipos de regime autoritários que não de inspiração marxista, não só o salazarismo como o próprio regime de Franco ou de Pinochet são muitas vezes englobados no fascismo, para citar alguns exemplos vulgarmente referenciados.
Giorgio Locchi define sucinta e correctamente o que caracteriza o fascismo; o fascismo é, mais do que as formas práticas em que se realizou, um conjunto de ideias e valores que principiam na influência cultural de Wagner e sobretudo no impacto da filosofia de Nietzsche, e muito em particular do seu conceito de superação humana e rejeição dos valores liberais e igualitários. A isto se junta a ideia de regresso a um passado mítico que representará ao mesmo tempo o objectivo a perseguir para a construção do futuro que é definidor da valoração fascista. Esse passado mítico que será perseguido para a construção do futuro radica no mundo indo-europeu e consequentemente é exclusivo desse mundo, também porque o fascismo tem as suas referências culturais e intelectuais restritas às elites europeias que rejeitaram o espírito igualitarista. Comum ao pensamento fascista é o combate a uma decadência da Europa que há muito se antevia.
A questão central é que o fascismo não é uma forma de regime ou um sistema de governo, a associação imediata que o homem faz perante a palavra fascismo é de opressão, tirania ou ditadura, confunde o fascismo com meros sistemas de governação mas não lhe conhece os princípios, e ajudado pela histeria da extrema-esquerda (que aparece sempre como imaculada dos seus crimes e do seu próprio passado) e do liberalismo (cujas carnificinas são sempre justificadas em nome da defesas dos direitos humanos) considera fascista quase tudo o que se oponha à visão “politicamente correcta” do mundo. Os regimes que no passado se pretenderam herdeiros dos princípios fascistas foram formas de acção às quais estava inerente uma visão revolucionária (e no entanto natural) do homem e da sociedade, mas outros movimentos houve que defendendo valores semelhantes e um ideal comum nunca foram governo, acção ou prática.
O que sucede é que o salazarismo, sendo um regime anti-democrático e autoritário nunca foi um regime fascista, porque não teve na sua origem a ética e a concepção fascista do mundo e da sociedade, essa concepção revolucionária, essa procura de refundação num mítico passado longínquo. Não houve nenhuma real revolução societária idealizada pelo salazarismo. Foi na realidade o mais bem sucedido dos regimes conservadores autoritários e é aí que deve ficar definido.
É precisamente porque não houve com o salazarismo uma nova concepção da sociedade e do homem (apenas uma diferente organização) que não existe qualquer impossibilidade de antigos salazaristas conviverem tranquilamente e partilharem posições com homens como Mário Soares e seus comparsas socialistas, com liberais clássicos e com sociais-democratas.
Ao salazarismo faltou sempre a compreensão da exclusividade europeia dos valores do fascismo e nem poderia ser doutra forma; o nosso passado histórico próximo tinha sido erguido fora da Europa e ao tempo era o passado construído a partir dos descobrimentos que selava a importância de Portugal no Mundo. A defesa desse passado mais imediato que fora a origem do Império chocava com a ideia de procurar um regresso ao espírito ancestral dos nossos fundadores e às nossas origens mais remotas, a ideia de decadência da Europa que se revelava a força motriz da luta dos nacionalistas noutros pontos do Continente fazia pouco sentido para um país que há séculos vivia razoavelmente indiferente aos destinos dessa Europa.
A absurda ideia de propor a entrada de Cabo Verde na União Europeia vem no seguimento de tudo isto, entronca na ideia de construção europeia que está ser seguida e é reflexo da vivência de uma geração, e resultante mentalidade, com a qual temos de cortar. Por um lado temos os socialistas e sociais-democratas, que, federalistas e orgulhosos herdeiros do iluminismo não terão objecções à entrada de nenhum país na UE, mesmo que não europeu, pelo simples facto de que não têm por valor ideológico a ideia de nação e por outro lado fazem parte das forças impulsionadoras da globalização. A estes juntar-se-ão alguns saudosistas africanistas que regozijam só de pensar na hipótese de reunirem debaixo da mesma entidade politica os territórios entretanto perdidos do Ultramar, uns e outros tem em comum a incompreensão do que significa a nação, uns porque rejeitam a ideia, outros porque sempre a viram como um conceito meramente jurídico e territorial e nada mais que isso. O que os opôs no passado não foi mais que um regime, uma prática governativa, a compreensão da essência europeia é-lhes estranha, tanto a uns como a outros.
A posição do socialista Soares é de certa forma esperada, e não representa mais que um olhar sobre a futura batalha que será travada por alguns burocratas de Bruxelas; a entrada na UE de países e povos totalmente estranhos à nossa realidade e a imposição aos europeus desta nova existência justificada pela crescente e sempre omnipresente causa da globalização e da tolerância multicultural, argumentando outros que esta abertura servirá a expansão dos interesses comerciais da Europa. Como se aos EUA por um lado, e à China e Índia por outro, fizesse realmente diferença numa economia cada vez mais aberta e liberalizada a extensão da Europa para lá das suas reais fronteiras; antes pelo contrário, a natural falta de coesão que daí advirá e a inexistência de uma identidade comum só enfraquecerá a capacidade estratégica da Europa. A entrada da Turquia será apenas o primeiro rombo no vínculo europeu, ao qual aparentemente se preparam outros, com a contribuição de alguns reconhecidos imbecis portugueses.
A adesão a esta ideia por parte de alguns «ex-salazaristas-sempre-africanistas-pretensos-nacionalistas» revela o que de pior ficou do Estado Novo, que não sendo da responsabilidade de Salazar_ que actuou à época em defesa do que considerou o melhor interesse da nação _, é, no entanto, resultado da própria natureza de um regime que nunca teve por base o espírito de uma «nova ordem social» ou que, no máximo, ficou sempre a meio caminho. Como tal, à excepção daqueles que realmente tiveram esse romantismo, muitos dos homens que vieram do Estado Novo mostram-se incapazes de afirmarem qualquer ideia coerente de nacionalismo; nuns ficou a nostalgia de um Império que lhes serviu interesses económicos particulares e noutros ficou um patriotismo que aparentemente nunca passou de uma noção geográfica e jurídica de Portugal, em nenhum deles houve alguma vez o entendimento do povo como elemento fundador e primeiro da nação. A ideia de que Portugal existia antes dos descobrimentos ser-lhes-á desconhecida ou aberrante tal como lhes é inaceitável a compreensão de que a história não se apaga e não voltaremos a ser uma potência imperial, quanto muito,seguindo este caminho, passaremos a ser uma nação colonizada pelos antigos colonizados, estes com total liberdade de entrada no espaço europeu ou mais concretamente português, com o contributo de alguns iluminados cá do burgo.
A entrada de um país africano na UE mereceu em Portugal o apoio de figuras aparentemente tão distantes politicamente como Mário Soares e Adriano Moreira e, a uma escala diferente, por força do seu ziguezagueante trajecto pessoal e político, de Freitas do Amaral, que actualmente já não se sabe bem de quem se distancia ou aproxima. Será esta posição comum do socialista Soares com o ex-ministro de Salazar assim tão surpreendente? Será contra-natura? Terá Adriano Moreira traído os seus valores primeiros? A resposta óbvia é não! Esta convergência de visões não é de todo surpreendente e a explicação encontra-se na própria natureza do salazarismo.
Em Maio de 1926 o exército português acabou com a anarquia reinante desde a constituição de 1911 preparando caminho para a subida de Salazar ao poder. Com Salazar Portugal conheceu um período de estabilidade e ordem que há muito faltavam na nação. Não tenho dúvidas em considerar, na generalidade, como positiva e necessária a acção governativa do professor Oliveira Salazar, embora não visionária; porém radica na sua acção governativa e nos princípios que a guiaram as razões que explicam tanto a natureza peculiar do 25 de Abril, como a convergência recente de posições entre Adriano Moreira e Soares ou, mais genericamente, a persistência de uma visão africanista em alguns auto-proclamados nacionalistas portugueses.
Ao contrário do que pressupõe a berraria da esquerda, o Estado Novo nunca foi fascista, aliás, todos conhecemos a facilidade com que a esquerda cataloga os seus adversários com as mais estapafúrdias definições, e só aos olhos dessa gente cega pelo marxismo ou pelo ideal da revolução francesa se poderia classificar um regime como o salazarismo de fascista; na realidade será consensual entre quem pense esta questão com mínima isenção e conhecimento a ideia de que o Estado Novo foi um regime autoritário e de matriz conservadora-cristã, um regime essencialmente pragmático e não propriamente romântico, como é da natureza fascista.
É aqui que interessa definir fronteiras, sob pena de, à família fascista, se juntarem erradamente todos os tipos de regime autoritários que não de inspiração marxista, não só o salazarismo como o próprio regime de Franco ou de Pinochet são muitas vezes englobados no fascismo, para citar alguns exemplos vulgarmente referenciados.
Giorgio Locchi define sucinta e correctamente o que caracteriza o fascismo; o fascismo é, mais do que as formas práticas em que se realizou, um conjunto de ideias e valores que principiam na influência cultural de Wagner e sobretudo no impacto da filosofia de Nietzsche, e muito em particular do seu conceito de superação humana e rejeição dos valores liberais e igualitários. A isto se junta a ideia de regresso a um passado mítico que representará ao mesmo tempo o objectivo a perseguir para a construção do futuro que é definidor da valoração fascista. Esse passado mítico que será perseguido para a construção do futuro radica no mundo indo-europeu e consequentemente é exclusivo desse mundo, também porque o fascismo tem as suas referências culturais e intelectuais restritas às elites europeias que rejeitaram o espírito igualitarista. Comum ao pensamento fascista é o combate a uma decadência da Europa que há muito se antevia.
A questão central é que o fascismo não é uma forma de regime ou um sistema de governo, a associação imediata que o homem faz perante a palavra fascismo é de opressão, tirania ou ditadura, confunde o fascismo com meros sistemas de governação mas não lhe conhece os princípios, e ajudado pela histeria da extrema-esquerda (que aparece sempre como imaculada dos seus crimes e do seu próprio passado) e do liberalismo (cujas carnificinas são sempre justificadas em nome da defesas dos direitos humanos) considera fascista quase tudo o que se oponha à visão “politicamente correcta” do mundo. Os regimes que no passado se pretenderam herdeiros dos princípios fascistas foram formas de acção às quais estava inerente uma visão revolucionária (e no entanto natural) do homem e da sociedade, mas outros movimentos houve que defendendo valores semelhantes e um ideal comum nunca foram governo, acção ou prática.
O que sucede é que o salazarismo, sendo um regime anti-democrático e autoritário nunca foi um regime fascista, porque não teve na sua origem a ética e a concepção fascista do mundo e da sociedade, essa concepção revolucionária, essa procura de refundação num mítico passado longínquo. Não houve nenhuma real revolução societária idealizada pelo salazarismo. Foi na realidade o mais bem sucedido dos regimes conservadores autoritários e é aí que deve ficar definido.
É precisamente porque não houve com o salazarismo uma nova concepção da sociedade e do homem (apenas uma diferente organização) que não existe qualquer impossibilidade de antigos salazaristas conviverem tranquilamente e partilharem posições com homens como Mário Soares e seus comparsas socialistas, com liberais clássicos e com sociais-democratas.
Ao salazarismo faltou sempre a compreensão da exclusividade europeia dos valores do fascismo e nem poderia ser doutra forma; o nosso passado histórico próximo tinha sido erguido fora da Europa e ao tempo era o passado construído a partir dos descobrimentos que selava a importância de Portugal no Mundo. A defesa desse passado mais imediato que fora a origem do Império chocava com a ideia de procurar um regresso ao espírito ancestral dos nossos fundadores e às nossas origens mais remotas, a ideia de decadência da Europa que se revelava a força motriz da luta dos nacionalistas noutros pontos do Continente fazia pouco sentido para um país que há séculos vivia razoavelmente indiferente aos destinos dessa Europa.
A absurda ideia de propor a entrada de Cabo Verde na União Europeia vem no seguimento de tudo isto, entronca na ideia de construção europeia que está ser seguida e é reflexo da vivência de uma geração, e resultante mentalidade, com a qual temos de cortar. Por um lado temos os socialistas e sociais-democratas, que, federalistas e orgulhosos herdeiros do iluminismo não terão objecções à entrada de nenhum país na UE, mesmo que não europeu, pelo simples facto de que não têm por valor ideológico a ideia de nação e por outro lado fazem parte das forças impulsionadoras da globalização. A estes juntar-se-ão alguns saudosistas africanistas que regozijam só de pensar na hipótese de reunirem debaixo da mesma entidade politica os territórios entretanto perdidos do Ultramar, uns e outros tem em comum a incompreensão do que significa a nação, uns porque rejeitam a ideia, outros porque sempre a viram como um conceito meramente jurídico e territorial e nada mais que isso. O que os opôs no passado não foi mais que um regime, uma prática governativa, a compreensão da essência europeia é-lhes estranha, tanto a uns como a outros.
A posição do socialista Soares é de certa forma esperada, e não representa mais que um olhar sobre a futura batalha que será travada por alguns burocratas de Bruxelas; a entrada na UE de países e povos totalmente estranhos à nossa realidade e a imposição aos europeus desta nova existência justificada pela crescente e sempre omnipresente causa da globalização e da tolerância multicultural, argumentando outros que esta abertura servirá a expansão dos interesses comerciais da Europa. Como se aos EUA por um lado, e à China e Índia por outro, fizesse realmente diferença numa economia cada vez mais aberta e liberalizada a extensão da Europa para lá das suas reais fronteiras; antes pelo contrário, a natural falta de coesão que daí advirá e a inexistência de uma identidade comum só enfraquecerá a capacidade estratégica da Europa. A entrada da Turquia será apenas o primeiro rombo no vínculo europeu, ao qual aparentemente se preparam outros, com a contribuição de alguns reconhecidos imbecis portugueses.
A adesão a esta ideia por parte de alguns «ex-salazaristas-sempre-africanistas-pretensos-nacionalistas» revela o que de pior ficou do Estado Novo, que não sendo da responsabilidade de Salazar_ que actuou à época em defesa do que considerou o melhor interesse da nação _, é, no entanto, resultado da própria natureza de um regime que nunca teve por base o espírito de uma «nova ordem social» ou que, no máximo, ficou sempre a meio caminho. Como tal, à excepção daqueles que realmente tiveram esse romantismo, muitos dos homens que vieram do Estado Novo mostram-se incapazes de afirmarem qualquer ideia coerente de nacionalismo; nuns ficou a nostalgia de um Império que lhes serviu interesses económicos particulares e noutros ficou um patriotismo que aparentemente nunca passou de uma noção geográfica e jurídica de Portugal, em nenhum deles houve alguma vez o entendimento do povo como elemento fundador e primeiro da nação. A ideia de que Portugal existia antes dos descobrimentos ser-lhes-á desconhecida ou aberrante tal como lhes é inaceitável a compreensão de que a história não se apaga e não voltaremos a ser uma potência imperial, quanto muito,seguindo este caminho, passaremos a ser uma nação colonizada pelos antigos colonizados, estes com total liberdade de entrada no espaço europeu ou mais concretamente português, com o contributo de alguns iluminados cá do burgo.
terça-feira, março 15, 2005
A força da palavra "racismo"
«__Uma coisa quero que compreendas, meu rapaz, é que eu não tenho nada a ver com tudo isto. Se fosse oportuno protestar, era eu o primeiro, mas não é oportuno. Há a questão da minha própria carreira, há a questão da fraqueza da minha voz, comparada à dos outros elementos mais influentes da administração. Estou a ser claro?»
«Disse o Dr. Brodsky para a audiência:
__O nosso cobaia está, percebem, programado para o Bem(…)»
Estes dois excertos são retirados de «A Laranja Mecânica» de Burgess; Alex estava agora programado para o Bem. Fizeram-lhe uma lavagem cerebral, drogaram-no, alteraram-lhe a estrutura cognitiva, criaram na cobaia humana um mecanismo de controlo das suas acções e pensamentos de tal forma eficaz que Alex se tornou incapaz de qualquer gesto, qualquer ideia, que não fosse conforme à definição de Bem estabelecida pelos seus regeneradores. A própria ideia de reagir e de se defender perante todo o tipo de enxovalhos tornou-se de tal forma impossível para ele que dores e náuseas insuportáveis o atingiam perante a vontade de o fazer, a simples imaginação de uma reacção provocava-lhe agora um tal mal-estar que Alex se via imediatamente forçado a parar de pensar no que fosse contra a ética dos que o haviam “reabilitado”.
«__Ele vai ser o cristão verdadeiro! __ gritava o Dr.Brodsky.__ Sempre a oferecer a outra face, a ser crucificado sempre, sem nunca crucificar, doente até à alma só de pensar em matar uma mosca!»
Em 1950 a população europeia constituía cerca de 22% da população mundial, numa Europa livre de imigração e onde, por consequência, esses 22% representavam de facto europeus, no sentido étnico. Hoje em dia a população europeia representa cerca de 12 % da população do planeta e desses 12% uma boa percentagem corresponde a imigrantes extra-europeus que entretanto adquiriram nacionalidade de países do Velho Continente ou aos seus descendentes, por volta de 2050 os estudos demográficos estimam que a população europeia represente 7% da população total, desses 7% quase metade não serão brancos, pertencerão à nova classe de europeus que vem sendo criada, europeus africanos e europeus asiáticos. Por volta de 2025 as estimativas dizem que entre 22% e 37% da população da U.E. será islâmica (sem fazerem sequer referência à provável entrada da Turquia no espaço europeu).
Tendo em consideração o cenário traçado pelo Eurostat, a ONU e a própria CIA, a Europa será por volta de 2100,muito provavelmente, um continente de maioria não branca.
O cenário demográfico que todos os estudos realizados apresentam seria passível de despertar nos europeus um sinal de alarme, isso, porém, não acontece, mas a razão principal não é o desconhecimento desta realidade, o motivo maior é outro.
Uma população europeia sã, consciente, preocupada com o seu futuro e conhecedora da sua herança, preocupada com as gerações vindouras, dotada de carácter, de espírito, de força moral, vontade de afirmação, capacidade de construir o seu futuro assente num passado que deveria ser motivo de orgulho para os europeus, pelo seu feito civilizacional, essa população europeia seria certamente capaz de lutar uma vez mais pelos seus valores, pela sua cultura e pela sua própria existência, como tantas vezes fez no passado. Uma qualquer nação europeia saudável entenderia que a ideia de nação pressupõe necessariamente a defesa de valores basilares, princípios que definem as fronteiras da própria concepção de nação; a identidade étnica, a identidade cultural, a tradição e uma ideia de continuidade para o futuro.
No entanto, a reacção dos europeus perante o realismo atroz dos cenários que se apresentam é inexistente ou quase nula. Porquê? Por que razão povos que no passado deram mostras de uma força interior e uma capacidade de luta inigualável parecem indiferentes face à sua progressiva caminhada para a extinção, face à criação, por via da imigração descontrolada, de nações estranhas dentro das suas fronteiras e face à progressiva descaracterização populacional das suas terras?
Não é uma questão de indiferença natural, que aliás de natural não teria nada, mas a revolta perante o que se passa no Velho Continente, em face da autêntica colonização de que somos alvo, sente-se silenciosamente, contida, como que incapaz de se libertar, a Europa, a verdadeira Europa, o seu povo portanto, quer gritar, quer reagir, aqui e ali observa-se isso, no entanto tornou-se incapaz de o fazer, já não sabe gritar, o som da sua revolta não é mais que um pequeno ruído imperceptível…que forças estão por detrás disto, quem conduziu as outrora orgulhosas nações europeias à patética figura que hoje fazem, quem transformou os europeus num bando de resignados e cobardes sem vontade ou capacidade de luta, comodistas cínicos e egoístas, imediatistas sem qualquer preocupação que não seja a sua satisfaçãozinha individual e momentânea?
As respostas a estas perguntas dariam um livro, as raízes da derrota europeia, que parece cada vez mais próxima, poderiam ser alvo das mais variadas análises, poder-se-iam encontrar razões históricas no iluminismo, na revolução francesa, mais recentemente na manipulação e culpabilização de que a Europa vem sendo alvo desde que a Alemanha perdeu a 2º Guerra Mundial ou no advento da nova globalização e da sua apresentação como algo de inevitável e intrinsecamente positivo. No fundo, sejam quais forem os factores ponderados, todos eles se encontram interligados por fenómenos de causalidade que desembocaram na situação presente e que fizeram surgir na Europa ideias e forças que a minam por dentro.
Por detrás da incapacidade dos europeus reagirem à invasão de que são alvo encontramos hoje pólos de força que se auxiliam mutuamente. Por um lado é preciso reconhecer que a esquerda venceu a guerra cultural, essa denominada esquerda é por natureza internacionalista e nutre um desprezo visceral pelas instituições tradicionais, pelos laços de sangue e pela coesão orgânica que seria natural e desejável numa sociedade; mas controla a informação, a cultura e o mundo universitário, e, como tal, controla o pensamento dominante nas sociedades europeias.
É nisto ajudada pelo liberalismo económico, que aproveita a retórica oca dessa esquerda sobre igualdade e direitos humanos para servir os interesses financeiros de uma minoria (que no entanto controla o grosso do rendimento mundial); aproveitando as migrações para controlar a oferta de trabalho nos países ditos desenvolvidos ao mesmo tempo que explora os recursos naturais do terceiro mundo ao abrigo das imposições livre-cambistas, assim sendo é óbvio que lhes interessa o internacionalismo, sobretudo na sua vertente económica, pois apenas a palavra lucro pode ser considerada como ideal do neo-liberalismo.
Finalmente, uma interpretação progressista do cristianismo tem contribuído decisivamente para o enfraquecimento da Europa, com a sua doutrina de fraternidade universal incondicional (sem regras), a causa cristã de respeito pela condição humana parece ser hoje interpretada como inconciliável com a luta pela preservação das identidades específicas dos povos. É uma ideia de cristianismo que se tem vindo a impor sem compreender que a causa da dignidade humana perde o sentido quando implica o prejuízo próprio de alguém e, para esse efeito, de algum povo. Esta resignação auto-destrutiva emana hoje também de uma corrente de pensamento cristão que, no seguimento disso, é necessariamente anti-nacionalista.
Metaforicamente o homem europeu é o Alex do livro, os europeus são hoje programados desde pequenos para serem incapazes de reagir perante determinados factos, as forças sociais atrás referidas contribuem decisivamente para isso, com especial destaque para a esquerda, que detém o controlo dos meios culturais e informativos. Eles são os regeneradores, os programadores, o arquétipo do Dr.Brodsky, são eles quem define o Bem, a ética, e a lavagem cerebral de que o europeu é alvo tem exactamente o mesmo efeito que teve em Alex; perante a imediata acusação de racista ou fascista o europeu fica desarmado; a náusea, o pânico e o medo social apoderam-se dele irremediavelmente, sente uma enorme culpa, sente-se imoral, sente uma necessidade de se desculpar sem no entanto saber bem porquê, apenas sabe reagir como lhe ensinaram. E para que a programação seja eficiente, ela é recorrente e constante, surge nos jornais diários, na escola, nas instituições estatais, nos cursos de formação, nas produções televisivas e cinematográficas, sub-repticiamente, habilmente, quase imperceptível, mas sempre presente, a toda a hora e em todos os sítios, desde que nasce que é cuidadosamente treinado este novo homem europeu…
O europeu, reeducado por esta intelligenza, que lhe apagou e reescreveu o passado, tornou-se incapaz de reagir porque incapaz de pensar; não lê, não questiona, não faz mais que discorrer chavões, não tem capacidade crítica, é vulgar, odeia o seu passado e não é digno da sua herança, e quando os poucos que escaparam ao programa de reeducação do novo homem europeu protestam e reagem, logo soam os alarmes, repetem-se as acusações de racismo, recaem sobre eles todos os tipos de estigmas. As acusações que visam desacreditar os poucos que ainda lutam partem de uma minoria, a minoria que controla o pensamento, os donos da nova ética, mas nisto são ajudados pelo silêncio ou assentimento das massas amestradas, e mesmo que estas depois fiquem com uma sensação de estranheza ou uma sombra de dúvida, rapidamente esquecem e continuam a vidinha.
A palavra racismo funciona hoje como um mecanismo de controlo intelectual; quase todos receiam ser manchados por semelhante acusação. Tal como com Alex, a simples ideia de ser rotulado racista enche de receio o homem europeu e provoca-lhe uma insuportável sensação de culpabilidade e mal-estar, torna-se impotente e incapaz de reagir mesmo perante os maiores enxovalhos ou perante a proximidade do seu fim; como Alex, para se redimir, o homem europeu precisa de se submeter, de dizer apenas aquilo que os seus regeneradores entendem por certo.
É por isso que a defesa da identidade étnica da Europa é assunto tabu na iminência do seu desaparecimento, ou tornado aspecto de somenos importância quando na realidade é definidor das próprias nações europeias, é a facilidade com que se rotulam de racistas aqueles que fazem essa defesa e a incapacidade do novo homem europeu de se insurgir contra isto. É urgente reagir, gritar bem alto a realidade, mas só poderá liderar a Europa neste que poderá ser o seu último combate quem não recear anátemas, quem tiver preparação e capacidade de crítica, e para isso necessitará de não ser deixado sozinho. Os nacionalistas não podem permitir-se ficar condicionados por calúnias quando a sua única lealdade deve ser para com a sua herança histórica e a verdade.
«Disse o Dr. Brodsky para a audiência:
__O nosso cobaia está, percebem, programado para o Bem(…)»
Estes dois excertos são retirados de «A Laranja Mecânica» de Burgess; Alex estava agora programado para o Bem. Fizeram-lhe uma lavagem cerebral, drogaram-no, alteraram-lhe a estrutura cognitiva, criaram na cobaia humana um mecanismo de controlo das suas acções e pensamentos de tal forma eficaz que Alex se tornou incapaz de qualquer gesto, qualquer ideia, que não fosse conforme à definição de Bem estabelecida pelos seus regeneradores. A própria ideia de reagir e de se defender perante todo o tipo de enxovalhos tornou-se de tal forma impossível para ele que dores e náuseas insuportáveis o atingiam perante a vontade de o fazer, a simples imaginação de uma reacção provocava-lhe agora um tal mal-estar que Alex se via imediatamente forçado a parar de pensar no que fosse contra a ética dos que o haviam “reabilitado”.
«__Ele vai ser o cristão verdadeiro! __ gritava o Dr.Brodsky.__ Sempre a oferecer a outra face, a ser crucificado sempre, sem nunca crucificar, doente até à alma só de pensar em matar uma mosca!»
Em 1950 a população europeia constituía cerca de 22% da população mundial, numa Europa livre de imigração e onde, por consequência, esses 22% representavam de facto europeus, no sentido étnico. Hoje em dia a população europeia representa cerca de 12 % da população do planeta e desses 12% uma boa percentagem corresponde a imigrantes extra-europeus que entretanto adquiriram nacionalidade de países do Velho Continente ou aos seus descendentes, por volta de 2050 os estudos demográficos estimam que a população europeia represente 7% da população total, desses 7% quase metade não serão brancos, pertencerão à nova classe de europeus que vem sendo criada, europeus africanos e europeus asiáticos. Por volta de 2025 as estimativas dizem que entre 22% e 37% da população da U.E. será islâmica (sem fazerem sequer referência à provável entrada da Turquia no espaço europeu).
Tendo em consideração o cenário traçado pelo Eurostat, a ONU e a própria CIA, a Europa será por volta de 2100,muito provavelmente, um continente de maioria não branca.
O cenário demográfico que todos os estudos realizados apresentam seria passível de despertar nos europeus um sinal de alarme, isso, porém, não acontece, mas a razão principal não é o desconhecimento desta realidade, o motivo maior é outro.
Uma população europeia sã, consciente, preocupada com o seu futuro e conhecedora da sua herança, preocupada com as gerações vindouras, dotada de carácter, de espírito, de força moral, vontade de afirmação, capacidade de construir o seu futuro assente num passado que deveria ser motivo de orgulho para os europeus, pelo seu feito civilizacional, essa população europeia seria certamente capaz de lutar uma vez mais pelos seus valores, pela sua cultura e pela sua própria existência, como tantas vezes fez no passado. Uma qualquer nação europeia saudável entenderia que a ideia de nação pressupõe necessariamente a defesa de valores basilares, princípios que definem as fronteiras da própria concepção de nação; a identidade étnica, a identidade cultural, a tradição e uma ideia de continuidade para o futuro.
No entanto, a reacção dos europeus perante o realismo atroz dos cenários que se apresentam é inexistente ou quase nula. Porquê? Por que razão povos que no passado deram mostras de uma força interior e uma capacidade de luta inigualável parecem indiferentes face à sua progressiva caminhada para a extinção, face à criação, por via da imigração descontrolada, de nações estranhas dentro das suas fronteiras e face à progressiva descaracterização populacional das suas terras?
Não é uma questão de indiferença natural, que aliás de natural não teria nada, mas a revolta perante o que se passa no Velho Continente, em face da autêntica colonização de que somos alvo, sente-se silenciosamente, contida, como que incapaz de se libertar, a Europa, a verdadeira Europa, o seu povo portanto, quer gritar, quer reagir, aqui e ali observa-se isso, no entanto tornou-se incapaz de o fazer, já não sabe gritar, o som da sua revolta não é mais que um pequeno ruído imperceptível…que forças estão por detrás disto, quem conduziu as outrora orgulhosas nações europeias à patética figura que hoje fazem, quem transformou os europeus num bando de resignados e cobardes sem vontade ou capacidade de luta, comodistas cínicos e egoístas, imediatistas sem qualquer preocupação que não seja a sua satisfaçãozinha individual e momentânea?
As respostas a estas perguntas dariam um livro, as raízes da derrota europeia, que parece cada vez mais próxima, poderiam ser alvo das mais variadas análises, poder-se-iam encontrar razões históricas no iluminismo, na revolução francesa, mais recentemente na manipulação e culpabilização de que a Europa vem sendo alvo desde que a Alemanha perdeu a 2º Guerra Mundial ou no advento da nova globalização e da sua apresentação como algo de inevitável e intrinsecamente positivo. No fundo, sejam quais forem os factores ponderados, todos eles se encontram interligados por fenómenos de causalidade que desembocaram na situação presente e que fizeram surgir na Europa ideias e forças que a minam por dentro.
Por detrás da incapacidade dos europeus reagirem à invasão de que são alvo encontramos hoje pólos de força que se auxiliam mutuamente. Por um lado é preciso reconhecer que a esquerda venceu a guerra cultural, essa denominada esquerda é por natureza internacionalista e nutre um desprezo visceral pelas instituições tradicionais, pelos laços de sangue e pela coesão orgânica que seria natural e desejável numa sociedade; mas controla a informação, a cultura e o mundo universitário, e, como tal, controla o pensamento dominante nas sociedades europeias.
É nisto ajudada pelo liberalismo económico, que aproveita a retórica oca dessa esquerda sobre igualdade e direitos humanos para servir os interesses financeiros de uma minoria (que no entanto controla o grosso do rendimento mundial); aproveitando as migrações para controlar a oferta de trabalho nos países ditos desenvolvidos ao mesmo tempo que explora os recursos naturais do terceiro mundo ao abrigo das imposições livre-cambistas, assim sendo é óbvio que lhes interessa o internacionalismo, sobretudo na sua vertente económica, pois apenas a palavra lucro pode ser considerada como ideal do neo-liberalismo.
Finalmente, uma interpretação progressista do cristianismo tem contribuído decisivamente para o enfraquecimento da Europa, com a sua doutrina de fraternidade universal incondicional (sem regras), a causa cristã de respeito pela condição humana parece ser hoje interpretada como inconciliável com a luta pela preservação das identidades específicas dos povos. É uma ideia de cristianismo que se tem vindo a impor sem compreender que a causa da dignidade humana perde o sentido quando implica o prejuízo próprio de alguém e, para esse efeito, de algum povo. Esta resignação auto-destrutiva emana hoje também de uma corrente de pensamento cristão que, no seguimento disso, é necessariamente anti-nacionalista.
Metaforicamente o homem europeu é o Alex do livro, os europeus são hoje programados desde pequenos para serem incapazes de reagir perante determinados factos, as forças sociais atrás referidas contribuem decisivamente para isso, com especial destaque para a esquerda, que detém o controlo dos meios culturais e informativos. Eles são os regeneradores, os programadores, o arquétipo do Dr.Brodsky, são eles quem define o Bem, a ética, e a lavagem cerebral de que o europeu é alvo tem exactamente o mesmo efeito que teve em Alex; perante a imediata acusação de racista ou fascista o europeu fica desarmado; a náusea, o pânico e o medo social apoderam-se dele irremediavelmente, sente uma enorme culpa, sente-se imoral, sente uma necessidade de se desculpar sem no entanto saber bem porquê, apenas sabe reagir como lhe ensinaram. E para que a programação seja eficiente, ela é recorrente e constante, surge nos jornais diários, na escola, nas instituições estatais, nos cursos de formação, nas produções televisivas e cinematográficas, sub-repticiamente, habilmente, quase imperceptível, mas sempre presente, a toda a hora e em todos os sítios, desde que nasce que é cuidadosamente treinado este novo homem europeu…
O europeu, reeducado por esta intelligenza, que lhe apagou e reescreveu o passado, tornou-se incapaz de reagir porque incapaz de pensar; não lê, não questiona, não faz mais que discorrer chavões, não tem capacidade crítica, é vulgar, odeia o seu passado e não é digno da sua herança, e quando os poucos que escaparam ao programa de reeducação do novo homem europeu protestam e reagem, logo soam os alarmes, repetem-se as acusações de racismo, recaem sobre eles todos os tipos de estigmas. As acusações que visam desacreditar os poucos que ainda lutam partem de uma minoria, a minoria que controla o pensamento, os donos da nova ética, mas nisto são ajudados pelo silêncio ou assentimento das massas amestradas, e mesmo que estas depois fiquem com uma sensação de estranheza ou uma sombra de dúvida, rapidamente esquecem e continuam a vidinha.
A palavra racismo funciona hoje como um mecanismo de controlo intelectual; quase todos receiam ser manchados por semelhante acusação. Tal como com Alex, a simples ideia de ser rotulado racista enche de receio o homem europeu e provoca-lhe uma insuportável sensação de culpabilidade e mal-estar, torna-se impotente e incapaz de reagir mesmo perante os maiores enxovalhos ou perante a proximidade do seu fim; como Alex, para se redimir, o homem europeu precisa de se submeter, de dizer apenas aquilo que os seus regeneradores entendem por certo.
É por isso que a defesa da identidade étnica da Europa é assunto tabu na iminência do seu desaparecimento, ou tornado aspecto de somenos importância quando na realidade é definidor das próprias nações europeias, é a facilidade com que se rotulam de racistas aqueles que fazem essa defesa e a incapacidade do novo homem europeu de se insurgir contra isto. É urgente reagir, gritar bem alto a realidade, mas só poderá liderar a Europa neste que poderá ser o seu último combate quem não recear anátemas, quem tiver preparação e capacidade de crítica, e para isso necessitará de não ser deixado sozinho. Os nacionalistas não podem permitir-se ficar condicionados por calúnias quando a sua única lealdade deve ser para com a sua herança histórica e a verdade.
segunda-feira, março 14, 2005
A doença liberal
Uma suspeita cresce no país de que a nação foi traída.
Não a traição de Versailles. Isso é suficientemente auto-evidente: os Catorze Pontos tornaram-se os quatrocentos e quarenta artigos do Tratado de Paz, assinado e selado pelo próprio Fundador da Paz.
Estas outras traições surgiram do abuso de ideais para um fim egoísta. Os nossos inimigos viram que não conseguiriam maiores proveitos para si do que convencer-nos a abandonar, em nome da paz, uma guerra que ainda não tínhamos ganho; eles viram que seria o mais vantajoso se conseguissem induzir alguns alemães a persuadir-nos a aceitar estes ideais. Quer concentremos atenção nos traidores ou nos traídos, encontramo-nos numa atmosfera peculiar em que pretensiosos princípios são discutidos: enquanto um reparto é estabelecido.
Os nossos oponentes exploraram essa atmosfera peculiar para sua própria vantagem e nosso prejuízo. A atmosfera a que aludimos está imbuída de uma perigosa infecção mental, cujos portadores gozam de uma imunidade que lhes permite arruinar as suas vítimas. É a desagregadora atmosfera do liberalismo, que espalha uma doença moral entre as nações e arruína a nação que domina. Este liberalismo mortal não deve ser concebido como sendo a prerrogativa de nenhum partido político. Teve origem num partido europeu geral ao qual deve o seu nome, mas subsequentemente exerceu a sua influência nociva em todos os partidos e ofuscou as diferenças entre eles: criou a figura familiar do líder de partido profissional.
O princípio do liberalismo é não ter qualquer princípio fixo e argumentar que isto é em si um princípio.
Quando a guerra mundial começou, os jornais ocidentais chamejaram com o título: La liberté est en jeu! Isto enganou a opinião pública mundial. A causa particular tornou-se uma causa geral e adquiriu um halo. O que os nossos inimigos procuravam não era liberdade mas poder. Qualquer um que tivesse examinado a questão com uma mente aberta teria descoberto que nos países liberais a liberdade política não é gozada pelo povo, que, pelo contrário, é cuidadosamente dirigido por certas classes dominantes. O que estas classes dominantes entendem por liberdade, é à-vontade e espaço para as suas próprias intrigas. Obtêm isto por meio do parlamentarismo que lhes assegura poder sob cobertura da constituição e da chamada representatividade do povo. Essa é a falaciosa máscara que o liberalismo usa quando grita “liberdade”: a máscara que usou no começo da guerra. Esta foi a primeira traição.
Moeller van den Bruck, "Le Troisième Reich"
Não a traição de Versailles. Isso é suficientemente auto-evidente: os Catorze Pontos tornaram-se os quatrocentos e quarenta artigos do Tratado de Paz, assinado e selado pelo próprio Fundador da Paz.
Estas outras traições surgiram do abuso de ideais para um fim egoísta. Os nossos inimigos viram que não conseguiriam maiores proveitos para si do que convencer-nos a abandonar, em nome da paz, uma guerra que ainda não tínhamos ganho; eles viram que seria o mais vantajoso se conseguissem induzir alguns alemães a persuadir-nos a aceitar estes ideais. Quer concentremos atenção nos traidores ou nos traídos, encontramo-nos numa atmosfera peculiar em que pretensiosos princípios são discutidos: enquanto um reparto é estabelecido.
Os nossos oponentes exploraram essa atmosfera peculiar para sua própria vantagem e nosso prejuízo. A atmosfera a que aludimos está imbuída de uma perigosa infecção mental, cujos portadores gozam de uma imunidade que lhes permite arruinar as suas vítimas. É a desagregadora atmosfera do liberalismo, que espalha uma doença moral entre as nações e arruína a nação que domina. Este liberalismo mortal não deve ser concebido como sendo a prerrogativa de nenhum partido político. Teve origem num partido europeu geral ao qual deve o seu nome, mas subsequentemente exerceu a sua influência nociva em todos os partidos e ofuscou as diferenças entre eles: criou a figura familiar do líder de partido profissional.
O princípio do liberalismo é não ter qualquer princípio fixo e argumentar que isto é em si um princípio.
Quando a guerra mundial começou, os jornais ocidentais chamejaram com o título: La liberté est en jeu! Isto enganou a opinião pública mundial. A causa particular tornou-se uma causa geral e adquiriu um halo. O que os nossos inimigos procuravam não era liberdade mas poder. Qualquer um que tivesse examinado a questão com uma mente aberta teria descoberto que nos países liberais a liberdade política não é gozada pelo povo, que, pelo contrário, é cuidadosamente dirigido por certas classes dominantes. O que estas classes dominantes entendem por liberdade, é à-vontade e espaço para as suas próprias intrigas. Obtêm isto por meio do parlamentarismo que lhes assegura poder sob cobertura da constituição e da chamada representatividade do povo. Essa é a falaciosa máscara que o liberalismo usa quando grita “liberdade”: a máscara que usou no começo da guerra. Esta foi a primeira traição.
Moeller van den Bruck, "Le Troisième Reich"
domingo, março 13, 2005
A última condenação
O "Fascismo em rede" parece ter sido o único blogue nacionalista a lembrar a morte de Bastien-Thiry a 11 Março de 1963, naquela que foi a última condenação à morte por motivos políticos na França.Bastien-Thiry foi julgado pela tentativa de assassinato de De Gaulle; nacionalista,católico e defensor da integridade territorial da França, recusando a negociação da independência da Argélia com a F.L.N., acabou por pagar com a vida a defesa da sua ideia de pátria. Curiosamente Bastien-Thiry esteve preso em Fresnes, por onde também havia passado Brasillach e, tal como este último, também ele acabou fuzilado.
Aqui fica um excerto da declaração proferida por Jean-Marie Bastien-Thiry durante o seu julgamento, a 2 de Fevereiro de 1963:
«Apesar da extraordinária má-fé dos homens no poder, apesar do seu extraordinário cinismo, é uma verdade que houve, que há na França e na Argélia, milhares de mortos e de mártires, que há milhares de desaparecidos e centenas de milhares de exilados, que há campos de detenção e de torturas, que houve numerosas violações e numerosos massacres, que há mulheres francesas obrigadas a prostituírem-se nos campos da F.L.N.É uma verdade que o poder constituído poderia ter evitado ou limitado todos estes horrores se o tivesse pretendido; mas é uma verdade que não o quis. É também uma verdade que este poder faz o jogo do comunismo dividindo o mundo livre.
É uma verdade que o homem contra o qual agimos é, a todos os momentos, passível de ida a Supremo Tribunal, e que seria suficiente um mínimo de clarividência e de coragem da parte dos parlamentares para o intimar; o dossier das suas deslealdades, dos seus crimes e das suas traições existe e milhares de homens estão dispostos a testemunhar sobre a realidade destas deslealdades, destes crimes e destas traições.
Nós exercemos o direito de legítima defesa contra um homem, em nome das suas vítimas, em nome dos nossos concidadãos e em nome das nossas crianças; este homem está coberto de sangue francês e representa a vergonha actual da França. Ele não é bom, não tem moral, não é lícito que este homem continue por muito tempo à frente da França; a moral, o direito e a razão humana unem-se para o condenar. A verdade que dissemos e que muitos outros disseram antes de nós, ficará ligada ao nome deste homem, onde quer que ele vá e o que quer que ele faça. Um dia este homem prestará contas pelos seus crimes: diante de Deus, senão diante dos homens.
O poder constituído tem a possibilidade de nos condenar, mas não tem o direito. Os milhões de homens e mulheres que sofreram na carne, no coração e nos seus bens com a política abominável e soberanamente injusta que foi conduzida, estão connosco neste tribunal para dizer que não fizemos mais que o nosso dever de franceses. Perante a história, perante os nossos concidadãos e perante as nossas crianças, nós proclamamos a nossa inocência, porque não fizemos mais que colocar em prática a grande e eterna lei de solidariedade entre os homens.»
Aqui fica um excerto da declaração proferida por Jean-Marie Bastien-Thiry durante o seu julgamento, a 2 de Fevereiro de 1963:
«Apesar da extraordinária má-fé dos homens no poder, apesar do seu extraordinário cinismo, é uma verdade que houve, que há na França e na Argélia, milhares de mortos e de mártires, que há milhares de desaparecidos e centenas de milhares de exilados, que há campos de detenção e de torturas, que houve numerosas violações e numerosos massacres, que há mulheres francesas obrigadas a prostituírem-se nos campos da F.L.N.É uma verdade que o poder constituído poderia ter evitado ou limitado todos estes horrores se o tivesse pretendido; mas é uma verdade que não o quis. É também uma verdade que este poder faz o jogo do comunismo dividindo o mundo livre.
É uma verdade que o homem contra o qual agimos é, a todos os momentos, passível de ida a Supremo Tribunal, e que seria suficiente um mínimo de clarividência e de coragem da parte dos parlamentares para o intimar; o dossier das suas deslealdades, dos seus crimes e das suas traições existe e milhares de homens estão dispostos a testemunhar sobre a realidade destas deslealdades, destes crimes e destas traições.
Nós exercemos o direito de legítima defesa contra um homem, em nome das suas vítimas, em nome dos nossos concidadãos e em nome das nossas crianças; este homem está coberto de sangue francês e representa a vergonha actual da França. Ele não é bom, não tem moral, não é lícito que este homem continue por muito tempo à frente da França; a moral, o direito e a razão humana unem-se para o condenar. A verdade que dissemos e que muitos outros disseram antes de nós, ficará ligada ao nome deste homem, onde quer que ele vá e o que quer que ele faça. Um dia este homem prestará contas pelos seus crimes: diante de Deus, senão diante dos homens.
O poder constituído tem a possibilidade de nos condenar, mas não tem o direito. Os milhões de homens e mulheres que sofreram na carne, no coração e nos seus bens com a política abominável e soberanamente injusta que foi conduzida, estão connosco neste tribunal para dizer que não fizemos mais que o nosso dever de franceses. Perante a história, perante os nossos concidadãos e perante as nossas crianças, nós proclamamos a nossa inocência, porque não fizemos mais que colocar em prática a grande e eterna lei de solidariedade entre os homens.»
sábado, março 12, 2005
A verdade sobre a falsa direita
Por ocasião do centenário do caso Dreyfus, Jacques Chirac enviou aos descendentes de Emile Zola e Alfred Dreyfus uma carta na qual, lembrando aquele “colossal erro judicial e vergonhoso comprometimento do Estado”, afirmou que Emile Zola “na senda de Voltaire”, encarnaria “ o melhor da tradição intelectual”.Obviamente poder-se-ia ironizar sobre a escolha dos autores de quem o presidente francês invocou os nomes. No fim de contas, ambos expressaram ao seu tempo opiniões que hoje se enquadrariam na lei Gayssot sobre o “incitamento ao ódio racial”.Em 1764 Voltaire escrevia no «Dicionário filosófico» que “os judeus são apenas um povo ignorante e bárbaro que há muito une a mais repugnante avareza e a mais abominável superstição a um ódio indistinto por todos os povos que os toleram e graças aos quais enriquecem”.Quanto a Zola, de «L’argent» à série de «RougonMacquart» , não existe um único estereótipo anti-semita que não tenha feito seu. Mas é claro que não é a estes aspectos que Chirac pretendia aludir. Longe de ser anedótica, a sua afirmação é no entanto reveladora. Qualquer homem de esquerda, de Lionel Jospin a Aiain Krivine, de Robert Hue a Jack Lang, subscreveria voluntariamente a ideia de que Voltaire e Zola encarnariam o “melhor da tradição intelectual” francesa. Poucos homens de direita, no entanto, seriam levados a comungar desta opinião, mesmo porque sabem bem que Voltaire e Zola passam hoje por grandes antecessores da intelligenza de esquerda e que os intelectuais de direita dispõem geralmente de outras referências. Na circunstância, Chirac falou, portanto, como homem de esquerda.
Como é isto possível? É-o simplesmente porque, no campo da cultura e das ideias, a direita da qual ele se declara diz regularmente as mesmas coisas que a esquerda. E di-las porque é historicamente saída da mesma matriz filosófica da esquerda, obra da filosofia das Luzes, que no período de dois séculos criou em sequência o liberalismo, o socialismo e o marxismo. É certo que partindo de uma herança comum uma “esquerda” e uma “direita” se foram progressivamente diferenciando. Mas é sobretudo no âmbito económico e social que as suas diferenças se afirmaram, porém muito mais pela escolha dos meios que pela determinação dos objectivos. No campo cultural e intelectual falam quase em uníssono. Demonstrou-o mais uma vez, a seu modo, a recente polémica sobre o «Livro negro do comunismo»: se tantos comentadores se empenham hoje em distinguir a “bondosa” inspiração do comunismo dos seus sanguinários êxitos é porque aquela inspiração não se diferencia fundamentalmente das suas. Declarando-a “boa” não nos demonstram a sua justeza. Limitam-se a confirmar poderem-se reconhecer nas ideias que o sustiveram.
“O problema permanente da direita e a fonte do seu mal-estar actual” escreveu Jacques Juiiard,” reside no facto de que os seus valores de referência continuam a pertencer originariamente ao outro campo”.Ernst Jünger já o havia observado em 1945:” tem sido a esquerda a submeter a si a direita há mais de cento e cinquenta anos, não o inverso.”É absolutamente exacto, e é na lógica das coisas, a partir do momento em que aquela direita nasceu à esquerda. Tendo nascido à esquerda, com a ideologia dos direitos do homem da qual essa se reclama, não pode alimentar-se, sem mal-estar, nem da sua identidade nem do seu passado. E tendo nascido à esquerda sofre de um défice permanente de legitimidade. Tendo nascido à esquerda não pode fazer mais que colocar-se ao centro, um centro no qual, por sua vez, a esquerda, recuperada das esperanças revolucionárias e agora convertida ao reformismo social-democrata, se insere cada vez mais, com a consequência dramática de que este grande bloco central rejeita os descontentes impedindo uma verdadeira alternância.
É verdade que os conceitos de direita e esquerda nas mentalidades estão hoje ofuscados. Mas, se se ofuscam, isto acontece precisamente porque os grandes partidos que lhes envergam as cores têm tomado progressivamente consciência da inconsistência daquilo que os separa. Actualmente não há nada de substancial que diferencie os seus valores. As suas escolhas aproximam-se, os seus programas movem-se em direcção ao centro e a opinião prevalecente é que dizem todos mais ou menos a mesma coisa. Ainda ontem pensavam pertencer a famílias diferentes. Hoje percebem que apenas foram inimigos irmãos, que podem ainda polemizar sobre este ou aquele ponto mas fazem espontaneamente_ com toda a naturalidade, sentir-se-ia dizer_ frente comum para demonizar e rejeitar para o tenebroso extremo qualquer direita que seja uma direita verdadeira, com referências próprias, os seus autores, a sua antropologia, a sua própria sociologia, a sua própria visão do mundo, do homem e da sociedade.
É claro: como sempre existiram várias esquerdas, assim existem várias direitas: uma direita contra-revolucionária e uma direita revolucionária, uma direita republicana e uma direita monárquica, uma direita nacionalista e uma direita federalista, e assim sucessivamente. Mas pelo menos essas têm um ponto em comum: são direitas verdadeiras. A declaração de Jacques Chirac vale como sintoma, já que permite perceber a que direita ele pertence. Chirac pertence àquela direita que reprova as orientações económicas da esquerda mas que se escusa a contestar as suas orientações intelectuais e ideológicas. É uma direita que, no fundo, partilha a visão do mundo da esquerda, contentando-se por substituir a solidariedade pela apologia do lucro. É uma direita de esquerda. Em suma, não é de facto uma direita.
Alain de Benoist
ps:Qualquer semelhança entre a realidade acima descrita e a realidade portuguesa não é mera coincidência; não é pois de admirar que tanta gente que vota no PSD ou no CDS se julgue de direita.Daria um novo ensaio sobre a cegueira... a infelicidade é emporcalharem a verdadeira direita com tal associação.
Como é isto possível? É-o simplesmente porque, no campo da cultura e das ideias, a direita da qual ele se declara diz regularmente as mesmas coisas que a esquerda. E di-las porque é historicamente saída da mesma matriz filosófica da esquerda, obra da filosofia das Luzes, que no período de dois séculos criou em sequência o liberalismo, o socialismo e o marxismo. É certo que partindo de uma herança comum uma “esquerda” e uma “direita” se foram progressivamente diferenciando. Mas é sobretudo no âmbito económico e social que as suas diferenças se afirmaram, porém muito mais pela escolha dos meios que pela determinação dos objectivos. No campo cultural e intelectual falam quase em uníssono. Demonstrou-o mais uma vez, a seu modo, a recente polémica sobre o «Livro negro do comunismo»: se tantos comentadores se empenham hoje em distinguir a “bondosa” inspiração do comunismo dos seus sanguinários êxitos é porque aquela inspiração não se diferencia fundamentalmente das suas. Declarando-a “boa” não nos demonstram a sua justeza. Limitam-se a confirmar poderem-se reconhecer nas ideias que o sustiveram.
“O problema permanente da direita e a fonte do seu mal-estar actual” escreveu Jacques Juiiard,” reside no facto de que os seus valores de referência continuam a pertencer originariamente ao outro campo”.Ernst Jünger já o havia observado em 1945:” tem sido a esquerda a submeter a si a direita há mais de cento e cinquenta anos, não o inverso.”É absolutamente exacto, e é na lógica das coisas, a partir do momento em que aquela direita nasceu à esquerda. Tendo nascido à esquerda, com a ideologia dos direitos do homem da qual essa se reclama, não pode alimentar-se, sem mal-estar, nem da sua identidade nem do seu passado. E tendo nascido à esquerda sofre de um défice permanente de legitimidade. Tendo nascido à esquerda não pode fazer mais que colocar-se ao centro, um centro no qual, por sua vez, a esquerda, recuperada das esperanças revolucionárias e agora convertida ao reformismo social-democrata, se insere cada vez mais, com a consequência dramática de que este grande bloco central rejeita os descontentes impedindo uma verdadeira alternância.
É verdade que os conceitos de direita e esquerda nas mentalidades estão hoje ofuscados. Mas, se se ofuscam, isto acontece precisamente porque os grandes partidos que lhes envergam as cores têm tomado progressivamente consciência da inconsistência daquilo que os separa. Actualmente não há nada de substancial que diferencie os seus valores. As suas escolhas aproximam-se, os seus programas movem-se em direcção ao centro e a opinião prevalecente é que dizem todos mais ou menos a mesma coisa. Ainda ontem pensavam pertencer a famílias diferentes. Hoje percebem que apenas foram inimigos irmãos, que podem ainda polemizar sobre este ou aquele ponto mas fazem espontaneamente_ com toda a naturalidade, sentir-se-ia dizer_ frente comum para demonizar e rejeitar para o tenebroso extremo qualquer direita que seja uma direita verdadeira, com referências próprias, os seus autores, a sua antropologia, a sua própria sociologia, a sua própria visão do mundo, do homem e da sociedade.
É claro: como sempre existiram várias esquerdas, assim existem várias direitas: uma direita contra-revolucionária e uma direita revolucionária, uma direita republicana e uma direita monárquica, uma direita nacionalista e uma direita federalista, e assim sucessivamente. Mas pelo menos essas têm um ponto em comum: são direitas verdadeiras. A declaração de Jacques Chirac vale como sintoma, já que permite perceber a que direita ele pertence. Chirac pertence àquela direita que reprova as orientações económicas da esquerda mas que se escusa a contestar as suas orientações intelectuais e ideológicas. É uma direita que, no fundo, partilha a visão do mundo da esquerda, contentando-se por substituir a solidariedade pela apologia do lucro. É uma direita de esquerda. Em suma, não é de facto uma direita.
Alain de Benoist
ps:Qualquer semelhança entre a realidade acima descrita e a realidade portuguesa não é mera coincidência; não é pois de admirar que tanta gente que vota no PSD ou no CDS se julgue de direita.Daria um novo ensaio sobre a cegueira... a infelicidade é emporcalharem a verdadeira direita com tal associação.
quinta-feira, março 10, 2005
Aforismos bloquistas
«Não sou apreciador de haxixe, mas se os meus amigos estiverem a fumar também fumo.»
Francisco Louçã, revista "Única"
Francisco Louçã, revista "Única"
terça-feira, março 08, 2005
Excertos de discursos
«A nação é uma unidade completa, onde todos os indivíduos e todas as classes estão integradas. A nação é uma síntese transcendente e individual com fins próprios a alcançar; e o estado que cria será o instrumento eficiente, autoritário, que serve essa indisputável, permanente, irrevogável unidade que se chama nação.»
«Nós queremos que todos sintam ser parte de uma séria e completa comunidade. Por outras palavras, existem claramente muitos tipos de tarefas a ser desempenhadas: algumas manuais, algumas intelectuais, outras na educação ou nos campos social ou cultural; mas numa comunidade como a que procuramos, fique claro que não deverão existir passageiros ou inúteis.»
«Nós não queremos cantigas sobre direitos individuais do tipo que nunca poderão ser impostos nas casas dos famintos. Em vez disso permita-se que a cada homem, a cada membro da comunidade política, simplesmente por fazer parte dela, sejam dados os meios de conseguir uma vida justa e decente pelo seu trabalho.»
«Nós queremos que o espírito religioso, que é a pedra chave nos maiores feitos da nossa história, seja respeitado e apoiado como merece; mas isso não significa que o Estado deva interferir em funções que não lhe pertençam»
«A falange vê o homem como uma combinação de corpo e alma; isto é, tão capaz de um destino eterno como o portador de eternos valores. Assim, o máximo respeito é devido à dignidade humana, à integridade do homem e à sua liberdade. Mas essa liberdade profunda não dá a ninguém o direito de minar as fundações da vida pública social.»
«A falange não pode olhar a vida como uma mera conjugação de factores económicos. Rejeita a interpretação materialista da história. O espiritual foi e é a força motriz na vida do homem e das gentes.»
«Todas as revoluções foram até agora incompletas, já que nenhuma delas serviu tanto a ideia nacional da Nação como a ideia de justiça social. Nós combinamos ambas as coisas: a Nação e a justiça social, e assentes naqueles dois princípios inabaláveis estamos categoricamente decididos a fazer a nossa revolução»
«Nós compreendemos que uma nação não é somente a força atractiva do solo em que nascemos, não é aquela emoção sentimental directa que todos sentimos na presença da nossa própria terra, mas uma nação é uma unidade de destino na ordem mundial, é um plano ao qual um povo ascende quando realiza uma missão universal na história.»
«O trabalho é a melhor reivindicação para a dignidade civil. Nada pode merecer mais atenção por parte do Estado que a dignidade e bem-estar dos trabalhadores.»
«O primeiro propósito da riqueza é melhorar as condições de vida da generalidade, não é sacrificar a generalidade ao luxo e ao lucro dos poucos.»
«O socialismo proclama o dogma monstruoso da luta de classes. Proclama o dogma de que a luta de classes é indispensável e ocorre naturalmente na vida porque não poderá existir nunca um agente apaziguador. Assim, o socialismo, que começou como uma crítica justa do liberalismo económico, trouxe-nos por uma via diferente ao mesmo estado do liberalismo económico: Desunião, ódio, separação, esquecimento de qualquer laço de irmandade e solidariedade entre os homens.»
«Nós queremos que todos sintam ser parte de uma séria e completa comunidade. Por outras palavras, existem claramente muitos tipos de tarefas a ser desempenhadas: algumas manuais, algumas intelectuais, outras na educação ou nos campos social ou cultural; mas numa comunidade como a que procuramos, fique claro que não deverão existir passageiros ou inúteis.»
«Nós não queremos cantigas sobre direitos individuais do tipo que nunca poderão ser impostos nas casas dos famintos. Em vez disso permita-se que a cada homem, a cada membro da comunidade política, simplesmente por fazer parte dela, sejam dados os meios de conseguir uma vida justa e decente pelo seu trabalho.»
«Nós queremos que o espírito religioso, que é a pedra chave nos maiores feitos da nossa história, seja respeitado e apoiado como merece; mas isso não significa que o Estado deva interferir em funções que não lhe pertençam»
«A falange vê o homem como uma combinação de corpo e alma; isto é, tão capaz de um destino eterno como o portador de eternos valores. Assim, o máximo respeito é devido à dignidade humana, à integridade do homem e à sua liberdade. Mas essa liberdade profunda não dá a ninguém o direito de minar as fundações da vida pública social.»
«A falange não pode olhar a vida como uma mera conjugação de factores económicos. Rejeita a interpretação materialista da história. O espiritual foi e é a força motriz na vida do homem e das gentes.»
«Todas as revoluções foram até agora incompletas, já que nenhuma delas serviu tanto a ideia nacional da Nação como a ideia de justiça social. Nós combinamos ambas as coisas: a Nação e a justiça social, e assentes naqueles dois princípios inabaláveis estamos categoricamente decididos a fazer a nossa revolução»
«Nós compreendemos que uma nação não é somente a força atractiva do solo em que nascemos, não é aquela emoção sentimental directa que todos sentimos na presença da nossa própria terra, mas uma nação é uma unidade de destino na ordem mundial, é um plano ao qual um povo ascende quando realiza uma missão universal na história.»
«O trabalho é a melhor reivindicação para a dignidade civil. Nada pode merecer mais atenção por parte do Estado que a dignidade e bem-estar dos trabalhadores.»
«O primeiro propósito da riqueza é melhorar as condições de vida da generalidade, não é sacrificar a generalidade ao luxo e ao lucro dos poucos.»
«O socialismo proclama o dogma monstruoso da luta de classes. Proclama o dogma de que a luta de classes é indispensável e ocorre naturalmente na vida porque não poderá existir nunca um agente apaziguador. Assim, o socialismo, que começou como uma crítica justa do liberalismo económico, trouxe-nos por uma via diferente ao mesmo estado do liberalismo económico: Desunião, ódio, separação, esquecimento de qualquer laço de irmandade e solidariedade entre os homens.»
José Antonio Primo de Rivera
Direitos,Igualdade,Justiça
Os homens nascem e continuam iguais em direitos? Todos os homens são iguais perante a Lei? Existe ali um erro de expressão ou equívoco. Os homens não nascem iguais em direitos. Uns são estúpidos, outros inteligentes; uns fortes, outros fracos; uns trabalhadores, outros preguiçosos; uns criadores, outros imitadores; uns com vocação intelectual, outros com manual, outros de sensibilidade; uns para as artes, outros para as ciências; uns para a imaginação, outros para a técnica; alguns têm, mesmo, anormalidades, deficiências físicas, etc.; isto, pondo de parte que uns nasçam pobres e outros ricos. Todos aqueles têm, de nascença, os mesmos direitos?
E depois... os homens não continuam iguais em direitos. Uns trabalham muito, outros pouco; uns criam obra muito valiosa para os outros homens e para a sociedade, outros limitam-se a obra vulgar e de somenos; uns são raros, outros são multidão; uns vêm ocupar funções importantes, outros funções menores; uns têm uma especialidade, outros outra. Todos continuam a ter, sempre, os mesmos direitos?
Se me disserem que há direitos que todos os homens gozam, de nascença, ainda poderei admitir, de certo modo: e aí estariam o direito à vida, o direito ao pão, o direito ao desenvolvimento espiritual, etc. Ainda aqui, porém, a expressão me parece melindrosa, pouco feliz. Realmente, se a vida é um direito do homem, de cada homem, como poderemos exigir-lha. Como poderemos mandar homens para a guerra? E o pão? Como admitir que alguém passe fome, quando a Pátria ou uma grande causa estão em perigo, e não se pode dar fartura? Não. E nem todos os homens são iguais perante a Lei. Uns gozam de privilégios que outros não possuem, uns sofrem consequências que a outros não atingem. O mal daquelas expressões e declarações iniciais é serem equívocas, basearem-se (mesmo inconscientemente) em princípios liberais e igualitários, levarem a convicções erróneas, ao enraizamento de crenças na igualdade dos homens.
Os homens não são iguais perante a Lei. A Lei é que é universal, conglobante, e pela sua natureza, inclui as diversidades e as particularidades. A Lei define casos, prevê-os. A Lei é una, mas não uniforme. Na igualdade da Lei Universal encaixam-se casos particulares, as diferenciações dos homens desiguais. Pode-se, pois, admitir a expressão: a Lei é para todos; ou: a Lei obriga todos, ou: a Lei abrange todos. Por outro lado, se, em vez de falarem em direitos do homem, mesmo que seja em determinados direitos do homem, falarem em justiça ou justeza da sociedade, — tudo ficará mais certo e inequívoco. O cumprimento da sociedade, do Bem, do Uno, do Espírito, exige a harmonia entre as partes, o pleno funcionamento de cada uma delas, o preenchimento da sua natureza, o desenvolvimento articulado de todos e de cada um. É, pois, a obediência ao Valor e ao Uno, na sua autenticidade, é, pois, a justeza social que exigem, na adequada medida, no lugar certo e no momento próprio, o bem particular, o bem de cada um. A natureza da sociedade é, consequentemente, o dever da sociedade, que é harmonia de partes num todo. A sociedade ajustada a si mesma é a justeza da sociedade, é a justiça social e, portanto, o benefício que se comunica pelas veias a todo o corpo, irrigando e animando todos os órgãos, tecidos, células, em justiça distributiva para a edificação comum.
Goulart Nogueira
E depois... os homens não continuam iguais em direitos. Uns trabalham muito, outros pouco; uns criam obra muito valiosa para os outros homens e para a sociedade, outros limitam-se a obra vulgar e de somenos; uns são raros, outros são multidão; uns vêm ocupar funções importantes, outros funções menores; uns têm uma especialidade, outros outra. Todos continuam a ter, sempre, os mesmos direitos?
Se me disserem que há direitos que todos os homens gozam, de nascença, ainda poderei admitir, de certo modo: e aí estariam o direito à vida, o direito ao pão, o direito ao desenvolvimento espiritual, etc. Ainda aqui, porém, a expressão me parece melindrosa, pouco feliz. Realmente, se a vida é um direito do homem, de cada homem, como poderemos exigir-lha. Como poderemos mandar homens para a guerra? E o pão? Como admitir que alguém passe fome, quando a Pátria ou uma grande causa estão em perigo, e não se pode dar fartura? Não. E nem todos os homens são iguais perante a Lei. Uns gozam de privilégios que outros não possuem, uns sofrem consequências que a outros não atingem. O mal daquelas expressões e declarações iniciais é serem equívocas, basearem-se (mesmo inconscientemente) em princípios liberais e igualitários, levarem a convicções erróneas, ao enraizamento de crenças na igualdade dos homens.
Os homens não são iguais perante a Lei. A Lei é que é universal, conglobante, e pela sua natureza, inclui as diversidades e as particularidades. A Lei define casos, prevê-os. A Lei é una, mas não uniforme. Na igualdade da Lei Universal encaixam-se casos particulares, as diferenciações dos homens desiguais. Pode-se, pois, admitir a expressão: a Lei é para todos; ou: a Lei obriga todos, ou: a Lei abrange todos. Por outro lado, se, em vez de falarem em direitos do homem, mesmo que seja em determinados direitos do homem, falarem em justiça ou justeza da sociedade, — tudo ficará mais certo e inequívoco. O cumprimento da sociedade, do Bem, do Uno, do Espírito, exige a harmonia entre as partes, o pleno funcionamento de cada uma delas, o preenchimento da sua natureza, o desenvolvimento articulado de todos e de cada um. É, pois, a obediência ao Valor e ao Uno, na sua autenticidade, é, pois, a justeza social que exigem, na adequada medida, no lugar certo e no momento próprio, o bem particular, o bem de cada um. A natureza da sociedade é, consequentemente, o dever da sociedade, que é harmonia de partes num todo. A sociedade ajustada a si mesma é a justeza da sociedade, é a justiça social e, portanto, o benefício que se comunica pelas veias a todo o corpo, irrigando e animando todos os órgãos, tecidos, células, em justiça distributiva para a edificação comum.
Goulart Nogueira
segunda-feira, março 07, 2005
sábado, março 05, 2005
Que Europa?
O partido da Nova Democracia criado para apaziguar a birra do Dr. Manuel Monteiro no seguimento da sua perda de influência no PP de Portas propôs nestas últimas eleições uma curiosa visão de reforma fiscal, tomando como modelo alguns países de Leste, propôs a ND a imposição de uma taxa única de IRS e, indo mais longe, alguns dos seus quadros avançaram também para a ideia de uma taxa única de IRC e IVA, tudo isto com o objectivo de simplificar o sistema fiscal (que em Portugal é de facto uma urgência) e garantir uma mais elevada receita para o Estado.
Acontece que por detrás de semelhantes propostas está implícita uma aceitação de injustiça social, já que em teoria os impostos progressivos são de facto uma medida de redistribuição do rendimento com preocupação de justiça social, obrigando quem mais rendimentos tem a pagar taxas mais elevadas de imposto. O funcionamento ineficiente do sistema fiscal português deve ser atacado mas não deve ser motivo para justificar um aumento da receita fiscal pela simplificação grosseira do sistema sem tomar em linha de conta as diferenças de rendimento da população , isso constitui na realidade a negação do que deve ser um modelo social na Europa ocidental.
A que propósito vem isto? Bom, esta observação decorre da recente polémica que vem crescendo no seio da Europa em torno da vontade de alguns países de avançarem para a harmonização fiscal dentro da União Europeia. Na liderança deste processo surgem países como o Luxemburgo, a Holanda e muito em particular a Bélgica. Isto não é propriamente de estranhar já que, tomando como exemplo a Bélgica, afiguram-se ali uma série de condicionantes que tornam este país num dos grandes impulsionadores da integração europeia completa. Ao contrário de Portugal, a Bélgica é uma nação quase artificial, dividida entre 2 realidades distintas, a flamenga e a francófona, teve sempre a sua unidade nacional debilitada e sujeita à existência de um rei que lhe desse um qualquer sentido de união, sendo uma pequena economia entrincheirada entre as grandes potências da Europa e sempre muito dependente da realidade económica dos seus vizinhos europeus, a mesma dependência que existe também no Luxemburgo e noutros países da Europa central.
Portugal, historicamente, é uma nação muito diferente. O sentido de unidade nacional sempre foi uma constante, não existem aqui, ao contrário do que sucede em outros países europeus, como a Bélgica ou a própria Espanha, diversas “nações” dentro de uma mesma realidade territorial nem tampouco foi Portugal um país virado para a Europa nas suas realidades económicas históricas. A própria recusa da regionalização por parte do povo português é bem prova do sentido ancestral de homogeneidade nacional e até há poucos anos as nossas relações económicas eram sobretudo não europeias, viradas para um império que pela nossa situação europeia periférica e posicionamento atlântico surgia como dinamizador principal da nossa estratégia de crescimento e desenvolvimento.
Com as novas exigências que se colocaram a Portugal após o fim do império, a mudança de regime e a entrada na UE tivemos uma necessidade de adaptação a uma realidade para nós completamente nova, uma construção europeia integrada aos mais diversos domínios. O ponto decisivo desta integração foi a entrada na zona euro.Com o surgimento da moeda única, Portugal (tal como os restantes países que connosco participaram nesta aventura) perdeu a capacidade de ter uma politica monetária e deu um passo fundamental na perda de autonomia decisora. Passámos a ter uma moeda forte que em nada representa a realidade competitiva do país e que não se adequa às necessidades concorrenciais da nação. A politica económica da UE, marcadamente monetarista, privilegia sempre a estabilidade monetária, a estabilidade dos preços, em detrimento de preocupações com o emprego; com a obrigatoriedade de cumprimento do PEC (aparentemente só para alguns, note-se), que impõe aos países da UE um apertado controlo orçamental, esta Europa retirou a um país como Portugal não só a capacidade de intervenção monetária mas também a capacidade “Keynesiana” de utilizar o investimento público para a dinamização do crescimento económico e a criação de emprego, este pacto é absurdo, tal como tantas outras coisas nesta construção europeia, num período de recessão e crescimento do desemprego a impossibilidade de estimular a procura pela acção do Estado é contraproducente e reforça o ciclo negativo da economia.
Neste quadro, em que ninguém sabe muito bem o que fazer para desenvolver o país e em que as preocupações económicas se centram na necessidade de curto-prazo de cumprir o desgraçado pacto, surge agora no horizonte a discussão em torno da harmonização fiscal. A política fiscal é dos poucos instrumentos de política económica, ou o único, que ainda é determinado pelos governos nacionais, no entanto é um domínio em que Portugal não teve capacidade de actuar com sucesso, na realidade a harmonização fiscal poderia ser uma notícia positiva para Portugal na óptica da sua vertente competitiva intra-europeia. Para isto contribui o facto dos novos países aderentes à UE praticarem um dumping fiscal, mantendo taxas de imposto sobre as empresas muito abaixo da média europeia e atraindo desta forma o capital internacional ao mesmo tempo que se preparam para receber fundos estruturais, criando condições de concorrência impossíveis para um país na situação de Portugal.
A competição intra-europeia tem levado a uma sucessiva pressão de baixa dos impostos sobre as empresas (sobretudo as multinacionais) na tentativa de atrair esse investimento. O ónus da progressiva redução dessa carga fiscal sobre o grande capital tem sido a redução do investimento público e a deslocação dessa incidência tributária para os trabalhadores e para as pequenas empresas com pouca capacidade de mobilidade transnacional. Como é óbvio isto é inaceitável pois é criador de mais injustiça social nos países da Europa, nomeadamente naqueles que, como Portugal, mais padecem de problemas económicos estruturais e deficiências fiscais.
Perante este cenário poder-se-á perguntar qual é então o problema com a tentativa de harmonização fiscal…A resposta é simples, as propostas de harmonização fiscal apresentadas, sobretudo pela Bélgica, denotam uma componente “interessante”, visam conquistar competitividade face aos países emergentes, que praticam dumping social, transferindo o financiamento do modelo social europeu dos impostos directos para os impostos indirectos, ou seja, fazer uma harmonização fiscal que passa pela diminuição da tributação sobre o rendimento e pelo aumento da tributação sobre o consumo. Ora isto, tal como as propostas da ND, é profundamente injusto do ponto de vista social, e até irónico, tendo os impostos sobre o consumo uma clara componente regressiva a proposta da Bélgica é colocar os trabalhadores a financiarem um sistema social que deveria ter por objectivo precisamente proteger os mais desfavorecidos, entre os quais se encontram os trabalhadores assalariados.
A harmonização fiscal na Europa é essencial se esta quiser competir e assumir-se como um bloco coeso face ao exterior, no entanto não deve basear-se na diminuição dos impostos directos e no aumento dos impostos indirectos para poder conquistar competitividade face a países que não têm as mínimas preocupações com as condições laborais dos seus trabalhadores, isto é a transformação do homem num mero instrumento ao serviço da economia, a desumanização crescente, o submetimento à lógica neo-liberal de subjugar tudo ao lucro. Face ao dogma liberal de evitar qualquer proteccionismo, a Europa, em vez de proteger a sua economia face aos países que praticam processos de dumping social procura concorrer nas condições impostas pelo liberalismo primário e para tal procura conquistar competitividade à custa da justiça social.
A solução deveria ser diferente, a harmonização fiscal deve ser levada adiante mas não da forma agora proposta, urge levar a cabo uma harmonização da tributação sobre as empresas no seio da UE, impedindo diferenças na tributação do IRC e tornando desta forma irrelevante a deslocação de empresas no interior da Europa. As políticas sociais seriam assim financiadas pela tributação directa sobre os lucros, impondo uma taxa mínima de imposto sobre as empresas e acabando com a competição fiscal intra-europeia que tem levado à progressiva diminuição das taxas médias de imposto sobre as empresas no espaço da UE. Seriam as receitas desta tributação directa a financiar o modelo social europeu e não aumentos nos impostos indirectos que são causadores de maior injustiça social. Para efeitos de competição extra-europeia a Europa deveria adoptar medidas proteccionistas contra países que baseassem o seu modelo competitivo no dumping social e não ceder às instituições liberais internacionais. O pacto de estabilidade por sua vez deveria ser revisto a par da implementação daquelas medidas de harmonização fiscal, de forma a permitir aos governos nacionais um instrumento de política gerador de emprego quando em períodos recessivos.
Cabe ao nacionalismo identitário a crítica desta construção europeia e a apresentação de alternativas, se não o fizer deixará esse espaço livre para a esquerda. A defesa de princípios comunitários e de solidariedade não é compatível com o caminho que se está a percorrer, esta Europa não augura nada de bom para Portugal.
Acontece que por detrás de semelhantes propostas está implícita uma aceitação de injustiça social, já que em teoria os impostos progressivos são de facto uma medida de redistribuição do rendimento com preocupação de justiça social, obrigando quem mais rendimentos tem a pagar taxas mais elevadas de imposto. O funcionamento ineficiente do sistema fiscal português deve ser atacado mas não deve ser motivo para justificar um aumento da receita fiscal pela simplificação grosseira do sistema sem tomar em linha de conta as diferenças de rendimento da população , isso constitui na realidade a negação do que deve ser um modelo social na Europa ocidental.
A que propósito vem isto? Bom, esta observação decorre da recente polémica que vem crescendo no seio da Europa em torno da vontade de alguns países de avançarem para a harmonização fiscal dentro da União Europeia. Na liderança deste processo surgem países como o Luxemburgo, a Holanda e muito em particular a Bélgica. Isto não é propriamente de estranhar já que, tomando como exemplo a Bélgica, afiguram-se ali uma série de condicionantes que tornam este país num dos grandes impulsionadores da integração europeia completa. Ao contrário de Portugal, a Bélgica é uma nação quase artificial, dividida entre 2 realidades distintas, a flamenga e a francófona, teve sempre a sua unidade nacional debilitada e sujeita à existência de um rei que lhe desse um qualquer sentido de união, sendo uma pequena economia entrincheirada entre as grandes potências da Europa e sempre muito dependente da realidade económica dos seus vizinhos europeus, a mesma dependência que existe também no Luxemburgo e noutros países da Europa central.
Portugal, historicamente, é uma nação muito diferente. O sentido de unidade nacional sempre foi uma constante, não existem aqui, ao contrário do que sucede em outros países europeus, como a Bélgica ou a própria Espanha, diversas “nações” dentro de uma mesma realidade territorial nem tampouco foi Portugal um país virado para a Europa nas suas realidades económicas históricas. A própria recusa da regionalização por parte do povo português é bem prova do sentido ancestral de homogeneidade nacional e até há poucos anos as nossas relações económicas eram sobretudo não europeias, viradas para um império que pela nossa situação europeia periférica e posicionamento atlântico surgia como dinamizador principal da nossa estratégia de crescimento e desenvolvimento.
Com as novas exigências que se colocaram a Portugal após o fim do império, a mudança de regime e a entrada na UE tivemos uma necessidade de adaptação a uma realidade para nós completamente nova, uma construção europeia integrada aos mais diversos domínios. O ponto decisivo desta integração foi a entrada na zona euro.Com o surgimento da moeda única, Portugal (tal como os restantes países que connosco participaram nesta aventura) perdeu a capacidade de ter uma politica monetária e deu um passo fundamental na perda de autonomia decisora. Passámos a ter uma moeda forte que em nada representa a realidade competitiva do país e que não se adequa às necessidades concorrenciais da nação. A politica económica da UE, marcadamente monetarista, privilegia sempre a estabilidade monetária, a estabilidade dos preços, em detrimento de preocupações com o emprego; com a obrigatoriedade de cumprimento do PEC (aparentemente só para alguns, note-se), que impõe aos países da UE um apertado controlo orçamental, esta Europa retirou a um país como Portugal não só a capacidade de intervenção monetária mas também a capacidade “Keynesiana” de utilizar o investimento público para a dinamização do crescimento económico e a criação de emprego, este pacto é absurdo, tal como tantas outras coisas nesta construção europeia, num período de recessão e crescimento do desemprego a impossibilidade de estimular a procura pela acção do Estado é contraproducente e reforça o ciclo negativo da economia.
Neste quadro, em que ninguém sabe muito bem o que fazer para desenvolver o país e em que as preocupações económicas se centram na necessidade de curto-prazo de cumprir o desgraçado pacto, surge agora no horizonte a discussão em torno da harmonização fiscal. A política fiscal é dos poucos instrumentos de política económica, ou o único, que ainda é determinado pelos governos nacionais, no entanto é um domínio em que Portugal não teve capacidade de actuar com sucesso, na realidade a harmonização fiscal poderia ser uma notícia positiva para Portugal na óptica da sua vertente competitiva intra-europeia. Para isto contribui o facto dos novos países aderentes à UE praticarem um dumping fiscal, mantendo taxas de imposto sobre as empresas muito abaixo da média europeia e atraindo desta forma o capital internacional ao mesmo tempo que se preparam para receber fundos estruturais, criando condições de concorrência impossíveis para um país na situação de Portugal.
A competição intra-europeia tem levado a uma sucessiva pressão de baixa dos impostos sobre as empresas (sobretudo as multinacionais) na tentativa de atrair esse investimento. O ónus da progressiva redução dessa carga fiscal sobre o grande capital tem sido a redução do investimento público e a deslocação dessa incidência tributária para os trabalhadores e para as pequenas empresas com pouca capacidade de mobilidade transnacional. Como é óbvio isto é inaceitável pois é criador de mais injustiça social nos países da Europa, nomeadamente naqueles que, como Portugal, mais padecem de problemas económicos estruturais e deficiências fiscais.
Perante este cenário poder-se-á perguntar qual é então o problema com a tentativa de harmonização fiscal…A resposta é simples, as propostas de harmonização fiscal apresentadas, sobretudo pela Bélgica, denotam uma componente “interessante”, visam conquistar competitividade face aos países emergentes, que praticam dumping social, transferindo o financiamento do modelo social europeu dos impostos directos para os impostos indirectos, ou seja, fazer uma harmonização fiscal que passa pela diminuição da tributação sobre o rendimento e pelo aumento da tributação sobre o consumo. Ora isto, tal como as propostas da ND, é profundamente injusto do ponto de vista social, e até irónico, tendo os impostos sobre o consumo uma clara componente regressiva a proposta da Bélgica é colocar os trabalhadores a financiarem um sistema social que deveria ter por objectivo precisamente proteger os mais desfavorecidos, entre os quais se encontram os trabalhadores assalariados.
A harmonização fiscal na Europa é essencial se esta quiser competir e assumir-se como um bloco coeso face ao exterior, no entanto não deve basear-se na diminuição dos impostos directos e no aumento dos impostos indirectos para poder conquistar competitividade face a países que não têm as mínimas preocupações com as condições laborais dos seus trabalhadores, isto é a transformação do homem num mero instrumento ao serviço da economia, a desumanização crescente, o submetimento à lógica neo-liberal de subjugar tudo ao lucro. Face ao dogma liberal de evitar qualquer proteccionismo, a Europa, em vez de proteger a sua economia face aos países que praticam processos de dumping social procura concorrer nas condições impostas pelo liberalismo primário e para tal procura conquistar competitividade à custa da justiça social.
A solução deveria ser diferente, a harmonização fiscal deve ser levada adiante mas não da forma agora proposta, urge levar a cabo uma harmonização da tributação sobre as empresas no seio da UE, impedindo diferenças na tributação do IRC e tornando desta forma irrelevante a deslocação de empresas no interior da Europa. As políticas sociais seriam assim financiadas pela tributação directa sobre os lucros, impondo uma taxa mínima de imposto sobre as empresas e acabando com a competição fiscal intra-europeia que tem levado à progressiva diminuição das taxas médias de imposto sobre as empresas no espaço da UE. Seriam as receitas desta tributação directa a financiar o modelo social europeu e não aumentos nos impostos indirectos que são causadores de maior injustiça social. Para efeitos de competição extra-europeia a Europa deveria adoptar medidas proteccionistas contra países que baseassem o seu modelo competitivo no dumping social e não ceder às instituições liberais internacionais. O pacto de estabilidade por sua vez deveria ser revisto a par da implementação daquelas medidas de harmonização fiscal, de forma a permitir aos governos nacionais um instrumento de política gerador de emprego quando em períodos recessivos.
Cabe ao nacionalismo identitário a crítica desta construção europeia e a apresentação de alternativas, se não o fizer deixará esse espaço livre para a esquerda. A defesa de princípios comunitários e de solidariedade não é compatível com o caminho que se está a percorrer, esta Europa não augura nada de bom para Portugal.
quarta-feira, março 02, 2005
A Song of the White Men
Now, this is the cup the White Men drink
When they go to right a wrong,
And that is the cup of the old world's hate --
Cruel and strained and strong.
We have drunk that cup -- and a bitter, bitter cup
And tossed the dregs away.
But well for the world when the White Men drink
To the dawn of the White Man's day!
Now, this is the road that the White Men tread
When they go to clean a land --
Iron underfoot and levin overhead
And the deep on either hand.
We have trod that road -- and a wet and windy road
Our chosen star for guide.
Oh, well for the world when the White Men tread
Their highway side by side!
Now, this is the faith that the White Men hold
When they build their homes afar --
"Freedom for ourselves and freedom for our sons
And, failing freedom, War. "
We have proved our faith -- bear witness to our faith,
Dear souls of freemen slain!
Oh, well for the world when the White Men join
To prove their faith again!
Rudyard Kipling
When they go to right a wrong,
And that is the cup of the old world's hate --
Cruel and strained and strong.
We have drunk that cup -- and a bitter, bitter cup
And tossed the dregs away.
But well for the world when the White Men drink
To the dawn of the White Man's day!
Now, this is the road that the White Men tread
When they go to clean a land --
Iron underfoot and levin overhead
And the deep on either hand.
We have trod that road -- and a wet and windy road
Our chosen star for guide.
Oh, well for the world when the White Men tread
Their highway side by side!
Now, this is the faith that the White Men hold
When they build their homes afar --
"Freedom for ourselves and freedom for our sons
And, failing freedom, War. "
We have proved our faith -- bear witness to our faith,
Dear souls of freemen slain!
Oh, well for the world when the White Men join
To prove their faith again!
Rudyard Kipling
Memória
Porque um povo sem memória é um povo sem futuro.
«Incógnita»
Sagraste-me com sofrimento
Para o que desse e viesse:
O fim jamais amanhece,
O princípio é só momento.
Por isso tuas armas tenho
Nas mãos, sem ir combater,
Aguardando o novo amanhecer
Em que meu filho parta para além.
E o além ainda não é Teu:
O meu além fica aquém infinito
__Sagra-me, Pai, que sagrado és também
Em partida-adeus, a Deus bendito.
Sei o que me ensinaste:
As armas éramos nós
E, além nós,
Viesse quem viesse!
Repara: o alvor da manhã já estremece,
Porque aquilo que em ti adivinhaste
O sol crescente aquece.
Não sei se é a hora
Que tu combates ou que tu desarmas,
Mas sei que até ao fim,
Nesta terra que o Índico bafeja,
Eu não posso dizer adeus às armas!
Amândio César
«Incógnita»
Sagraste-me com sofrimento
Para o que desse e viesse:
O fim jamais amanhece,
O princípio é só momento.
Por isso tuas armas tenho
Nas mãos, sem ir combater,
Aguardando o novo amanhecer
Em que meu filho parta para além.
E o além ainda não é Teu:
O meu além fica aquém infinito
__Sagra-me, Pai, que sagrado és também
Em partida-adeus, a Deus bendito.
Sei o que me ensinaste:
As armas éramos nós
E, além nós,
Viesse quem viesse!
Repara: o alvor da manhã já estremece,
Porque aquilo que em ti adivinhaste
O sol crescente aquece.
Não sei se é a hora
Que tu combates ou que tu desarmas,
Mas sei que até ao fim,
Nesta terra que o Índico bafeja,
Eu não posso dizer adeus às armas!
Amândio César
terça-feira, março 01, 2005
Pensamento único
“O povo é livre de pensar que governa sempre... enquanto não tente imiscuir-se nos assuntos que lhe dizem respeito” ,Noam Chomsky.
Assim entrámos globalmente num tipo de regime que não tem nome. Já não é um regime democrático, ainda que o voto todavia exista e ainda que a fraseologia democrática continue, em certa medida, a servir-lhe de referência. Em muitos aspectos o actual regime representa inclusive a negação de um sistema democrático baseado na soberania do povo e no pluralismo. As decisões essenciais tomam-se desde instâncias não eleitas ou carentes de legitimidade democrática. A soberania fugiu das suas instâncias tradicionais, que se esvaziaram. Ao mesmo tempo este regime não é uma ditadura como as que havíamos conhecido: combina sem complexos a brutalidade militar, a coacção financeira e as prescrições morais. A ingerência humanitária não é mais que o novo nome do direito do mais forte.
A referência democrática fez parte durante muito tempo da argumentação da guerra-fria. O fim do regime soviético tornou-a inútil. Frente ao comunismo o Ocidente apresentava-se como o «mundo livre», o qual não o impedia de manter todas as ditaduras que lhe fossem úteis. Agora que o comunismo caiu já não há necessidade de dissimular a própria forma de abolir a liberdade, mas tampouco é necessário suster ditaduras demasiado visíveis. Isto permite ao Ocidente ser ao mesmo tempo não democrático e partidário dos «direitos humanos». Num mundo fictício, mundo do virtual, do imaterial, do simulacro, só existem liberdades fictícias. Neste sentido o mundo pós-comunista é também um mundo pós-democrático.
No interior da sociedade, os conflitos frontais (como a luta de classes ou as guerras entre nações), foram substituídos por uma miríade de micro-conflitos que se sobrepõem uns aos outros e que frequentemente nascem de um desejo de reconhecimento da própria identidade (cultural, linguística, sexual, etc.).Estes micro-conflitos por si mesmos são incapazes de provocar fortes rupturas mas permitem à Nova Classe jogar com a disseminação do poder ( Eric Werner) para assim manter-se no topo. O sistema fundamenta a ordem social na desordem estabelecida, empenhando-se em criar um caos que lhe é proveitoso e, ao mesmo tempo, mantendo-o debaixo de controlo. A questão é saber até onde pode o caos ser controlado.
Raoul Vaneigem escreve que a “democracia de mercado é a etiqueta humanitária do totalitarismo mercantil”.É significativo que esta opinião seja compartilhada por alguns velhos dissidentes soviéticos que, ao haverem vivido o sistema comunista e, por consequência, com pleno conhecimento de causa, não hesitaram em denunciar o sistema ocidental como um novo sistema totalitário. Alexander Solzhenitsin regressou ao seu país desgostoso pelo que havia visto no Ocidente. Alexander Zinoviev declara:”A implosão dos sistemas socialistas nos países do antigo bloco de Leste e na URSS não conduziu a uma expansão da democracia ao estilo ocidental, mas a uma expansão do Ocidente, que saiu vitorioso da guerra-fria e que agora se encaminha face a um totalitarismo de um género particular (…). Pela sua natureza, os seus actos e as suas consequências, este novo totalitarismo é mais perigoso que os seus antecedentes Hitleriano e Estalinista. O Ocidente não é algo alheio a mim, senão uma potência inimiga”.
“Não é exacto falar do fim das ideologias, na realidade”,continua Zinoviev,”a ideologia, a super-ideologia do mundo ocidental, desenvolvida no curso dos últimos 50 anos é muito mais forte que o nacional-socialismo ou o comunismo”. A ideologia dominante é a ideologia do mercantil, temperada com um discurso humanitário. A mundialização surge no horizonte neo-liberal de uma dupla polaridade, a da moral e a da economia. Por um lado a referência aos direitos humanos, por outro a obsessão com a produtividade, o crescimento e o lucro. A primeira serve a segunda. A retórica dos direitos humanos não tem outro objectivo que romper com as resistências à globalização e permitir a abertura de novos mercados: nunca se desenvolve com tanto vigor como contra aqueles que “ousam manifestar alguma resistência aos projectos de governo global, opor-se ainda que um pouco ao ocidentalismo e ao mundialismo”(Zinoviev).Por outro lado a referência aos direitos humanos nunca é objecto de uma demonstração argumentada: coloca-se como uma evidência à qual é impensável não aderir, evidência ditada por um discurso oficial que admite cada vez menos esse «politeísmo dos valores» de que falava Max Weber. Os direitos humanos adquirem assim o estatuto que no regime comunista correspondia ao marxismo-leninismo.
Os média, que representam “ a quinta-essência da vida social em todas as manifestações da sua subjectividade”(Zinoviev), jogam um papel essencial na difusão desta ideologia.”Com o advento do numérico e da multimédia, constata Ignacio Ramonet, o sistema está em condições de difundir uma mesma mensagem contínua e em directo a todo o planeta”.A informação tornou-se massiva ao mesmo tempo que globalmente pouco credível: sobre-abundante, selectiva e insignificante à vez. Em 1998 os meios de comunicação americanos dedicaram mais espaço ao assunto Clinton-Lewinsky que a todas as notícias de política externa do ano. Assim, paradoxalmente, o individualismo desemboca na apatia e no conformismo de massas.
O pensamento único é cada vez mais único e cada vez menos um pensamento.A sua dupla sedimentação, ideológica e tecnocrática, leva-o a não tolerar quem se expressa fora das suas fronteiras. Não se dirige contra as ideias que considera falsas, as quais exigiriam ser refutadas mas contra as ideias que considera «más».Essencialmente declamatório e inquisitório, o pensamento único elimina as zonas de resistência mediante uma estratégia indirecta: marginalização, silenciamento, difamação(…).A fabricação da verdade, escreve Bernard Dumont, proíbe legalmente dizer certas coisas e inclusive ordena nem concebê-las, enquanto neutraliza as outras remetendo-as para o reino relativista das «opiniões». A percepção da realidade é alterada, a fronteira entre o mundo real e o mundo da representação esfuma-se, o clima de mentira generaliza a suspeita e desemboca na despolitização geral e num conformismo de massas, à vez necessidade vital e prémio de consolação dos indivíduos perdidos na «massa».
Alain de Benoist
Assim entrámos globalmente num tipo de regime que não tem nome. Já não é um regime democrático, ainda que o voto todavia exista e ainda que a fraseologia democrática continue, em certa medida, a servir-lhe de referência. Em muitos aspectos o actual regime representa inclusive a negação de um sistema democrático baseado na soberania do povo e no pluralismo. As decisões essenciais tomam-se desde instâncias não eleitas ou carentes de legitimidade democrática. A soberania fugiu das suas instâncias tradicionais, que se esvaziaram. Ao mesmo tempo este regime não é uma ditadura como as que havíamos conhecido: combina sem complexos a brutalidade militar, a coacção financeira e as prescrições morais. A ingerência humanitária não é mais que o novo nome do direito do mais forte.
A referência democrática fez parte durante muito tempo da argumentação da guerra-fria. O fim do regime soviético tornou-a inútil. Frente ao comunismo o Ocidente apresentava-se como o «mundo livre», o qual não o impedia de manter todas as ditaduras que lhe fossem úteis. Agora que o comunismo caiu já não há necessidade de dissimular a própria forma de abolir a liberdade, mas tampouco é necessário suster ditaduras demasiado visíveis. Isto permite ao Ocidente ser ao mesmo tempo não democrático e partidário dos «direitos humanos». Num mundo fictício, mundo do virtual, do imaterial, do simulacro, só existem liberdades fictícias. Neste sentido o mundo pós-comunista é também um mundo pós-democrático.
No interior da sociedade, os conflitos frontais (como a luta de classes ou as guerras entre nações), foram substituídos por uma miríade de micro-conflitos que se sobrepõem uns aos outros e que frequentemente nascem de um desejo de reconhecimento da própria identidade (cultural, linguística, sexual, etc.).Estes micro-conflitos por si mesmos são incapazes de provocar fortes rupturas mas permitem à Nova Classe jogar com a disseminação do poder ( Eric Werner) para assim manter-se no topo. O sistema fundamenta a ordem social na desordem estabelecida, empenhando-se em criar um caos que lhe é proveitoso e, ao mesmo tempo, mantendo-o debaixo de controlo. A questão é saber até onde pode o caos ser controlado.
Raoul Vaneigem escreve que a “democracia de mercado é a etiqueta humanitária do totalitarismo mercantil”.É significativo que esta opinião seja compartilhada por alguns velhos dissidentes soviéticos que, ao haverem vivido o sistema comunista e, por consequência, com pleno conhecimento de causa, não hesitaram em denunciar o sistema ocidental como um novo sistema totalitário. Alexander Solzhenitsin regressou ao seu país desgostoso pelo que havia visto no Ocidente. Alexander Zinoviev declara:”A implosão dos sistemas socialistas nos países do antigo bloco de Leste e na URSS não conduziu a uma expansão da democracia ao estilo ocidental, mas a uma expansão do Ocidente, que saiu vitorioso da guerra-fria e que agora se encaminha face a um totalitarismo de um género particular (…). Pela sua natureza, os seus actos e as suas consequências, este novo totalitarismo é mais perigoso que os seus antecedentes Hitleriano e Estalinista. O Ocidente não é algo alheio a mim, senão uma potência inimiga”.
“Não é exacto falar do fim das ideologias, na realidade”,continua Zinoviev,”a ideologia, a super-ideologia do mundo ocidental, desenvolvida no curso dos últimos 50 anos é muito mais forte que o nacional-socialismo ou o comunismo”. A ideologia dominante é a ideologia do mercantil, temperada com um discurso humanitário. A mundialização surge no horizonte neo-liberal de uma dupla polaridade, a da moral e a da economia. Por um lado a referência aos direitos humanos, por outro a obsessão com a produtividade, o crescimento e o lucro. A primeira serve a segunda. A retórica dos direitos humanos não tem outro objectivo que romper com as resistências à globalização e permitir a abertura de novos mercados: nunca se desenvolve com tanto vigor como contra aqueles que “ousam manifestar alguma resistência aos projectos de governo global, opor-se ainda que um pouco ao ocidentalismo e ao mundialismo”(Zinoviev).Por outro lado a referência aos direitos humanos nunca é objecto de uma demonstração argumentada: coloca-se como uma evidência à qual é impensável não aderir, evidência ditada por um discurso oficial que admite cada vez menos esse «politeísmo dos valores» de que falava Max Weber. Os direitos humanos adquirem assim o estatuto que no regime comunista correspondia ao marxismo-leninismo.
Os média, que representam “ a quinta-essência da vida social em todas as manifestações da sua subjectividade”(Zinoviev), jogam um papel essencial na difusão desta ideologia.”Com o advento do numérico e da multimédia, constata Ignacio Ramonet, o sistema está em condições de difundir uma mesma mensagem contínua e em directo a todo o planeta”.A informação tornou-se massiva ao mesmo tempo que globalmente pouco credível: sobre-abundante, selectiva e insignificante à vez. Em 1998 os meios de comunicação americanos dedicaram mais espaço ao assunto Clinton-Lewinsky que a todas as notícias de política externa do ano. Assim, paradoxalmente, o individualismo desemboca na apatia e no conformismo de massas.
O pensamento único é cada vez mais único e cada vez menos um pensamento.A sua dupla sedimentação, ideológica e tecnocrática, leva-o a não tolerar quem se expressa fora das suas fronteiras. Não se dirige contra as ideias que considera falsas, as quais exigiriam ser refutadas mas contra as ideias que considera «más».Essencialmente declamatório e inquisitório, o pensamento único elimina as zonas de resistência mediante uma estratégia indirecta: marginalização, silenciamento, difamação(…).A fabricação da verdade, escreve Bernard Dumont, proíbe legalmente dizer certas coisas e inclusive ordena nem concebê-las, enquanto neutraliza as outras remetendo-as para o reino relativista das «opiniões». A percepção da realidade é alterada, a fronteira entre o mundo real e o mundo da representação esfuma-se, o clima de mentira generaliza a suspeita e desemboca na despolitização geral e num conformismo de massas, à vez necessidade vital e prémio de consolação dos indivíduos perdidos na «massa».
Alain de Benoist
O Fascismo
«O Fascismo quer a liberdade, mas a única e autêntica; quer democracia, sim, mas a democracia verdadeira: a dos cidadãos que têm a pátria no peito e não ignoram que a sua vida está na salvação da pátria; cidadãos-soldados prontos a obedecer à voz que exprime a vontade da pátria, prontos a sacrificar-lhe toda a comodidade, pequena ou grande, da pessoa particular e até a própria vida.
Palavras bonitas? Mas tais palavras estão no coração de homens que, na dedicação absoluta ao ideal, foram soldados e mártires da sua fé, de homens que ofereceram a própria existência. Quantos? A realidade e, portanto, o valor de uma ideia histórica, não se mede pelo número de adeptos que a serviram, mas pela sinceridade, pelo génio, pela energia espiritual luminosa e criadora dos poucos que acreditaram nela e daquele que ergueu o pendão dessa fé e teve a virtude de arrastar multidões. A história não é feita por heróis nem por massas, mas pelos heróis que acolheram no coração o frémito secreto e o ímpeto potente das massas, e pelas massas que só fazem história quando encontram num homem a consciência da sua alma obscura.»
Giovanni Gentile; pensador maior do fascismo italiano, assassinado pelos partigiani.
Palavras bonitas? Mas tais palavras estão no coração de homens que, na dedicação absoluta ao ideal, foram soldados e mártires da sua fé, de homens que ofereceram a própria existência. Quantos? A realidade e, portanto, o valor de uma ideia histórica, não se mede pelo número de adeptos que a serviram, mas pela sinceridade, pelo génio, pela energia espiritual luminosa e criadora dos poucos que acreditaram nela e daquele que ergueu o pendão dessa fé e teve a virtude de arrastar multidões. A história não é feita por heróis nem por massas, mas pelos heróis que acolheram no coração o frémito secreto e o ímpeto potente das massas, e pelas massas que só fazem história quando encontram num homem a consciência da sua alma obscura.»
Giovanni Gentile; pensador maior do fascismo italiano, assassinado pelos partigiani.