domingo, janeiro 29, 2006

O fogo criador


“I have long been convinced that my artistic ideal stands or falls with Germany. Only the Germany that we love and desire can help us achieve that ideal.”
Richard Wagner

Wagner foi o filho heróico do seu tempo e também um “mago” visionário. Na sua tetralogia escreveria o começo do Mundo e a sua dissolução…e depois, o profundo simbolismo de um Parsifal ou um Lohengrin. A sua arte elaborava-se para a posteridade, por isso também lhe chamaria, à sua regeneradora concepção, a “arte do futuro”. Todo o herói ou heroína dos seus dramas aspirava a uma totalidade que, quiçá, só se encontrava no porvir. Como é o caso de Senta, a mulher pura, que redime o “holandês errante” no seu trágico e obscuro peregrinar pelas águas:”Senta já não é a guardiã doméstica, a outrora pretendida Penélope de Ulisses, senão a mulher em geral, mas não a mulher preexistente, antes a desejada, a ansiada, a mulher infinitamente feminina, para dizê-lo com uma só palavra: a mulher do porvir”.

O génio transformou-se com o tempo num “deus” que foi capaz de reunir em si mesmo o artista total, o artista do futuro: músico, encenador, poeta, ensaísta e mágico. Quiçá isto, para além de outras causalidades, levou-o a aparentar-se com outro ser visionário, outro espírito acutilante daquele espantoso século XIX, Friedrich Nietzsche, que seria o seu grande amigo até à ruptura final.

O certo é que ambos foram influenciados pela fascinante leitura de Schopenhauer, convertendo-se este espírito tutelar no mestre de ambos. Assim escreveria Nietzsche da música e experiência wagneriana:” Esse mar schopenhaueriano de sons, cuja força mais secreta sinto, pela sorte de ser a minha experiência da música Wagneriana uma intuição jubilosa, um maravilhoso encontro comigo mesmo”.

Wagner, o agitador político, o socialista revolucionário, e logo acérrimo nacionalista, o anti-semita, o destrutor do poder transfigurador da música, são frases cunhadas pelos seus detractores. Jamais um guerreiro no meio do caos poderia encontrar um caminho simples. Só o seu idealismo puramente alemão e a sua afinada vontade e obstinação lhe outorgariam a glória que conheceria nos seus últimos dias. No começo todos os seus projectos , retratados nos seus escritos políticos e estéticos, não seriam mais que belos sonhos do ocaso, mas só o trabalho férreo e a disciplina o levariam à realização do seu Opus.

Na sua figura e na arte confluem a totalidade ambicionada, o fim de todo o ideal.”Wagner pertence como músico aos pintores, como poeta aos músicos, como artista em geral aos actores, todos eles fanáticos da expressão a qualquer preço”(Nietzsche, “Para além de bem e mal”).

A sua arte já não seria a do burguês nem a do aristocrata, só a arte da nação, levando os elementos do “volk” alemão à sua mais alta expressão, para que assim esse povo pudesse ver-se divinamente reflectido, tal como sucedera com a Tragédia na antiga Grécia (…)

Talvez a sua arte seja também a nossa arte. Para esses outros que buscam e amam o eterno ele guardaria na primeira pedra do Teatro de Bayreuth, inscrito numa placa de cobre a seguinte legenda:”Aqui encerro um segredo, que descanse por muitos séculos, enquanto a pedra o guarde, revelar-se-á ao mundo”.


Dante Sasmay,"Bajo los Hielos" nº1,Maio de 1999

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Sábado, 28 Janeiro, às 15 horas na Alameda D.Afonso Henriques

Revisionismos

Tony Blair declarou a sua ira face à possibilidade do Irão acolher uma conferência sobre o holocausto. As declarações do primeiro-ministro britânico surgem na sequência de posições no mesmo sentido levadas a cabo pelos neoconservadores americanos. É o padrão habitual, de Washington vem a agenda política e em Londres faz-se o papel de fiel amigo para todas as ocasiões. Desta vez o fiel amigo, procurando mostrar a eterna lealdade, permitiu ao Irão classificar como fanáticas as declarações por si proferidas.

Não surpreende, quando o assunto é o holocausto o fanatismo é a moeda corrente. O holocausto é assunto proibido. Existe a versão oficial da história e é fundamental para o próprio sistema que ela seja incontestável. Todas as reflexões ou investigações sobre o holocausto devem conduzir à mesma verdade absoluta. É aqui que surge o problema, alguns historiadores têm levantado dúvidas e apontado incoerências na versão que pretendem impor-nos como infalível. É preciso reconhecer que entre os revisionistas da 2º Guerra Mundial existe de tudo, e muitos deles serão pouco sérios. Mas não todos, e essa é a questão, pela facilidade com que se rotula de nazi qualquer investigador que, estudando o holocausto, descubra fragilidades na versão oficial permite-se a confusão mais desejada por quem controla o sistema - acantonar os historiadores que rejeitem essa versão obrigatória dos acontecimentos com aqueles que, à partida, pretendem de facto criar uma imagem idílica do regime nazi e que pouca seriedade intelectual apresentam.

Por toda a Europa e América são detidos ou perseguidos judicialmente inúmeros homens cujo único crime é discordarem. Escrever aqui o nome de todos aqueles que no Ocidente viram a sua vida prejudicada por causa das suas posições intelectuais relativamente ao holocausto ocuparia algumas páginas. O delito de pensamento é uma realidade bem presente no Ocidente dito livre e democrático.

Se a versão oficial do holocausto é em absoluto a versão real não terão então aqueles que a propagam, utilizando todos os meios possíveis, incluindo a intimidação, que recear ser confrontados com posições divergentes e muito menos “negacionistas”. Se é seguro que a história sucedeu tal como somos “obrigados” a aceitar, se subjacente à versão oficial está a força dos factos e a investigação histórica objectiva e se do lado contrário estão apenas intrujões movidos por obscuros objectivos políticos, será fácil, confrontando posições, desacreditar as versões dissonantes.

Sendo assim levantam-se duas interrogações: O que receiam os detentores da “verdade histórica”, única e indiscutível, face a “evidentes falsidades”? E quem as receia?

Importa então lembrar alguns dados relevantes; o lobby judeu nos EUA é extremamente poderoso na sociedade e na política. O movimento neoconservador é um produto desse lobby e das instituições que o suportam. Isto torna-se especialmente importante quando sabemos que os EUA são a principal potência mundial. Os neoconservadores, lobbies judeus ligados ao Partido Democrata e à ADL e o Estado de Israel, têm pressionado os governos mundiais para perseguirem quem contesta o holocausto. Por proposta de Israel, com o apoio do governo norte-americano, a ONU instaurou um dia mundial em memória do holocausto. O cerco aperta, institucionalizar a data à escala mundial é apenas mais um passo na oficialização da versão que não é passível de discordância.

A questão não é saber se os judeus foram perseguidos pelo regime nazi mas saber em que moldes e que proporções atingiu essa perseguição. Porque não é então possível discutir essa realidade? Existem duas respostas que imediatamente ocorrem, a primeira é que a verdade indiscutível poderá ser afinal discutível e o seu suposto suporte factual e seriedade histórica poderão ser colocados em causa se confrontados com posições díspares. Se assim não for nada há a recear do confronto de posições, pois aqueles que detêm a verdade exporão a mentira e a falsidade das versões incoerentes e sem base factual dos “falsos historiadores”.

A segunda resposta é que sendo completamente falsas as contestações à história oficial da 2ª Guerra Mundial, as elites que controlam a política e a sociedade consideram que o cidadão médio não tem a capacidade intelectual necessária à distinção entre verdade e mentira e não deve por isso ser chamado a reflectir sobre o assunto dispondo de posições diferentes.

A ser este o problema fica a democracia ferida de morte na sua legitimidade pois se apenas alguns são capazes de distinguir o justo do injusto, a verdade da mentira, o bom do mau, não há possibilidade de justificar o sufrágio universal como meio de decisão sobre o poder.

Esta criminalização de vozes dissidentes é claramente uma forma de controlo sobre a opinião, é uma forma de terrorismo intelectual, “ou pensas como te ditaram ou sofres as consequências”, é a negação da ideia de liberdade de expressão de que se arrogam únicas detentoras as democracias. E não colhe o argumento de que a liberdade de expressão deve ser limitada para os “inimigos da liberdade”, logo porque são rotulados conforme os critérios subjectivos das estruturas do poder vigente. Ou existe liberdade de expressão ou não existe. Se a liberdade de pensamento é exclusiva aos que partilham as ideias do sistema então do mesmo se podem orgulhar os regimes não democráticos já que nesses também existe liberdade de expressão para todos os que sustentam as ideias oficiais ou oficiosas dos ditos regimes.

O Irão tem sido criticado pelo Ocidente, a sua falta de liberdade, o desrespeito pelos “direitos humanos”, falta de democraticidade, enfim, todos conhecemos a retórica. A isto juntou-se a crítica das posições tomadas pelo novo presidente, um lunático, uma ameaça à paz mundial, um factor de instabilidade na região, etc. E no entanto é ali que encontram um espaço de liberdade os académicos ocidentais que ousam discutir o holocausto.

Não está em causa a bondade ou não do regime de Teerão, nem tampouco se são movidos pela aversão a Israel, está sim em causa a falta de liberdade efectiva que existe nas democracias ocidentais , sempre tão altivas ao dar lições ao mundo sem fazerem um exame da sua própria legitimidade moral. E foi assim que o porta-voz de Teerão respondeu a Blair, lembrando que na democrática Europa os académicos vão presos por crimes de pensamento.

Por mim reitero que reconheço ao povo judeu o direito a uma terra como reconheço a todos os povos o direito a terem o seu espaço de autodeterminação. A minha posição é de curiosidade e interesse pela verdade e como tal manifesto o meu direito a ter acesso a toda a informação para que possa em consciência decidir. Não me move nada mais que isso. Rejeito sionismos como anti-semitismos primários mas não aceito que me pretendam impor uma versão da história sem que eu tenha o direito de dela discordar ou de ter acesso às opiniões de quem a conteste. O último refúgio da liberdade é sempre o pensamento e é esse que está aqui sob ataque. Todos sabemos que a história oficial é contada pelos vencedores mas a história real é muitas vezes uma questão diferente e bem mais complexa.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

três tiros no escuro



Definir o que é a direita é tarefa árdua, muitas vezes pouco consensual, e implica uma análise histórica e sociológica que não cabe agora aqui. É possível, no entanto, sem particular esforço ou polémica, identificar o que não é a esquerda. Definir a direita por rejeição ou oposição ao que é a esquerda tem aliás sido uma constante na análise política e servirá os propósitos desta breve reflexão.

Com a esquerda identificarei duas ideias base, o igualitarismo e o construtivismo social progressista. O igualitarismo é a negação da justiça pois que esta implica o reconhecimento da desigualdade, há os que trabalham mais, os que têm mais virtudes, os que têm mais capacidades, e a estes deve a justiça mais.É importante ter presente que o igualitarismo da esquerda não se reporta, ou pelo menos não se confina, à ideia de igualdade perante a lei.
O construtivismo social progressista assenta na premissa de que o homem e a sociedade( expressão colectiva desse homem) podem ser totalmente moldados através de fenómenos de engenharia política e social, pela burocracia, rumo a uma sociedade tendencialmente “exemplar”.

Este construtivismo social é incompatível com identidades culturais, religiosas, nacionais, no fundo com o enraizamento das populações, pois pressupõe que é possível manipular e formatar a sociedade para além dos factores de identidade colectiva.
A sociedade torna-se deste modo pautada quase em exclusivo pelas relações do homem com o mercado, o mundo laboral e o rendimento. É assim que se entende a defesa por parte da esquerda da nova sociedade multicultural. Tomando por menores ou insignificantes as dimensões identitárias do homem é possível fazer um discurso apologético de um pluralismo fictício que implica a convivência num mesmo espaço de identidades culturais, históricas ou religiosas completamente distintas e até contraditórias subordinadas à ideia de que o bem-estar ou realização do homem dependerá quase unicamente da redistribuição do rendimento, mesmo se este objectivo é por vezes procurado por mecanismos indirectos( a discriminação positiva, por exemplo). Isto implica necessariamente a ideia de um Estado alargado, o objecto ou utensílio através do qual se processa esta engenharia social.

Surgem assim facilmente identificáveis 3 grandes grupos (existem aqueles que não fazendo integralmente parte de qualquer destes se aproximarão de algum, já que esta é uma sintética generalização) que caem fora daquilo que é a esquerda, pela rejeição total ou parcial de princípios fundamentais distintivos dessa esquerda - e que não estão totalmente contemplados nesta análise - serão a sua antítese ou a direita, grosseiramente definida( pelo menos assim serão classificados aqui, tendo sempre em atenção que uma caracterização real da direita implica uma abordagem diferente e muito mais complexa).

1-Os nacionalistas, pela rejeição do igualitarismo em favor da justiça e da hierarquia de mérito, pela defesa da dimensão identitária do homem e da nação, pela recusa do economicismo, compreendendo que o homem não se realiza exclusivamente pelo mercado e que o económico se deve sujeitar ao superior interesse da nação, espaço de realização e liberdade colectiva dos indivíduos, pela rejeição do construtivismo político e social que não respeita a identidade histórica da nação e pela recusa da ideia preponderantemente jurídica do Estado, muitas vezes oposta à edificação do Estado como expoente de uma comunidade orgânica erigida em valores partilhados.

2- Os conservadores, que embora de derrota em derrota, pela própria natureza abdicante do conservadorismo, continuam a ser uma força apostada em defender valores que se opõem à mundividência esquerdista; a defesa da família tradicional, da Igreja, da propriedade, de uma ordem moral que assenta na aceitação de Deus e na imperfeição da natureza humana, a recusa do ideário revolucionário. Tudo isto choca com o utopismo e optimismo antropológico da esquerda e a sua ideia de reconstrução social através do Estado, tendo o indivíduo enquanto final da “acção” e geralmente desligado de uma qualquer ordem transcendente.

3- Os liberais (no sentido europeu da designação), que embora partilhando com a esquerda uma visão materialista do mundo divergem desta nos pressupostos e objectivos de que partem e a que aspiram. Enquanto os liberais glorificam o mercado e a desigualdade que daí advém como tradução do mérito individual a esquerda tem no mercado, ou nas relações laborais, o seu eixo de reflexão mas procurando controlá-lo para servir o construtivismo social que referi. Os primeiros radicalmente individualistas, os segundos mais colectivistas, os primeiros vendo no Estado um factor de restrição da liberdade , os segundos vendo-o como estrutura de protecção do homem face à sua própria percepção da injustiça( que fazem constantemente convergir com uma ideia de desigualdade).

Face a isto impõe-se perguntar o que permitiu nestas presidenciais referir a vitória de Cavaco Silva como um triunfo da direita. Que direita? Cavaco não é um nacionalista, não é um conservador, não é um liberal; é um social-democrata e como escrevi num texto anteriormente aqui publicado, a social-democracia não é nem nunca foi uma ideologia de direita, pelo contrário, os seus princípios são de esquerda.

O nacionalismo, de resto, não é de direita ou esquerda, defini-lo aqui como direita deve ser entendido, como afirmei anteriormente, no sentido em que o nacionalismo é antagónico em relação aos princípios sociais próprios das esquerdas ao mesmo tempo que partilha com alguma direita alguns pontos comuns. Apenas assim deve ser compreendida esta classificação. Mas Cavaco é tudo menos um nacionalista. No debate que travou com Louçã assisti a um dos momentos mais hilariantes desta campanha e bastante revelador da pobreza intelectual do novel presidente. Ao abordar o tema da imigração Cavaco mostrou-se de acordo com o actual enquadramento legal do fenómeno tal como com a nova lei da nacionalidade, e afirmou qualquer coisa como :”É preciso controlar a imigração para não corrermos o risco de nos tornarmos uma minoria no nosso país”. A frase é fascinante mas encerra um paradoxo ainda mais encantador, se ele está de acordo com a actual lei da nacionalidade, que no essencial não difere grande coisa de todas as anteriores, como é que pode afirmar que a imigração encerra o risco de tornar os portugueses minoritários em Portugal?

Ora, se a actual lei de imigração se junta a um critério de nacionalidade que não respeita qualquer ideia de interligação entre o passado fundador e um futuro comum de uma comunidade histórica, significa isto que os portugueses passam a ser simplesmente aqueles que pela actual lei assim se tornem, independentemente da sua filiação ancestral. Criam-se portugueses por decreto! Isto é a própria negação do que é uma nação, amanhã se mudará a legislação e mudarão com isso os critérios definidores da nacionalidade e os portugueses, e assim sucessivamente. Sendo assim qual é o preceito que permite definir se os portugueses são minoritários ou maioritários em Portugal? Aqueles que hoje entram serão portugueses daqui a uns poucos anos, através de um processo burocrático. É este o paradoxo, com base nestes critérios de nacionalidade os portugueses nunca poderão ser minoritários, já que o tempo se encarregará de transformar os estrangeiros em novos “portugueses”, uma vez que a nacionalidade passou a ser definida e alterada pelo parlamento ao sabor de interesses políticos. Este raciocínio de Cavaco Silva foi, mais que tudo, revelador do pensamento de alguém que nunca reflectiu sobre o que é a identidade nacional e não faz a mínima ideia do que a define. É obvio que os portugueses, como os outros povos da Europa Ocidental, caminham para ser uma minoria nos seus países, mas é precisamente por causa das leis de nacionalidade que o dito senhor apoia.

Cavaco também não é um conservador, conquanto não ande longe da descrição política que hoje assume o termo, está porém distante da filiação doutrinal que os verdadeiros conservadores (cada vez mais raros) assumem, como não é um liberal, apesar de menos estatista que os seus opositores eleitorais continua a ver o Estado como alavanca necessária para o desenvolvimento económico do país, na senda do que foi a sua governação, marcadamente keynesiana.

Que alguns daqueles que fazem parte de qualquer destes três grupos tenham votado em Cavaco representará pouco como expressão da vontade da direita. Alguns conservadores e alguns liberais terão votado no mal menor. Afinal para alguns conservadores contará que o homem até vai à Igreja, não tem um passado revolucionário nem simpatias por tais posições e os liberais, desprovidos de representação partidária, sempre se lembrarão que Cavaco vem de um partido que, sendo social-democrata, tem sectores liberais no seu seio e é por isso mais facilmente permeável ao seu pensamento. Quanto aos nacionalistas nenhuma razão válida se encontra para o voto em Cavaco ou o júbilo pela sua vitória que não seja um sentimento de repúdio ou vendetta face a alguma esquerda que se dispôs a votos, uma face infantil de uma “direita nacional” que tarda em perceber o seu caminho, em libertar-se de fantasmas do passado, de saudosismos pacóvios ou em desligar-se do paternalismo americano, e isto sem cair, como tem caído, no espectáculo de folclore carnavalesco tão do agrado da comunicação social.

Três tiros no escuro, e o dos eventuais nacionalistas foi o que mais longe passou do alvo. Não houve vitória alguma da direita porque a direita não concorreu, houve, isso sim, uma vitória clara do centro-esquerda. Não significa isto que tivesse havido candidato de direita deveria merecer o voto nacionalista, isso dependeria do candidato e da direita que representasse, porque há direitas que são tão prejudiciais à nação como a pior das esquerdas. Serve apenas para lembrar que tudo tem o seu lugar, que Cavaco não é de direita e que não cabe à esquerda ditar o que é a direita, essa ditadura de consciências que a esquerda impõe é apenas mais um exemplo de como tem sido inclinado o eixo político, de tal forma que indivíduos de centro-esquerda já são catalogados à direita. O resultado é que a deslocação do eixo político permite acantonar cada vez mais famílias da direita num espaço considerado radical ou extremo. Ou seja, aquilo que há umas décadas seria uma direita socialmente aceite, com naturalidade, vai progressivamente sendo empurrado para o extremo do espectro político, criam-se as novas “extremas-direitas”.O benefício que a esquerda retira disto é evidente, mais que não seja porque o papão dos extremistas de direita continua a fazer tremer um povo que manifesta claras dificuldades em fugir ao condicionamento da informação oficial.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Carl Schmitt - breve introdução

Há duas ideias levantadas no trabalho de Schmitt que merecem atenção na nossa sociedade multicultural decretada pelas “elites”. Em “The concept of the political”(um trabalho que primeiramente surgiu em 1927 e que foi depois publicado em Inglês, em 1976, pela Universidade de Rutgers) Schmitt explica que a distinção amigo/inimigo é uma característica necessária de todas as comunidades políticas. De facto, o que define o “político” por oposição a outras actividades humanas é a intensidade de sentimento em relação a amigos e inimigos, ou em relação aos nossos e àqueles percebidos como forasteiros hostis.

Este sentimento não deixa de existir na ausência de Estados-nação. Schmitt argumenta que a distinção amigo/inimigo caracterizara as antigas comunidades e persistiria provavelmente no ambiente cada vez mais ideológico no qual os Estados-nação fossem enfraquecendo. O sistema europeu de Estados, a começar no final da guerra dos 30 anos, havia de facto prestado um serviço de controlo sobre o “político”.

O subsequente ataque a esse sistema de Estados-nação, com os seus específicos e limitados interesses geopolíticos, tornou o mundo ocidental mais fervorosamente político, um ponto que Schmitt desenvolve no seu magnum opus do pós-guerra “Nomos der Erde”( Nomos da Terra).A partir da Revolução Francesa cresceu o número de guerras travadas em nome de doutrinas morais – mais recentemente clamando a defesa dos “direitos humanos”. Essa tendência replicou os erros da idade das guerras religiosas.. Transformou a força armada de meio para alcançar objectivos territoriais limitados , quando os recursos diplomáticos falham, numa cruzada pelo bem universal contra um inimigo diabolizado.

Uma ideia relacionada tratada por Schmitt é a tendência em direcção a um Estado Universal( a Nova Ordem Global?). Essa tendência parecia proximamente ligada à hegemonia anglo-americana, um tema que Schmitt abordou nos seus comentários durante e depois da 2ªGuerra Mundial.

Os historiadores germânicos, no inicio do século XX, haviam tipicamente feito comparações entre, de um lado, a Alemanha e Esparta e, do outro lado, a Inglaterra( mais tarde os EUA) e Atenas – entre aquilo que viam como sendo potências terrestres disciplinadas e potências mercantis, expansionistas e navais. Os poderes anglo-americanos, que dependiam da capacidade naval, tinham um sentido de limitação territorial menor do que os Estados terrestres. As potências marítimas haviam evoluído para impérios, desde os atenienses.

Mas embora esta comparação seja controversa ele também levanta o ponto mais significativo: Os americanos aspiram a um Estado Mundial porque reclamam validade universal para o seu modo de vida. Eles vêem a democracia liberal como algo que estão moralmente obrigados a exportar. São conduzidos pela ideologia como pela natureza do seu poder em direcção a uma distinção amigo/inimigo universal.

Embora nos anos 40 e 50 Schmitt esperasse que o devastado sistema de Estados-nação fosse substituído por um novo pluralismo político, a criação de esferas de controlo por parte de poderes regionais, ele também duvidava que isto resultasse. O período do pós-guerra trouxe a polarização entre o bloco comunista e os anti-comunistas, liderados pelos EUA. Schmitt claramente temia e detestava os comunistas mas também desconfiava do lado americano, por razões pessoais e analíticas. De Setembro de 1945 até Maio de 1947 Schmitt havia sido prisioneiro das forças de ocupação americanas na Alemanha. Embora libertado com base no facto de não ter desempenhado significativo papel enquanto ideólogo nazi, ficou traumatizado pela experiência. Durante o cativeiro fora-lhe “pedido” que desse provas da sua crença na democracia liberal. Ao contrário dos soviéticos, em cujas zonas de ocupação havia residido por um tempo, os americanos pareciam ser ideologicamente motivados e não meros conquistadores vingativos.

Schmitt acabou por recear o globalismo americano mais que o seu congénere soviético, que considerou ser despotismo militar primitivo aliado a uma obsessão intelectual ocidental. No final recebeu com agrado a bipolaridade da guerra-fria, vendo no poder soviético um meio de limitar as cruzadas americana pelos “direitos humanos”.

Um conhecedor crítico do expansionismo americano, Schmitt compreendeu o agora indisfarçável carácter ideológico da política americana.

No período posterior à guerra-fria, apesar da irritação que causa entre os imperialistas americanos, as suas análises parecem mais actuais e relevantes que nunca.


Paul Gottfried

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Uma questão de solidariedade europeia ou crónicas da colonização

Les Identitaires

Comunicado do dia 16 de Janeiro de 2006

“Não toquem na nossa sopa de Porco”

Provavelmente vocês já ouviram falar das “sopas identitárias”. Estas sopas tradicionais à base de porco são distribuídas em diversas cidades da França e da Bélgica pelas associações identitárias, desejosas de ajudar os seus compatriotas necessitados.
As sopas identitárias foram acusadas de serem RACISTAS porque são feitas à base de porco, excluindo os judeus e os muçulmanos. No entanto, a carne de porco faz parte das tradições culinárias gaulesas (veja-se as aventuras de Ásterix).
É também a carne mais barata para as Associações que não recebem nenhum tipo de subvenção. Enfim… quando as associações judaicas e muçulmanas decidem prestar ajuda aos seus correligionários com sopas “Kosher” ou “Chorba”, isso não nos choca e ninguém fica perturbado. Mas quando os Europeus desejam ajudar os seus que se encontram em dificuldades, isto é RACISMO….
No dia 14 de Janeiro de 2006, a solicitação do Presidente da Câmara de Estrasburgo (Nordeste de França), o Governador (representante do estado Francês) proibiu a sopa identitária naquela cidade, utilizando as forças policiais a fim de impedir a sua distribuição, e detendo o responsável da Associação “Solidariedade Alsaciana”, organizadora da distribuição.

Em França, o estado impede os Franceses de ajudar os Franceses e os Europeus!

Todos os povos da Europa estão preocupados com esta medida: se hoje não reagirmos, amanhã os croissants serão proibidos sob o pretexto de que são racistas, porque simbolizam a vitória Europeia sobre os exércitos muçulmanos que cercavam Viena em 1663. Ou ainda, como fez uma directora de uma escola britânica que proibiu a história dos “Três Porquinhos” porque esta poderia ofender a sensibilidade das crianças muçulmanas.
É agora que temos de reagir!
As nossas armas são o telefone e o correio electrónico!
Se desejam defender as tradições culinárias francesas e europeias e sobretudo a liberdade dos povos europeus de viverem na sua terra prosseguindo os seus costumes ancestrais, telefonem e enviem uma mensagem electrónica para:

au Préfet du Bas-Rhin, Jean-Paul FAUGERE : chantal.jaouen@bas-rhin.pref.gouv.fr
((33) 03 88 21 67 68)

au Maire de Strasbourg, Fabienne KELLER : fkeller@cus-strasbourg.net
((33) 03.88.43.65.08)

au Premier Adjoint Robert GROSSMANN : rgrossmann@cus-strasbourg.net
((33) 03.88.43.65.03)

au quotidien local : redaction@dna.fr
((33) 03.88.21.55.00)

Enviem uma cópia para o nosso endereço: contact@les-identitaires.com para contabilizarmos . Este apelo estende-se por mais de 15 países Europeus, pela América do Norte, América do Sul, Canadá e Quebec. O nosso objectivo é que o Governador, o Presidente da Câmara e o jornal local recebam cada um 100.000 mensagens electrónicas exigindo a liberdade para as Sopas Identitárias. Nem insultos, nem ameaças, simplesmente:

Liberdade para a nossa sopa de Porco
Liberté pour notre soupe au cochon !

A Causa Identitária traduziu o comunicado de "Les Identitaires", a pedido dos mesmos. A solidariedade e a colaboração europeia manifestam-se em pequenos gestos.

A participação de todos é fundamental.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Em Roma nada de novo



«Desperta homem do terceiro milénio», proclamou o Papa, em Roma, durante a sua homilia de 25 de Dezembro.

Qual é, ou qual seria, então, esse «homem do terceiro milénio»? Ao menos no espírito de Bento XVI? Podemos ter uma ideia precisa tomando como referência a sua declaração ao novo embaixador de França na Santa Sé, que vinha entregar-lhe as suas cartas credenciais.« Deu aos franceses uma lição de integração»( Le Monde, 21 Dezembro de 2005).Bento XVI afirmou-se «perturbado pela recente crise dos subúrbios». A propósito da imigração o Papa convidava os franceses a «agradecer aos trabalhadores estrangeiros e às suas famílias» que muito fizeram pelo «enriquecimento» do país. É preciso, portanto, melhor acolhê-los porque são «cidadãos de pleno direito». E é preciso «tornar realidade(…) uma verdadeira cultura comum, portadora dos valores morais e espirituais fundamentais»

Uma «verdadeira cultura comum» entre católicos e muçulmanos? Este Papa já ouviu falar do Islão? E da jihad? Sabe quantos cristãos foram massacrados nestes últimos anos em África e na Ásia por recusarem submeter-se à lei de Alá? Ele sabe. O Vaticano está sempre bem informado. Não podemos pois atribuir à ingenuidade estas declarações desconcertantes.

Lamentamos muito pelos católicos tradicionalistas apegados à sua identidade, religiosa e étnica. Vivem um caminho de cruz permanente com tais “pastores”. Enquanto a sua Igreja naufraga, Bento XVI junta-se com aqueles que traem os povos europeus. Cava assim a sepultura de um mundo que deveria defender.

Mas é isto surpreendente? De um Papa a outro a Igreja católica revela-se incapaz de responder aos desafios do monoteísmo islâmico que ela considera em suma, em nome do delírio ecuménico, como uma religião irmã - enquanto os sectários de Maomé têm por única ambição submeter à sua lei tanto os cristãos como todos os outros “infiéis”.A bem ou a mal. A cegueira de Roma é tragicamente suicidária.

Quanto a nós, estendemos uma mão fraternal aos católicos tradicionalistas que querem, como nós, defender a sua terra, a sua família, a sua identidade. Estaremos lado a lado quando chegar a hora da Cruzada e da Reconquista.


Pierre Vial, presidente da "Terre et Peuple"

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Manifesto

MANIFESTO

O papel dizia assim:
«Estamos cansados de gritar
_É a hora! É a hora!
e deixarmo-nos ficar.
Hoje, vimos dizer que esta demora,
enfim,
vai acabar.
Venham traições, raivas, ódios,
ajudar a compor este poema.
Só o sangue, o sofrimento, energias e coragem
podem moldar esta mensagem.
Em breve há-de soar por toda a terra
o rumor dos nossos tambores de guerra.
Mas uma guerra sã, viril, triunfal…»
E etc. e tal.

Ao lerem o manifesto,
senhores
doutores
lançarão
o seu grito de protesto:
_«É uma desconsideração!
Só nós somos indicados
para politicar, orientar, sanear, lavar, esfregar, ensinar…
Somos todos predicados,
e até por esse motivo
já fomos condecorados
E temos no nosso activo
mil banquetes de homenagem!
São
então
estes rapazes
que vêm falar de coragem?
Como se fossem capazes
De outra mais alta miragem!»

E os poetas inspirados
(burgueses d’alma),
em versos metrificados,
em louvor
de uma senhora ou senhor,
hão-de perder a calma
e corar de horror.

Outros que tais,
gente de fino parecer,
com seu vício recatado,
seu lugar no céu comprado
com missas podres de chique
(ouvidas entre a ceia do casino
e o piquenique)
e bailes de caridade
pra socorrer a orfandade:
que coisas nos dirão?

E tu, fidalgo sem pão,
com fífias senis na voz,
com teu anel de brasão
e avós
pendurados nas paredes do solar hipotecado,
aonde já estás pendurado,
à espera da morte breve,
frente a uma espada
oxidada
que, também, pra nada serve:
que dirás?

E vós, donzelas, donzéis,
das matinés elegantes,
dos chás
dançantes
(sem papás
e sem mamãs,
para estarem à vontade),
maila vossa ingenuidade
aprendida com galãs
de cinema muito em moda,
vós,
que tresandais a calão
da alta-roda
e sois só futilidade
(e sois também mocidade!)
vós,
donzelas, donzéis:
que direis?

E tu, daí, do café,
rabiscador de panfletos,
à espera da posta vaga
que qualquer vento te traga,
a sonhar
lirismo de Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade,
com a sua bomba à mistura
e uns anitos de prisão
(frustrada virilidade!)
hás-de gozar,
julgarás
que tenho pacto contigo,
pois que tiraste a patente
de todas as revoluções, explosões, prisões…

NÃO!NÃO e NÃO…!
Não tendes nada comigo!
Aqui vos acuso a todos,
a TODOS,
de me haverem gerado,
iludido,
manejado,
traído!

Basta pois: agora
é a Hora!
O papel tinha razão.
Estou bem longe de vós,
Da vossa inutilidade:
cem rios, cem caminhos, cem abismos nos separam.
Eu sou doutra Mocidade,
sou doutra Maioridade.

Ah, mas valerá a pena
vir-vos dizer o que sou?
Valerá , de facto, a pena?
Mas eu tinha de cantar
o meu canto de vitória,
canto de libertação,
que me enchia o coração,
que afirma toda a beleza
da minha certa certeza,
que ultrapassa o som da minha voz.
Que eu não canto só por mim:
quem canta em mim
SOMOS NÓS!

António Manuel Couto Viana

Entretanto, passem pelo Fascismo em Rede e leiam o poema lá publicado de Amândio César, não se arrependerão.

sábado, janeiro 07, 2006

leitura recomendada: Les impostures de l'égalité



O que chamamos de cultura, ou dito de outro modo o conjunto de obras criadas ao longo da história da humanidade, nomeadamente nos campos da arte e da literatura, não está ameaçada de diluição numa sociedade de massas que concede a todos o direito de julgar e avaliar e logo de colocar ao mesmo nível uma obra de Shakespeare e um romance da moda, um soneto de Mozart e uma canção de um qualquer artista de variedades?

Esta questão torna-se ainda mais pertinente na medida em que implica uma reflexão sobre a própria natureza das democracias modernas.

Georges Steiner, na sua biografia intelectual, “Errata”, coloca em termos cómicos o seguinte dilema trágico:”É incontestável que para a quase totalidade do homo sapiens sapiens a religião universal é hoje o futebol…organizemos uma consulta livre e a imensa maioria dos meus irmãos humanos preferirá uma telenovela ou um jogo de futebol a Ésquilo, o bingo ao xadrez. E é precisamente esta liberdade de escolha, mesmo se as opções estão pré-condicionadas e pré-seleccionadas pela dominação económica dos média e pelo mercado de massas, que está no fundamental em harmonia com os ideais e as instituições da democracia”.E acrescenta Steiner:”Para lá dos meus gostos pessoais e da minha vaidade o que me autoriza, tal Quixote e os seus moinhos de vento, a condenar a cultura popular que alegra tão manifestamente vidas por outro lado cinzentas e limitadas? Numa base pragmática e democrática, de acordo com a justiça social, a resposta é nada.”

É esta embaraçosa questão que se colocam os conservadores e que evitam os «progressistas». Porque é esta questão tão raramente colocada de forma crua senão porque mete em causa um “a priori” ontológico da democracia, ao qual não aderem nem Platão, nem Aristóteles, nem Montesquieu, nem Voltaire: a ideia segundo a qual os seres humanos seriam detentores de uma igual faculdade de julgar o que é justo e o que é belo.

O divertido paradoxo é que este “a priori”, cuja rejeição é considerada reaccionária, não é partilhado pelos génios cujas obras nos ensinam nas escolas e universidades. Quem ignora que de Platão a Heidegger, passando por Nietzsche, Voltaire ou Goethe, os mais eminentes espíritos da tradição ocidental estavam convencidos que a procura da verdade não era feita por aquilo a que Simone Weill chama “Le Gros animal”, ou dito de outra forma, o povo na sua versão massificada e anónima? O paradoxo é que nos incutem as obras de autores cujo pensamento e estilo genial estão em completa contradição com os valores que estamos ao mesmo tempo obrigados a considerar como sagrados: os chamados “direitos do homem”(ideologia oficial e oficiosa dos nossos tempos).

Porque é árduo e complexo, o caminho que leva à cultura, seja de tipo cientifico, literário, artístico, não pode ser acedido sem um trabalho consequente que é forçosamente selectivo. Verdade tão recorrente como penosa na era do direito de acesso de todos a tudo. Como esta verdade é incontestável não resta opção que convencer aqueles que não conseguem alcançar uma forma ou outra de cultura de elite que esta não é mais que uma cultura entre outras.

Como afirma jean-François Mattei:” No campo da cultura não temos de rejeitar a ideia de universalidade debaixo do pretexto de clivagem social entre a cultura de elite e a cultura de massas pela boa e simples razão que a cultura de massas não existe(…) Não há mais que uma cultura, aquela que eleva o homem para lá de si mesmo para partilhar as obras de excelência(…)Podemos então distinguir perfeitamente entre as obras de arte e os objectos de lazer como devemos distinguir entre a cultura verdadeira, que é sempre uma cultura duradoura e aristocrática e a cultura de massas que se situa na esfera do consumo passageiro.” Mas o background social, a origem de cada um, não define a capacidade ou o mérito, e voltamos a Mattei: “ O meio social nada tem a ver com a questão. Artistas nascidos e criados na pobreza conseguiram, pelo valor do seu trabalho, criar as obras mais elevadas…”

quinta-feira, janeiro 05, 2006

E os hebreus criaram "Deus" e Ele tornou-os o povo eleito

Ao considerar o papel da religião no fomento de uma síntese cultural é importante distinguir entre:1) sistemas de descontinuidade dicotómicos e 2)sistemas sintetizadores de continuidade.

Em geral as religiões monoteístas que afirmam a transcendência radical do Criador em relação à criação e afirmam que as suas crenças e valores constituem a verdade exclusiva porque legitimados por uma única, soberana, divina autoridade caem na primeira categoria. Na segunda encontramos as tradições panteístas, místicas e pagãs que afirmam a última, embora não necessariamente imediata, unidade de Deus, homem e cosmos. É nossa opinião que os sistemas de continuidade são muito mais capazes de fomentar a integração cultural.

Uma consequência social importante do monoteísmo bíblico tem sido o fomento de um sentido de distanciamento radical de Deus em relação ao homem, de Deus em relação à natureza bem como entre o Deus “verdadeiro” e o que a Bíblia considera serem os falsos deuses do paganismo. Isto tem levado à alienação do homem face ao homem, pelo menos face àqueles homens cujas sagradas tradições foram consideradas falsas pelas religiões bíblicas. Esta alienação levou também ao eventual emergir do individualismo secular moderno(…).

A maioria dos estudiosos bíblicos contemporâneos não considera os “hebreus” que escaparam do Egipto como sendo um povo único por altura do Êxodo. O nome “hebreus” designaria provavelmente um número de grupos de escravos, reféns e residentes estrangeiros, cada um dos quais mantendo algo da sua distinta identidade étnica e religiosa. Os “hebreus” partilhavam uma condição social comum e um local comum de vivência no Egipto. Também partilhavam uma ânsia comum de libertação e um ódio comum aos seus “senhores”. Não obstante, as suas diferenças de origem, religião e cultura eram obstáculo incontornável à formação de uma comunidade viável.

Assim que os “hebreus” se encontraram para além do alcance dos egípcios a sua sobrevivência dependia de encontrarem uma base constritiva de unidade para lá do ódio partilhado. No antigo Próximo Oriente apenas a religião poderia servir de base a essa unidade de grupo. Os diversos fugitivos do jugo egípcio poderiam tornar-se um único povo apenas se estivessem unidos ao serviço de um Deus comum. Esse Deus teria de ser um novo Deus em vez do Deus ancestral de um ou outro dos grupos constituintes de evadidos. Os “hebreus” partilhavam uma experiência histórica comum, não partilhavam nem origem nem religião ancestral. Debaixo de tais circunstâncias os deuses ancestrais poderiam apenas impedir a união de grupo. Apenas um Deus que fosse visto como o autor da sua experiência histórica comparticipada e que não estivesse relacionado com os sítios de origem de qualquer dos grupos fugidos poderia tê-los unido. Depois do novo Deus ter unido os diferentes povos era natural para o novo povo ler sinais de continuidade entre esse novo Deus e os seus deuses antigos. Assim , o “Deus de Abraão”, o “Deus de Isaac” e o “Deus de Jacob”, originariamente bastante distintos deuses tribais, podiam agora ser identificados com Iavé(Yahweh), o novo Deus da nova nação: Israel.


Richard Rubenstein, professor de religião na Universidade de Bridgeport

terça-feira, janeiro 03, 2006

A colonização da Europa



A guerra étnica começou. Por baixo. E ano após ano intensifica-se. Por agora tomou a forma de uma guerrilha urbana: incêndios de automóveis ou de comércios, agressões repetidas a europeus, ataques nos transportes públicos, emboscadas à polícia e aos bombeiros, razias desde os subúrbios aos centros urbanos, etc...Como demonstra um estudo sociológico encomendado para analisar o fenómeno, a delinquência dos jovens afro-magrebinos é também um meio de conquista de territórios e de expulsão dos europeus no interior do Estado francês. Não está motivada apenas por razões de criminalidade económica.

A partir dos subúrbios criam-se enclaves ou «zonas sem lei»,que se entendem como manchas de azeite até ao exterior. Desde que a população estrangeira alcançou certa proporção, a delinquência fez emigrar os «pequenos brancos»,perseguidos pelos bandos étnicos(...).Calculam-se em mais de 1000 estas zonas em França. O fenómeno de parcelização do território francês pode sugerir que estamos a entrar numa nova idade Média. Porém também esconde um processo de colonização territorial, processo que faz a delícia das utopias esquerdistas da mestiçagem étnica. As elites intelectuais francesas, que vivem nas caras zonas privadas só de brancos, sempre defenderam a mestiçagem social nas zonas urbanas. A mestiçagem funciona de forma muito diferente entre as classes sociais europeias. Entre as elites, que negam as diferenças étnicas, não existe qualquer problema em abandonar amplas zonas urbanas para as maiorias de imigrantes. Nestes casos fala-se de «fractura social»,quando a realidade é que se trata de uma fractura racial e etno-cultural.

Os políticos invocam vagas causas económicas quando na realidade existem causas étnicas muito claras. Pior ainda: culpabilizam os «pequenos brancos» das classes populares, que se queixariam, por puro exagero, diante de «fantasmas», por evidente racismo. Seriam eles os responsáveis pela formação de «guetos».(...)Porém, na realidade, não se trata de «guetos»,mas sim de territórios conquistados e de colónias. Um «gueto» é uma zona relegada a uma população que sofre um ostracismo. Hoje, em França, são as populações estrangeiras que conquistaram, pela força, os seus territórios. Falar de «guetos» é apresentar os imigrantes como vítimas, ao passo que, pelo contrário, são os actores voluntários dos seus espaços autónomos. Falar de «guetos» deixa entender que se está a falar de miséria ,de pobreza em «zonas sem lei» cada vez mais numerosas. Pelo contrário, a economia criminal, centrada na droga e na revenda de bens roubados, assim como outros recursos, legais ou fraudulentos, fazem com que estas populações tenham um nível de vida confortável, por vezes superior ao de um assalariado francês.

As Igrejas, a maior parte dos partidos, uma variedade de instituições e associações, o mundo do espectáculo, durante anos têm lutado pela entrada de imigrantes ,pela abertura de fronteiras pela impossibilidade de expulsão dos clandestinos. Motivados por um certo etnomasoquismo? Por xenofilia? Por ingénuas interpretações da religião dos direitos humanos? Por snobismo anti-racista ou politicamente correcto? Por vontade deliberada de miscigenar a França e a Europa, por ódio à integridade étnica europeia? Sem dúvida um pouco de tudo. Em todo o caso constata-se uma mistura de fatalismo, caro à imigração descontrolada, considerada já incontrolável. Um fatalismo autodestrutivo em relação ao próprio povo:« sim, invadam-nos, fazem-nos um favor!»

Em Agosto de 1999,Yaguine e Fodé,2 estudantes guineenses, introduziam-se no trem de aterragem de avião(...)e foram encontrados mortos por hipotermia. Na roupa de um deles descobriu-se uma carta interessante (...)nela pedia-se asilo por razões de guerra(não há guerra na Guiné)e devido à miséria das suas famílias_ as investigações demonstraram que pertenciam às classes altas do país. Entre os fazedores de opinião dispararam os alarmes. Matara-se 2 meninos, morreram por nossa culpa, pela nossa negação em acorrer sem discussão a todos os pobres do continente africano (...)Imediatamente depois, como demonstram os arquivos, as chamadas associações anti-racistas lançaram-se numa campanha feroz de crítica aos controlos aduaneiros dos fluxos migratórios para a Europa(os mais laxistas do mundo)e numa crítica da egoísta Europa(quando agora que se discutem os fundos de ajuda ao terceiro mundo foi a Europa que se mostrou mais generosa).Para muitos dos responsáveis africanos o discurso consiste em forçar as portas da Europa através de uma chantagem moral. Falamos da colonização pela mendicidade e compaixão.

A 4 de Agosto de 1998 uma adolescente, menor de idade, foi violada e depois abominavelmente torturada por 2 jovens africanos que a encontraram pela rua perguntando-lhe por uma direcção. Depois da violação urinaram simbolicamente sobre o seu corpo martirizado. A rapariga morreu por causa da hemorragia provocada. O seu calvário e sua oração fúnebre resumiram-se a 2 linhas pintadas pelos assassinos, com o sangue da rapariga, numa parede, que apareceram fotografadas no semanário «Le Parisien» em 5-8-98 :« pisem os cães».A rapariga não era guineense, mas polaca. Chamava-se Angela...Para mim, a memória de Angela vale mil vezes mais que a de Fodé e Yaguine.

Não me cansarei de assinalar que a maioria dos colaboradores da imigração e os seus testas de ferro provêm da burguesia ou pertencem a classes sociais perfeitamente preservadas do contacto com populações estrangeiras, totalmente protegidas da criminalidade em geral. O seu desprezo, a sua ignorância das condições de vida e de coabitação da população europeia real, dos «pequenos brancos», é enorme!

Esta nova esquerda, convertida ao capitalismo, defende com garra um socialismo virtual e uma imigração real. Neste cocktail é difícil adivinhar que parte é imbecilidade, altruísmo alucinado, snobismo anti-racista, etnomasoquismo e (o pior todavia) estratégia política. O sentimento que domina entre os colaboradores imigracionistas é o mesmo que dominou as elites decadentes de Roma no sec.III: a mediocridade e a cobardia,(...)e um egoísmo indiferente ao seu próprio povo e às suas gerações futuras. A história dirá que os europeus e concretamente as suas burguesias decadentes foram os primeiros responsáveis da colonização da Europa e da sua submersão demográfica. Para resolver o problema, problema do qual resultará o caos, não há outra solução, por um meio ou outro, que reduzir ao silêncio os colaboradores, os lobbies imigracionistas, que são a primeira causa desde há 30 anos da nossa colonização. O inimigo colonizador é um inimigo estimável, que joga o seu jogo mas os colaboradores que atentam contra o seu próprio lado, não merecem como dizia De Gaulle e o imperador Diocleciano, condescendência alguma.

A política de guetos é impossível: Os territórios urbanos não são suficientemente grandes, nem os meios de transporte suficientemente lentos para impedir as fricções étnicas. Cidades como Roubaix, Mantes-la-Jolie ,Creteil, Le Val-Fourré, hoje em dia são património das populações estrangeiras ,não são guetos, mas sim centros urbanos proibidos aos europeus e focos de confrontos raciais(...).

A política de mestiçagem étnica é também impossível, e não apenas em França, mas em todos os países do mundo. Tomada de um repentino impulso de demagogia social, a câmara de Paris dedicou-se durante os anos oitenta a construir blocos e bairros inteiros, cómodos e de baixo preço, reservados ,em nome de uma «discriminação positiva» que ninguém se atreve a chamar pelo verdadeiro nome, somente a famílias africanas e magrebinas, com o fim de apaziguar as tensões e de favorecer a integração destes «franceses de direito».Dez anos depois, podemos ler na revista «Paris-Le Journal», editada pela autarquia, as seguintes noticias: «a delinquência continua em progresso.284.663 crimes e delitos em 1998 contrastam com os 272.145 denunciados em 97.Isto assinala um aumento de 4,6%,ou seja o dobro da média nacional(...) a delinquência dos menores nas novas zonas populacionais de forte crescimento e os progressos na insegurança(em ruas, colégios, por roubo com ou sem arma) incidem mais directamente nos distritos construídos especialmente para os imigrantes ao abrigo da nova legislação que nos distritos cujas casas datam do século XV,XVIII e XIX.

Tomemos o exemplo da nova África do Sul, fundada sobre o mito da coabitação racial. Através da abolição do apartheid e da instauração do poder negro, a insegurança é tal, a criminalidade negra subiu a níveis tais, que os brancos, os asiáticos, os zulus e os xhosas se entrincheiraram a ferro e fogo nas suas zonas respectivas. O paradoxo da nova África do Sul é que depois da abolição do apartheid, o apartheid é hoje mais forte e presente que nunca.

Os franceses já não suportam viver em zonas onde a concentração de afro-magrebinos é maioritária ou muito forte, por razão do comportamento dessas mesmas populações. Já nenhum voluntarismo estatal poderá fazer algo contra esta recusa da integração, que já não poderá ser decretada ou financiada. É a lógica dos guetos de Los Angeles onde nenhum coreano aceitará qualquer pretexto para a instalação de nenhum negro na sua zona. Mas o Estado francês nunca admitiu a existência de realidades étnicas, tal como outros negaram que a terra fosse redonda. Falando das zonas desfavorecidas( e no entanto servidas pela mão financeira dos contribuintes)o deputado Crado explica:"a mestiçagem social avança muito pouco. As minorias sociais(que na sua linguagem politicamente correcta quer dizer étnicas) refugiam-se em zonas onde a vida é difícil e a insegurança forte. E é difícil fazer regressar as pessoas que abandonam essas zonas".

Porque não reflectimos sobre os factos seguintes? Os polacos, os italianos, os portugueses, os espanhóis, que imigraram massivamente para França durante os anos sessenta nunca necessitaram de políticas de inserção para participarem na vida económica, para fazer parte do tecido social, para escapar à delinquência.Com os africanos e os magrebinos a assistência social não consegue evitar a sua exclusão. E aqui descobre-se um problema. A ideologia dominante não pode admitir, evidentemente, que a causa desta inserção impossível não é nem social, nem económica, nem financeira ,mas sim étnica. Se a inserção dos afro-magrebinos não funciona não é porque a política de inserção esteja errada mas porque a integração destas populações é substancialmente impossível. A distância etnocultural entre estas populações e as europeias é demasiado grande para que seja possível uma coabitação.

A mesma perspectiva de ver crescer na Europa estes territórios, cada vez mais extensos, ocupados por comunidades estrangeiras que, a partir destes redutos, querem irradiar-se, é inadmissível. Os poderes públicos não se preocupam com as dramáticas consequências que estão a criar. Agarram-se ao dogma ineficaz da integração e da dispersão da população contra a formação de guetos, em nome, por outro lado, de uma política pró-islamica que é a menos eficaz no impedir da propagação de «zonas sem lei».Os poderes públicos, completamente desligados e inconscientes do perigo, não realizam política alguma que não seja a do «deixa andar».Outros, mais conscientes, dizem que estamos condenados à propagação de zonas territoriais estrangeiras.

Na vida, o feito de reconhecer que certos problemas não têm solução, sem ser a crise, é uma constante histórica. Políticas de guetos, políticas de mestiçagem étnica forçada? nos 2 casos um beco sem saída. Desalentado, Gerard Dezempte, autarca pelo partido Gaullista RPR numa comunidade de 8500 habitantes, Charvieu-Chavagneux, dominada pela criminalidade asfixiante, dizia à imprensa em Janeiro de 99,com uma lucidez pouco comum."Se se deseja lutar contra os guetos é preciso mudar a legislação. Hoje impera uma noção de tolerância e o desequilíbrio racial é tão pronunciado que nos conduz progressivamente à guerra civil. De facto a minha cidade vive em guerra civil."Para a nossa pequena história, notemos que o Município de Chavieu-Chavagneux havia votado, em 24 Setembro de 98,a organização de um referendo sobre «a segregação das populações que concerniam às leis HLM»,chamadas por outro nome populações afro-magrebinas. O autarca declarou as deliberações como ilegais desprezando as 13000 assinaturas apresentadas por petição popular em favor do referendo. Esta é a democracia moderna. A guerra civil segundo as palavras de Dezempte...Para sair de um «buraco» é preciso construir acessos. Os medicamentos da «Doutora República» falharam, é hora de fazer entrar os «cirurgiões»!


Guillaume Faye, "La Colonisation de l'Europe"